Entre Segredos e Bonecas escrita por Lize Parili


Capítulo 107
Rio de lágrimas: parte 1-2


Notas iniciais do capítulo

O que eu posso dizer deste capítulo? O título já diz tudo! Mas não esperem que o rio transborde para todos os lados nesta parte...

Aqui, hoje, mais um segredinho é revelado, a vocês, porque para os envolvidos, só daqui alguns capítulos.

Imagem, by Fani



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 # 31/03 #

Por onde passava, Emília encontrava alguém que lhe lançava olhares, pois não tinha como as pessoas não repararem naquela jovem garota às lágrimas, no elevador, no piso térreo, na calçada, e andando tão rápido que provavelmente suas pernas ficariam doloridas. Na verdade sua vontade foi correr dali, para bem longe, se perder entre a multidão e desaparecer; mas para onde ela iria? Não importava o quão longe fosse, aquela dor que estava sentindo iria acompanhá-la. Sua parada foi o ponto de ônibus, mas os olhares e os cochichos foram tantos que ela andou por mais duas quadras, até encontrar um ponto vazio, onde sentou no banco de plástico e esperou seu ônibus passar. Só o que ela podia fazer, além de chorar e sofrer, era ir para casa.

Por quase 1 hora ela esperou por seu ônibus, tendo apenas como companhia um cachorro perdido e igualmente triste.

O animal de pelugem longa e branca se manteve encolhido embaixo do banco, assustado, esperando por seu dono, desejando que ele o encontrasse e o levasse de volta para casa, enquanto Sol tentava controlar o choro, entre engasgos e soluços, mas a cada vez que lembrava daquele beijo, que ela tanto desejou receber, sendo dado a Melody, ele retornava e ela se perguntava o porquê Nathaniel havia feito aquilo com ela.

Cansada de esperar Sol olhou pra trás e descobriu no mapa de linhas fixado no vidro que ali não era ponto da sua linha, então pegou o ônibus que passava mais próximo e foi embora, preferindo ter que andar algumas quadras até o prédio em que morava do que voltar até o ponto do shopping. E sentadinha no fundo do ônibus, na última fileira de bancos, no cantinho, com a cabeça recostada no vidro, ela chorou quietinha, controlando ao máximo para não ser notada, sentindo-se a pior das amigas, a mais idiota das garotas, a mais iludida entre as mulheres.

Mas nem todos naquela noite naufragavam em rios de lágrimas. O Rock in Roll embalava a noite de vários amantes do gênero, no mais puro estilo Rockabilly.

Acomodados numa pequena mesa de dois lugares, encostada na janela que dava para a frente da pizzaria, Maitê e Castiel riam enquanto conversavam e saboreavam as pizzas mais exóticas que eram servidas naquele lugar. Para eles, nada de mussarela, calabresa ou 4 queijos, isso eles poderiam comer em qualquer pizzaria de esquina. Na mesa só fatias cobertas com os sabores mais inusitados. Era diferente eles aceitavam. Enquanto para os outros a graça era comer à vontade, para o ruivo era desafiar a colega a experimentar os sabores mais estranhos, como a pizza "palak parneer", a base de pimenta indiana, bem picante. Sobre a mesa, dentro de um copo, diversas balas e cliquetes redondinhos e coloridos, pegos nas máquinas perto da porta. Cada desafio cumprido um doce era conquistado, que na verdade era mais que um prêmio, era para aliviar o sabor de algumas misturas loucas do pizzaiolo.

Geralmente a companhia daquele ruivo de cabelos brilhantes devido a seção de tingimento ressente, eram os seu melhores amigos, Lysandre e Iris. Na verdade foi num daqueles desafios malucos que ele beijou a amiga pela 1ª vez. Ela se recusou a comer a pizza de sashimi por odiar peixe cru, e não cumprir o desafio significava dar um selinho em quem estivesse à mesa, tirando no palitinho quem cobraria o castigo caso houvesse mais pessoas, e neste caso, Cast, que instigado, ao levá-la para casa, não hesitou em roubar-lhe da boca a última bala da noite. À pedido de Iris ele não contou para ninguém, nem para o Lysandre, seu confidente e por vezes, conselheiro; pelo menos não até eles repetirem a experiência pela segunda ou terceira vez e o ruivo sentir que precisava de um conselho sobre os riscos de ficar de vez em quando com uma amiga.

