Entre Segredos e Bonecas escrita por Lize Parili


Capítulo 130
Sirva-me, por favor. - Parte 1-2




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/452438/chapter/130

# 02/04 #

— E ai, Lysandre. Você vai mostrar o que tem na sacola ou não? — indagou Raul, que não cabia mais em si de curiosidade.

— Assim que as garotas chegarem. — respondeu ele, sentado no banco da primeira fileira da arquibancada do ginásio, local combinado para eles se encontrarem com as meninas, que se trocariam no vestiário.  Ele parecia calmo e Castiel estranhou, pois hora antes ele estava tenso e parecia preocupado.

— Ei, Lysandre, onde está o Nathaniel? — Pierre estranhou a ausência do presidente do grêmio, pois este tinha ido atrás dele por ordem do professor. — Por que ele não voltou contigo pra sala e ainda não veio pra cá?

— Ele ficou conversando com a Sol.

— E por que ele ficou conversando com aquela garota? Ele não sabe que hoje é o nosso dia de glória e só temos 1 hora e meia de almoço?

Do grupo, Raul era o mais empolgado em ser servido por uma das garotas. Ele adoraria que fosse Rosalya, aos olhos dele e de tantos outros, a garota mais bonita da turma, mas ele sabia que o privilegiado seria Lysandre, afinal de contas, eram cunhados. — Por que ele tinha que ir atrás dela justo agora?

— Na verdade, ele não foi atrás dela. Eu estava com ela quando ele foi atrás de mim. — Castiel olhou para o amigo de soslaio, começando a entender o motivo de ele ter se acalmado. — Ele me deu o recado, eu voltei para a sala e os deixei conversando.

Castiel cruzou os braços e deu um sorrisinho de lado, motivado por um pensamento:

"Essa garota não sabe mesmo quem ela quer, CDF, Lysandre e sabe-se lá mais quem. Com aquela carinha de inocente vai enredando todo mundo... É muito dissimulada mesmo. E pensar que eu quase entrei nesta barca..."

Pela primeira vez ele admitiu a si mesmo, em pensamento, que chegou a se sentir atraído pela ex-amiga. Ele riu de si mesmo, sentindo-se um idiota por achar que talvez ela fosse diferente das outras garotas, que na visão dele, eram todas dissimuladas e volúveis, e riu mais alto, de certa forma, aliviado por ter percebido que tipo de garota ela era antes de se envolver demais.

— O que foi, Castiel? Por que o riso? — Lys conhecia o amigo e sabia que ele estava de deboche com alguma coisa.

— Nada, Lysandre. Nada. — disse, sem querer falar sobre aquilo, pois sabia que Lys e ele tinham uma visão diferente da Emília e que na certa o amigo iria tentar convencê-lo de que estava errado. — É coisa minha. — sentando ao lado dele na arquibancada.

— As garotas estão chegando! Que maravilha! — falou Raul, alto. Seu sorriso denunciava o quanto seus hormônios já estavam se alterando só por pesar em ver as garotas de aventalzinho e bandeja na mão.

— Segura a onda Raul. Parece até que elas vão nos servir vestidas apenas de avental. — disse Pierre, segurando o amigo pelo pescoço, numa chave de braço. — Tudo bem que o vestido curto de algumas delas é bem estimulante, ainda mais o da Rosa. — comentou, com os olhos fixos nas coxas da colega da classe. — Que pernas... Ops! Desculpa Lysandre! Foi mal! — desculpou-se, ruborizado, levando a mão a nuca, apertando mais o pescoço do amigo, cujos pedidos de ser solto foram ignorados. Por um segundo Pierre esqueceu que Rosa era cunhada do platinado e que ele não gostava de comentários maliciosos sobre ela.

— Você não tem que se desculpar comigo, Pierre. Eu não sou o namorado dela. — respondeu Lys, sem se importar, coisa que antes não passaria batido. Pierre estranhou por ele não dizer algo como “Por favor, contenha-se e modere suas palavras, está falando da minha cunhada, respeite-a!”.

— Eu não sei o que te deu nos últimos dias, Lysandre, mas estou começando a gostar mais de você agora. — Pierre não curtia muito a postura do colega de classe, achando-o um pouco chato e metido a adulto. — Agora sim você está começando a parecer um de nós. — comparou-os, querendo dizer que Lys não se comportava como a maioria dos adolescentes daquela escola.

Lysandre nem deu bola para aquele comentário. Ele não se importava com o que os outros pensavam dele, até porque, ele ser reservado e educado não fazia dele menos adolescente que os outros, mas o fazia menos fútil, folgado e mal-educado. E se isso significava ser diferente dos demais e até mal interpretado, que fosse; ele não ia mudar para agradar ninguém.

