Entre Segredos e Bonecas escrita por Lize Parili


Capítulo 102
Pizza ou Pipoca?


Notas iniciais do capítulo

Escolhas...
Por que somos obrigados a fazê-las quando não importa o que ou quem escolhemos, alguém sempre sai magoado/a?

—--

PS. O capítulo ficou um pouco grande, tipo, quase 2 mil palavras a mais do que eu gosto num capítulo, mas não tinha como quebrá-lo.



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# 31/03 #

 

— Gina, posso usar seu celular novamente, às 17 horas? — pediu o rapaz ao devolver o aparelho para a arrumadeira, que sorridente lhe disse que sim.

— Vou deixá-lo na gaveta. Quando for usar é só pegar e depois colocar de volta no lugar.

"Por que o Nath está usando o celular da Gina?" perguntou-se Ambre enquanto ouvia escondida, ao lado da porta que separava cozinha da sala e jantar, correndo até a mesa de vidro de 8 lugares que ficava embaixo da escada assim que ele saiu daquele cômodo, sentando tão rápido na cadeira que quase caiu, mexendo no próprio celular, para disfarçar. Ela só não desconfiou da expressão um tanto quanto suspeita da irmã por estar distraído demais com seus pensamentos. Assim que ele subiu a escada, ela levantou e foi espiar a empregada, vendo onde esta guardou o aparelho.

— Gina. Eu preciso que você passe o meu vestido lilás de pregas. Eu vou sair mais tarde e quero usá-lo. — pediu, entrando na cozinha.

— Está bem, Ambre. Eu já farei isso.

— Já nada. Eu quero que você faça isso agora! — ordenou, querendo na verdade que ela saísse da cozinha. — Eu preciso ver se ele combina com os sapatos e amarrotado do jeito que esta não dá nem para olhar para ele, quanto mais vesti-lo!

— Sim, Srta. Ambre. Em poucos minutos eu te entrego o vestido. — Gina sabia que Ambre provavelmente nem usaria o tal vestido, e que nem devia estar tão amarrotado, visto que ela passava todas as roupas antes de guardá-las, mas não ia deixar aquilo para depois, pois sabia o quanto a jovem era caprichosa e na certa ia ficar de choramingo, dizendo que se fosse para o Nathaniel ela teria passado o guarda-roupa inteiro sem ele nem pedir. Era melhor fazer aquilo logo, assim Ambre ficaria feliz e a deixaria fazer suas tarefas em paz.

Assim que Gina saiu da cozinha Ambre pegou o celular da gaveta, mas para seu desapontamento, nenhuma direção que ela fazia com os dedos no visor desbloqueava o aparelho, até que ela cansou de tentar, errar, tentar, errar de novo e de novo, esperar para poder tentar de novo devido ter esgotado as tentativas e depois de novo, e de novo e nada.

Chier[1]! Como eu posso saber para quem o Nath ligou se nem desbloquear esta porcaria eu consigo! — reclamou, irritadíssima, jogando o aparelho de volta na gaveta, votando para o seu quarto.

— Eu aposto que foi para aquelazinha. Mas por que ele ligou do celular da Gina e não do telefone da sala? — perguntou-se, sentando em sua cama, tentando adivinhar o porque o irmão estava tão feliz.

— Filho da mãe! É claro. Ele não quer que a mamãe descubra o número dela. Só pode! — deduziu, lembrando que ela mesma fazia isso sempre, só que usava o celular das amigas para flertar com seus affairs.

— Pois bem, maninho. Às 17h00 "nós" faremos uma ligação, e se for para aquela magricela, você que me aguarde!

Enquanto isso num apartamento de frente ao parque uma garota de olhar confuso e cabelo castanho tão escuro que passava por negro, tentava encontrar uma solução para seu impasse. Sentada diante da sua escrivaninha, com sua boneca de olhos bem abertos ao lado e com a vassourinha em punho, ela conversou consigo mesma enquanto manchava de violeta as páginas do seu diário.

[ Meu Deus. Eu não posso acreditar que o Nath me convidou para ir ao cinema. Estou tão feliz que tenho até medo de algo dar errado. Mas o que eu estou pensando, já está tudo errado. Ele tinha que me fazer este convite justo hoje que eu combinei de sair com o casca grossa? É uma merda mesmo!

Eu devo ser muito azarada, porque toda vez é isso. Sempre que estou com o Nath o rabugento aparece. Parece até que ele está destinado a queimar meu filme. E hoje, é queimar literalmente o filme.

