POV Annabeth

Quando eu abri os olhos tudo parecia completamente estranho, eu estava estranha. Eu me senti mais pesada e maior, e eu também podia ouvir levemente, o barulho de alguns aparelhos. Meu corpo doía como se eu tivesse segurado o céu, senti minhas mãos um pouco mais firmes, meus cabelos mais longos, minha boca estava seca e minha visão um pouco turva. Provavelmente eu me machuquei mais do que o normal e me enviaram para um hospital de verdade e não para a Casa Grande... ou eu acordei em outro corpo (o que é bem provável, só não consigo imaginar como isso aconteceu.).

– Annabeth? – ouvi uma voz perguntar, era uma voz adulta, deveria ser Luke, sua voz tem mudado ultimamente...

Eu virei o rosto e percebi o quão enganada eu estava. Era um homem, alto, musculoso, seus olhos eram verdes como uma esmeralda, um curativo sobre a sobrancelha marcava seu rosto, aquilo foi feito por um monstro com certeza. Ou talvez ele fosse um médico.

– Annie! Por favor nunca mais faça isso comigo! Você precisa ver a Sophie, ela é idêntica a você e...

– Cadê o Luke? – perguntei e estranhei o tom da minha voz,estava mais...adulta? Eu estava ansiosa para vê-lo, ele deveria estar preocupado. O sorrido do homem sumiu com a pergunta, ele me olhou com dúvida, como se não quisesse que eu tocasse naquele assunto. – Quem é você? E quem é Sophie? Por que eu não estou no Acampamento Meio-Sangue?

Escutei passos vindo em direção ao quarto e arregalei os olhos quando Thalia, sim, Thalia cruzou a porta. Ela estava diferente... é claro que deveria estar, afinal, as pessoas mudam após serem transformadas em árvores e depois em semideus de novo. Seus olhos brilhavam e ela parecia estar muito feliz, porém não queria demonstrar.

– Annabeth, não é hora pra brincadeiras, eu vou chamar o Quíron, espera ai! – e então o homem saiu e foi pra qualquer lugar.

– Thalia! Quem é ele? Como deixaram um louco desses ser médico? Por quanto tempo eu apaguei? E quando você deixou de ser um pinheiro? O Acampamento continua seguro? – perguntei tudo de uma vez.

– Bom eu acho que quem tem uma filha não deveria ser tão infantil assim, para com isso! O Percy estava depressivo esse tempo todo e...

– Eu não estou brincando! Eu não tenho a mínima ideia de quem seja aquele cara, muito menos Sophie. – insisti, Thalia parecia não querer acreditar – Que eu saiba eu sou a Annabeth Chase, tenho 12 anos, e sou filha de Atena! – disse e percebi que talvez eu poderia ser uma humana que sofreu um acidente e ficou em coma e tudo o que eu vivi com Thalia e Luke, o Acampamento Meio-Sangue, os deuses, o Olimpo, enfim tudo, poderia ser apenas uma ilusão da minha mente.

– Annabeth, se o que você está dizendo for verdade, e o que eu estou pensando que aconteceu, aconteceu, lhe devo informar que, muita coisa aconteceu. Sim, você é uma semideusa, vivemos no Acampamento Meio-Sangue, nada disso é ilusão, mas confie em mim ok? - ela disse como se lesse meus pensamentos.

– Do jeito que você fala parece que vai me dar a pior notícia da minha vida. - respondi e Thalia revirou os olhos.

– Annie, qual é a sua última lembrança, antes de acordar? – perguntou Thalia me ajudando a sentar na cama.

Flashback ON

Estávamos embaixo do Pinheiro da Thalia, Luke tinha acabado de vencer uma luta comigo, comíamos morangos e Luke se gabava de ter vencido.

– Você é biologicamente vantajoso! É mais alto, luta há mais tempo, é mais forte e também estuda os meus movimentos, só ganhou por isso! – respondo

– Só está dizendo isso porque não quer admitir, eu sou o melhor espadachim do Acampamento! – ele riu

– E qual é a sua vantagem acima disso além de vencer qualquer treino e ter mais facilidade com monstros? – perguntei

– Liderar uma guerra, por exemplo. – ele disse

– Ah, essa história de novo não! Você sempre fala nisso! Luke, você não vai conseguir se rebelar contra os deuses, por mais que tenha razão. – eu disse

– Quem disse que não? – ele respondeu.

