Entre Segredos e Bonecas escrita por Lize Parili


Capítulo 131
Sirva-me, por favor. - Parte 2-2


Notas iniciais do capítulo

Será que te farei rir, chorar ou ficar P da vida?????????????

Confira você mesma!...rs



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# 02/04 #

Os garotos escolheram suas garçonetes e foram almoçar. Como Nathaniel não estava com eles, Raul, como presente de consolação dos colegas, compadecidos com a possibilidade dele nunca mais poder usar o seu pequeno Jack[1], morrendo virgem, ficou com duas garotas, Charlotte, como punição por tê-lo machucado, e Mirella.

Do ginásio ao refeitório o caminho pareceu longo para aquelas 5 jovens, cada uma seguindo 1 metro atrás daquele que executaria o seu castigo e que a conduzia até o refeitório segurando a guia da coleira, sendo Lysandre e Rosa os primeiros a entrarem no local e Raul o último, com suas duas garçonetes.

Eram tantos celulares direcionados a elas que Rosa não se aguentou.

— Isso mesmo cambada de trolls, filmem e tirem muitas fotos! — irritou-se com os colegas, parando a poucos passos da porta do refeitório! — Mas já aviso logo, se eu ver uma única foto minha na internet, seja quem for, eu processo e depois arranco os cabelos! — ameaçou. Para ela o problema não eram as fotos ou filmagens em si, até porque, naquela escola ninguém expunha imagens dos colegas nas redes sociais sem o consentimento da pessoa; Aquilo era uma regra do Regimento Escolar e descumpri-la podia gerar suspensão e até expulsão, além de um processo judicial. Mas se Leigh visse aquelas imagens podia não gostar.

O estilista, apesar de jovem, era sério e não muito dado a certas brincadeiras; ele já havia achado exagerado a namorada depilar as pernas dos meninos na sabatina anterior. Aquela brincadeira podia ser interpretada de forma equivocada e ele acabar brigando com ela - quando um não quer, dois não brigam -  e principalmente, com o Lysandre. E ela não queria que os dois brigassem de novo, ainda mais sendo ela o motivo.

Ela teria reclamado mais, mas o cunhado lhe deu um tranco, puxando-a para dentro do refeitório. Sua esperança era que Lysandre se divertisse com aquela pagação de mico e tudo ficasse bem entre os dois. Se ele sorrisse para ela uma única vez, indicando que já havia esquecido sua mancada, fosse ela qual fosse, Rosa encararia aquela brincadeira com outro olhar e até o chamaria de Lord e faria cara de governanta de filme da Disney. Mas ela não estava muito esperançosa disso acontecer.

— Quer morrer garota? — perguntou Castiel a uma aluna que praticamente enfiou o celular na cara dele para tirar uma foto. — Aposto que não. Então apaga essa merda! Quer foto tira da Rosa que só vai te processar, mas posta uma foto minha no face ou na merda que for para ver o que acontece contigo! — A garota, com cara de bunda, baixou o celular. Ela não apagou a foto, mas não ia postar em lugar nenhum. Ela não ia arriscar levar uns safanões de um dos garotos – na visão dela – mais bonitos da escola, mal sabendo que ele apenas blefou. Ele nunca bateria numa garota, no máximo armaria um barraco, xingaria, tomaria o celular e deletaria até as selfs dela fazendo aqueles biquinhos ridículos, amaldiçoaria, mas bater, jamais, por mais que achasse que merecesse uns cascudos.

A agitação dos alunos era tanta que o inspetor pediu que eles se comportassem direito ou todos teriam que ir para suas salas, dispersando todos do corredor, abrindo caminhos para aqueles alunos malucos do Ensino Médio passarem. Ele não imaginou que uma simples brincadeira de uma atividade de sala pudesse lhe render tanto trabalho com os alunos, queixando-se com Sartre e a professora de Arte.