Pierre teria continuado com seus comentários sobre a postura de Lysandre, mas uma dor repentina e aguda o fez gritar e deitar no chão, encolhido, com as mãos entre as pernas. Raul, que já estava vermelho e praticamente sem ar, cansado de pedir que o amigo o soltasse e este o ignorar, apertou suas “bolas”.

Pierre proferiu todos os palavrões que vieram a sua mente naquele momento, mas a dor o fez falar fino e Raul desatou a rir, assim como Cast e Lys. Até as garotas riram ao passar por ele, que só não enforcou Raul novamente porque este correu e subiu a arquibancada, sentando na última fileira.

Deixando aqueles dois de lado, Lysandre pediu ao Castiel que fosse chamar o Nathaniel.

— E por que alguém tem que ir atrás dele? — reclamou, cruzando os braços. — Ele sabe dos próprios compromissos!

— Mas ele pode ter esquecido que viríamos para o ginásio. Por favor, vá chamá-lo.

— Azar o dele se esqueceu. Eu não vou atrás dele. Se quiser, vá você. — irritou-se.

— Tudo bem, Castiel. Eu mesmo vou. — disse Lysandre, levantando, levando a sacola consigo.

— Ei Lysandre, espera! — gritou Raul do alto da arquibancada, descendo, com um olho no platinado e outro em Pierre. — Você sabe que não temos muito tempo, então...

— Pode deixar que eu mesmo vou chamar o Nathaniel, Raul. — disse Lys ao colega, surpreendendo-se com a resposta.

— Na verdade eu quero a sacola das meninas. — Ele até estava querendo ajudar, mas não como Lys imaginou. — Sabe como é... — Mesmo corado pela cara de pau, parando uma fileira acima da que Lys estava, ele curvou o corpo e estendeu a mão esperando receber a sacola preta do colega, que olhou para o sorriso amarelo dele e disse que ele mesmo entregaria quando voltasse com o Nathaniel.

— Mas isso vai nos atrasar, platinado. — resmungou, esquecendo por um instante de Pierre. — Não sacaneia... AI CARALHO! — berrou ao sentir Pierre lhe agarrando por trás. Sem conseguir escapar, ele deitou sobre as cadeiras da arquibancada, tentando de todas as formas proteger sua parte íntima enquanto o outro tentava agarrá-la e espremer até deixá-lo estéril. — Sai fora, Pierre! Deixa minhas bolas em paz! — ordenou, brigando e rindo ao mesmo tempo. Lys olhou aquilo, deu as cosas e saiu.

“Depois dizem que eu sou estranho.” Foi seu pensamento enquanto se afastava deles.

— Ei, Lysandre! Por que não entrega logo a sacola para as meninas? — perguntou Castiel indo atrás dele. Que mistério todo é esse? O que tem ai dentro afinal?

— Só o kit combinado.

— Então por que a enrolação já que as garotas estão aqui? — questionou, começando a se irritar com o platinado, chutando de leve a sacola.

— Por nada. Eu só quero ter o prazer de olhar para a expressão do rosto dela ao receber seu pequeno kit. — contou com um leve sorriso nos lábios. Castiel notou que ele olhou par Rosa quando disse aquilo. Ele não estava entendendo mais nada, mas como não tinha nada a ver com aquilo, nem questionou.

— Esta bem, você que manda. Mas então por que não pede a um daqueles dois para ir atrás do CDF e você resolve isso com as meninas? Assim eles param de se agarrar como duas gazelas.

— Porque é provável que o Nathaniel esteja no porão.

Por imaginar o que estava acontecendo entre a Sol e o Nath, Lys pressentiu que aquela conversa dos dois não ia ser muito animadora e como o porão era o lugar de refúgio do loiro, assim como dele e do Castiel, ele só poderia estar lá. Eles não podiam correr o risco de alunos como Raul ou Pierre descobrirem isso. Suas línguas eram grandes demais.

— Ok, ok. Já entendi! Deixa que eu vou atrás daquele imbecil. Mas já aviso que não garanto trazê-lo vivo — disse Cast dando as costas ao amigo, indo atrás do loiro, querendo na verdade evitar que o platinado também se distraísse com alguma coisa pelo caminho e esquecesse daquele almoço. — E É BOM ELAS ESTAREM PRONTAS QUANDO EU VOLTAR COM AQUELE IDIOTA! — berrou enquanto atravessava a porta.

 

***

 

— Oi, Castiel. O Nath está lá embaixo? — perguntou Melody ao ver o ruivo saindo do porão. — Eu preciso muito falar com ele, é importante!

— Não! — mentiu, parando em frente à porta. Ele não queria que ela entrasse no porão.