– Os fatos. Se a profecia acontecer, vai ser daqui a muito tempo, assim espero. Independente de quando aconteça, espero que meus pesadelos sobre ela acabem... – disse

– Se você está tendo pesadelos é porque ela está próxima, Annie, aceite esse fato. – ele disse sombrio.

– Enfim, pelo menos Thalia não vai estar aqui pra sofrer com isso, guerra é a última coisa que nós precisamos nesse momento. – eu suspirei

– Se Thalia estivesse aqui... eu não me sentiria tão culpado, afinal, ela “morreu” porque Grover precisou de me ajudar, eu estava machucado e...

– Se eu não tivesse sido tão ingênua a ponto de ser enganada por aquele ciclope maldito você não teria se machucado, e Thalia estaria aqui com a gente. – conclui

– Eu tinha me machucado antes...

– Não, não tinha, eu me lembro bem. Você tinha se machucado enquanto fugia da armadilha, por minha culpa. – insisti

– Annie, isso não importa mais, Thalia está protegendo nossa casa agora, eu sou o melhor espadachim do acampamento, e você é nosso mascote inteligente! Viu? Tudo em seu devido lugar. – disse Luke me fazendo revirar os olhos

– Hey! Eu não sou o mascote de ninguém! Até porque Atena não é mãe de mascotes, e sim de guerreiros e estrategistas, filho do carteiro. – eu zombei e Luke me fuzilou com o olhar. – quem chegar no pavilhão por último é um mascote. – desafiei, eu sabia que Luke era mais rápido, porém era legal ver a determinação em seu rosto.

– Eu não brinco com mascotes. – ele se manteve sentado

– Ah é? Ok, mais um duelo, Castellan? – e então Luke se levantou brandindo a espada.

– Você precisa de uma arma maior, Annie! – ele disse dando de ombros enquanto desviava de um golpe da minha adaga. Notei um ponto fraco em sua defesa e ataquei.

– Quem precisa de uma arma maior mesmo? – perguntei derrubando-o no chão. Luke apenas riu e se levantou novamente acenando com a cabeça para eu segui-lo.

E após jantar e cantar na fogueira, fui dormir, os pesadelos com a profecia me atormentaram novamente, porém eu já estava acostumada...

Flashback OFF

–... e isso é tudo. – terminei de contar a Thalia.

– Você não se lembra de mais nada? Nada sobre ser capturada, ir ao Mundo Inferior... nada? – ela perguntou

– Apenas isso, é como se eu lembrasse toda minha vida, porém... só até esse ponto. – conclui.

– Annabeth isso é impossível! Tudo o que a gente viveu, tudo o que você sentiu. Você não se lembra nem daquele dia no iate? – interrompeu o homem que Thalia se referia como um tal de Percy, sua presença e insistência me irritava...

– Quantas vezes eu vou ter que repetir que não lembro? – ralhei

– Annabeth querida, você precisa descansar agora, quando você for atendida corretamente, e descansar mais um pouco, vamos conversar o necessário, certo? – disse Quíron, quando o vi em sua forma de centauro abri um sorriso muito largo, eu não sei o que aconteceu, nem como tudo isso é possível, mas sinto muita saudade dele, como se eu tivesse fugido dele, porém não tivesse sido porque eu quis... enfim tudo isso é muito estranho, e Quíron é a única pessoa com a qual me sinto segura para conversar no momento.

– Quíron, eu não quero descansar, eu não preciso disso. Eu preciso de explicações, você sabe como eu fico quando não sei de alguma coisa, e pelo visto, eu não sei de muita coisa. – respondi

– Certo, gostaria de conversar com a Annie, a sós. – disse Quíron – Vamos te explicar tudo, apesar de não saber exatamente o que aconteceu, eu presumo que sua memória possa ser recuperada, só ainda não sei como.

– Eu quero minha memória Quíron! Assim como quero saber o que está acontecendo, eu tenho quantos anos agora? Eu não sei nem quanto tempo foi apagado da minha mente. Deuses! – bufei frustrada

– Você tem 23 anos, aconteceu muita coisa nesse tempo que foi apagado na sua mente, as coisas só deram certo graças a você, e ao Percy, mas antes, eu vou te explicar o futuro, ou pelo menos o que eu sei de agora, já que você e o Percy...

