Entre Segredos e Bonecas escrita por Lize Parili


Capítulo 103
Uma escolha, novos rumos.


Notas iniciais do capítulo

O que fazer quando o coração começar a gritar, ensurdecendo sua razão, pois tudo o que você quer é viver um momento, mesmo que seja único?



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# 31/03 #

— Por que você ainda não está arrumada, Emília? — perguntou Maitê, que na verdade já sabia a resposta, querendo ver se a sobrinha teria coragem de mentir olhando nos olhos dela. Mas esta não respondeu; ela não sabia o que responder sem ter que mentir. — Já são seis e meia e o Castiel logo estará aqui. Ele vai se irritar, e com razão, com o seu atraso! — comentou, enquanto secava o cabelo com a toalha. — Roupa não é a desculpa, pois nós ficamos quase uma hora experimentando várias das minhas até encontrar uma que lhe ficasse bem!

O comentário de Maitê fez o coração de Emília acelerar. Ela não queria mentir para a tia, mas estava com medo de lhe contar a verdade, pois sendo ela tão correta, na certa não aprovaria sua atitude. Ela não sabia o que dizer; mentir seria errado, mas dizer a verdade seria suicídio. Maitê viu em seus olhos que ela estava receosa, mas continuou fingindo que não sabia do que se tratava.

— Não faz essa cara para mim, Emília. Parece até que a indisposta aqui é você e não eu. — comentou com certa ironia, querendo provocar alguma reação na sobrinha, que se tremia por dentro. — Você está se sentindo mal por acaso? — perguntou, sendo interrompida pelo interfone que tocou, para sorte de Emília.

— Olá, Dona Maitê. Eu vim buscar a Sol. — disse Cast pelo interfone. Maitê percebeu que seu tom de voz estava sério demais para quem ia sair para se divertir ao estilo anos 50.

— Claro, querido. Pode subir.

Pensando bem, não foi tanta sorte assim.

A vontade de Sol foi se trancar no quarto e só sair de lá depois que Cast cansasse de esperar e fosse embora e sua tia se recolhesse no quarto, coisa que não ia acontecer de nenhuma parte. Conhecendo Castiel como conhecia, ele não iria embora sem lhe dizer uns desaforos e sua tia não ia se enfiar no quarto tendo melhorado e passado metade do dia deitada.

Cada segundo que passou enquanto esperava o amigo ruivo entrar no seu apartamento lhe pareceu horas, e um único pensamento pairou em sua mente: "No amor vale tudo!", querendo se convencer que estava certa em suas ações.

"Nossa, como ele está bonito!" foi o pensamento de tia e sobrinha assim que o ruivo sem causa entrou na sala, trajado com uma skinny preta, camiseta branca, jaqueta de couro preta no braço, pois a noite ainda não estava fria para vesti-la, bota de couro preta cano curto e o cabelo puxado para trás com gel, preso na nuca num pequeno rabo de cavalo baixo, cujo topetinho ao estilo James Dean manteve seu ar de rebelde sem causa.

Sol se perguntou se aquele era mesmo o Castiel. Ela o teria elogiado se não estivesse com medo do que viria a seguir, tomando coragem para prosseguir com sua escolha.

— Uau! Isso que é saber brincar! — elogiou-o Maitê. Ele agradeceu sem nem mesmo notar que ela estava com aquele roupão de banho azul, pois seu foco estava em Emília e no que Li havia lhe dito propositalmente, pois estava na cara que ela ligou para fazer fofoca. Maitê percebeu sua tensão e deduzindo que ele já devia saber o que Emília havia feito, os deixou sozinho. Aquele era um problema deles e eles deveriam resolvê-lo sozinhos.

— Se me dão licença, eu preciso me trocar. — falou enquanto ia para o quarto. — Bom divertimento para vocês e juízo os dois!