— Você tem razão de estar irritado Leonel. — a professora se desculpou. — Não imaginei que os outros ficariam tão agitados. — para ela aquele tipo de comportamento indicava, além de excesso de imaturidade daqueles adolescentes, a maioria do 3ème[2], que eles estavam sentindo falta das atividades artísticas que foram suspensas por causa da reforma, como o teatro e a dança. — Mas serviu de experiência. Da próxima vez eu pedirei que eles se restrinjam a sala de Artes, pelo menos até o nosso teatro voltar a funcionar. — prometeu.

No refeitório os garotos se sentaram à mesa, entregaram o ticket do almoço para as garotas dizendo o que queriam comer e elas foram até o buffet do self service e fizeram os pratos, enfrentando a fila por eles, ouvindo a cada passo uma piada mais tosca que a outra. Elas seriam zoadas por dias, assim como os garotos com suas pernas depiladas. Charlotte mataria um se pudesse. Elisa desejou vencer na última sabatina e que eles perdessem, pois isso lhe daria a chance de dar o troco. Mas elas também ouviram alguns elogios que a envaideceram e apesar das caras feias e dos foras que davam nos piadistas, elas estavam gostando da brincadeira e de ser o centro das atenções, principalmente de alguns garotos populares, salvo Rosa, que além de ter olhos apenas para Leigh, ainda estava chateada com a indiferença do Lysandre. Para as outras, se aquele castigo aumentasse a popularidade delas já compensaria o mico.

— Eu só espero que tudo isso valha a pena e que o Lys volte as boas comigo. — murmurou na fila, esperando sua vez de se servir.

Como apenas quatro garotos seriam servidos, Mirella ficou encarregada de servir as bebidas, indo pegá-las na máquina de refrigerante. Ela nunca deu sorte com aquela máquina, que sempre engolia seu dinheiro e a deixava sem bebida. Mas naquele dia o dinheiro era dos garotos. As duas primeiras latas de refrigerante ela conseguiu pegar tranquilamente, mas a terceira emperrou no meio do caminho. Como ela era delicada demais, seus socos na máquina mais pareciam tapas e a lata continuou presa.

— Posso te ajudar? — Mirella ficou mais vermelha que morango maduro quando ouviu aquela voz. — Esta máquina sempre apronta dessas comigo também. Você tem que ser rude com ela. — disse o representante do clube de basquete. — Assim! — socando-a na lateral, com força, duas vezes.

A lata se soltou e Mirella a pegou.

— O-Obrigada, Dajan. — agradecendo o universitário que a fazia sonhar acordada sempre que tinha treino dos garotos do time da escola e que ela, membro do clube, fazia questão de ajudar, mesmo que fosse entregando toalhinhas e recolhendo as bolas.

Ela colocou o dinheiro da última lata e esta emperrou novamente, mas Dajan socou a máquina antes mesmo da garota se dar conta disso, assustando-a, pois não estava preparada para aquele barulho. Ele riu da expressão dela e pegou o refrigerante, entregando-lhe.

— O que está rolando, Mirella? Por que você e as garotas estão vestidas assim?

— É-É uma brincadeira. N-Nós perdemos numa atividade e temos que pagar um castigo para os vencedores. — contou, super envergonhada, achando que ele a veria como ridícula. — Nós só vamos servir o almoço deles e depois podemos fazer o que quisermos, mas sem nos trocar. Temos que ficar assim até o fim do horário de almoço.

— Estes garotos... de bobos não têm nada. — comentou, rindo. Ela ficou mais sem graça ainda e baixou o rosto. Ele percebeu que ela se envergonhou com seu comentário e tratou de desfazer aquela impressão.

— Você não precisa ficar com vergonha, Mirella. Saiba que está uma graça vestida assim. Parece aquelas meninas que se vestem de boneca naqueles eventos de cosplay.

Ela deu um sorriso tímido e agradeceu.

— Se você quiser pode sentar com a gente depois. Eu estou sentado ali, com o Jade e os outros monitores. — convidou-a, apontando para sua mesa. — perto da mesa dos professores.