– Por que esse cara sempre é citado quando o assunto sou eu? O que ele me fez ou eu fiz pra ele? – perguntei irritada

– Annabeth, Percy é seu namorado. – disse Quíron e o encarei cética. Não! Não podia ser verdade! A única pessoa com quem eu sempre quis ficar foi com o Luke! Ninguém mais! - Entendo seu ceticismo, mas vocês constituíram uma grande história juntos.

– Desde quando ele me conhece? Quíron por favor me explica o que aconteceu durante esse tempo, foram 11 anos! 11 anos! Eu não posso ter simplesmente esquecido, eu preciso saber o que aconteceu. – senti lágrimas acumularem-se em meus olhos

– A Grande Profecia, que citava Cronos, foi cumprida, e logo depois mais uma profecia, a Profecia dos Sete, você esteve presente nas duas. Luke era o herói da primeira profecia, ele... se sacrificou por todos, por você. – ele fez uma pausa e senti as lágrimas caírem – Cronos manipulou ele, ele se rebelou contra o Acampamento, envenenou o pinheiro que protegia o Acampamento, ele portou o próprio Cronos no corpo, mas no fim foi ele quem salvou todo mundo.

– Não! Ele nunca seria capaz de machucar alguém! Ele nunca colocaria o Acampamento em perigo, nunca...

– Sim, ele não seria capaz, mas Cronos o capacitou, ele já guardava mágoa dos deuses, Cronos usou isso como arma. Você deve lembrar que seu sonho era liderar uma missão não? Pelo que compreendi sua última lembrança é de dias antes da chegada de Percy, você cuidou dele, pois sabia que ele era sua oportunidade de embarcar em uma missão. Logo vocês viraram amigos, recuperaram o Raio Mestre de Zeus, juntos; ...depois que você, Percy, os deuses e semideuses adormeceram Cronos novamente, você e Percy começaram a namorar. – Quíron terminou com um longo suspiro. Minhas lágrimas já tinham cessado, e por mais que eu ficasse feliz em alguns pontos da história (por mais que fosse verdade, eu ainda tinha aquilo tudo como história), não consegui associar nada ao meu estado atual com o que Quíron disse.

– OK, o que isso tem a ver comigo, agora? – perguntei

– Após a Guerra contra Gaia, você e Percy começaram a faculdade, presumo que como todo casal, vocês passavam algumas noites, juntos, e em uma dessas noites, vocês conceberam a Sophie. - disse Quíron por fim. Conceber: gerar, formar, criar, fecundar, planejar...fecundar.

– Eu e Percy? Concebemos. Um... feto? – perguntei cética. Isso já é demais! Pelo que eu entendi eu ainda nem terminei a faculdade e... – Eu tive... uma filha?

– Sim.

Eu estou realmente considerando a ideia de voltar no tempo e morrer em uma das missões.

– Você morreu no parto, Annabeth. – disse Quíron

E os longos minutos, ou segundos ou até milésimos que passaram poderiam ter parado que a sensação que eu senti continuaria sendo horrível. Que eu saiba apenas uma coisa pode te trazer de volta, o Velocino De Ouro, que eu sei que está no Acampamento Meio-Sangue, eu não posso ter morrido.

– M-morri? – foi a coisa mais construtiva que eu pude perguntar.

– É uma forma de dizer, mas, você não foi para o Mundo Inferior, se fosse sua memoria estaria intacta, não foi um coma, mas foi como uma letargia. – explicou Quíron.

– Letargia não atrapalha a memória. – afirmei.

– Annabeth, durma, quanto mais você se cansar agora, mais seu tratamento será afetado, você precisa dormir.

– Não! Quíron, eu não suporto não saber metade da minha vida! Será que você não consegue imaginar? Eu preciso saber. – disse irritada.

– Bem que Apolo nos alertou sobre violência, boa noite, Annabeth. – Quíron disse fechando a porta.

O que? E de repente ele decide parar de me dar explicações da suposta vida que eu vivi e para, ok, eu me sinto cansada, mas, é tão angustiante! Luke está morto, assim como vários campistas, existe um novo acampamento e eu lutei em duas guerras, pensando bem, preferia ter continuado “morta”. Mas como isso não era possível, tentei dormir, ou ao menos tentei, eu tinha uma vida, e pelo que Quíron disse eu era feliz, mas como? Guerras nunca deixam boas lembranças. E ainda tinha aquele homem, o Percy, que era meu namorado, e ainda pior, um bebê, o que quer que tenha acontecido, foi sem dúvidas, muito intenso.