Castiel podia não morrer de simpatia pelo presidente do grêmio, mas nem por isso ia ignorar o fato do garoto estar chorando escondido no porão ­– ele não se deixou ver ou ouvir pelo loiro –, o que denunciava que ele só podia estar triste e provavelmente por culpa da Emília. Apesar de ele ter desejado ver o loiro sofrendo por causa de uma garota, assim como ele mesmo sofreu, foi estranho ver o ex-amigo escondido num dos cantos do porão chorando baixinho por causa daquela garota. Ele não teve pena, mas também não sentiu o prazer que achou que sentiria quando acontecesse.

Assim que a Melody subiu a escada para o 2º piso, Castiel foi embora, mas bastou ele cruzar a porta do corredor para ela correr para o porão. Ela não acreditou nele.

 

***

 

— Onde está o Nathaniel? — perguntou Pierre ao ruivo assim que este chegou ao ginásio. As garotas já estavam se arrumando e Raul, massageando as “bolas” doloridas – espremidas por Pierre – não tirava os olhos da porta do vestiário. Lysandre mantinha um ar calmo, porém com um sorriso no mínimo suspeito nos lábios. Ele ainda segurava a sacola, guardando o último e mais importante item daquele look.

— Ele está ocupado demais. Não acredito que venha, então somos apenas nós quatro. — respondeu Castiel. Ele não tinha porque expor o outro, não era do seu feitio.

Cast mal se acomodou na arquibancada e as garotas saíram do vestiário, cada qual com seu aventalzinho curto preto de babadinho e alça rendada da mesma cor, cruzada nas costas, atado na cintura com um laço. Suas chiquinhas estavam enfeitadas com um par de laços coloridos rendados, que acabaram trocando entre si enquanto se arrumavam, para combinar melhor com os vestidos. As meias pretas de poliamida fio grosso, ao ponto de não ser transparente, e de comprimento um pouco acima do joelho complementavam o look. Três das meias eram de orelha de gatinho e as outras duas tinham na boca um babado de renda preta e um pequeno laço frontal. Estes detalhes só puderam ser vistos nas pernas da Rosa, da Charlotte e da Mariana, cujos vestidos tinham comprimento no meio das coxas. E já que não tinham por onde escapar, elas entraram no clima e se maquiaram, destacando principalmente olhos e boca. Todas estavam lindas, mas por ser a mais encorpada dentre as garotas, Rosa era a que mais chamava a atenção, seguida de Charlotte, cuja cara fechada lhe dava certo charme.

— RAUL, SEU PERVERTIDO. — irritou-se Charlotte ao vê-lo se massageando enquanto olhava para elas. — O QUE PENSA QUE ESTA FAZENDO? — questionou, chutando-lhe entre as pernas. O coitado nem teve tempo de explicar que não era nada daquilo que ela estava pensando, encolhendo-se no chão de dor. Seus olhos lagrimejaram. Até Pierre se compadeceu do amigo.

— Caralho, Charlotte. Quer aleijar o cara. — reclamou ele.

— Eu devia castrá-lo, isso sim. Quem ele pensa que é para... — dizia, querendo acertar o colega de classe novamente, sendo interrompida por ele, que apesar da dor, justificou-se, tentando gritar com ela, mas sem conseguir, falando mais fino que grosso.

— Sua louca! Eu só estava tentando aliviar a dor porque o filho da puta do Pierre apertou minhas bolas! — ele estava segurando para não chorar de dor e raiva.

Charlotte fez cara de pouco caso, nem ai para ele.

— Que seja. Mas fica a dica. Se olhar com cara de cachorro vira lata que encontrou uma cadelinha no cio vai falar fino pro resto da vida! — ameaçou, dando-lhe as costas e sentando no banco dos reservas que ficava na quadra.

Pierre ajudou o amigo a levantar e este sentou na outra ponta do banco. “Vaca, filha da puta. Quer enganar quem bancando a puritana.” foi o pensamento dele em relação a Charlotte.

— Pronto! Será que podemos ir agora. Quero terminar logo com isso. — disse Castiel que já estava de saco cheio por esperar, morrendo de fome.

— Calma. O traje ainda não está completo. — lembrou o dono da sacola, indo até a cunhada.

— Porra, Lysandre! Que embaçação. Eu estou com fome, caralho!

— Eu garanto que valerá a pena esperar mais um minuto, Castiel. Eu só preciso adornar “o pescoço dela”. — disse, com um sorrisinho de canto de boca, enquanto tirava a última peça da sacola, olhando nos olhos da cunhada.

— Mas o que é isso? — questionou Rosa assim que viu o que ele tinha na mão. — Você só pode estar de brincadeira!