Tudo bem que ele estava sendo gentil e que seria estranho ela sentar com ele e os outros monitores, mas para ela aquele convite foi o melhor presente, conseguido apenas porque Lysandre teve a (in)feliz ideia de aplicar aquele tipo de mico. O antes amaldiçoado platinado virou bendito aos olhos daquela jovem ruiva de olhos azuis, pele sardenta e cabelos tão cacheados que pareciam ser molinhas esticadas.

Enquanto isso as outras garotas ouviam alguns elogios e até galanteios dos mais assanhadinhos enquanto se serviam. Aos mais feinhos elas respondiam com grosseria e aos mais bonitinhos com um falso sorriso tímido, exceto Rosa, que encarnou a governanta carrancuda, pois não sorria pra ninguém.

— Rosa? É você mesma? — perguntou Sol, sem entender nada. Ela estava tão envolvida em seus próprios dilemas que não prestou atenção na movimentação do refeitório, dando-se conta apenas quando viu a amiga a sua frente, do outro lado do expositor do buffet. — Por que você e as garotas estão vestidas assim?

— Não é óbvio? Nós perdemos na sabatina de Artes e o Lys-fofo resolveu me sacanear com este mico. — respondeu ela, nervosa e irritada com uma cantada nada criativa que acabara de ouvir, olhando feio para o garoto, que não se atreveu a continuar com a investida.

— O Lys? Mas ele é tão gentil... — Sol ficou boba ao saber que aquela ideia maluca tinha saído da cabecinha do seu amigo platinado. — Se bem que...

— Se bem o quê, Sol? Ele te disse alguma coisa? — questionou Rosa, querendo saber se o cunhado havia comentado com Emília sobre estar chateado com ela. — Se falou me conta, por favor.

— Nada, Rosa. Ele não me disse nada. — Ela não se sentia a vontade em dizer para a amiga que achava o Lys um pouco sem vergonha. – O adjetivo correto seria lascivo, mas ela não conhecia está palavra. ­

— Tem certeza? Você não está escondendo nada de mim, não é, Sol?

— Claro que não, Rosa. É só que eu acho o Lys tão sério que não consigo imaginar ele propondo este tipo de mico, ainda mais pra você. — comentou. Ela não mentiu, apenas arrumou outra justificativa menos comprometedora para ela mesma, pois Rosa poderia pensar alguma besteira em relação aos dois. — Isso é mesmo uma coleira de cachorro? — perguntou, mudando de assunto.

— Sim, é. E nada de comentários. Já foi constrangedor demais ser guiada até aqui por esta guia maldita. — reclamou, mostrando à amiga a guia enrolada no braço e que estava presa a sua coleira.

Sol achou a coleira linda e até viu a sua pequena Haoqi usando uma daquelas, só que menorzinha, mas não falou nada. Sua amiga parecia mesmo irritada.

— Por acaso o Leigh sabe disso, Rosa? Ele não ligou de você se vestir assim aqui na escola e do Lysandre sair por ai te guiando por uma coleira?

— Não! Ele não sabe e nem vai saber! — enfatizou, deixando claro para a amiga que era para ficar de boca fechada. — Por favor, Sol. Não comente nada com o Leigh. Ele é muito sério e às vezes parece até um pouco conservador. Não quero que ele se chateie e brigue com o Lys-fofo. É só uma brincadeira e se estou irritada é por outros motivos... Enfim... — ela não queria entrar naquele detalhe. — Vamos deixar esse micão aqui na escola, ok!?

— Tudo bem, não vou nem comentar perto dele. — entendeu, entregando o ticket para a senhora do balcão. — Também não quero que ele brigue com o Lys por causa disso.

— Você gosta muito do Lys, não é Sol? — Rosa não resistiu em dar um pequeno empurrãozinho. Quem sabe isso aliviaria sua barra com o cunhado. — Ele também gosta de você, sabia?

Emília sentiu as bochechas queimarem. Lysandre gostava dela? Como assim? Ela não teve coragem de perguntar, nem comentar nada.

