Entre Segredos e Bonecas escrita por Lize Parili


Capítulo 25
Tarde de sábado


Notas iniciais do capítulo

Depois de uma manhã molhada, entre baldes d'água e revelações, Sol recebe a visita de um amigo especial e ainda descobre quem será seu par no concurso de culinária!

REVISADO E EDITADO - 19/08/17



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/452438/chapter/25

#09/03#

Naquela madrugada de sábado, Sol havia despertado de seu sono induzido com a mente confusa e cheia de dúvidas, sendo algumas sanadas por sua tia sem que ela precisasse perguntar. Ela só não conseguiu parar de pensar no fato do Castiel tê-la levado para casa, nos braços.

“Por que ele fez isso?”, pensou até cansar e como não conseguiu encontrar uma resposta convincente para ela mesma, imaginou que poderia ter sido apenas porque sua tia havia lhe pedido e ele ficou sem graça de recusar, ou o mais provável, por pena dela.

Naquela tarde, logo depois do almoço, ela sentiu a ansiedade lhe invadir, pois sabia das visitas que receberia em breve e embora tivesse dito a si mesma que Nathaniel lhe era proibido, desejou que também a visitasse e imaginá-lo em sua casa lhe dava taquicardia. Seu único medo era que Melody o acompanhasse.

Por volta das 15h00 o interfone tocou e Sol, que estava sentada no sofá sentiu seu coração gelar enquanto sua tia atendia.

— É claro que a Sol pode receber visitas! — disse Maitê, sem perguntar o nome de quem estava na portaria, apertando o botão para destravar a tranca da porta. O prédio era antigo e pequeno, então não tinha porteiro, desta forma os condôminos usavam o sistema de trava eletrônica e interfone. — Pode subir, nosso apartamento fica no 3º piso, nº 22! — explicou ela.

— Quem está subindo, tia? — perguntou a jovem, que não se cabia de curiosidade.

— Ih! Não perguntei, Emília, e ele também não se identificou. — respondeu, voltando para a cozinha. — Vou preparar um suco bem gelado de maça para vocês! — disse, deixando Sol sozinha, que correu para seu quarto e se olhou no espelho, penteando os cabelos com os dedos. Sua intuição lhe dizia que era Nathaniel.

DLINDON!

— Deixa que eu atendo, tia! — berrou, saindo do quarto tão rápido quanto entrou assim que ouviu a campainha tocar, parando diante da porta por alguns segundos. Ela respirou fundo, ajeitou novamente o cabelo e mentalizou: “Que ela não esteja com ele, que ela não esteja com ele!”, abrindo a porta em seguida.

— Olá, Sol! Eu estava morrendo de saudades! — disse o rapaz, com um sorriso tão largo que era impossível não saber que ele estava feliz em rever a amiga.

— Ah! Ken! Oi! — cumprimentou-o, sem conseguir esconder seu desapontamento, não por receber a visita de Ken, que ela adorava, mas por seu sexto sentido ser mesmo uma droga em relação aos assuntos do coração.

— V-você não está feliz em me ver, Sol? — perguntou o amigo de infância, percebendo o desapontamento da amiga que ele tanto amava.

— Não diga besteiras, Ken! É claro que estou feliz! — animou-se, percebendo sua mancada, abraçando-o apertado. — Eu também estava morrendo de saudades! Por favor, entre. — pediu, fechando a porta assim que ele entrou.

Eles se sentaram no sofá e Maitê levou suco de maçã e biscoitinhos de queijo para os dois. Ela cumprimentou Ken e depois os deixou sozinhos, indo para seu quarto. E como não podia ser diferente, o rapaz deu a ela um mimo especial. Um lindo ursinho de pelúcia abraçado numa caneca de louça rosa e com estampa de fadinha, cheia de bombons. Ela o abraçou novamente, agradecendo o presente, colocando-o sobre a mesinha de centro da sala.

Os dois amigos que há dois meses não se viam conversaram por quase uma hora. Ele contou sobre sua conversa com o pai e ela sobre sua nova vida. Ken contou que estava um pouco assustado com o fato de ir para uma escola militar, mas que viver com o Major seria bom para ele, pois isso lhe daria a chance de conhecer melhor o pai.

— Que legal, Ken! Eu fico feliz por você. — disse, colocando mais suco no copo deles, sentindo uma ponta de inveja do amigo, pois ela queria ter tido uma chance de conviver mais tempo com o pai, assim como ele.

— Você ficou triste, Sol. O que houve? — perguntou o rapaz de óculos fundo de garrafa, percebendo a mudança de humor da amiga. — É por causa do seu pai, não é?