Tanto Cast quanto Maitê estavam encarando todas as pizzas malucas que passavam por eles, correndo o risco de se tornarem diabéticos pela quantidade de balas e chicletes ingeridos naquela noite. Mas quando a kamikaze aterrissou sobre a mesa, a coisa mudou.

— Vai. Você come primeiro! — disse Maitê, querendo ganhar tempo para criar coragem pra comer aquela fatia caprichada.

— As damas primeiro, sempre! — disse ele, com seu sorrisinho sagaz, querendo passar a vez.

— O que foi, querido? Já quer pular fora? Não vá me dizer que você não gosta de gengibre! — riu.

— É claro que eu gosto de gengibre. — respondeu ele, tentando não rir. — Mas aqui deve ter gengibre para um batalhão! — comentou. — E não sei se você prestou atenção no que o garçom disse, mas esta borda está recheada de wasabi! — contou cortando a borda com a faca para mostrar-lhe a pasta verde e quente, lembrando ao mesmo tempo daquela bolinha maldita que o tio enfiou em sua boca. Ele não queria ver aquela pasta japonesa na frente dele, tampouco levá-la a boca, por séculos.

— Ah. Assim não vale. Devia ter um castigo para quem recua no desafio. — disse ela pegando uma pequena fatia de gengibre e levando a boca. — Perdeu a graça o jogo agora.

— Na verdade até tem, mas você não ia gostar do castigo. — comentou.

— Como você sabe que eu não vou gostar? Diz o que é e eu decido.

Castiel sentiu as bochechas esquentarem, mas não era pelo gengibre, que nem mesmo experimentou. Por mais que aquela ideia lhe agradasse, ele não ia propor aquele castigo a ela. Seria atrevimento demais, total falta de noção e respeito pensou ele.

— Vai, Cast. Diz qual é o castigo. — insistiu. — Não vale eliminar o castigo só porque você é quem vai fugir da pizza.

— Ok, então. Eu incluo o castigo no jogo se você me disser uma coisa antes. — barganhou.

— Ok. Pode perguntar!

— Você vai comer a sua fatia? — perguntou, com uma ironia debochada. — Porque até agora você está me apertando para comer e até querendo me castigar, mas não estou ouvindo nada sobre o seu apetite voraz pela sua kamikaze.

Maitê deu um sorriso jocoso, largo, se endireitou na cadeira e disse:

— Kamikaze aqui, só a pizza. Eu adoro gengibre, mas comer essa quantidade de gengibre sem ser curtido e com wasabi junto é coisa para japonês suicida.

Cast não aguentou e riu, assim como ela.

— Se nem você e nem eu vamos comer isso. — falou ele empurrando o prato para o lado. — Não tem o porquê falarmos do castigo. Ambos perdemos esta rodada.

— Mas e nas rodadas seguintes?

— Você ainda aguenta comer mais alguma coisa? — ele não aguentava mais nenhum pedaço de pizza.

— Para falar a verdade, não. Acho que nem a sobremesa eu consigo encarar.

— Eu também já estou cheio, então para não cometermos o pecado da gula, vamos encerrar as pizzas por hoje. — na verdade ele queria encerrar aquela história do castigo.

De boba Maitê não tinha nada. Cast não querer falar qual era o castigo fez ela deduzir que tinha a ver com pegação, pois adolescentes tinham por hábito criar jogos em que pudessem tirar uma casquinha e até trocar uns amassos com os colegas sem compromisso nenhum. Todo aquele receio por parte dele a fez ver o quão jovem ele ainda era. "Mas me respeita." pensou, olhando-o.