— E-Eu vou me sentar com a Vio. O Lys já esta olhando de cara feia para nós duas. Ele deve estar com fome. — disfaçou, deixando a amiga sozinha, não pela cara do amigo, mas para fugir daquelas revelações. Rosa olhou para o cunhado e não gostou da cara dele. Todos os outros já estavam almoçando.

Sem graça a albina foi até ele e antes mesmo de colocar a bandeja com o prato sobre a mesa se desculpou pela demora, inclusive para as garotas, que só poderiam sair de perto dos garotos para almoçarem depois de todos servidos.

— Eu estava tirando umas dúvidas da Sol. — justificou-se, colocando a bandeja sobre a mesa, à frente dele, que ao olhar para o prato respirou fundo e delicadamente puxou a guia, fazendo Rosa flexionar os joelhos para se abaixar um pouco, ficando com o rosto próximo ao dele.

— Há quanto tempo você me conhece, Rosa? — perguntou. Aquele olhar de satisfação de outrora não existia mais. Embora sua voz estivesse baixa, o tom não era de quem estava calmo. Os garotos pararam de comer para observá-lo, exceto Castiel, que já não se surpreenderia com mais nada vindo do platinado naquele dia.

— 1 ano. Por que Lys-fofo? — respondeu. Lysandre estava tão irritado que nem mesmo olhou para ela, fitando o prato ao invés do rosto da cunhada. ­– Lys nunca conversava com alguém sem olhar diretamente para a pessoa, salvo quando dispersava seus pensamentos num devaneio qualquer.

— Você quase sempre faz as refeições comigo e com o Leigh. Você conhece os gostos dele e acredito que os meus. Estou certo?

— Sim, está. — Embora ele não estivesse puxando a guia com força, segurava a corrente com firmeza e isso a estava deixando sem graça, coisa que era difícil de acontecer.

Ele não conseguia esquecer o que ouviu naquela noite.

— Sendo assim, você só pode estar querendo me sacanear. — Seu tom de voz mudou, ficando mais ríspido. Ele estava por um fio.

— C-Como assim, Lys-fofo. Eu coloquei o que você pediu... Aiii. — reclamou ao sentir um leve puxão na guia. Nada que machucasse, mas a situação estava começando a ficar embaraçosa para ela, pois todos olhavam para os dois e os cochichos começavam a rolar nas mesas, todos criando teorias para aquela pequena rusga entre cunhados.

— Você sabe que eu não como tudo isso e que eu não gosto dos alimentos misturados desta forma no prato. — reclamou, desta vez olhando para ela, mais ríspido ainda, achando que ela fez de propósito.

Desde pequeno, tanto Lys quanto o Leigh, aprenderam, algumas vezes na repreensão, que não era certo desperdiçar comida, pois a fome era uma realidade em muitos lugares pelo mundo, até pertinho deles. Eles aprenderam que deviam se servir apenas do suficiente para suprir sua fome e vontade, e evitar, ao máximo, deixar sobras no prato, pois estas iriam parar no lixo. Ver seu prato com o dobro de comida que ele costumava comer era forçá-lo a comer demais ou jogar fora. A primeira opção lhe deixaria irritado e a segunda com dor na consciência. Mas em se tratando de comida no prato, não era só isso que incomodava o platinado.

Lysandre, bem sabemos, tinha algumas características do avô materno e uma delas era a forma de colocar os alimentos no prato. Ele gostava de cada coisa no seu cantinho. Olhar para o prato e ver a carne sobre o arroz, o purê sobre a carne, a salada sobre o purê e o molho sobre tudo, lhe matou o prazer de comer, pois para ele a comida também devia despertar seus sentidos. E que sentido aguçaria com aquela bagunça? Tudo tinha que ficar separadinho, um ao lado do outro e se fosse necessário, em pratos separados. Claro, ele não era fresco ao ponto de se recusar a comer pelo alimento não estar arrumado no prato do jeito que gostava, até porque, ele não podia desperdiçar comida por aquele motivo, principalmente depois de aprender com o pai, quando criança, na repreensão, que alimentos não podiam ser desperdiçados com tantas fome no mundo, ainda mais por motivos insanos. Ele não perdeu o hábito, mas parou de se recusar a comer e aprendeu a ele mesmo e servir, apesar da mãe e da avó, e depois do irmão, fazerem seus gostos. E ele comeria aquela refeição sem fazer drama se não fosse o seu estado de espírito, que rejeitava a garota a sua frente e não a comida.