Aiiiii, meu Deus. O que eu faço??????

Eu não posso simplesmente desmarcar com o Castiel. É a noite Rockabilly. E eu também não posso mentir, estou louca de vontade de ir nesta noite dos vovôs roqueiros. Minha tia disse que é muito legal e até me emprestou suas roupas. Mas é o Nath! Como posso não ir ao cinema com ele? Como eu posso abrir mão de sentar ao lado dele, separados apenas por um braço de poltrona??????

Mas o Cast é meu amigo. Seria sacanagem com ele marcar e depois desmarcar. Se fosse o Lys eu aposto que entenderia, mas o Cast, até parece, ainda mais se tratando do Nath. Ele vai soltar os cachorros em cima de mim. E aposto que ainda vai fazer questão de me lembrar que só foi ao colégio ontem por minha causa, o que por sinal é verdade.

Por que só comigo acontece isso? Será que eu estou destinada a não ficar como Nath? Será que isso é uma manipulação do destino para me separar dele, visto que ele é namorado da Melody? ]

...

O silencio tomou conta da mente da jovem, que apoiou o rosto na mão que segurava a caneta e a outra levou à boca, começando a roer as unhas. Pensar na amiga e no loiro juntos lhe deixava chateada e, de certa forma, nervosa.

— Aposto que isso é coisa sua! Você está se vingando por eu ter te transformado numa bruxa horrorosa! — acusou sua boneca. Ela precisava culpar alguém ou alguma coisa, então sua boneca, que um dia foi uma linda fada de cabelos rosados como os da personagem de um game qualquer, foi seu bode expiatório.

— E para de olhar pra mim assim! Eu não fiz nada! — ralhou virando a boneca de costas, pois até seus olhos vermelhos de botão de madrepérola pareciam lhe acusar. — Qualquer hora eu arranco seus olhos! — ameaçou, da boca para fora, pois por mais que renegasse sua bruxinha, ela a amava.

E depois de um suspiro longo e desesperançoso Sol voltou à rua reflexão com aroma de uva.

...

[ Está vendo só, diário. Eu estou começando a surtar. Até para a minha fadruxa está sobrando.

Eu não consigo entender. Se o Nath namora a Melody, por que me convidou para ir ao cinema? Será que ele rompeu com ela? Será que depois de ontem ele criou coragem e terminou com ela?

Ai, meu Deus. Se for isso eu vou parir um filho!

Calma diário, eu já bati na madeira pra isolar. Já pensou, um filho agora é suicídio, ou melhor, homicídio, porque minha tia me mata. Se bem que um bebê loirinho só meu e do Nath seria muito fofo. (Se minha tia lê isso nem sei o que vai pensar. Se bem que nem eu sei o que pensar, nem beijar eu acho que sei, quanto mais fazer um filho.)

Olha só, eu falando em filho, se nem um beijo de verdade ele me deu ainda.

Um beijo. Será que ele me beijaria no cinema?

A Mila diz que quando um garoto leva a garota para a última fileira é porque quer beijar. Ele me levaria para a última fileira?

Será que ele levantaria o braço da poltrona só para me abraçar? Eu quero tanto poder ouvir o coração dele bater de novo.

Será que ele seguraria na minha mão? Eu quero tanto poder sentir os dedos dele entrelaçados nos meus novamente.

Mas o que eu quero mesmo é sentir o gosto do beijo dele. Será que a boca dele é macia?

Só de pensar nisso eu já me arrepio toda.

Mas e a Mel? E se ele ainda estiver com ela? Talvez só deram um tempo, ou discutiram, ou então ele só quer ter certeza se quer ficar comigo ou continuar com ela.

Aposto que eles se beijam todos os dias. Eles chegam antes dos outros alunos e se enfiam naquele grêmio. Aposto que eles começam e terminam o dia com um beijo.

Que droga. Aposto que eu estou com cara de enterro de novo. Isso não é justo. Eu não mereço sofrer assim. Eu não quero sofrer assim.

Eu só quero ser amada. E por que não pelo Nath, se eu o amo?

Dizem que o primeiro beijo a gente nunca esquece, mesmo quando é ruim. Então, já que é para lembrar a vida inteira, é errado eu querer que seja com alguém que eu amo?

Eu sei que o Nath pertence a Melody e que talvez nunca venha a ser meu, mas é errado eu querer tanto que meu primeiro beijo seja com ele?