No pequeno palco improvisado, ao lado da máquina de música, que naquela noite estava desligada, uma banda com 4 rapazes e uma senhora de meia idade no vocal, dona de uma voz invejável, e um grupo com 3 casais de dançarinos eram os responsáveis por fazer a galera queimar as calorias de toda aquela massa deliciosa. Enquanto a banda tocava os dançarinos faziam coreografias fáceis e que os mais animados acompanhavam tranquilamente, uns com mais ritmo que outros.

— Vem comigo! — disse Cast, querendo fugir daquele olhar que lhe estava fazendo querer ser castigado, levantando e puxando Maitê pela mão, assim que ouviu "You're The One That I Want", música do filme Crease. Ela só teve tempo de levar mais uma fatia fina de gengibre a boca, querendo não pensar no sabor do castigo.

Se alguém lhe contasse, ela não acreditaria. Castiel sabia toda a coreografia daquela música, como se fosse o próprio John Travolta. Maitê estava mais que surpresa, ela estava admirada. Ela teria ficado apenas olhando, assistindo seu performance, mas não teve como não entrar no ritmo, Cast não a deixou ficar sem mover o corpo, quanto mais sem se arriscar naquela coreografia, tão simples e ao mesmo tempo tão divertida, ainda mais com aquele ruivo de olhar e sorriso encantador.

Seguida daquela canção, a banda engatou "Tutti-Fruit" e novamente Cast ensinou seu par a dançar, no melhor estilo Rockabilly, sem passos marcados, apenas mãos dadas e ritmo, mexendo ombros, quadris e pernas. Além de um lado da família do rapaz ser de roqueiros e ele ter crescido ouvindo aquelas músicas - além de outros clássicos do Rock in Roll - na casa dos avós paternos, ele já havia estado naquela pizzaria em noites como aquela várias vezes, depois de ter ficado solteiro. Não tinha como não saber dançar. Maitê esteve ali poucas vezes antes da Emília mudar para Nice, sendo a última desastrosa.

Dançar o Rock in Roll era estimulante, mas cansativo para quem não estava acostumada. Maitê precisava sentar um pouco, mas assim que Cast ouviu a batidinha inicial do baixo, deduzindo a canção que viria a seguir, parou onde estava.

Há alguns passos à frente dele Maitê se viu obrigada a parar, pois Cast não soltou sua mão, impedindo-a de continuar a caminhar rumo à mesa. Ela sabia o que ele queria e ficou ali, parada, ofegando um pouco pelo cansaço, sentindo um pedacinho de sorriso se formar em seus lábios a cada passo dele até ela, recebendo-o com um sorriso gracioso, singelo, quase sem mostrar seus dentes, tão branquinhos e brilhantes, e que o levaria a sorrir sozinho sempre que lembrasse dele e daquele momento.

Ele conduziu a mão dela até seu ombro e depois pousou a dele na fina cintura dela. Suas outras mãos se tocaram e ele a conduziu num dança calma ao som de "Stand by me" de Ben E. King.

— Eu achei que você não soubesse dançar desta forma. — ela comentou, olhando para o lado, para suas mãos unidas distante deles por um braço levemente flexionado, sentindo o suor da mão dele aquecer a sua, envaidecendo-se. — Como todo roqueiro moderno, eu achei que você só soubesse bater cabelo! — fazendo-o rir.

— Tem muita coisa sobre mim que você não sabe. — disse-lhe, sem tirar os olhos dela, que mesmo olhando para o lado, percebia aquele olhar acinzentado direcionado ao seu rosto. — Mas pode saber, se quiser. — E ele estava tão seguro de si que a fez sorrir, sem graça. Ela estava ficando nervosa, mas não admitiria isso para si mesma. Para todos os efeitos, era o cansaço que ainda mantinha sua respiração falha e apenas o suor da mão do ruivo que umedecia suas mãos unidas.

— Diga-me uma, então. — ela pediu, olhando-o de soslaio[1], sem coragem para olhar direto nos olhos dele, movida mais pelo momento que pela curiosidade.

— Eu gosto de dançar a dois... — disse-lhe algo que era óbvio, visto que estavam dançando.