— Eu não acredito que você ainda está assim? — reclamou, visivelmente irritado, não por ela estar desarrumada, mas porque aquilo só podia ser um indicativo de que Li não estava mentindo. — Eu disse que te pegaria às 19h00, e já são vinte para às dezenove. — lembrou-a olhando para o relógio em seu pulso.

"E agora. O que eu digo?" pensou Emília, tentando encontrar a desculpa perfeita para sua vacilada, "Ele vai ficar uma fera comigo!" tentando encontrar coragem em algum cantinho da sua mente para dizer que não ia mais a pizzaria.

— Ao invés de ficar ai, parada, me olhando com essa cara de cão sem dono, vá se arrumar! — ordenou, querendo verdadeiramente que ela o xingasse e depois fosse se trocar. — Você tem 20 minutos! — mas vê-la sentar na poltrona com o olhar baixo o fez se sentir um idiota, desejando nunca ter participado daquele concurso idiota, tampouco lhe feito aquele convite.

— É impressão minha ou você quer dar pra trás e não sabe como? — perguntou irritado, colocando a jaqueta, que pareceu pesar no seu braço naquele instante, sobre o encosto do sofá, cruzando os braços.

— D-Desculpe-me, Cast. Eu... eu queria muito ir, m-mas... — titubeou puxando o ar, retomando a coragem para lhe ser sincera. — E-Eu estou meio enjoada. Acho que comi algo que não me fez bem. — sem conseguir. Lhe pareceu mais fácil e menos cruel mentir. Doce engano.

Cast fechou os olhos e soltou um riso irônico, de nervoso.

— Todas iguais! — disse a si mesmo em meio aquele riso, que durou pouco mais que suas palavras, seguido de uma mordida no lábio inferior. Controlando sua raiva ele pegou sua jaqueta, vestiu, enfiou a mão num dos bolsos traseiros da calça, pegou os vouchers e os jogou sobre o sofá.

— N-Nós ainda podemos ir na 4ª feira. O-Ou outro dia. — disse ela tentando remediar o que não tinha remédio. Ela apertava os dedos de tão nervosa que estava. — E-Ele vale por 15 dias, não é?

— CHEGA, EMÍLIA! PARA! — bradou, fazendo-a se calar. Sua vontade foi lhe dizer umas verdades ao estilo Castiel, mas seu grito no meio da sala fez Maitê sair do quarto e ele se conteve, não por medo, mas por respeito a única pessoa naquele apartamento que ele continuaria nutrindo algum tipo de consideração e carinho daquele dia em diante.

Maitê não perguntou nada, pois sua resposta estava escrita na face do jovem amigo.

— Boa noite, Dona Maitê. Espero que melhore logo. — despediu-se. — E quanto a você, Emília. — falou com seu sorrisinho, desta vez, repleto de sarcasmo. — Divirta-se com seu sal de frutas amarelinho! — indo embora em seguida.

— Cast... — chamou-o baixinho, sem coragem de ir atrás dele, até porque ela fez o que achou que tinha que fazer. Ela só não imaginou que ia ser tão difícil e que se sentiria tão mal. Ela nem se deu conta daquela indireta.

Maitê olhou para Emília, mas nada disse. Ela estava tão decepcionada que nada do que dissesse naquele momento conseguiria expressar aquele sentimento. Até porque, Sol tinha que perceber e entender o que havia feito, independente do motivo que a fez agir daquele jeito, e isso só aconteceria depois que ela conseguisse o que queria, sair com o Nathaniel. Naquele momento, só lhe restava uma coisa a fazer, então calçou suas havaianas e desceu os degraus correndo.

Da portaria ela avistou Castiel virando na direção do varandão do prédio. Ela o seguiu, mas como ele caminhava rápido o chamou, fazendo-o olhar para ela e parar sob os degraus da pequena escadaria que dava acesso a rua de trás, de braços cruzados e semblante pesado, fechado, provavelmente por ter engolido seus desaforos.

