Entre Segredos e Bonecas escrita por Lize Parili


Capítulo 59
Vestindo as luvas - parte 5/10 - Opostos


Notas iniciais do capítulo

Guerin e o pai de Nath são opostos, como os dois lados de uma mesma moeda. Os dois querem o melhor para o garoto, mas cada um tem uma visão do que é o melhor e como isso deve ser conseguido.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/452438/chapter/59

CONTINUAÇÃO DO FLASHBACK

Enquanto Guerin conversava com seu aluno e a Sra. Chevalier os espiava, perto da sala da direção o inspetor de alunos envenenava o pai do garoto contra o professor, falando horrores de Guerin, dizendo que Nathaniel fazia o que queria nas aulas dele, e que este acobertava tudo de errado que o rapaz fazia, culpando-o inclusive por aquele episódio, dizendo que Nathaniel aprendera a "brigar" nas aulas dele.

Cada palavra contra Guerin proferida pelo inspetor soou ao ouvido do pai de Nathaniel como aviso de uma ameaça a integridade física e mental do seu filho e mais, uma ameaça pessoal a sua pessoa. Desde que Nathaniel conheceu aquele professor o assunto do garoto não era outro. Ele não se cansava de ressaltar as qualidades do docente à mesa enquanto jantavam e de repetir para a mãe os conselhos que havia recebido dele enquanto ela lhe dava um pouco de atenção. "Professor Guerin me ensinou isso, professor Guerin disse aquilo, professor Guerin, professor Guerin, professor Guerin..." Ele já estava cansado de ver o "seu filho" endeusando aquele homem, apropriando-se mais dos conselhos daquele homem que dos seus, como se o pai dele fosse o outro e não ele.

Enquanto ia para a inspetoria buscar o filho o Sr. Chevalier, instigado pela fofoca do inspetor, nervoso pela briga de Nathaniel com o colega, decepcionado com Ambre e enciumado pelo carinho que seu primogênito demonstrava por Guerin só conseguia pensar numa coisa, ter uma conversa com o professor de Educação Física.

"Você não vai ocupar o meu lugar na vida do meu filho, professor. Não vai!", pensou ao vê-lo no corredor perto da inspetoria, indo na sua direção. O inspetor ficou de canto, escondido na virada do corredor dos armários, espiando e ouvindo a conversa.

— Podemos conversar, professor? — solicitou. Guerin percebeu que ele estava nervoso pela postura diante dele, altivo, e pelo tom de voz, ríspido.

— Claro Sr. Chevalier. Se desejar podemos ir à sala dos professores.

— Não há necessidade. Serei direto e objetivo.

Guerin sentiu que aquela conversa não seria muito amigável.

— Ok. Então me diga. Em que posso ajudá-lo?

— Qual o seu interesse no meu filho? O que pretende com essa proximidade excessiva?

— Desculpe Sr. Chevalier, mas não entendo onde o senhor quer chegar. — incomodou-se com aquela insinuação, esperando não ser o que parecia.

— Minha pergunta foi bem direta e simples. Mas essa sua resposta já me basta. 

— Acredito que esteja havendo algum mal entendido, Sr. Chevalier. Por favor, vamos conversar na sala dos professores e...

— Não há nenhum mal entendido, professor. Tudo está muito claro. — disse Jhonatan, deixando implícito para aquele professor no seu tom que não estava ali para desfazer maus entendidos, mas para dar um aviso. — Então só vou dar um aviso. Fique longe do meu filho! — ordenou.

— Eu não sei o que se passa na sua cabeça, Sr. Chevalier, mas minha relação com Nathaniel se resume a minha função de professor e a condição dele de meu aluno. — Guerin não era homem de meias palavras, assim como Jhonatan, tampouco de se deixar acusar por um pai estressado e confuso. — Desta forma, não tem como eu ignorá-lo nas aulas e tampouco vou dispensá-lo delas.

— Sendo assim, você não me dá escolha! — ameaçou-o e Guerin entendeu o recado, mas não se amedrontou.

— Por acaso está me ameaçando Sr. Chevalier? Porque se for isso, verbalize. Assim como o senhor, gosto das coisas às claras!

O pai de Nathaniel não era um homem de se envolver em discussões mais acaloradas. Socialmente ele sabia manter a postura. Porém, quando o assunto era Nathaniel, ele tendia a se exaltar e como não era de meias palavras deixou claro sua opinião sobre o professor.

— Seremos claros então, professor. Eu não o conheço e nem faço questão. Mas sei que é professor de Artes Marciais e que está tentando induzir meu filho a praticar este "esporte", se é que "trocar porrada" pode ser chamado de esporte.

Guerin ouvia sem dizer nada, pois também era um homem ponderado e naquele momento ele era professor de um aluno cujo pai estava nervoso por um episódio ruim que os filhos se envolveram, portanto cabia a ele manter a calma e ouvir sem se manifestar, para não avivar mais aquele estresse.

— Já soube que Nathaniel, por diversas vezes, comportou-se de maneira inadequada em suas aulas e que permitiu, assim como o acobertou em alguns momentos, impedindo que ele fosse punido. — naquele instante Guerin soube que o inspetor esteve conversando com o pai de Nathaniel e que provavelmente devia ter envenenado aquele homem com sua visão distorcida dos fatos, ainda mais ele não gostando do aluno e tampouco dele. — Assim como sei que anda ensinando ao meu filho as suas técnicas de luta, mesmo sabendo que eu não autorizei. O senhor está passando por cima da minha autoridade como pai e está incentivando meu filho a me desobedecer.