— Isso eu já sei. — constatou ela, sem esperar que ele terminasse de falar, quase perdendo o compasso com o que ele fez a seguir

— ... Mas coladinho. — concluiu, puxando-a mais para perto dele, pela cintura, envolvendo-a praticamente num abraço de um braço só, sem apertá-la, trazendo para perto deles aquelas mãos suadas e que poderiam se soltar tranquilamente caso Maitê se sentisse incomodada com aquela aproximação, mas ao invés disso ela recostou a cabeça no ombro do ruivo, sentindo a mão dele apertar a sua ao mesmo tempo que ouvia aquele coração juvenil bater descompassado, porém, não mais que o seu próprio descompasso, que ele também pôde sentir enquanto inebriava-se do perfume daquele cabelo violáceo e macio.

Nenhum dos dois fechou os olhos, nenhum dos dois se olhou durante os minutos que seguiram, ambos corados, embalados pela canção que aquela senhora cantava tão bem e que ao perceber aquele único casal dançando, fora seus colegas dançarinos, pagos para isso, emendou "Stand by me" com "Love Hurts" dos Everly Brothers, para prolongar aquele momento.

Tanto Cast quanto Maitê fitaram o nada enquanto dançavam, cada um preso em sua própria mente, em sua própria sensação daquele momento, que pareceu ser mais longo do que realmente foi. Nenhum dos dois emitiu uma única palavra depois de se sentirem tão perto, mas muitas ecoaram em suas mentes.

"O que eu estou fazendo? Ele é só um garoto." Cobrava-se Maitê, sem entender aquela sua vaidade, que ela considerou insana. "Por que eu me envaideço disso? Ele é um menino." E cruel, pois quanto mais ela percebia o interesse dele, mais ela gostava de vê-lo interessado. "Um menino lindo e com um cheiro delicioso." Castiel não usava perfume, só mesmo um antitranspirante neutro, sem perfume nenhum. O único produto perfumado que tocava sua pele era o sabonete antibactericida a base de aveia ou mel, cujo cheiro só ficava na pele dele durante a 1ª hora. Cast tinha um cheiro natural ao qual ela não estava familiarizada e que alimentava sua insensatez.

"O que eu to fazendo, caralho? Que porra. Eu só posso estar ficando louco!" Cobrava-se Castiel, querendo entender aquela sua fissura naquela mulher que ele tinha como amiga e que poderia ser sua mãe. "Ela não é minha mãe, caralho. Ela não é minha mãe!" dizia-se com seus neurônios inebriados pela mistura da sua testosterona com o perfume dos cabelos daquela jovem e linda mulher de 33 anos e que já o havia levado a tomar banhos gelados algumas vezes que se pegou pensando nela de um jeito que não deveria. "Louco, louco, louco... Castiel, você só pode estar louco." Repetia-se enquanto, sem pensar, inspirava o perfume floral do pescoço dela, que sentiu toda pelugem daquela região eriçar, tendo ela engolido um suspiro, tentando não se denunciar. "Ahhh... louco por este cheiro!"

Maitê usava um perfume chamado Infusion d'iris, da Prada, e que, às vezes, compartilhava com Emília; perfume de aroma floral e que somado ao cheiro natural de sua pele inebriava aquele rapaz de madeixas vermelhas como brasa acesa, cor da paixão, da ardência; mesmo perfume que na pele da mais jovem, confundia a mente de um rapaz de cabelo platinado, remetendo-o às suas lembranças mais perturbadoras e estimulantes.

Enquanto dançavam não perceberam os olhares que lhes eram lançados, mas não por serem os mais belos, ou mais bem caracterizados, pois eles estavam parecidos a tantos outros casais, ele era apenas mais um James Dean e ela mais uma pin-up; mas porque parecia haver algo entre eles, um contraste que despertava a atenção de alguns, fosse por seu conservadorismo, por serem descolados ou até por uma leve pontada de inveja.

Numa das mesas do lado de fora eles foram observados por dois pares de olhos curiosos que haviam chegado no local há pouco mais de meia hora, um deles tomado pelo ciúme.