 — Você está bem, querido? — perguntou ao se aproximar, num tom de voz preocupado, que o irritou.

— Eu estou como deveria estar! — respondeu secamente, virando o rosto e voltando a caminhar, querendo sair logo dali. — E a senhora não precisa me acompanhar. Sua sobrinha é que precisa de cuidados e não eu! — ironizou. Ele não queria falar com ela, que na certa lhe pediria para não se zangar com Emília. Dito e feito!

— Eu sei que você está zangado com a Emília, mas tente entendê-la. — falou, sentindo que ele estava irritado inclusive com ela, pois além da sua rispidez, estava extremamente formal, como se não houvesse nenhum laço de amizade entre eles.

— HÁ, há, há, há! Sua sobrinha pisa na bola comigo e eu tenho que entender! — irritou-se mais, rindo de forma debochada e forçada. — Era só o que me faltava!

— Eu sei que ela agiu errado, mas vocês não saírem hoje não é motivo para uma inimizade.

— Não fale sobre o que você não sabe! — pediu grosseiramente, parando e virando de frente para ela, com a voz meio elevada. Ele nunca foi ríspido com a Maitê, que por entender seus motivos não deu muita atenção àquela grosseria. — E por favor, dona Maitê, se veio até aqui para defender sua sobrinha e tentar me convencer que ainda podemos ser amigos, perdeu seu tempo. Volte para casa e me deixe em paz! — pediu, voltando a caminhar, com passos mais rápidos, deixando-a pra trás.

Pelo grau de irritação do ruivo e por sua decisão de romper a amizade com Emília, Maitê teve certeza que ele sabia o porquê Sol fez aquilo. Ele estava com o orgulho ferido, magoado, e quem sabe até de coração partido; não tinha nada que ela pudesse dizer naquele momento que o fizesse refletir.

"No lugar dele eu estaria agindo igual, ou pior, estaria me debulhando em lágrimas." Pensou, chateando-se por ele, correndo pela Chenin para alcançá-lo. Ela queria fazê-lo se sentir melhor de alguma forma.

— Espere, Cast! — segurou-o pela jaqueta. — Não vá embora assim.

— Eu não tenho mais nada que fazer aqui, Maitê. Não quero ser grosseiro com você. Então me deixe ir. — disse, ainda meio ríspido, sem olhar para ela. Sua irritação apagou sua formalidade.

— Ah, Cast. Lindo como James Dean. Rebelde como James Dean! — comentou rindo de forma descontraída. — Se não fosse por esse rabinho de cavalo vermelho como pimenta eu diria que você realmente encarnou o personagem! — brincou passando a mão no pequeno rabo de cavalo dele, que sentiu a pele do corpo eriçar da nuca aos pés com o toque delicado dos dedos dela em seu cabelo. Ele corou de imediato, perdendo toda a marra.

Ela percebeu que ele se arrepiou pela reação do corpo dele e ficou sem graça, mas não envergonhada, pois era uma reação natural ao toque na nuca quando não se estava esperando. Ela gostava tanto dele que parecia esquecer que ele tinha quase 17 anos e seus hormônios não eram mais de um garotinho de 12 anos. Ele já havia passado da idade das cócegas há tempos.

— Cast. — chamou-o, querendo que ele olha-se para ela, mas ele, apesar de já ter sido desarmado por ela, se manteve de costas por não querer ser visto corado. — Por acaso nós ainda somos amigos? — perguntou de forma branda, preocupada. Ela não queria que aquela rusga entre ele e Sol destruísse o afeto que havia entre os dois.

— Depende! — respondeu, ainda sem olhar para ela. — A senho... Você vai falar da sua sobrinha todas as vezes que conversarmos?

— Depende! Você vai ficar me perguntando dela todas as vezes que conversarmos?

Castiel riu e virou de frente. Seu rubor havia sumido.

