Era uma cena inédita na vida de Gina e ela estava apreciando muito. Quando Rony namorava Lavander eles eram reclusos em seu mundo e a garota jovem demais para fazer parte de algum passeio. Porém, sempre nutriu a vontade de estar com o irmão mais próximo num encontro espontâneo. Era engraçado vê-lo se comportando perto de uma paquera, mas no momento, estava sendo mais bonitinho do que qualquer outra coisa. Estava agora cobrindo a mão de Hermione com a sua, em cima da mesa.

Erik era seu acompanhante. Elegante numa camisa social vinho e calça jeans escura. Os cabelos foram arrepiados levemente e usava um perfume delicioso.

— Há quantos anos você estuda dança? — Hermione perguntou para Erik em meio a música melodiosa que ecoava do salão do barzinho.

— Faz bem uns doze. — respondeu.

Gina ficou receosa de que Rony pudesse olhá-la de um jeito reprovador, porque era evidente que Erik era muitos anos além dos dela, mas o irmão apenas ficou escutando com serenidade no rosto.

— Rony, já pensou em fazer aulas de dança com sua irmã? — Hermione brincou com ele, fazendo-o fitá-la com espanto.

Gina estava gostando muito daquela Hermione Granger. Tão leve, simples e zoando com Rony!

— Só os meus dedos dançam, e são num joystick. — replicou.

— Não tem nem vergonha de falar isso? — a Weasley quis esconder a cara.

— Mas é verdade. Algum problema pra você, Mione?

A morena pareceu ponderar um pouco, mas respondeu.

— Por enquanto não. — mostrou a língua para ele.

Era muito fofo mesmo vê-los juntos, estavam tão apaixonados! Ela ficou pensando quando chegaria seu momento de estar apaixonada daquela forma e o sentimento ser recíproco. Às vezes até batia uma inveja.

Erik observou-a de soslaio porque Hermione deu um beijo estralado na bochecha de Rony. Eles estavam ali como um casal, mas na verdade não eram. O que havia entre os dois ela não conseguia classificar. Via o desejo nos olhos dele, embora batesse uma insegurança muito forte de que o professor de dança pudesse ser apenas um cara solitário num país estrangeiro, buscando alguma diversão fácil. Era isso o que Harry diria.

— Quero mais um suco, acho que vou pegar. — disse o rapaz balançando seu copo vazio na mão. Gina achou que o veria com alguma bebida alcoólica, mas ele disse que castigaria seu corpo preparado para dança, se isso o fizesse.

Taí outra coisa interessante em Erik, ela apreciava os preceitos dele.

— As moças ou o Ronald também querem? — perguntou educadamente.

Hermione pediu suco também, e Gina refrigerante. Rony levantou e resolveu acompanhá-lo porque queria pegar alguma coisa para comer no balcão. Eles saíram da mesa com promessas de voltarem em breve e deixaram a ruiva e a morena sozinhas.

— Ele gosta muito de você. — Gina disse a Hermione no primeiro instante de solidão que tiveram desde que se conheceram.

— Eu também gosto muito dele. — ela pareceu verdadeira.

— Então terminou mesmo seu noivado para ficar com meu irmão?

A outra refletiu um pouco antes de responder.

— Um dos principais motivos, sim.

— Sabe, eu sei que é assustador. Ele tem vinte e tantos anos e nunca se encontrou em algo melhor. Rony sempre foi um pouco lento, só que todos lá em casa temos esperança que ele acorde pra vida. Meu irmão, Carlinhos, por exemplo, só resolveu cursar veterinária quando fez vinte e cinco anos...

— Não tô cobrando esse tipo de coisa dele. — disse bondosamente. — Gosto desse jeito descomplicado do seu irmão. Acredite, passei muito tempo cercada de gente regrada.

A ruiva achou o argumento válido. Esperou que ela continuasse pensando assim por um bom tempo, afinal, era evidente que fazia bem ao irmão. Ele nem dormia mais até as onze. Agora acordava às dez horas e ia pedalar perto do rio.

— Eu tenho apenas que te contar uma coisa, só pra você ficar a par de como meu irmão já sofreu uns bocados.

Hermione fitou-a com curiosidade.

— É provável que ele um dia te fale sobre isso, mas se algum dia você sentir alguma recaída nele, não desista. Rony tá passando por uma transição ao longo desses últimos anos.

— Tá me deixando curiosa.

— Tudo bem, vou contar, e quero que prometa não passar essa história pra ele. Acho que não me perdoaria. — ela olhou para o salão para ter certeza que os dois não voltavam para mesa.

— Se não for envolver um segredo de morte...

— Não. — elas riram, depois Gina ficou mais séria. — Meu irmão namorou muitos anos com uma moça da escola dele. No início do namoro ela não passava de uma lambisgoia feinha. Mesmo assim ele era gamadão nela. O tempo passou e essa moça foi crescendo, ficando mais turbinada, entende?

— Talvez.

— Ela começou a se arrumar pra valer. Deu uma emagrecida, porque era meio fofa, fez chantagem pros pais pagarem uma cirurgia plástica no nariz e tudo mais. Meu irmão sempre continuou na dele, o mesmo, só que ela foi mudando as suas atitudes além do corpo. Começou a destratar ele e nossa família, chamar a gente de pobretões e tal.

— Que cretina! — Hermione exclamou.

— Pois é! E ela nem era rica. Eu falei, meus irmãos falaram, meus pais... O mundo disse, mas Rony continuou a ser cego por ela. Tão cego que quis casar. Trabalhou pesado durante seis meses e conseguiu comprar um senhor anel de noivado. Preparou uma festa surpresa, indo contra a personalidade dele que é meio fechada, você já percebeu. Na festa ela o encarou nos olhos e disse na frente das duas famílias que jamais ia se casar com um pé-rapado. Humilhou ele e a nós também de uma forma absurda. Foram semanas negras.

A morena ficou boquiaberta.

— Desculpe, não quis te impressionar. Só queria te dizer que meu irmão está se recuperando disso apenas agora, de uns meses pra cá, e sinto que você vem sendo importante pra ele nessa recuperação. Se puder, tente fazer ele esquecer esses aborrecimentos de vez.

Hermione concordou com um aceno e sorriu nervosamente. Gina sentiu naquele sorriso que talvez tivesse sido cedo demais para assombrá-la com aquela história.