Entre Otakus escrita por Van Vet


Capítulo 70
Tamara


Notas iniciais do capítulo

Temerosa pelas dezenas de "Avadas" que virão, aqui está o capítulo de Segunda.
Beijos!

Aguardo comentários, nem que seja de ódio eterno! kkkkkkkk



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Desde o primeiro momento em que o vira, Tamara sentiu-se atraída. Eram seus olhos de alvorada, sua boca carnuda, sua pele sardenta. Era sua personalidade perdida que ela quis adotar e direcionar. Ao vê-lo, soube que precisava estar com ele.

Tamara não dissera tudo sobre sua vida. A família foi, mas não toda ela. A moça fizera um filho quando adolescente, um menino perspicaz de sorriso largo como ela. Nunca morara com a mãe. Sua avó o criava, embora quem provesse todo o custo de sua educação fosse a fotógrafa. Hoje ele era um adolescente e deveria ter os mesmos sonhos incertos em sua cabeça, que ela enxergava em Rony; muito embora o ruivo não fosse nenhum adolescente.

Um dia Tamara tivera suas incertezas. Agira infantilmente, trocou prioridades e tomou caminhos dolorosos. Seus pais haviam se separado, e ela, para se vingar engravidou de seu namorado causando mais caos. Pensar na jovem conturbada que fora naquela época parecia irreal em comparação a mulher segura de trinta e três anos de hoje.

Sucesso e poder inundavam seu presente e futuro, entrementes, se olhasse para o passado, poderia jurar que nada de bom vingaria. No caso dela, achou seu caminho quando um bom amigo chamado Oliver cruzou seus dias de noite. Ele guiou-a como um bom tutor, por pedras parecidas às quais ela levava Rony agora. Apresentou uma câmera, pôs em sua mão e deixou-a criar arte.

Ela queria um dia retribuir isso a alguém. De algum modo, de alguma forma, só não sabia a quem nem como. Então encontrou aquele ruivo, e de um jeito inexplicável sentiu que era ele. Oliver, contudo, não se apaixonara por ela como ela estava se apaixonando pelo seu pupilo.

Ficava no limite entre ensiná-lo ou abraçá-lo. Em dois meses já o flertara de muitas formas e em nenhuma delas Rony pareceu entender. Este era um estímulo adicional, mesmo sua experiência sabendo que o fato dele ignorá-la subconscientemente tinha a ver com alguém reservado em seu coração.

A amiga que não era nada? Quem sabe...

Abriu a porta de seu reino para ele entrar. Lancelot, o gato gordo e cinza que adotara cinco anos antes, veio curioso para porta receber a dona.

— Um gatinho. — Rony ajoelhou-se e fez carinho atrás das orelhas de Lancelot, que já lhe dava confiança ronronando alto.

— Esse é meu marido. — ela brincou, trancando a porta e acendendo a luz da sala. — Lancelot, este é meu amante.

Rony riu, ficou de pé e colocou as mãos nos bolsos. Toda vez que entrava em defensiva ele repetia esses movimentos.

A dona do local jogou o casaco em cima de uma poltrona e descalçou os sapatos pelos calcanhares. Sentou espaçosamente no sofá e bocejou, depois pegou os folhetos de delivery numa caixinha na mesinha de centro. Rony elogiava as fotos de sua autoria, espalhadas pelas paredes, quando ela disse:

— Senta aqui, Rony. — ele foi para o lado dela. — Escolhe o quer comer e eu peço. — ela desencaixou o telefone da base esperando a escolha do rapaz.

Pediram rolinhos primavera, bolinhos de carne e refrigerante. Comiam sem pressa na mesa da sala, acomodados entre almofadas no chão e escutando Damien Rice. Logo já passavam das onze e meia e Rony morava no outro lado da cidade.

— Quer dormir aqui? — Tamara sugeriu.

— Bem... eu preciso tomar um banho. — tirou a touca e ficou remexendo nos cabelos.

— Eu tenho chuveiro e pago a conta de água.

— Então eu aceito. — tomou um gole do refrigerante.

— Já dormiu na casa de outra mulher antes?

— Da minha tia. — sorriu.

— Agora seja sincero, tá gostando de trabalhar no estúdio?

Ele afastou o prato e remexeu-se nas almofadas.

— De início achei que ia detestar. Meu emprego na banca andava um pouco entediante, daí arrisquei. Agora estou gostando de estar lá, pego revistas e propagandas, vejo fotos e já não as enxergo do mesmo modo. Encontro falhas profissionais até.

— Revelador, não?

— Inovador! Estava meio farto do rumo da minha vida, somente nessas últimas semanas percebi. É frustrando ter mais de vinte anos e continuar dependente de certas coisas. Ultimamente pensar nisso vem me incomodando.

— Pensar nisso ou estar nisso?

— Os dois. Acho. — ele refletiu nas suas incertezas.

— Todos têm de ter um ponto de virada, pra alguns, acontece mais cedo, outros mais tarde. O importante é caçar o caminho certo e seguir nele sem se desviar.

— Ou tropeçar nos obstáculos... — o rapaz comentou.

— Alguns podem ser hábitos, outros verdadeiros monstros.

Ele ficou calado, ruminando pensamentos. Tamara esperou, aproveitando para terminar seu último rolinho primavera.