— D-Desculpa, Lys. E-Eu me distraí conversando com a Sol e fui colocando a comida no prato. F-Foi sem querer.

— Você se distrai e agora eu tenho que comer isso e nessa quantidade? — encarou-a, olho no olho, segurando a guia com mais força e bem perto do pescoço dela.

Os olhos de Lysandre tinham um brilho diferente. Seus olhos estavam vermelhos e molhados. Ele não conseguia mais olhar para a cunhada sem lembrar que Leigh o deixaria para ir atrás dela em Paris e este sentimento estava começando a escurecer sua razão e seu coração; ele teria perdido a calma com qualquer atitude dela, até um espirro.

Castiel, que estava sentado ao lado do amigo sentiu que o clima estava começando a pesar e que que o amigo estava nervoso demais por nada, o que não era do feitio dele. Aquele olhar não era de chateação por conta um climinha interrompido. Além do Lysandre não ser do tipo infantil, era visível que ele estava com raiva da Rosa. Mas por quê?

— Calma ai, Lysandre. Você está exagerando. — tocou no ombro do amigo, querendo evitar que ele fizesse algo que na certa se arrependeria, como ofender a cunhada, visto que sua aura estava bem pesada. — Solta isso antes que, sem querer, você a machuque e arrume problemas com seu irmão.

Machucá-la? Lysandre nunca machucaria a ela ou qualquer outra garota, nem com palavras, embora ele estivesse com várias entaladas em sua garganta e que se proferisse na certa magoaria a Rosa. Ele bem que queria olhar nos olhos dela e dizer que a odiava, pois por causa dela Leigh havia quebrado sua promessa e ele teria que voltar para a fazenda no final daquele semestre, sendo obrigado a deixar os amigos e seus sonhos para trás e principalmente, por causa dela ele voltaria a ficar longe do irmão, a pessoa que ele mais amava. Mas sua natureza não permitia e sua consciência lhe repetia que Rosa não tinha culpa do Leigh ter esquecido a promessa feita a ele e reiterado sobre a lápide da avó.

Lysandre não era do tipo que segurava suas emoções, mas não gostava de expor suas fraquezas, suas tristezas. Assim que sentiu a primeira lágrima escapar do seu olho cor de jade soltou a guia e se desculpou com os amigos.

— Sinto muito por estragar a diversão de vocês com meu mau humor. Prometo que um dia compensarei isso. — levantando-se, não sem antes levar dois dedos à boca, beijá-los e tocá-los na borda do prato, num gesto de desculpa pelo desperdício.

Ele passou pela cunhada, mas parou ao seu lado para se desculpar:

— Sinto muito se a constrangi, Rosalya. — ele manteve o olhar alto e para frente, — Eu não tinha esse direito. — não por tê-la perdoado, mas por entender que exagerou. Nem mesmo de soslaio ele a olhou. Ele estava apenas sendo educado.

Foi a primeira vez que Rosa viu uma lágrima de tristeza do cunhado. Ele sempre se enfiava no quarto quando estava chateado e ela acabava não o vendo nos seus momentos deprî. E mesmo quando Leigh lhe chamava a atenção ela não o via chorar, pois o namorado lhe pedia que fosse embora para que pudessem conversar sozinhos. Ele também não chorava na frente dos amigos, isolando-se sempre que se sentia triste ou irritado, buscando consolo na solidão ou nos braços do irmão, seu esteio; esteio este que ele acreditava ter perdido.