— Nem pense em fazer isso! — Patrick repreendeu a sua companhia, preocupado com o que poderia acontecer. — Vocês não têm mais nada, então segura a onda e senta esse rabo aqui, do meu lado! — referiu, não muito educado, puxando-lhe o braço para que sentasse ao seu lado.

— Você sabia disso, Patrick? — perguntou o coração que sangrava por ver a mulher amada nos braços de um garotinho do lyceé. — Você sabia que sua amiguinha está de caso com um... fedelho... um... moleque? — sentindo uma raiva gigantesca lhe queimar a razão.

— Que caso o quê. Não vê coisa onde não tem! — falou, tentando evitar um problema para sua melhor amiga, mas igualmente curioso e intrigado. — Você sabe bem que ela não se envolveria com um garoto. — afirmou, não tão certo disso, pois ele mesmo sempre teve suas dúvidas quando aos gostos de sua quase irmã, ao qual conhecia todos os segredos, até os mais secretos e proibidos até de lembrar, quanto mais de mencionar.

— Não se atreva a mentir para mim! — ralhou num tom ameaçador. — Não é a primeira vez que os vejo juntos! — disse, lembrando-se do dia em que os viu na praia, juntinhos enquanto ele dedilhava um violão.

— Eu não sabia e nem quero saber... — falou, segurando-se para não se enervar, pois não queria discutir com quem pagava seu salário, mentindo, pois estava louco para saber. Ficar fora dos babados da vida da Maitê o fazia se consumir em curiosidade. — Mas isso não vem ao caso agora! O que interessa aqui, é que você vai ficar com esse seu rabinho colado neste banco, pois se você se atrever a levantar e ir lá, fazer barraco com a Tetê eu não respondo por mim! — ameaçou, categórico, apontando pela janela para o casal que terminava sua dança. Pela Tetê ele perdia a compostura.

— E quem você pensa que é pra achar que pode me dizer o que fazer? Ainda mais em relação aquela traîte?

— Escuta aqui, eu não sou a Tetê que você falava como bem queria. E que por sinal foi um dos motivos dela ter se cansado da sua companhia. — ralhou, sem gritar, tentando manter a discrição, cutucando mais a onça do que acalmando-a.

Patrick odiava que lhe tratassem com grosseria e irritá-lo era pedir para ele esquecer que era um homem fino e educado, ainda mais quando se tratava de Maitê, que ele amava demais.

— Você não tem ideia do quão difícil está sendo para mim ficar longe dela. Nós íamos viver juntos! — contou com os olhos a avermelhar. — Ela não pode simplesmente jogar fora 6 anos da nossa vida por um garoto que ainda recheia sua mochila com livros de História e Geografia! — desabafou, tentando segurar seu ciúme, que estava a ponto de explodir.

— Olha, eu sei que o que eu vou dizer vai doer, mas direi mesmo assim. A Tetê não te trocou por este garoto, nem por ninguém. Ela te deixou porque estava cansada de sofrer por sua causa. Você sabe muito bem que só vacilou com ela, então para de choramingar pelo leite derramado e a deixe ser feliz! — falou de forma mais branda, pois apesar de tudo, ele sabia que aquele amor era realmente grande, exceto da parte da Maitê, que foi sendo minado ano a ano pelas diversas pisadas de bola, até que findou. — E quer saber de uma coisa, vamos embora, porque você aqui com a Tetê lá dentro com aquele ruivinho não vai dar certo. — chamou, levantando-se.

Enquanto isso, do lado de dentro, Maitê nem sonhava que sua noite de diversão corria um sério risco de terminar pior do que começou, pelo menos para ela.

Assim que voltaram para a mesa, ambos sem graça, tentando agir como se aquela dança tivesse sido apenas isso, uma dança, o celular dela tocou. Ao pegar para atender viu que era o número fixo do seu apartamento, estranhando, pois pela hora Emília ainda poderia estar com o Nathaniel.

— É a Emília. Eu vou atender lá fora. Já volto. — disse ao Cast, que não se importou com o fato de ser Emília ao telefone, mas ficou apreensivo por não saber o motivo da ligação, não pela Sol, mas por Maitê. Ele ainda não queria encerrar a noite.