— É esse tipo de coisa que me deixa irritado. Se estivesse tendo essa conversa com minha família ou meu amigo, Harry, eles diriam da minha preguiça, da minha falta de objetividade... É bom falar disso agora e saber que não receberei essa retaliação.

— Rony... Tem certeza que é retaliação? Normalmente essas pessoas citadas querem nosso melhor.

— Quando eu não sei o que é o meu melhor, como elas podem cobrar?

— Quem realmente sabe o que se passa dentro de nós? Quem? — desafiou-o.

Por fim ele respondeu.

— Ninguém.

— Pouco vai fazer diferença se tentarmos fazê-los entender. Cada um leva o peso da mudança em suas atitudes e um olhar de fora enxerga mais do que quem rodopia no meio do furacão.

— Uma pessoa talentosa como você já esteve dentro de um furacão, Tamara?

O ruivo sondava-a por desvendar seus segredos. Não eram exatamente verdades lacradas as histórias que a levaram até ali. Tamara, porém, não gostava de falar sobre coisas acontecidas e resolvidas. Esquivaria o quanto pudesse.

— O meu foi um senhor furacão, para te informar. Estou viva, afinal. E realizada. E feliz.

— Não cem por cento? — a pergunta dele era mais uma confirmação. Falar de sua família no estúdio o fez captar os aborrecimentos dela.

— Rony, só princesas de contos de fadas são felizes e realizadas cem por cento do tempo. As pessoas de carne e osso normalmente equilibram-se entre os momentos bons e os não tão bons assim. Faz anos que venho trabalhando para que os "não tão bons assim" sejam raros.

Ele olhou-a fascinado.

— Eu poderia devorar essa sua vida somente com os olhos, Tamara. Sua força é diferente de tudo que já vi.

— Deve ter outras forças por aí que não está prestando atenção. A sua, por exemplo, Olhos Azuis.

— Ainda não achei. — relutou.

— Eu a vejo flutuando por perto de você como uma sina.

Isso o fez sorrir com otimismo.

— Tem certeza que seu namorado não vem dormir aqui hoje? — ele mudou o rumo da conversa.

— Ele já está aqui. Em cima do sofá, te encarando obstinadamente. — Tamara apontou para Lancelot sentado no estofado e abandando a cauda peluda para os lados.

— Cadê os caras que devem te assediar? — aquela espécie de elogio a animou.

— Cadê as garotas que provavelmente fazem fila para se debruçar sobre esse seu olhar?

— É você que tá dizendo, moça. — o jeitinho encabulado outra vez.

— Eu me debruço. Enquanto estiver tomando banho espiarei pela fechadura. —provocou-o.

Rony mexeu na orelha nervosamente.

— Você é um deserto pro meu caminhãozinho, chefa. — respondeu evasivo.

Os olhos dele faiscaram. Ela captou neles seu desejo recíproco. Gostou muito daquilo.

— Então acho que tomarei aquele banho. — pediu.

— Claro. Vou buscar uma toalha.

A fotógrafa apresentou o banheiro de azulejos brancos com detalhes em mosaico negro. Tirou sua parafernália feminina da pia e do boxe e liberou o local para o banho dele. Rony agradeceu e entrou.

Sozinha no hall, entre seu quarto e a porta do banheiro, se pôs a pensar. O desejo por aquela pele e por aquela boca a vinha corroendo por dentro como uma mazela. O ruivo estava à distância de uma porta, nu, o corpo molhado. Ela era madura, uma mulher madura e decidida. Dona de si e de suas escolhas. E agora ponderava sobre a ousadia da qual planejava fazer e as consequências que isso poderia trazer. Tamara foi para o quarto, sentou na cama e ficou escutando-o abrir o boxe e ligar o chuveiro. Decidiu que precisava dar vazão a alguns impulsos para afastar mais momentos não tão bons.

A negra tirou toda roupa, pegou a chave reserva do banheiro e caminhou para onde ele tomava banho. Ao abrir a porta, viu através do boxe que ele estava de costas e não notara a sua invasão.

A água batia fumegante nas costas largas e deixava a pele avermelhada. As nádegas eram firmes como o bumbum de um homem deveria de ser. As coxas e as panturrilhas salpicavam pelos ruivos.

Ele enfim virou-se, meio ensaboado, totalmente confuso, e encarou-a. O tórax molhado sobressaltou a cobiça dela. Os braços longos de músculos sutis também. Na sua timidez, o rapaz ainda encontrou tempo para esconder seu sexo com uma mão.

Tamara avançou. Não achou que qualquer diálogo fosse necessário: Ou ele a aceitaria ou a rejeitaria. Estava pronta para a rejeição, mas muito excitada pela aceitação.

A moça abriu o boxe e entrou debaixo da água. Os cabelos exóticos caiam ensopados ao redor do rosto, tornando sua moldura a mais sexy que a mulher já vira nele.

Rony parecia prestes a dizer algo quando ela o beijou para calá-lo. O rapaz cedeu, aceitou, beijou-a de volta e a abraçou. As mãos trabalharam hábeis e chegar aos locais em que almejava explorar nele era fácil num corpo ensaboado. Ele entrou no jogo, não demorando a tocá-la nas regiões que afloravam sua feminilidade. Logo seu membro encontrava-se rijo entre as pernas dela.

Naquela noite Tamara descobriu que Rony Weasley poderia ser inocente e incerto em muitas coisas, mas no amor não era uma delas.


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