— Lys... — ela estava preocupada, mas nem mesmo sua voz doce abrandou o coração dele, que a ignorou, saindo de perto dela antes de esquecer que era um cavalheiro. — Lys... — chamou-o novamente, sendo ignorada. — Lys-fofo! — Ouvi-la dizer aquele apelido foi o seu limite, ele parou a menos de 2 metros dela e virou-se para encará-la. Ela devia ter percebido os sinais; ela devia saber quando deixar o tempo agir sozinho.

Rosa se aproximou e notou que o rosto dele estava sério novamente, embora o vermelho que cobria seus olhos molhados, há algumas gotas de começar a minar, não o deixasse esconder que estava se controlando ao máximo. Ela devia ter se contentado com aquele pedido de desculpas e tê-lo deixado ir.

— Por favor, Lys-fofo, me desculpa. Se nestes dias eu fiz alguma coisa que te magoou, foi sem querer. — sua voz ainda estava doce e Lys sentiu que ela estava sendo sincera, mas para ele, magoado e enganado, nada mudava o fato dela o achar um estorvo na vida do irmão; nada mudava o fato dela ser o motivo do irmão o deixar novamente; nada mudava o fato dele não conseguir perdoá-la, pelo menos não naquele momento, não naquele dia, e provavelmente, não naquela década. — Você sabe que eu te amo. Você é como um irmão para mim.

— O único irmão que eu tenho e que eu amo é o Leigh. — deixou claro. — Mas eu acho que isso não tem importância pra você. E por favor, não me chame mais de Lys-fofo. Meu nome é Lysandre Lemaitre, ou Ainsworth se você preferir, porque é só este sobrenome que você poderá ter algum dia. E por favor, Rosalya, não haja como se fossemos parentes, porque não somos e provavelmente, nem amigos. — dito isso ele lhe deu as costas e foi embora, antes de perder o controle da situação e deixar transparecer seu sofrimento; seus olhos não conseguiriam segurar suas lágrimas por muito mais tempo. Os rapazes e as garotas que estavam perto deles ficaram perplexos com o que ele disse à Rosa. Por sorte apenas eles ouviram.

— Mas que merda foi essa? — perguntou Castiel a si mesmo, de sobrancelhas crispadas e olhar inquisidor para Rosa.

A jovem ficou muda, pela primeira vez naquela escola, pois não era do tipo que levava desaforo para casa, tampouco se calava diante de uma palavra mais ríspida. Mesmo com Leigh ela discutia, calando-se apenas quando estava errada ou sem argumentos. Chocada era pouco. Não havia palavras para expressar o que ela sentiu.

— Rosa. Está tudo bem? — perguntou Mirella, preocupada com a colega de turma.

— C-Castiel. Nós já estamos liberadas? — perguntou a albina, sem olhar para os outros, totalmente desconcertada. — E-Eu preciso ir ao toalete.

— Eu já me cansei desta brincadeira. Por mim vocês cinco podem sumir das minhas vistas. — Rosa entendeu aquela resposta do amigo como um sim e os deixou, indo direto para o vestiário feminino do ginásio, a passos largos e rápidos, sendo seguidas pelas garotas. Pierre e Raul olharam um para o outro, deram com os ombros e voltaram a comer. Castiel foi atrás do amigo.

Lysandre foi direto para o porão, esquecendo que estava sem a chave. Mas por sorte o lugar estava aberto. Nathaniel estava tão agitado e confuso que esqueceu de trancá-lo. E o rapaz mal pisou o último degrau da escada e ouviu a porta acima dele abrir novamente. Rapidamente ele passou a manga da casaca nos olhos e respirou fundo umas duas vezes para conter aquele rio que há alguns dias vinha se formando dentro dele e que não tinha mais como ser represado.

Preocupado, Castiel correu até o porão. Ele sabia que o amigo iria para lá. Enquanto ele descia a escada Lysandre tentava se acalmar através da respiração, utilizando-se dos exercícios de relaxamento que aprendeu lendo uma revista de música.

Castiel parou atrás do amigo e seus olhos buscaram o presidente do grêmio, mas este já havia ido embora. Assim que Lysandre sentiu a mão do ruivo em seu ombro seus olhos marejaram novamente e seus lábios tremularam. Castiel não disse nada, Lysandre ter ficado quieto e permanecido de costas já lhe fez saber o quanto ele estava mal e queria ficar sozinho.

