Entre Otakus escrita por Van Vet


Capítulo 79
Rony


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoal!
Acho que vão gostar desse capítulo, só uma impressão kkk
Boa leitura!
:**



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Tamara depositou três fotografias diante dele e pediu para que escolhesse. Preferiu a de tom sépia, de onde uma criança oriental olhava interrogativamente do retrato. Era uma gravura curiosa, hipnotizante, embora a das mulheres arando uma colheita no campo de arroz e a do rural na charrete também fossem incríveis. A namorada que extraíra aquelas imagens na época em que visitara o norte da China. Outra de suas fantásticas aventuras. Ela queria mudar os ares da recepção e colocar um quadro impactante de cara, que mostrasse um pouco de seu trabalho e de sua personalidade.

Rony achou que o japonesinho faria isso. Seus olhos negros e repuxados lhe transmitiam tanta ousadia misteriosa como os de Tamara.

A fotógrafa aprovou sua opção, indo abraçá-lo como a gata manhosa que demonstrava ser nos momentos em que estavam sozinhos no estúdio. As portas do comércio fecharam havia algumas horas, mas eles continuavam ali revelando as fotos restantes. Pediram pizza e tomaram duas latinhas de cervejas para descontrair a noite de serão.

— Lembrarei mais ainda do meu ruivo gato sempre que entrar para trabalhar e ver esse retrato. — esfregou o nariz no queixo dele.

— O retrato é seu.

— Mas você escolheu. — lambeu seu pescoço ousadamente.

Rony apertou a cintura dela em resposta. Tamara era tão direta em tudo. Não tardou a estar enfiando a mão no meio das calças dele. Ele a beijou desejoso, ou assim tentou. Ela tinha uma língua quente e espevitada, incompatível com o beijo dele. O rapaz gostava de começar cada beijo muito lentamente, as mordiscadas e sugadas, depois partir para línguas se digladiando e movimentos afobados. Jamais disse isso para a namorada para não magoá-la. Ninguém recebe bem quando o seu par diz que seu beijo não é o correto para sua boca.

A negra prosseguiu na animação, abrindo o cinto dele perseverantemente. Neste momento ele decidiu pará-la. Pegou nas mãos delas com delicadeza e pousou em seu peito.

— Não quer? — Tamara ergueu uma sobrancelha, desafiante.

A voz da mulher chegou a chicotear o ar fazendo um eco, tamanha era a quietude no estúdio deserto. A cabeça de Rony estava pesada. Queria contar sobre a outra semana, e mesmo não tendo feito nada naquele encontro com Hermione, sentia-se absurdamente culpado por omitir o fato dela.

— Quero te contar uma coisa. — Tamara permaneceu a encará-lo. Os olhos sequer piscavam. — É sobre a semana passada. Eu menti pra você.

— Sobre o que? — o tom de voz dela permanecia inalterado.

— Eu desconversei naquela tarde de quinta, dizendo que precisava estar em casa para ajudar meus pais. Não foi isso que fiz.

A fotógrafa descolou-se sutilmente das mãos dele e sentou na única cadeira disponível na sala de revelações.

— Estou ficando preocupada. — notou com sinceridade.

— Eu não a traí! — ele falou meio afobado. — Não foi isso.

— Rony, conte logo. — seu modo compreensivo de pedir o estimulou a desembuchar.

— Antes de você eu estava com outra garota. Na verdade, quando te conheci ainda estava com ela.

— A traiu comigo?

— Claro que não, Tamara — agachou-se diante dela e apoiou as mãos nas suas coxas sobre o jeans. — Nós terminamos, embora não estivéssemos totalmente juntos. Acho que considero mais como “ficadas” do que um namoro em si.

— Algo parecido conosco, então. — aquilo foi uma alfinetada. Ela já o sondara sobre conhecer o resto do clã Weasley, visitar sua casa e tudo mais, e Rony se safou como um dançarino perito em esquivadas, das indiretas. E não fora algo parecido com Hermione. Hermione eu apresentei a todos numa tarde de Domingo.

