Entre Otakus escrita por Van Vet


Capítulo 80
Tamara


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal! Então, duas notícias:

>>> O penúltimo arco de Entre Otakus termina aqui, o que quer dizer que faltam 20 capítulo para o fim \o//

>>> E chegamos a 400 comentários! Nem sei dizer o quão feliz e animada fico com esses dados. E agora a pergunta que me faço... Será que conseguimos chegar a 500 comentários nessa reta final? Antes da fic terminar?

Beijão pessoal! Espero que gostem do capítulo :v



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Agarrada a um pote de sorvete de creme, Tamara analisava algumas fotos para seu último cliente no tablet. Era madrugada, passava das duas da manhã, e ela comia o doce cremoso e trabalhava para se distrair. Seu apartamento era pequeno e aconchegante, mas há duas noites se tornara incômodo.

Quando se recolhia ela remexia-se na cama, querendo o ruivo perto dela. Imaginando seu corpo quente, deliciosamente repleto de sardas, esparramado no colchão e ela podendo abraçá-lo pelo tórax. Fizeram isso duas vezes desde que começaram a namorar. Conversavam sobre a vida, assistiam a um filme, pediam comida, faziam amor e dormiam agarrados. Foram momentos bons. Tamara sentia-se bem com ele, entretanto tinha de estar preparada para o que poderia estar por vir.

Desde que conhecera Rony Weasley, seu maior e mais gostoso desafio, fora tirar as vendas dos olhos dele. Fazê-lo enxergar seu potencial e todos os ângulos para o sucesso que o mundo estava disposto a nos dar todos os dias. Ele era talentoso, não tardou a mostrar sua perspicácia e inteligência, e uma dúzia de vezes opinara com a melhor sugestão nos ensaios fotográficos. Tinha até mesmo mais visão para fotografia do que Cho Chang, que a acompanhava há mais de um ano.

De início queria ajudá-lo numa forma de retribuição pelas vezes que o universo a ajudara. Estava bem nesse papel até perceber que o ruivo era mais do que um rapaz sem direção. Seu leme direcionado não só melhoraria suas decisões, como o transformaria. Foi assim que as coisas sucederam com Tamara. Num dia era uma mãe adolescente, boba e chorona, noutro, um transatlântico seguindo para uma baía rica. Enxergava o mesmo nele.

Não era puxa-saquismo. Ele era bom! E lindo também. Doce e carinhoso... ingênuo, e sem deixar de ser menos viril por isso.

Tamara já estava apaixonada pelos trejeitos do rapaz e agora precisava se decidir que caminho tomar dali. Sua idade e sua experiência não a estavam poupando dessa condição: do ciúme à insônia. Mas não era culpa dele. Rony era tão irresistível quanto sincero. Mais uma coisa para se admirar nele, não detestar. Suas palavras poderiam ser comedidas para não magoá-la, porém os olhos não traíam. Ainda mais aqueles olhos.

O celular vibrou em cima do sofá, chamando sua atenção. Era uma mensagem do ruivo.

— Também tá acordado, é? — ela resmungou consigo mesma lendo a mensagem que chegara.

“Oie! E aí? Tá brava mesmo comigo? Fiquei o dia todo tentando conversar com você... Tudo bem?”

Seus olhos negros encararam a tela do celular. Estava arrependida. Foi quase adolescente no estúdio, na tarde de ontem. Primeiro não escolheu o quadro que ele sugerira (sabidamente o melhor para ficar na recepção) e então só lhe deu respostas secas durante o expediente. Evitou ficarem sozinhos também, porque não tinha um pingo de paciência para debater sobre seu ciúme.

Foi estúpida. Foi estúpida e sabia disso.

“Tá sem sono?” mandou a mensagem em forma de pergunta.

Ele respondeu de imediato. Ansioso.

“Estou. Você o tirou. Desculpe...”.

— Você não tem que desculpar de nada, Olhos Azuis. — reclamou para si tristemente.

Poderia vê-lo deitado em sua cama de solteiro, que ela nunca conhecera, com os cabelos desalinhados sobre o travesseiro e os lábios crispados de preocupação. Seu olhar deveria estar perdido de expectativa pela próxima resposta dela.

“Tá tudo bem. Amanhã te dou um beijo para ficar mais calmo. Agora vá dormir.”

Novamente a resposta dele veio rapidamente:

“Vá dormir também. Beijos!”

Mas Tamara não dormiu. Ela jogou fora o pote de sorvete vazio e desligou o tablet, cansada de tentar afogar frustrações no trabalho. Partiu para o quarto, e em vez de ir para cama, foi para o guarda roupa. Abriu as portas fitando a última prateleira lá no alto, onde guardava algumas caixas. Mesmo sendo bem alta, não conseguia alcançar aquela parte do móvel, portanto puxou um pouco a cama para lhe fazer uma escada de encontro aos pertences.

A fotógrafa pegou uma caixinha vermelha estampada de bolinhas brancas. Sentou-se no colchão com um estrondo e abriu a tampa para vasculhar dentro da caixa. Eram fotos, recortes, cartas, embalagens vazias, ingressos de cinema e shows. O espólio restante de sua vida com Nathan. Ele, Nathan, tinha sido nada mais nada menos do que o pai de Joshua, seu filho.

Antes de ser pai de seu filho, fora seu namorado e seu grande amor. A relação deles foi uma coisa bonita e quase proibida. Nathan tinha uma pele alva e cabelos dourados, loiro e branco como o restante de sua família nórdica. O romance deles tinha sido intenso e verdadeiro, e Tamara conseguia relevar os olhares preconceituosos dos sogros e cunhados em nome dessa paixão. Grande parte de sua parcimônia tinha como motivo sua idade e ingenuidade... E então Nathan a engravidou.

Nesse dia Tamara conheceu um preconceito sem igual por causa da cor de sua pele. A família inteira dele voltou-se contra ela. Disseram coisas terríveis e acusaram de tantas outras que ela fez questão de apagar. Nathan permaneceu ao seu lado, mesmo com o pai dizendo que iria deserdá-lo se assumisse o filho deles, se manteve fiel ao lado da jovem.

Tamara não foi tão corajosa. Sumiu com um Joshua bebê, cansada demais para enfrentar os preconceituosos. Amava Nathan, contudo não o queria como muleta, muito menos um escudo.

O pior foi que nem ela conseguiu ficar com Joshua. Covardemente o entregou aos cuidados de sua avó e caiu no mundo. Bancava o filho financeiramente, tinha dinheiro de sobra para isso agora. Bancar com sua presença e seu carinho vinha sendo mais do que a mulher podia doar.

Nathan e Joshua já estavam sendo um pedaço quase cinza na vida dela de tanto que os enterrou. E se não fosse o telefonema da semana passada, quem sabe não ficaria nem tão abalada de ciúme por Rony como ficara.

Nathan descobriu como contatá-la. Falaram por dois minutos no telefone e ela notou que a voz dele continuava meiga e complacente. Queria ver Joshua. Mais que isso, queria que ela o levasse até ele. Ou seja, também almejava um olho no olho. Depois de tanto tempo...

Tamara pegou uma fotografia antiga dentro da caixa. Uma bela adolescente negra, de sorriso refulgente, encarava a câmera. Ao lado dela, um garoto desengonçado, de farto cabelo loiro, sorria também. Seus rostos estavam colados. Nathan tinha sardas no rosto, ela havia quase esquecido. E também olhos muito azuis e inocentes...

De repente, a mulher percebeu o que deveria fazer. Certas pessoas eram insubstituíveis e certas escolhas necessárias. Qual pessoa? Qual escolha?o


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