— Se quiser conversar estarei lá fora, na escadaria, por uns minutos. — Castiel tinha certeza que o problema do amigo com a Rosa era maior que uma queimada de filme com Emília, mas não ia inquirir nada; Lys lhe contaria a verdade assim que estivesse mais tranquilo, ele – quase – sempre contava, mesmo que só parte do problema.

— S-Se quer mesmo me ajudar... — fungou — distraia as meninas na secretaria.

— Seja rápido. — concordou, inquietando-se um pouco, pois aquele pedido de voz trêmula do amigo era inusitado. Lys não era do tipo que fugia da escola. Ele bolava aula sim, como todos os outros, mas não saía das dependências da escola; Leigh o mataria.

 

***

 

— Deixa de ser chato, Castiel. Diga logo o que você quer. — uma das funcionárias da secretaria já estava se irritando com o ruivo chamando-a na porta. — Eu tenho mais o que fazer sabia!?

— É, eu sei que você é uma mulher “muito” ocupada. — foi sarcástico. — Mas eu preciso que você me mostre a caixa de achados e perdidos. Eu perdi minha touca no dia do concurso e quero ver se alguém a encontrou e deixou na caixa. — mentiu, querendo tirá-la um instante da secretaria.

— Depois eu vejo isso, Castiel! Volte na hora da saída!

— Depois não vai dar. Eu tenho que sair correndo para ajudar num evento beneficente, esqueceu? Não vou ficar aqui esperando você procurar minha touca e acabar chegando atrasado naquele clube de granfinos. — reclamou, encostado no batente da porta que ligava a secretaria a parte interna da escola.

— Ai, que saco Castiel. Você sabe ser chato. — bufou a jovem de 19 anos que trabalhava na S.A. a pouco mais de 7 meses. Ela tinha uma relação quase de amizade com os alunos, o que lhe rendia algumas broncas da secretária, pois ela costumava dispersar do trabalho para ficar de papo com eles toda vez que ia levar um documento para algum professor no interior da escola. — Vem, vamos logo ver isso. — concordou.

— Vai lá! Eu preciso atualizar de um documento. — mentiu novamente, pois precisava se livrar da recepcionista. Por sorte a Srta. Sanches e a outra agente estavam almoçando. Ele descreveu como era sua touca e ela foi no almoxarifado da secretaria procurar.

Enquanto Castiel enrolava a recepcionista, fazendo-a ir a sala da direção para carimbar e assinar uma declaração escolar que ele não precisava e assim, deixar a secretaria vazia por uns minutinhos, Lys saiu de mansinho, indo para casa a pé. Ele não queria ficar sentado num banco de ônibus, parado; andar o ajudaria a não pensar no que tinha acabado de acontecer entre Rosa e ele.

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[1] Jack: apelido popular para pênis.

[2] 3ème - 9º ano EF


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Notas finais do capítulo

[1] Jack: apelido popular para pênis.
[2] 3ème - 9º ano EF

Inspirei-me em mim mesma em relação a comida misturada no prato. Eu simplesmente detesto. Não gosto que me sirvam porque eu gosto de tudo separadinho, cada alimento no seu cantinho e chego a usar 2 pratos, sendo um menor só para colocar a mistura se não couber no prato que está a comida. Às vezes minha mãe me servia e eu reclamava pra caramba, mas sempre comi, não desperdiço só por causa disso, mas é engraçado, o prazer é menor, até minha fome diminui. Ela deixou de me servir porque, segundo ela eu sou chata demais....rs Não me pergunte desde quando sou assim, acho que desde sempre, gosto dos alimentos separados porque sentimos melhor o sabor individual de cada um....

Quanto ao Lys... Surpresas???? Aposto que sim.....rs Agora eu me pergunto como está o coração dele depois disso.... (na verdade eu já sei, mas conto depois...rs)