Eu queria tanto ter coragem para mentir.

Ah, tia. Por que a senhora sempre me disse que o preço que a mentira cobra pode ser alto demais?

A verdade já está me cobrando um preço super alto, então o que a mentira poderia me cobrar a mais? ]

...

A atenção de Emília direcionou-se para a porta, pois sua pequena Hàoqi, que queria companhia, estava miando do lado de fora. Ela trancou seu diário, devolveu a vassoura à sua boneca, saiu do quarto, pegou sua filhotinha e foi ver a tia, que ainda dormia.

Se Sol estava confusa, Nath corroia-se de ansiedade, assim como sua irmã, mas de curiosidade. Pouco antes da cinco da tarde, ela ficou de espreita, sentada no último degrau da escada, teclando no face com suas amigas pelo celular. Assim que Nathaniel foi para a cozinha ela correu para o quarto dele, escondendo-se embaixo da cama de mogno, que era mais alta que a dela. Por sorte a colcha cobria toda a cama e a manteria no anonimato.

Assim que porta abriu Ambre sentiu o coração bater forte. Se Nath a pegasse debaixo da sua cama ia ser um tremendo problema; ele teria uma moeda de troca e ela não estava afim de ficar devendo nada para ele. Mas agora não tinha mais como voltar atrás, ele já estava dentro do quarto.

"Já era." pensou ela ao ver os pés dele bem diante dela, mas a cama afundou e ela respirou aliviada. Ele apenas se sentou na cama.

— Oi, Sol! Sua tia melhorou?

"Eu sabia." pensou Ambre ao ouvir o nome de Emília, fula da vida, contendo-se para não beliscar o tornozelo do irmão. "Eu mato essa magricela!"

— Que bom! — comentou ele, sorridente e feliz por saber que Maitê estava melhor, pois isso significava uma única coisa: braço de poltrona erguido e um doce morango adoçando sua boca.

Sol roia as unhas do outro lado. Não era certo, ela não podia fazer aquilo com o amigo, muito menos com a Melody. Ela queria não ter consciência naquele dia.

— Então... Eu posso te pegar às 18h30? — perguntou, certo que ouviria um sim, mas temeroso, pois tudo que referia a ele e Sol juntos parecia dar errado.

— M-Mas você me disse que se a sua tia melhorasse... — falou, sentindo uma mistura de desapontamento e raiva, pois ouvi-la dizer: "Não vai dar!" fez seu coração doer e voltar a desconfiar que o motivo era o Castiel. Ele nem mesmo a deixou completar a frase. — É o Castiel, não é? — questionou, balançando a perna, o que fez a irmã perceber que aquilo o incomodou muito. — Está tudo bem se for; eu entendo. Hoje é o melhor dia do mês para vocês irem. — Ele não queria transparecer seu desapontamento, tampouco que estava enciumado.

Ambre cerrou o punho e mordeu o dedo para evitar gritar de tanta raiva que ficou, que amaldiçoou Emília, como se a marca dos dentes em seu dedo tivesse sido feita pela pseudo rival.

— Você não precisa explicar nada, Sol. Eu já disse que entendo. E eu preciso desligar agora, tenho que devolver o celular para minha empregada. Até 2ª, no colégio.

Nath não estava pronto para aquele não, por mais que soubesse que podia ouvi-lo. Ele nunca imaginou que um dia teria coragem de desligar o telefone na cara da Emília, mas foi preciso; ele não ia conseguir segurar a onda se continuasse falando com ela. E depois de desligar, ele respirou fundo para controlar a raiva que estava sentindo, mas não conseguiu, então xingou, o Castiel, não a Sol. Por mais que estivesse chateado não a culpava, afinal, se eles haviam combinado antes, claro que ela honraria seu compromisso. O problema era que ele não conseguiu evitar ter ciúme, tampouco pensar que o Castiel podia tentar alguma coisa com ela, que poderia muito bem ficar com ele, afinal, ela era solteira, livre e desimpedida. Pensar alto e falar aquelas coisa para ele mesmo só o deixou mais chateado e enciumado. Embaixo dele, Ambre chorava silenciosa, tomada pela raiva e pelo ciúme. Ela daria um jeito, mas Sol não ia sair com o "seu" Castiel naquela noite, muito menos ia se dar bem depois de magoar seu irmão.

Do outro lado Emília estava com o celular na mão, sentindo como se tivessem lhe tirado a única chance de ser feliz. Ela respirou fundo, uma, duas, três vezes...