Sol tentou desconversar, mas não conseguiu. Ken a conhecia bem e ela sempre comentou que um dia ainda iria reencontrar o pai e morar com ele.

— Não se preocupe, Sol! Um dia você vai reencontrá-lo! Tenha fé! — tentou animá-la.

— Esqueça isso, Ken! Eu não tenho mais este sonho! — falou, deixando transparecer sua mágoa. — Ele me abandonou por que quis! E se ele nunca se interessou em me procurar é porque nunca me amou de verdade, então ele que se dane! Não quero mais saber dele. Estou ótima vivendo com a minha tia! Ela sim eu sei que me ama! — desabafou. Desde a conversa que ela e a mãe tiveram dias antes de Maitê ir buscá-la que ela havia perdido o interesse em qualquer coisa que se referia ao pai. Só o que havia em seu coração em relação a ele era um grande rancor.

Ken percebeu que a amiga estava diferente. Antes ela se calaria, daria um sorrisinho amarelo e mudaria de assunto. Mas daquela vez não, ela disse o que estava sentindo.

— Eu fico muito feliz que esteja feliz vivendo aqui com a sua tia, Sol! — comentou, dizendo que aquilo foi a melhor coisa que aconteceu na vida dela. E Sol concordou. Ela agradecia todos os dias por Deus ter providenciado que ela fosse morar com Maitê.

O relógio marcava 16h15 quando o interfone tocou novamente. Desta vez Sol atendeu e eram as garotas, Kim, Violette, Iris e Melody. Elas subiram e assim que Emília abriu a porta Violette a abraçou, com lágrimas nos olhos.

— Calma, Violette! Eu estou bem! Foi só o susto! — disse Sol, percebendo a preocupação da amiga.

— E-eu sei que você está bem. Mas nós tivemos um pouco de culpa pelo que te aconteceu. — amuou-se, desculpando-se por não ter dado espaço para que ela respirasse. As outras também se desculparam, mas Sol não as culpou.

Depois da conversa que teve com sua tia, Sol entendeu que aquilo estava prestes a acontecer e que os acontecimentos na escola foram as gotinhas que fizeram tudo transbordar.

As garotas entraram e Sol as apresentou ao Ken. Ela lhes serviu suco de maça com biscoitinhos de queijo e conversaram sobre o dia na escola. Sol foi o assunto dos corredores e provavelmente seria o da semana inteira.

— Nem o concurso de culinária rendeu tanto falatório! — comentou Kim, e todas riram, menos Sol, que ao olhar para Melody lembrou que ela faria par com Nathaniel.

— Por falar no concurso, nós temos que ir Melody! Ainda precisamos fazer a nossa pesquisa de mercado. — disse Iris, chamando Melody para irem embora.

— V-vocês duas formam uma dupla? — perguntou, sem entender. Se até o dia anterior Melody era par de Nathaniel, como poderia estar com a Iris? — V-você não faria par com o Nath, Mel? — perguntou, tentando não transparecer que aquela noticia a havia deixado feliz.

— Sim, Nath e eu seríamos uma dupla no concurso, mas os pais dele o obrigaram a fazer dupla com a Ambre, já que ela não sabe nem mesmo passar o pão na chapa, quanto mais cozinhar alguma coisa. — explicou, mostrando-se bem triste com o acontecido. “Bendita Ambre!” pensou Sol, embora tenha ficado triste pelo Nath, já que Ambre não era a melhor parceira do mundo, nem mesmo para ele que era irmão dela.

— Ei mocinhas! Eu estou aqui e sou uma ótima parceira! — disse Iris que tinha um forte espírito competitivo. Ela adorava qualquer tipo de competição e participava de todas que a escola promovia. — Nós vamos vencer, vai ver só! — Melody sorriu.

— Até parece. Para isso terão que vencer a Vio e eu, queridas. — apesar de falar com um ar de séria, Kim estava apenas entrando no clima da competição saudável. Violette deu um sorriso tímido.

Como as duas duplas tinham que encarar os mercados para suas pesquisas, despediram-se da amiga, sendo que Melody lhe deu um abraço apertado, pedindo que ela nunca mais as assustasse daquela forma. Ela estava, além de preocupada, com remorso do julgamento que fez, por conta do ciúme. Os olhos de Emília lagrimejaram e ao olhar para Melody, os secou e sorriu, sem ter vontade de sorrir. Ela não teve coragem de falar nada, sentindo-se péssima enquanto as observa descerem a escada.