— Oi, Emília. Aconteceu alguma coisa? — perguntou a sobrinha, preocupada, mas sem demonstrar tal preocupação em sua voz.

— T-Tia. A senhora vai demorar pra voltar? — perguntou a jovem, segurando o choro, sem responder a pergunta. Ela não queria falar do cinema, assim como não queria ficar sozinha no apartamento, que naquela noite pareceu ser grande, frio e silencioso.

— Não sei, querida. Acredito que sim. Por quê?

— P-Por nada. É só pra saber.

— Está tudo bem ai? — perguntou, sentindo que ela estava meio chorosa. — Aconteceu alguma coisa?

— E-Está tudo bem, tia. Não se preocupe. — disse, querendo na verdade dizer: "Não, não está e eu preciso do seu abraço, agora." — Eu só queria saber se a senhora está se divertindo. — mentiu, querendo evitar que a tia percebesse alguma coisa. Na verdade ela sabia que tinha pisado na bola e não seria justo ela priorizar a si de novo. O Castiel não merecia, sua tia não merecia.

— Se é só isso mesmo, sim, eu estou me divertindo, querida. Seu amigo Castiel é muito divertido. — disse Maitê, pensando que Sol estava apenas com ciumeira da atenção dela com ruivo, então não deu muita importância. — Faz muito tempo que eu não me divertia, nem ria tanto. Ele é uma figura! — comentou e Sol percebeu que ela estava feliz pelo tom de voz. Noutro momento ela teria se enciumado, mas naquele ela se sentiu uma idiota que fez a escolha errada.

— Q-Que legal, tia. Fico feliz que a senhora se divirta um pouco. Isso de só trabalhar não deve ser tão legal. — comentou. — Eu vou desligar agora. Vou comer alguma coisa. — falou, encerrando aquela conversa. Mas na verdade ela foi para o quarto da tia, chorar abraçada ao travesseiro dela, encoberta por sua colcha de chenille, querendo se sentir abraçada, protegida.

Maitê estranhou um pouco a reação da sobrinha, mas atribuiu a um possível arrependimento pela pisada de bola com o Castiel, desejando muito que fosse isso, pois ela ficaria muito triste se eles realmente rompessem a amizade por conta daquilo.

— Quer dizer que agora você fica de casinho com os amiguinhos da sua sobrinha! — ouviu Maitê, antes mesmo de dar o 1º passo de volta a pizzaria, ficando sem reação diante da porta. — Quem diria, Maitê e... um menino! — aquele sarcasmo a feriu.

— Cala essa boca! — ordenou Patrick bem atrás, querendo evitar aquela cena. — Nós estávamos indo embora, lembra. — pegando em seu braço.

— Me solta, Patrick. Eu não vou embora antes de ter uma conversa definitiva com esta... — interrompeu-se, engolindo aquela ofensa, pois apesar de todos os problemas que tiveram, nunca foi capaz de dirigir a Maitê palavras que ofenderiam sua moral.

— Eu não tenho mais nada para tratar com você! — disse-lhe a baixinha, dando-lhe as costas, indo ao encontro de Castiel para pedir que fossem embora. Mas ao se ver seguida por passos firmes, passou direto por ele, indo para o toalete feminino.

Castiel percebeu a nuvenzinha negra ofuscando seu semblante e pensando ser algo com Emília, preocupou-se, mais por Maitê que por Emília, pois ele sabia o quanto aquela tia amava e se preocupava com aquela tratante. Ele teria ido atrás dela, mas não podia entrar no toalete feminino, então esperou, encafifado.

Patrick até tentou, mas não conseguiu segurar a fera, que foi atrás da ex dentro do toalete.

— Nunca mais me deixe falando sozinha! Sabe muito bem que eu odeio isso! — ralhou assim que se deparou com Maitê, próxima a pia.

— Eu já disse que não temos mais nada para conversar. Por favor, me deixe em paz, Sophie!

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Notas finais do capítulo

(1) Soslaio: Diagonal (obliquidade)

As músicas foram escolhidas nas versões originais da época (anos 50)



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