Após o terceiro toque seu único pensamento foi: "Eu quero e mereço ser feliz!"

— SIM. Eu quero ir ao cinema com você! — falou assim que percebeu que a ligação foi atendida, sem nem mesmo dar tempo do loiro dizer alô, ou "O que você quer, Sol?" e que engoliu assim que a ouviu dizer o sim que ele tanto quis ouvir minutos atrás. — E por favor, não desliga! — pediu, com medo de ele ignorar sua confirmação e desligar novamente.

Por sorte o Nathaniel quis se acalmar antes de devolver o celular da Gina, estando no corredor, diante da porta do seu quarto quando o aparelho tocou. Mas ele ficou confuso com aquela mudança repentina.

— C-Como assim, Sol? Eu não estou te entendendo?

— Eu aceito ir ao cinema com você, Nath. — confirmou ela sua resposta oficial. — Mas você não pode vir me pegar em casa às 18h30, porque eu não vou estar aqui a esta hora. — mentindo para que ele não fosse a sua casa, querendo na verdade evitar que a tia descobrisse o motivo dela pisar na bola com o ruivo, sem nem mesmo saber como desmarcaria com o outro.

— Isso é sério mesmo? Você aceita ir ao cinema comigo, hoje? — perguntou novamente, encostado na porta fechada, querendo ter certeza que não estava se precipitando e se enganando de novo, e ao ouvi-la dizer que sim sentiu como se lhe tirassem um balde de pedras de cada ombro.

— Espera só um minutinho, Sol. — ele abaixou o telefone e cobriu a entrada de áudio, pois não sabia se ria ou apenas sorria, até porque estava difícil controlar sua alegria; mas ele não queria parecer um bobo ao telefone, tampouco entusiasmado demais.

— Então... onde eu posso te pegar? — perguntou tranquilamente assim que acalmou seu riso frouxo de nervoso. — A sessão é às 19h45.

— Daqui a pouco eu vou ao Buffet com minha tia. Ela tem que ver umas coisas lá, já que não foi trabalhar hoje. Na volta ela me deixa no shopping e eu te encontro na frente do cinema. — combinou, sentindo-se horrível pela mentira, mas desta forma ela evitaria um problema enorme com a tia, que na certa a obrigaria a dizer a verdade para ele e também para o Castiel, pois com certeza ela não ia dizer ao ruivo que trocou a pizza pela pipoca.

— Então estamos combinados. Vou comprar as entradas agora, pela internet, para adiantar. — confirmou, desligando o celular em seguida. Ele nunca pensou que seu coração pudesse bater tão acelerado. Aquele tipo de ansiedade era nova para ele. Nem quando ele deu seu primeiro beijo foi assim, até porque o sentimento que o motivou foi a vontade de beijar uma garota e não a paixão.

Ele teria ido devolver o celular da Gina, mas preferiu comprar os ingressos antes. Cada minuto ficou precioso depois daquele sim.

— O que você está fazendo no meu quarto? — indagou. Em seu semblante o traço de alegria havia sumido.

Nath ficou irritadíssimo com a irmã, que assim que ele saiu do quarto, deixou seu esconderijo para ir embora, mas ao chegar perto da porta o ouviu atender o celular e movida pela curiosidade, ao invés de voltar para debaixo da cama, colou o ouvido na porta para ouvi-lo, esquecendo naquele instante onde estava e que se ele abrisse a porta não conseguiria se esconder a tempo.

— Eu não acredito que você se escondeu no meu quarto para me espionar! — ralhou, entrando no quarto e a empurrando para trás, trancando a porta para impedi-la de sair. — Você enlouqueceu, Ambre? Perdeu a noção de limite?

— Quem enlouqueceu é você, que está de quatro por aquela oferecida. — reclamou com uma das mãos na cintura e gesticulando com a outra, igualmente irritada.

— Eu já te pedi para não se referir a Sol desta maneira na minha frente. — lembrou-a. — Não me faça perder a paciência com você.

— Eu é que estou perdendo a paciência contigo, isso sim. Desde que se apaixonou por aquelazinha ficou cego. Se você acha que eu vou virar a irmã do corno da escola, está muito enganado.

— CALA A BOCA, AMBRE! — gritou, aproximando-se mais dela, que por um instante achou que ele ia lhe dar um safanão, mas a mão que ele levantou foi levada ao seu próprio cabelo, que puxou para trás e apertou para conter sua vontade de pegá-la pelo braço e jogá-la para fora do quarto; atitude que ia colocar sua noite a perder, pois ela ia se fazer de vítima e lhe enviar de volta ao castigo.