— Tchau, Sol! E boa sorte com o seu parceiro! — berrou Kim do 2º piso.

— Como assim? Eu não fiz dupla com ninguém! — perguntou-se, descendo a escada correndo atrás das amigas, alcançando-as no 1º piso. — Que história é essa de parceiro? Eu não tinha um par até ontem quando fui parar na enfermaria! — questionou, querendo saber quem era o seu par.

— É verdade! Você não ficou sabendo! — referiu Iris, rindo da amiga, pois sabia que ela ia surtar assim que soubesse quem era seu par.

— Ah! Mas depois de ontem eu não acho que o Cast vá ser um par tão ruim assim para a Sol! — revelou Kim, cheia de malícia.

— C-como assim? Eu vou fazer o trabalho de Economia Doméstica c-com o... — titubeou, tentando assimilar a informação. — COM O CASTIEL! — berrou, mostrando-se insatisfeita com a dupla.

— Mas como aquele ruivo folgado ousou me escolher para fazer dupla com ele! — reclamou com as garotas enquanto desciam para o piso térreo, fula da vida — Eu faria par com qualquer um, menos com ele ou aquelas patricinhas metidas a besta! — e vermelha de raiva.

— Calma, Sol! Ou você vai passar mal de novo! — pediram.

— E o Cast não é tão ruim assim. Ele só é mal humorado! — disse Iris, tentando amenizar a situação.

— E na verdade, Sol. Não foi o Castiel que te escolheu. Foi a prof.ª Nancy que juntou vocês dois. — contou Melody, explicando que ninguém podia ficar sem par para a atividade e que todos os alunos que não tinham escolhido seus pares a própria professora havia feito isso. — E você e o Castiel eram os únicos sem par.

— É lógico que ele não tinha par. Quem ia querer fazer par com aquele encrenqueiro! — comentou, com um bico maior que sua irritação.

— Conhecendo bem o Castiel, ele tentou se livrar da atividade, pois não estava afim de participar. — comentou Iris, que era amiga dele. — E provavelmente ele deve estar tão surpreso quanto você!

— Mesmo assim! Eu preferia ir para a detenção a ter que fazer dupla com aquele folgado! — reclamou, bufando.

— Ah, Sol! Qual é! Dá uma chance pro ruivo! — pediu Kim, com o mesmo sorriso malicioso de outrora. — Ele parecia bem cuidadoso com você ontem, quando te carregou no colo. — lembrou, fazendo a amiga corar.

— I-Isso não quer dizer nada, Kim! — tentou desconversar. No fundo ela sabia que a amiga tinha razão. A única forma de saber se Castiel era um cara legal seria dando a chance dele provar, mas seus deboches a irritavam profundamente. — Ele só fez um favor para minha tia!

As garotas olharam umas para as outras, com um brilhinho a mais nos olhos, pois para bom entendedor, meias palavras bastavam, e depois daquela cena no corredor da escola, nem meias palavras eram necessárias. Melody estava feliz, pois se o Castiel realmente estivesse interessado na colega de turma, Nathaniel teria um motivo para não pensar nela, pois ele e o ruivo não se entendiam e tudo por causa de uma garota. Nathaniel não ia querer passar pelo mesmo problema de novo.

As garotas se despediram novamente e foram embora. Ken desceu as escadas e disse para Sol que seu pai havia ligado. Ele não podia sair do evento para ir buscá-lo, então o rapaz deveria ir de taxi até o Buffet.

— Que pena que já tem que ir, Ken! — chateou-se um pouco. — Sinto falta do nosso quarteto. Juntos nós éramos inatingíveis. — comentou.

— Mas eu vou voltar, Sol. Prometo! Vou me dedicar ao máximo neste ano, para que eu consiga passar na prova da bolsa e assim poder cursar o lycée na mesma escola que você.

Sol o abraçou forte e eles choraram novamente com a despedida, sendo que daquela vez era Ken quem estava partindo. Ela contou que o ponto de táxi mais perto era o que ficava na Courniche André de Joly, grande Avenida que passava na quadra de trás do prédio dela, mas que era melhor pegar no ponto do outro lado do Parc Castel des Deux-Rois, para economizar na corrida, acompanhando-o até o centro do parque, para caminhar um pouco.