— Isso é exatamente o que você está vendo! — a ironia de Lysandre era sutil, mas sua expressão facial não conseguia esconder a satisfação que estava sentindo ao fazer aquilo. Aquele sorrisinho de lado era perturbador. Não tinha como os colegas não perceberem que ele fez aquilo para provocar a cunhada. As outras garotas pagariam de tabela.

— Agora, por favor, permita-me colocá-la em você. — pediu educadamente enquanto tirava o lindo acessório da embalagem plástica que o protegia.

— Mas de jeito nenhum! Não foi isso que combinamos. — reclamou a garota de longas e volumosas chiquinhas brancas. As garotas concordaram com ela.

Os rapazes estavam surpresos pela proeza do platinado, que estava sendo, no mínimo, audacioso. Castiel só conseguiu pensar que a raiva do amigo pela cunhada devia ser mesmo grande, do contrário ele não se arriscaria numa brincadeira daquela justamente com ela; Leigh o deixaria de castigo até o fim da vida.

— EU NÃO VOU USAR ISSO! — ralhou, vermelha como um pimentão, irritada com o cunhado, achando que ele estava indo longe demais.

— Desculpe-me Rosalya. Você vai usar isso sim! — enfatizou, deixando-a sem graça com seu tom de voz e até confusa, pois Lys estava lhe dando uma ordem.

— Eu fui bem claro quando descrevi sua vestimenta. Você e as meninas não tem o que reclamar. Foi o combinado e vocês concordaram. — Lysandre parecia estar se deliciando com a irritação da cunhada. Castiel, que o conhecia bem, nunca o havia visto com aquele olhar, com aquele sorriso. Aquele era um lado do platinado que nem Leigh conhecia e provavelmente, nem Lysandre, pois ele sempre preferiu ignorar a pessoa. Vingança nunca fez parte do seu caráter, até aquele momento.

— M-Mas isso é uma coleira de cachorro! — indignou-se, para deleite dele, que não estava nem um pouco incomodado com sua relutância em usar o acessório canino.

— Você quis dizer uma linda e luxuosa coleira de cachorrinha. — corrigiu-a, abrindo o fecho duplo da coleira de couro com estampa de couro de cobra rosa, com fivelas e um pingente de cadiadinho, ambos de strass. — E eu fui claro quando disse coleira, então pare de frescura e me deixe completar o look. Os rapazes e eu estamos com fome. Rosa preferiu acreditar que ele não estava, sutilmente, chamando-a de “cachorra”. Castiel tinha certeza que ele estava chamando a cunhada de cadela. Lys não pensou naquele comparativo quando comprou o acessório no pet próximo a escola, ele só queria sacanear a cunhada. Ele nem se importou em gastar um terço do seu salário do mês naquilo.

— M-Mas eu achei que fosse uma gargantilha. — referiu com a mão sobre a fivela, impedindo-o de fechar a coleira em seu pescoço. Seu olhar melindrado não foi suficiente para fazer o cunhado mudar de ideia. — Daquelas bonitinhas, de fita.

— Isso não muda nada. Eu disse coleira e não é problema meu que você não saiba a diferença de gargantilha para coleira. — ironizou, fechando a fivela e prendendo a guia de corrente niquelada no acessório.

A contra gosto, Rosa e as meninas aceitaram usar as coleiras, pois tinham concordado com o mico e se resolvessem dar para trás na última hora por causa de uma coleira, que até era bonitinha, ficariam com fama de covardes e vacilonas. Na verdade, o que incomodava Rosa não era o mico ou aquele acessório, mas a postura do cunhado para com ela.

— Vamos logo para o refeitório. Já que temos que pagar esse micão, que seja. — o melhor era ela levar na brincadeira. Quem sabe o cunhado relaxava e voltava as boas com ela.

           E assim foram para o refeitório, eles satisfeitos e elas, com a cara e a coragem.

~~~~§§~~~~


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

A coleira das meninas não foi inspirada no episódio 24. Nasceu antes do episódio.

Espero que tenham curtido este lado do Lys....rs E antes que questionem, lembrem-se que todo aquele que guarda para si suas dores, frustrações, estresse, raiva, mágoa e irritações tende a encher o copo só de coisas ruins e quando este transborda, ou a pessoa passa mal ou explode de vez, sobrando para todo mundo, até para quem não tem nada a ver com aquilo, e geralmente é sempre aquele que não tem culpa que paga o pato...rs Bom, o copo do Lys transbordou, mas até por sua natureza, só esta sobrando para a Rosa mesmo... Mas como sabemos, Lys não é uma pessoa ruim ou vingativa. Como será que ele vai lidar com isso? Será que ele vai se arrepender, se desculpar, sofrer, ou vai dar as costas para tudo, visto que terá que ir embora para a fazenda e deixar tudo para trás???????