— Quer saber de uma coisa, eu vou contar ao papai que você vai sair escondido com uma garota, ou você esqueceu que ainda está de castigo. — ameaçou-o.

— Pode ir. Mas cuidado, pois você bem sabe que o papai odeia que questionem suas decisões e pelo que ele mesmo me disse hoje, depois do almoço, eu não estou mais de castigo. — revelou, com um sorriso satisfeito. Ele adorou ver a cara de taxo da irmã, que queria não acreditar, mas Nath nunca mentiria sobre aquilo; o pai dobraria seu castigo se fizesse algo do tipo, ou mesmo lhe daria umas boas cintadas, pois depois de quebrar o celular e trocar socos com o Castiel na escola, mentir e sair sem escondido seria passar dos limites com a paciência do pai deles.

— Eu não sei o que você fez para convencer o papai, mas na certa a mamãe vai adorar saber que você vai sair com uma pétasse[2]. — comentou, com a mão na maçaneta, vendo que estava trancada de chave. Nath não suportava nenhum tipo de ofensa a sua Emília, respirou fundo para não lhe dizer umas verdades sobre "quem" era pétasse. — Dê-me a chave. Eu quero sair.

— Já que você vai contar a mamãe sobre a Sol, aproveita e diz a ela que o papai me deu permissão para sair com a Sol e que ele me pediu para não dizer nada a ela, para evitar conflitos. — satisfez-se mais ainda da cara da irmã, que a cada revelação ficava mais perplexa. — Você sabe como a mamãe é ciumenta e que vai querer me proibir de sair, mas como o papai já permitiu, as ordens vão chocar e aqui em casa o que prevalece é a palavra de quem falou primeiro, e como eles não desautorizam um ao outro significa que a mamãe vai ficar com os nervos a flor da pele e vai se deprimir por uns dias, o que vai deixar o papai estressado e desta vez contigo.

— Pode até ser, mas eles sempre fazem as pazes logo e nunca ficam bravos comigo muito tempo. Então meu caro irmãozinho, pode demorar uns dois dias, mas ela vai te proibir de ver aquelazinha e vai te vigiar!

— Sim, eu vou sair perdendo no final, mas você também, e com os dois. — falou tirando a camisa e a bermuda, ficando só de cueca, deixando a irmã mais que confusa. — Ainda mais depois que eles souberem que você ficou escondida no meu quarto só para me ver nu, pois suas amigas querem uma foto minha como vim ao mundo.

— Essazinha te deixou doido. Só pode ser isso. E além do mais, eu nem com celular estou, noob[3]. — disse ela com um sorriso debochado nos lábios, que sumiu rápido.

— Você nunca se afasta do seu celular, Ambre. Parece até que nasceu grudada com ele, que por sinal está com o enfeite para fora do bolso.

— Foutre que estou com meu celular. Eu não tirei foto nenhuma sua, então você não poderá provar. Noob. Abre a porta logo antes que eu grite para a mamãe, que vai esfriar o fogo daquelazinha pro seu lado rapidinho. — ordenou ameaçando-o, fingindo não estar receosa, pois aquele Nathaniel não era o irmão que sedia a quase tudo o que ela queria só para evitar conflitos com o pai. Ele já tinha lhe sacaneado no concurso, então era melhor sair dali e falar com a mãe enquanto ainda estava por cima.

Nathaniel riu enquanto encaixava a chave na porta. Ela sentiu um friozinho na espinha.

— Posso saber do que está rindo, andouille[4]? Logo, logo você vai estar chorando.

— Assim que eu abrir esta porta, vou chamar nossa mãe aos berros, indignado com sua invasão de privacidade, chateadíssimo, envergonhado por suas amigas estarem me vendo nú por culpa sua.

— Você surtou por acaso? Já disse que você não tem como provar. Meu celular não ...

— Você deletou assim que te flagrei embaixo da minha cama. — falou interrompendo-a. — Eu sei que eles vão duvidar, então vou pedir para eles olharem no seu tablet, verificar se você compartilhou pela internet com alguma amiga antes de deletar.

— Você não se atreveria! — reclamou, batendo a mão na porta, evitando que ele a abrisse. Ele lembrou de Ambre olhando-o daquela forma apenas uma vez, quando ele a flagrou com Guilhermo.