— Eu fico por aqui, Ken. A outra saída do parque fica naquela direção. — indicou-lhe o caminho. Novamente eles se abraçaram e se despediram, e depois seguiram em direções opostas; mas antes de se distanciarem demais um do outro ele parou e a chamou:

— SOL! — ela olhou e ele gritou:

— EU TE AMO! — ela ficou da cor do cabelo do Castiel, que por sinal estava passeando com seu cachorro no parque e viu a cena, achando patético. Ele jogou o frisbee na direção do garoto, propositalmente, e Dragon foi para cima dele, derrubando-o para poder pegar o brinquedo.

Ken levou um tremendo susto e ao cair, de mau jeito, foi justamente sobre o fresbee, que quebrou. Castiel ficou irritado, pois era o brinquedo favorito de Dragon.

— Olha só, seu idiota! Você quebrou o fresbee do meu cachorro! — bradou com o brinquedo quebrado na mão.

— M-mas e-eu n-não tive culpa! S-seu c-cachorro me derrubou! — gaguejou o franzino, justificando-se, com medo do ruivo que parecia com os bad boys da escola que o humilhavam constantemente, — S-se q-quiser eu te dou dinheiro para que compre outro! —pegando a carteira do bolso, morrendo de medo de apanhar. Castiel não queria o dinheiro do garoto, tampouco bater nele, mas nem teve tempo de recusar, lhe dar as costas e ir embora.

— KEN! — Sol, que viu toda a cena, correu para perto dele. — Você está bem? Se machucou? — perguntou preocupada com o amigo que torceu o tornozelo e luxou o braço ao cair.

— Foi só um tombinho de nada! — referiu Cast ao ver que o rapaz havia se machucado e que ele tinha uma parcela de culpa. — Para de frescura, moleque! Nem parece homem! — referiu, deixando Ken chateado com o comentário.

— Eu sou um homem! — afirmou, com um tom de voz mais elevado, levantando-se e desapoiando da amiga. Ele não queria parecer fraco na frente dela. — E vou comprar outro fresbee para o seu cachorro, já que eu quebrei o dele. — firme, mas morrendo de medo por dentro.

— Você não vai comprar nada, Ken! Não foi culpa sua! — disse Sol, que mataria o Castiel se pudesse.

— E VOCÊ, CASTIEL! SEU IDIOTA! VÊ SE OLHA AO REDOR ANTES DE JOGAR ESTA PORCARIA PARA O SEU CACHORRO APANHAR! — ralhou com o ruivo, que não gostou nada do tom de voz da garota.

— QUEM VOCÊ PENSA QUE É PARA FALAR ASSIM COMIGO, PIRRALHA! — retrucou, nervoso, mas antes que os dois começassem uma discussão, Ken pediu para Sol se acalmar, pois não queria que ela passasse mal novamente. Castiel se lembrou dela entorpecida sobre a cama da enfermaria e engoliu as palavras que pensou em proferir. Aquela era uma visão que ele não queria ter nunca mais, e só por isso, nada além disso, ele se desculpou com ela, mas sem dizer o tradicional “Me desculpe!”. Dragon estava mais preocupado em correr de um lado pro outro.

— Ok, Emília! Você tem razão. Eu devia ter prestado mais atenção antes de jogar o fresbee. — disse, com o seu tom de voz típico, seco. — E você não precisa comprar nada, garoto! — falou, dando as costas e indo embora, antes que Emília resolvesse dizer alguma coisa e ele se visse obrigado a dizer “me desculpe!”, coisa que ele não faria, mesmo sabendo que o erro foi dele.

— Eu não entendo este garoto! Literalmente, não entendo! — disse ela a si mesma, ajudando Ken a andar de volta ao apartamento. Ela passou um creme canforado para dor no tornozelo e no braço dele e massageou até melhorar a dor. Ele seria derrubado pelo Dragon todos os dias se isso significasse ser massageado pela Sol todos os dias, e a cor de suas bochechas denunciavam seus pensamentos.

Depois Maitê o levou de carro para o Buffet, explicando ao Major que ele foi derrubado por um cachorro. Ken não quis falar do Castiel para o pai, que aproveitou o incidente para sair do evento, pois nada daquilo fazia sentido para ele, que não achava que merecia homenagens por ter voltado com vida. Ele levou o filho até o Pronto Socorro mais próximo para fazer um raio-x do tornozelo e braço.

— Agora me conte, filho. Como foi rever sua garota? — perguntou o Major enquanto esperavam na recepção, empolgado, pois sabia que o filho era apaixonado pela Sol.

— A Sol não é minha garota, pai! — disse o rapaz, envergonhado. — Somos apenas amigos!

— Mas eu sei que você gosta dela e que você já demonstrou várias vezes. — comentou, esperando uma atitude mais madura do filho.