Guerin odiou ouvir aquilo justamente daquele homem, pois ele estava certo. Ele sabia que o pai de Nathaniel não o queria praticando nenhum esporte de luta e mesmo assim ele inseriu o Muay Thai nas aulas para que o garoto tivesse acesso ao esporte, mesmo que só um pouco. Da mesma forma que entendeu que Nath aceitar participar das atividades de luta sabendo que o pai não queria era desobedecê-lo. Ele fingiria que não ouviu aquilo se pudesse, mas que homem ele seria se não admitisse seus erros. Só lhe restava continuar ouvindo, agora sem razão para rebater qualquer acusação.

— Meu filho faz parte desta Instituição de Ensino desde o Jardim da Infância[1] e nunca, ouviu bem, nunca fui chamado porque ele agrediu outro aluno, física ou verbalmente. Precisou você entrar na vida dele para eu ouvir da diretora desta escola que ele quebrou o nariz de um colega. — contou. — E não me interessa os motivos. Não crio meu filho para vê-lo se tornar um arruaceiro, um encrenqueiro, um marginal. — referiu, pois já sabia da história da Ambre, mas esta não vinha ao caso. Ele não exporia a filha. — Então, fique longe dele! — ordenou novamente, proferindo as palavras pausadamente, querendo que ele entendesse bem. Em seguida deu-lhe as costas e saiu.

— Sr. Chevalier! — chamou-o, querendo a palavra por um instante. Este olhou para trás, indiferente, mas mesmo assim Guerin falou o que queria.

— Em relação às aulas de "luta" que dei aos alunos, inclusive ao seu filho, entendo que errei em permitir que Nathaniel participasse, pois sei que ele não tem sua permissão para praticar, mesmo que superficialmente, o esporte, e por isso peço desculpas.

O pedido de desculpas de Guerin surpreendeu o Sr. Chevalier, pois para ele se desculpar era algo difícil de fazer, coisa que para aquele professor foi muito fácil. De certa forma ele o admirou, mas por um pequeno instante, pois Guerin não recuou diante suas ameaças.

— Porém, em relação a eu me afastar de Nathaniel, sinto muito, mas não posso atendê-lo. Enquanto eu for professor desta escola Nathaniel terá toda a minha atenção, seja no ginásio ou fora dele. E se ele me procurar desejando um conselho, não vou lhe dar as costas, pois ao contrário do que muitos pensam, a função de um professor não se resume ao que cabe no quadro branco, tampouco a jogar queimado e fazer flexões. Também cabe a nós orientá-los para a vida; e desculpe-me dizer, mas seu filho precisa de orientação.

Talvez se Jhonatan tivesse conhecido aquele professor em outras circunstâncias, saber que ele tinha essa consciência sobre a sua função de docente, o faria admirá-lo, mas naquela circunstância em especial, só o que Guerin conseguiu foi ganhar um inimigo. Quem era ele para dizer que Nathaniel precisava de orientação para a vida e ainda se sentir no direito de assumir a responsabilidade por tal orientação? Ele não era o pai dele para querer se meter na educação do garoto.

— Sendo assim, o senhor não me deixa outra alternativa. — disse ao professor, deixando claro que ia tomar suas providências. — Tenha uma boa tarde! — indo embora, pois se ficasse mais tempo diante daquele professor ia acabar perdendo o controle.

— Faça como quiser. Sua consciência, seu guia! — falou Guerin, praticamente para si, pois Jhonatan não esperou por sua resposta. Ali ele soube que seu tempo no Sweet Amoris havia terminado. Ele só sentiu por Nathaniel, pois de certo eles não se veriam mais, a não ser que o garoto o visitasse na academia, o que seria muito improvável, partindo do princípio que ele não ia desafiar o pai, por medo e até por desejar agradá-lo de todas as formas.

— Só espero que o pouco que te ensinei seja suficiente para você não se perder de novo, garoto. — murmurou, com pesar, enquanto se direcionava para a sala dos professores.

Assim que entrou no carro Ambre se dirigiu ao pai, cheia de manha, como sempre fazia quando aprontava alguma e queria se safar, mas daquela vez as coisas não estavam boas para o lado dela.

— Nenhuma palavra, Ambre! Ne-nhuma palavra! — disse ele com um tom de voz elevado e que ela só conhecia por ouvi-lo falar com o irmão. Ali ela percebeu que ele já sabia dela e do Guilhermo e pela primeira vez teve medo de sofrer as consequências.

~~~~§§~~~~


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

[1] Recapitulando: O Sweet Amoris é uma escola de ensino secundário, ou seja, EF2 (6º ao 9º) e EM (1º ao 3º/4º), mas o Sr. LeBeau tem outros 2 complexos bem menores, que são a Escola Primária Sweet Amoris, que também engloba o Maternalle, e o Infantário Sweet Amoris. Elas são braços da Escola Secundária Swwet Amoris e preenchem 2 terços do quadro de alunos ingressantes, sendo os demais oriundos de outras escolas. (informação dada no capítulo 7)



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Entre Segredos e Bonecas" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.