— Qual o problema, Ambre. Não vai ter nenhuma foto minha no seu tablet, ainda mais nú. — debochou, pois ele sabia bem que ela e as amigas acessavam conteúdo adulto na internet e compartilhavam entre si. — Não vai me dizer que você ainda tem aquelas pastinhas secretas no seu tablet? — perguntou, cheio de ironia. Ele até se sentiu meio Castiel naquele momento, dispersando logo o pensamento de comparação, pois não queria parecer com o ruivo em nada, nunca.

Ambre não conseguiu responder. Seus olhos avermelharam de imediato, mas de raiva, pois sabia que se o pai visse as fotos e os vídeos que ela tinha no tablet ia surtar e na certa ia pedir para ver seus e-mails; seria adeus a garotinha do papai. Nath a tinha colocado em cheque. Ele tinha ganhado uma bela moeda de troca.

— Desta vez você ganhou. Eu não vou dizer nada do seu encontrinho. — amarrou a cara.

— Não basta. Eu quero mais que isso!

— O quê? Nem vem. A troca está justa! — reclamou.

— MAMÃÃE... MAM... — chamou pela mãe com a voz chorosa, tendo sua boca tapada pela irmã que aceitou os termos, xingando-o em sua mente.

— Além de não dizer nada sobre meu encontro com a Sol, você não vai interferir entre nós dois, nem hoje, nem nunca.

Ambre ficou louca da vida, mas como tudo estava contra ela, aceitou, deixando o quarto do irmão em seguida, praguejando ele e Emília, que na sua mente era culpada daquilo tudo, inclusive da mudança do irmão.

Por sorte a mãe estava no quintal, então não ouviu o Nath lhe chamar, pois seria difícil para ele mentir para ela.

Nathaniel respirou aliviado, por pouco ele não se ferrou por causa da irmã. Mas daquela vez foi ele quem se deu bem. Nem ele acreditou que conseguiu armar para cima da irmã como ela sempre fez com ele. Ele teve que pensar rápido e ser frio, mas por dentro ele estava apavorado, pois se ela resolvesse contar a mãe, ele não ia ter coragem de levar adiante a história da foto. Ele nunca mentiria para se livrar de um problema, mesmo que gerado pela irmã. Graças a Deus seu blefe deu certo, foi o que passou pela cabeça dele enquanto se vestia.

— Eu devia entrar para o grupo de teatro depois dessa. — disse a si mesmo, rindo de tudo aquilo.

Ele comprou os ingressos para a sessão das 19h45, devolveu o celular da Gina e foi tomar seu banho. Ele queria estar o mais apresentável possível.

Ambre chorou até os olhos incharem, trancada em seu quarto. Ela até estava irritada com o irmão pela chantagem, tanto que apagou os arquivos do seu tablet, mas nada que minasse o amor que tinha por ele, um amor que nem sob tortura dizia que sentia, a não ser aos pais. Ela mesma o chantageou e armou para cima dele tantas vezes que nem lembrava mais quantas. Além do mais, se os pais não controlavam os passos dos dois era justamente graças àquele acordo firmado por eles há 3 anos. Juntos aos olhos dos pais, mas na realidade, cada um no seu canto.

Na verdade o que a fez chorar de raiva foi o ciúme do Castiel e até do irmão, pois neste ponto ela era igual a mãe. Nenhuma garota era boa o suficiente para o Nathaniel. E este ciúme misturado ao seu ódio pela Sol a fez maquinar um plano para azedar aquele encontro. E este plano foi: aumentar o preço de uma dívida.

 

***

— Não me interessa como você vai fazer isso Li. — ralhou com a amiga pelo telefone. — Você está me devendo. Não esqueça que por sua culpa o Castiel parou de falar comigo! — lembrou-a, aproveitando-se do medo que ela tinha da escola inteira saber da sua paixão pelo platinado. Já que ela não podia interferir, sua amiga faria isso por ela.

— Eu quero que você dê um jeito de melar o encontro do meu irmão com aquela magricela desgraçada. — ordenou. — E para dizer que eu não sou legal. Faça isso e eu te dou mais tempo para consertar a história do Castiel. — prometeu e Li aceitou. Ela teria aceito sem promessa nenhuma por parte da Ambre, pois ela não podia pisar na bola com ela de novo sem ganhar uma inimiga. Ambre contou onde e a que horas seria o encontro e deixou por conta da amiga.