— Na verdade pai, eu nunca me declarei de verdade ou dei a entender que queria mais que a amizade dela! Sempre demonstrei que gosto dela, mas ela sempre entendeu isso como gostar de amigo, que é como ela me vê. — contou, triste, pois admitir que não teve coragem de se declarar e por Sol só o ver como amigo e nada mais que isso.

— Não tem isso de achar que e gostar de amigo se você deu, em algum momento, a entender que era outro tipo de sentimento, filho. É claro que ela sabe o que você sente, mesmo que finja não saber.

— Você acha pai?

— Você tem alguma dúvida disso?

— Não. Eu também acho que ela sabe, mas não importa. Ela sempre me tratou apenas como amigo e é assim que ela me quer, como amigo. — amuou-se mais.

— Mas isso é culpa sua, filho! — referiu o Major, dizendo que ele sempre fora muito meloso com a Emília e que garota nenhuma gostava de carinhas grudentos. — A insegurança faz parte da personalidade feminina e quando elas se sentem totalmente seguras em relação a algo, perdem o interesse. Isso é um fato! — disse ele, mostrando-se entendedor de mulheres.

— Como assim, pai? Não entendi!

— Kentin. Vamos convir que você não é o tipo ideal de garoto que as meninas querem!

Ken se chateou ao ouvir aquilo.

— Ei garoto! Nós estamos tendo uma conversa de pai e filho sobre garotas, e homens não se deixam melindrar por pouca coisa. — repreendeu o filho, que já estava preste a chorar com o comentário do pai. — Se você quer que aquela garota goste de você do mesmo jeito que você gosta dela, você tem que começar aceitando que o problema está em você.

Ao ouvir que Sol poderia gostar dele tanto quanto ele gostava dela, Ken mudou de semblante e perguntou ao pai porque achava que ele não era o tipo ideal de garoto para uma menina.

— Escuta, Kentin! Antes de mais nada, saiba que não há nada de errado com você. Mas quando se trata de garotas, ser fraco e medroso não é uma boa. — referiu, explicando ao filho que o problema dele era comportamental e não de aparência. — As garotas precisam se sentir protegidas e seguras e não me refiro àquela proteção e segurança que vem da força física, mas daquela que vem da força do espírito e que te faz enfrentar todos os problemas que a vida impõe, sem fraquejar, mesmo tendo medo.

— Acho que estou entendendo, pai! É como aquela conversa que tivemos, em casa! — lembrou Ken.

— Isso mesmo, filho. Você nunca vai ser capaz de conquistar a garota que você ama enquanto não for capaz de enfrentar os seus próprios desafios sem fraquejar, por mais difícil e assustador que pareça. — disse ele, levando Ken a lembrar de Castiel. Ele estava com medo, mas por um momento, não fraquejou, pois não queria que Sol o visse como um fracote.

— Eu vou mudar, pai. O senhor vai ver! — prometeu o rapaz, que enxergou ainda mais a escola militar como uma ferramenta para aquela mudança. — O senhor ainda vai ter muito orgulho de mim!

— Eu já tenho orgulho de você, filho! — abraçou-o de lado, passando o braço sobre seus ombros, puxando-o para perto.

— E eu vou conquistar a Sol! — prometeu a si mesmo. — 2ª feira eu começo no colégio militar e tudo vai mudar! — pensando alto, sendo lembrado pelo pai que na 2ª feira ele tinha consulta no Oftalmo e 3ª feira no Hebiatra, então ele só ia para o colégio na 4ª feira.

— Mas às 4ª feiras não têm aula! — comentou o rapaz, acostumado com o calendário escolar das escolas tradicionais.

— No colégio militar as regras são diferentes, meu caro! Pode se acostumar em ter apenas o domingo para descansar! — contou, fazendo Ken ter um leve desânimo, mas que passou em instantes.

Alguns minutos depois Ken foi chamado pelo médico e após constatar que estava bem, foram embora da cidade. E enquanto olhava pela janela do carro, Ken lembrava da promessa feita a Sol naquela tarde. “Eu vou voltar, Sol! E serei um homem! Então você vai me amar!” repetiu em sua mente, dizendo adeus ao Ken, o filhinho da mamãe. Daquele momento em diante, ele seria Kentin, filho do Major Roux, um homem que sabia ser forte, mesmo quando não tinha mais de onde tirar forças.

 ~~~~§§~~~~


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Sol passou a tarde de sábado com Ken e as garotas, e eu passei a minha com a Sol...rs

Mas o sábado só terminará quando o relógio badalar 12 vezes no meio da noite...