— Então. O que você pretende fazer agora, meu James Dean cor de sangue? — perguntou ela olhando para ele, que manteve o olhar acima da cabeça dela, sentindo-se um pouco desconfortável, mas sem entender bem o porquê.

— Eu vou para casa.

— Que pena. Faz um tempo que eu não vou ao túnel Rockabilly, mas pelo que me lembro é muito divertido. — comentou, mas como ele estava louco para ir embora e arrancar aquele gel do cabelo, não por não ter curtido a caracterização, mas por estar se sentindo um idiota por ter se produzido todo para uma garota que o trocou por outro, não percebeu a indireta.

— Pode ficar com o meu voucher. A noite só está começando. Você precisa mesmo se divertir um pouco.

— Eu adoraria curtir uma noite Rockabilly, mas que graça tem ir sozinha!? — falou, querendo lhe fazer companhia naquela noite, pois achava uma judiação ele perder a noite por culpa da sua sobrinha. — É melhor ficar em casa mesmo. — referiu, sem coragem de dizer claramente que queria ser sua pin-up naquela noite, até porque não queria que ele achasse que ela estava com pena dele, embora estivesse.

— Peça o outro a sua sobrinha. — falou sem expressar irritação, — Não acredito que ela vá querer usá-lo depois de hoje. — nem pesar, como se a situação e principalmente, Emília lhe fossem indiferente. A ironia era sua arma e seu escudo e ele sabia usá-la bem.

— Bom, deixa pra lá. Eu vou para casa. — falou, percebendo que ele não ia mesmo convidá-la, fosse por que não percebeu suas indiretas ou porque não estava mais com espírito para diversão. — Mas antes, me empresa seu celular. — pediu e ele, mesmo estranhando o pedido lhe emprestou, desbloqueando a tela antes de dar em sua mão. Ela dedilhou a tela por um instante, depois se aproximou, colando seu rosto ao peito dele, que não esperava por aquilo, tirando uma foto.

Cast teria pego o celular de volta, pois odiava que tirassem fotos dele de surpresa, mas assim que Maitê colou seu rosto no peito dele, o perfume do seu cabelo, que umas 3 vezes por semana era hidratado com um creme floral lhe inebriou, o que permitiu a ela tirar outra foto, pois a anterior havia desfocado. Aquela proximidade fez suas bochechas corarem novamente. Ele não conseguiu nem mesmo olhar para o celular, quanto mais para ela.

— Ah. Você virou o rosto. Mas ficou lindo do mesmo jeito. — comentou ao ver a foto, devolvendo-lhe o aparelho, pedindo que lhe enviasse pelo WhatsApp, despedindo-se, deixando-o sozinho. Mas antes que ela se distanciasse, ele, sentindo o coração bater num ritmo estranho até para ele, num impulso a chamou e perguntou se ela aceitaria lhe fazer companhia naquela noite.

— Como assim?

— É que... — titubou por achar atrevimento demais da parte dele pensar em querer sair com ela, quanto mais convidá-la. — Eu não gostaria de perder a noite, então... Você aceitaria ir a pizzaria comigo, hoje, agora? — Ele não era do tipo que tinha medo de se arriscar, ainda mais eles sendo amigos.

— Você não se importaria em ser visto comigo na pizzaria? — devolveu a pergunta, pois ele deveria levar a Sol e não a tia dela. — Hoje é uma noite especial e é provável que você encontre alguns amigos por lá. — referiu, achando que ele poderia ficar com vergonha de ser visto com uma mulher mais velha que ele e tia de uma amiga.

— Você se incomoda em ser vista comigo? — rebateu de volta, pois ela era uma mulher linda e mais velha que ele, que nada mais era que um adolescente a 4 meses de completar 17 anos, por mais que para parte da sociedade ele já fosse considerado um homem. — Hoje é uma noite especial e é provável que encontre alguns de seus amigos por lá.