— Por aí.

— Por que terminaram? — a pergunta veio afiada.

— Por algum motivo. — Qual fora o motivo mesmo? Ele não tinha emprego de gente? Ela queria fazer um “repeteco” com o ex-namorado? Não sabia bem.

— Que motivo?

— Não sei, Tamara. — admitiu.

— E o que houve na quinta?

— Quando terminamos, antes de eu e você nos envolvermos, combinamos de nos encontrarmos de tempos em tempos. Coisa boba. Jogar conversa fora e...

— ...ver se valia a pena retomarem. — sua voz era de gelo agora.

— Não! Foi um encontro inocente. Nem sei por que menti pra você. Eu estou namorando e ela também. Falamos abertamente disso um para o outro.

— Então por que está me contando?

— Oras, porque não achei legal te esconder isso se não houve nada demais naquela tarde.

— Ou, se não tivesse nada demais, se fosse apenas um encontro de amigos, não estaria nem me contando.

Aquilo o deixou aborrecido. Deixou de tocá-la, parou de sentir-se um cachorro infiel, e levantou bruscamente:

— Tamara, você não sabe o que se passa na minha cabeça! Contei pelo fato de odiar deixar assuntos inacabados e ficar com sentimento de... de...

— Culpa? — ela lançou-lhe um olhar insolente.

— Existem vários tipos de culpa. — foi só o que lhe veio à mente para dizer.

— Existem mesmo. — a mulher balançou a cabeça positivamente — Está certo, Rony, jamais saberei o que se passa na sua mente, nem no seu coração. Peguei uma tela já pintada para trabalhar e só posso me contentar se minha pintura não ficar tão boa porque alguém já deu uma grossa demão de tinta por baixo.

— Está me resumindo a uma tela em branco que alguém vem e pincela o que lhe convém? É isso? — estava magoado.

Imediatamente derreteu a aspereza da negra. Tamara deu impulso com as pernas na cadeira, fazendo as rodinhas rolarem na direção dele. Pegou-o pelos pulsos carinhosamente.

— Meu ruivo lindo, sou ultrapassada e feroz demais para você. Me assusta estar te assustando.

— Não está me assustando. Gosto de estar na sua companhia. — certamente não era o que ela queria escutar, um mero “gostar”, porém era tudo que o jovem poderia dizer... por enquanto. Conforme a relação deles crescesse, sentimentos maiores poderiam vir.

— Pode me contar dessa moça, se te faz bem falar. Apenas fico atrapalhada quando moços de olhos azuis recusam meus carinhos para confessar sobre outros amores.

— Você sabe que não vim virgem e puro para você. — forçou um sorriso querendo também quebrar a tensão entre eles.

— Nem eu queria. Já me sinto pedófila às vezes.

— Quando transamos?

— Quando transamos não. Nesses momentos você é bem experiente. — ergueu a blusa dele e beijou-o delicadamente alguns centímetros abaixo do umbigo. Comichões deslizaram atrás das pernas de Rony. — Me conte mais. — ela parou com os beijos. — Vai encontrar ela toda quinta? É bonita?

— Só nos vemos a cada três meses, mas não quero entrar em detalhes sobre ela, Tamara.

— Tudo bem. — a fotógrafa impulsionou os pés, agora para trás, e a cadeira deslizou para o lugar de antes. Levantou suavemente e virou-lhe as costas, guardando os negativos espalhados pela bancada.

— Ei, tá brava ainda? — aproximou-se, erguendo a manga da camiseta dela e beijou-lhe o ombro moreno.

— Claro que não. Não tem como ficar brava com você. Só fiquei cansada e quero guardar essas coisas logo. Acabar com nosso expediente antes que sua mãe apareça e me acuse de exploração. — riu.

— Ok... Eu ajudo.

Entretanto as coisas não tinham ficado bem como ele achou que ficara. Na manhã seguinte, ao adentrar no estúdio, passando pela recepção, Rony viu o quadro que fora escolhido para saudar a clientela. Era o das mulheres no campo de arroz.


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