— E não esqueça. Ninguém pode saber que eu tenho dedo nisso. Eu jurei ao Nath que não ia interferir.

O que Li poderia fazer par estragar o encontro do presidente do grêmio? Nada vinha a sua cabeça, então resolveu parar de pensar e ir relaxar na internet com seu laptop, passeando nas páginas com dicas de maquiagem e até de cursos profissionalizantes. Um dia ela seria uma grande maquiadora, com seu próprio salão, atendendo mulheres da alta sociedade e artistas. Sonho este que seus pais não aprovavam, pois queriam muito mais para ela que apenas "rebocar a cara de mulheres vaidosas". Eles a queriam dentro de um jaleco branco sim, mas de medicina.

— Deus existe! — falou ela para si ao ver uma determinada pessoa online no face, convidando-a para um bate papo descontraído.

< Oiiiii!!! >

< Oi Li. Como está sendo seu domingo?>

< Por enquanto está monótono, mas acho que logo vai animar. E o seu, Melody?>

< Tedioso. Não tenho nada para fazer. Eu queria sair, mas sozinha é muito chato.>

< Por que não chama alguém? Hoje é dia de promoção no cinema.>

< Nossa. Faz tempo que não vou ao cinema e olha que eu adoro, principalmente filmes de romance, e alguns policiais.> claro que ela gostar dos filmes policiais tinha relação direta com o Nathaniel.

< Nossa. Tive um dejavú agora. >

< É mesmo? Por que? >

< O Nath falou a mesma coisa. >

< O Nath? Quando você o viu? >

< Hoje cedo quando fui falar com a Ambre. Ele convidou Ambre e eu para irmos ao cinema com ele hoje, pois queria muito ver um filme policial e não queria ir sozinho. >

< O Nath? Convidando você e a Ambre para irem ao cinema? Estranho isso? >

< Sabe que eu e a Ambre pensamos a mesma coisa. E olha só, o sale só queria despistar a atenção da mãe. Você sabe que a dona Nicole tem um ciúme dele que meu Deus.>

< Por que você diz isso? >

< A Emília também vai ao cinema e marcou de encontrá-lo lá. Ou seja, chegando no cinema ele ia dar um perdido em nós duas e ficar com ela. É claro que Ambre não aceitou, mas como ele não contou aos pais sobre o que aconteceu no concurso, ela não o dedurou para a mãe em relação a este encontro.>

< O Nath vai encontrar a Sol no cinema?>

< Vai sim, acho que às 19h45. Eu tenho pena dele.>

< Por que diz isso?>

< Ai, desculpe Mel. Eu sei que ela é sua amiga, mas a Emília é uma oferecida. Ela vive de flertes com o Lysandre, não desgruda do Castiel e vive fazendo tipo com o Nathaniel. Ela atira para todos os lados.>

< Bom, Li. Sinto por encerrar nossa conversa, mas eu preciso fazer umas coisas aqui em casa. Amanhã nos vemos na escola.>

< Tá bom, Mel. Mas pense no que eu falei. Convide alguém e vá curtir um pouco, quem sabe um cineminha! Tchau!>

< Tchau.>

Li se sentiu diabólica. Ela sabia que Melody ainda era apaixonada pelo loiro porque Ambre vivia dizendo que ela era uma idiota, pois ficava esmolando o amor do Nathaniel e ele já tinha deixado claro que só queria a amizade dela. E ela também sabia o quato Melody era ciumenta e que não deixava nenhuma garota, amiga dela ou não, ciscar em cima do Nath. Na certa ela ia dar um jeito de estragar o encontro daqueles dois. Ela mandou uma mensagem no WattsApp da loira que vibrou ao ler.

Enquanto comia alguma coisa Li maquinou uma ideia maluca.

— Se a Emília vive grudada com o ruivo, pode ser que exista algo entre eles, então, se ele souber que ela está de casinho com o loiro, a casa dela cai. — disse a si mesma. — Mas aqueles dois podem se pegar de nov... PUTAIN[5]! Foi por isso que eles brigaram, por aquela sem sal. — deduziu, rindo, satisfeita, pois Emília estava realmente lhe saindo uma oferecida, o que para ela era muito bom, pois Lysandre não curtia este tipo de garota, sendo conservador demais para aceitar aquela galinhagem.

— Se eu não tenho chances com ele, essa magricela também não tem. — referiu, feliz e triste ao mesmo tempo, pois ela sabia que cedo ou tarde ele arrumaria uma namorada e aquele amor platônico ia começar a lhe gerar sofrimento.