Maitê gostava da segurança de Castiel. Mesmo quando ele estava nervoso e até inseguro, ele se mostrava seguro e confiante, e isso era uma qualidade que ela apreciava nas pessoas.

— Eu me troco em meia hora. — disse, com o sorriso brilhante que fazia Cast sentir que havia ganhado o dia só por vê-lo, voltando para o prédio.

— Eu te espero aqui. — avisou, sentando na guia. Ele não queria cruzar com Emília quando ela fosse para o ponto de ônibus, no sentido contrário ao que ele estava. Estranhamente suas mãos começaram a suar e um riso bobo tomou conta dele, que pegou a carteira do bolso e abriu, apreensivo. Um voucher, por mais completo que fosse, nunca cobria todos os itens do cardápio.

— Ufa. — aliviou-se. Ele estava com seu cartão de crédito. Maitê não era uma garotinha, pizza, sucos e refrigerantes podiam não lhe ser suficiente. — Foutre. Não acredito que eu disse isso e em voz alta. — apesar de não ter malícia no seu pensamento, ele mesmo percebeu o duplo sentido do que havia dito e corou, ficando aliviado da Maitê já estar longe e não tê-lo ouvido.

Maitê voltou para o apartamento, pegou os vouchers que ainda estavam no sofá e foi para o quarto se trocar.

Ao escutar a porta do quarto da tia bater, Sol saiu do seu quarto e foi falar com ela, pois precisava da sua permissão para sair. Ela estava com o coração na mão, se a tia lhe dissesse não ela morreria.

Toc, toc, toc. Bateu na porta com medo. Se as batidas tivessem sido um pouquinho só mais fracas Maitê não teria ouvido.

— Tiiia. Posso falar com a senhora? — pediu de frente a porta do quarto, sem coragem para entrar.

— Se quiser falar comigo entre logo ou espere ai na sala, mas já aviso que estou ocupada e vou demorar uma meia hora para sair. — respondeu com rispidez. Sol não podia arriscar perder mais tempo, pois já haviam passado dez minutos das dezenove horas e a sessão começava exatamente em meia hora.

Assim que Emília entrou no quarto da tia, Maitê olhou-a de cima abaixo, pois ela estava vestida para sair. Antes mesmo da garota abrir a boca para pedir o que queria ela já deu sua resposta.

— Enquanto o Castiel estiver lá embaixo, você não sai deste apartamento. — avisou-a. Sol não conseguiu dizer nada, tampouco olhar para a tia, cujo olhar revelava que estava zangada com ela — Você já o magoou demais por hoje para esfregar sua mentira na cara dele!

— Agora me deixe sozinha. Preciso me trocar. — pediu. Sol saiu do quarto com um único pensamento em mente:

"Quando ela souber que fiz isso por amor, ela vai me perdoar, eu sei que vai." querendo justificar o que ela mesma já sabia que era injustificável. Pensamento que perdeu lugar a outro: "Meu Deus. Eu vou me atrasar e ele vai pensar que eu desisti."

O medo de que Nathaniel achasse que ela desistiu lhe fez ligar para o celular dele, da área de serviço, pois não queria que a tia ouvisse sua conversa com o Nathaniel, mas caiu na caixa postal. O aparelho ainda estava no quarto do rapaz, recebendo a primeira carga. Então ela ligou para o número que estava registrado em seu celular,; mas foi Gina quem atendeu. Ela descobriu que ele estava sem celular e que não havia como ligar para ele.

— Mas não se preocupe. Se eu conheço bem o senhorzinho Nathaniel, ele vai esperar a senhorita até o término do filme, então, mesmo que se atrase, vá ao encontro dele. Mas se por ventura ele vier para casa eu aviso que a senhorita ligou para o meu celular pensando ser dele, para avisá-lo que se atrasaria.

Sol agradeceu e torceu para que Cast fosse embora logo enquanto o observava da janela da área de serviço.