— Ai, chega de pensar no meu platinado. O foco é ferrar a Emília com o Castiel e para isso, basta eu dar um jeito dele saber deste encontro. — comentou consigo mesma, pensando e pensando, até que teve uma ideia.

Castiel demorou para atender o telefone, mas atendeu, para a alegria da chineisinha.

— Oi Castiel.

— O que você quer Li. Estou ocupado agora!

— Nossa. Desculpe te atrapalhar.

— Ótimo. Tchau!

— Não. Espera. Eu preciso de um favor seu.

— E desde quando eu te faço favores? Vai pedir ajuda às suas amiguinhas.

— Eu pediria, mas elas não têm como me ajudar.

— Fala logo, Li. O que você quer?

— É que eu vou fazer uma prova de recuperação amanhã e preciso de ajuda para estudar matemática.

— Era só o que me faltava. Se vira. Abre o livro e estuda sozinha.

— Por favor, Cast. Eu não entendo nada de matemática, e nenhuma das garotas pode me ajudar. Todas estão com compromisso marcado.

— Eu também tenho, e mesmo se não tivesse, a resposta ainda seria não!

— Se eu não recuperar esta nota posso reprovar o ano. Eu não posso ficar sem me formar.

— Se você quer mesmo colocar seu vestidinho de baile, pede ajuda para o irmão da sua amiguinha inseparável e para de me encher.

— Eu já pedi, mas ele também tem um compromisso inadiável, na verdade um encontro com a sonsa da Emília. Só me restou você e a Ambre, mas você sabe que a Ambre é bur...

Li nem terminou de falar e Castiel desligou o telefone na cara dela. Seu plano tinha saído melhor que o esperado, pois ela ia ficar embromando até conseguir tocar no nome do loiro, mas nem precisou, o próprio ruivo deu a corda, ela só puxou.

Assim que leu a mensagem da amiga dizendo que havia dado um jeito do Castiel saber do encontro Ambre quase teve uma sincope.

< Sua andouille! Se o Cast for atrás deles e brigar com meu irmão de novo eu te mato! > foi sua resposta, deixando Li apreensiva. Embora não entendesse a reação da amiga, havia metido os pés pelas mãos e colocado seu pescoço no laço, bastava um puxão da Ambre para ela se enfiar em casa e não querer sair mais.

< Eu não falei nada do cinema. Ele não tem ideia de onde eles estarão, nem a que horas vão se ver. Eu sinto muito, só quis te ajudar queimando a Emília com o Cast. >

Ambre respirou aliviada, mas não respondeu de volta. Ela sabia que se Nath se metesse em outra briga e com o mesmo garoto o pai surtaria. Ela tinha medo dele levar outra surra como aquela que o fez ficar dias em casa, deprimido, por culpa do Guilhermo. Ela pode não ter visto, mas imaginava como foi, pois nunca esqueceu dos gritos dele chamando pela mãe.

Faltavam poucos minutos para 18h30. Castiel foi buscar Emília, de Uber. Seu humor não estava para ônibus.

Sol havia ligado para Kage algumas vezes, mas este não estava em casa, então não tinha como passar o telefone para o Cast. Ela ligou para o celular do ruivo, mas como este só dava carga cheia se desligado, não conseguiu falar com ele, que assim que ligou o aparelho e viu as chamadas perdidas pensou em ligar para ver o que tinha acontecido, preocupado com Maitê, mas Li foi mais rápida.

Maitê ouviu Sol ao telefone. Ela levantou para ir ao banheiro, mas ao ouvi-la combinar de ir ao cinema com o Nathaniel naquela mesma noite, preferiu segurar e não sair do quarto. Ouvir Emília mentir com o nome dela foi decepcionante.

Nicole ficou feliz ao ver o filho saindo para passear. Ela teve esperança que um dia o pai e ele se tornariam tão próximos quanto ele e seu mestre.

 

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Notas finais do capítulo

Será que Sol fez a escolha certa? E mesmo que tenha feito, será que agiu corretamente?
O que ela fez de errado? Ela consegue enxergar isso?
Como será quando ela estiver teth-a-teth com o ruivo?

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[1] Chier: Merda.
[2] Pétasse: Piriguete.
[3] Noob: idiota / Foutre: Foda-se.
[4] Andouille: Imbecil
[5] Putain: Puta merda!



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