— Eu não sei o porquê minha tia está zangada. Ele nem parece chateado; muito pelo contrário, parece bem até demais para quem levou um bolo. — disse a si mesma ao ver o ruivo encostado no poste de iluminação. — Da até a impressão que ele está de bom humor.

Pensando que o ruivo não ligou de verdade por ela ter desmarcado o compromisso, Sol aliviou um pouco sua consciência.

— Emília! — chamou-a Maitê. — Emília!

— Sim, tia. O que a senhora quer? — respondeu indo ver o que a tia queria, surpreendendo-se. — Por que a senhora está vestida deste jeito? — perguntou, olhando-a de cima abaixo, sem entender nada, embora tudo estivesse bem claro e não precisasse de explicações para entender.

— Bom, querida, como pode ver, eu vou sair e não tenho hora para voltar, ao contrário da senhorita, que deve estar de volta antes das 23h01, horário que por sinal eu vou ligar para o telefone fixo aqui de casa e que você deverá atender! — avisou-a, mas Sol só teve atenção para o traje da tia.

— Aonde a senhora vai, tia? — perguntou, sentindo aquele bichinho chato a morder de novo. — E com quem? — com cara de criança que perde espaço para o caçula recém chegado a família.

— Não faça perguntas cujas respostas você já sabe, Emília. E nada de ciumeira besta, ainda mais depois do que você fez! — repreendeu-a, colocando o voucher na bolsa, deixando-a sem graça. — E antes que eu me esqueça, querida. — falou, desta vez mais branda, olhando-a da porta. — Espero que tudo isso valha a pena e que você se divirta muito! — saindo em seguida. Sol suspirou e repetiu a si mesma que sim, valia a pena.

— Pelo Nath qualquer coisa vale a pena, tia! — murmurou.

Enquanto Maitê descia a escada, Sol se olhava pela última vez no espelho, querendo ter a certeza que seu shorts jeans, sua batinha floral de viscose que na verdade era uma saia evasê atada a cintura com uma fita de cetim larga e suas sapatilhas pretas estavam combinando. Ela teria soltado o cabelo, mas ele estava cheio demais naquele dia, então soltou apenas umas mechinhas ao lado das orelhas.

Enquanto Emília descia a escada, Castiel entrava no carro da Maitê, curiosíssimo para ver seu look, mas teve que se contentar em ver apenas as ondulações de seu cabelo violáceo e solto que caiam sobre o decote da blusa vermelha de poá branco; apenas uma faixa vermelha larga adornava seus cabelos.

Por mais rápido que fosse o ônibus, para Emília aquele motorista parecia uma lesma. Ela chegou ao cinema atrasada, a sessão já havia começado há mais de meia hora. Ela olhou para todos os lados a procura daquele que foi encontrar, mas não o achou. Seu coração gelou. Só havia duas possibilidades, ou ele foi embora, ou entrou na sala do filme.

— A senhorita tem certeza que quer um ingresso para esta sessão? — perguntou-lhe a caixa da bilheteria. — Já faz quase uma hora que ela começou.

— Sim. Eu vim encontrar um amigo, mas como me atrasei ele já entrou. — justificou, sem necessidade, pois para a moça do caixa bastava dizer sim ou não.

Sol pegou seu bilhete e entrou na sala 4 do cinema com o coração cheio de esperança de que Nathaniel estivesse lá dentro, rezando para que ele desculpasse seu atraso. Ela foi direto para o fundo da sala, buscando-o com seus olhos ansiosos e apreensivos nas últimas fileiras. Ela não o encontrou.

"Na certa ele cansou de esperar e foi embora." pensou enquanto descia os degraus vagarosamente, buscando-o nas outras fileiras, sem esperança de encontrá-lo, até que parou a uns três degraus da fileira do meio. Ela o encontrou!

 

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Notas finais do capítulo

Como diz o título: Uma escolha (foi feita), novos rumos (serão tomados)...

Uma mentira leva a outra, e outra, e outra...



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