POV Thalia

Sinceramente, ás vezes eu detesto ser filha de Zeus.

Era mais ou menos metade da noite quando um trovão – um dos muitos que aparecem no céu do meu chalé - me acordou. Isso já tinha ocorrido antes, o problema é que eu custava a dormir de novo quando isso ocorria. Não foi diferente dessa vez.

Me revirei de um lado para outro até que desisti de tentar dormir de novo e fui dar uma caminhada. Não é do meu costume sair caminhando durante a noite, mas era apenas mais uma maluquice que eu estava fazendo nesse dia.

Não tinha um rumo definido, mas como tudo que não tem destino aqui no acampamento, eu fui parar na praia. A brisa que vinha do mar era quente e agradável.

Quase não conseguia enxergar nada na praia, a única fonte de luz era a luz da Lua e o fraco brilho das estrelas. O mar parecia um manto negro à minha frente.

Sentei-me na areia e fiquei observando o movimento das ondas. Olhando ao redor, vi uma coisa que de longe parecia uma pedra. Estava esticada na areia. Eu nunca tinha visto aquela pedra ali. Fiquei tentada a me aproximar, mas me controlei, eu tinha a sensação de que aquilo não era o que eu pensava que fosse.

Tive um sobressalto quando, de repente, a pedra que eu mirava fixamente, se mexeu.

Não resisti e fui olhar o que era, certa de que aquilo não era uma pedra.

Me aproximei e vi que era um garoto, aparentemente, ele havia dormido sem perceber onde estava. Pensei que era Percy, isso não seria tão estranho, afinal o pai dele é o deus do mar, mas o curioso é que não era Percy, era Leo.

E só agora eu percebi que ele ainda estava no mesmo lugar que eu o encontrara durante o nosso “trágico” encontro.

Fiquei em dúvida se deveria acorda-lo. Olhar para o seu rosto me trazia lembranças dolorosas. Enquanto decidia, fiquei olhando seu rosto. Ele parecia muito calmo enquanto dormia. O rosto não tinha as marcas de preocupação que eu vira nas poucas vezes que nos encontramos enquanto ele trabalhava no navio. A pele morena e macia estava pálida sob a luz da Lua. Os cabelos cacheados estavam desordenados ao redor do rosto.

Optei por acorda-lo. Eu precisava falar com ele de qualquer modo e era melhor fazer isso enquanto ainda estávamos a sós.

Para acorda-lo, fiz algo que surpreendeu até a mim mesmo. Me curvei sobre seu rosto e encostei meus lábios suavemente nos seus. Me afastei e ele se mexeu em sinal de que acordava.

POV Leo

Abri os olhos e certamente ainda estava sonhando. Thalia me olhava com um sorriso nos lábios. Eu estava grogue e desorientado. Olhei ao redor e percebi que ainda estava na praia.

–Bom dia! – falou Thalia. Mas ainda estava longe de ser dia.

–Bom dia? Não seria melhor me dizer: Boa Noite? – falei sorrindo.

–É, eu acho que sim. – ela falou sorrindo também.

–O que está fazendo aqui? – perguntei.

–Eu acho que a verdadeira pergunta é o que VOCÊ está fazendo aqui. – ela falou dando ênfase na palavra.

–Bem, na verdade eu não sei. E você?

–Eu estava sem sono então vim caminhar na praia e te encontrei dormindo.

Suas palavras despertaram a lembrança do nosso último encontro.

–Thalia... – comecei.

–Eu sei o que você vai dizer. – Ela me interrompeu como se lesse meus pensamentos. - Aquele nosso beijo foi um erro, eu sei, me desculpe. Mas saiba que por causa daquilo, eu fui expulsa da Caçada. – enquanto ela falava, seus olhos marejaram.

Um enorme sentimento de culpa cresceu em mim.

–Eu sinto muito, de verdade. E não era isso que eu ia dizer. – falei.

–Então o que ia? – perguntou.

–Eu ia dizer que aquilo que você viu foi um enorme mal entendido. – respondi.

–Mal entendido? Leo, eu vi você beijando aquela garota e ouvi quando ela disse que te amava. – ela falou irritada. As lágrimas, agora, desciam lentamente pelo seu rosto. – Você tem noção de como...

–Pelo menos deixe-me explicar – interrompi. Ela assentiu e eu prossegui. – Aquela garota era Calipso. – Thalia fez menção de me interromper, mas eu fiz um gesto pra que ela continuasse ouvindo. - Como você sabe, ela estava presa em Ogígia, mas foi libertada assim que a guerra acabou. Além disso, muito antes do que eu imaginava. Ela veio me procurar e me falou coisas que me surpreenderam, mas eu não amo Calipso.

–Vocês se beijaram. Eu vi. Você disse para ela que a amava. Você a conheceu durante a missão não foi? – Thalia praticamente gritou.

–Sim, eu a conheci durante a missão. Eu cai em sua ilha, ela se apaixonou por mim, já que essa é sua maldição e no início eu correspondi, mas não sabe como me arrependo. Não sinto mais nada por ela. Nós nos beijamos, tanto na ilha como antes aqui na praia, mas Thalia, aquilo não teve significado algum. E quanto a dizer que a amava, isso não é verdade. Eu não amo a Calipso... Eu amo você.

Thalia ficou confusa pela súbita declaração. Aproveitei o momento para continuar,

–Desde que nos encontramos pela primeira vez, você não saiu de meus pensamentos. – As palavras foram saindo de minha boca e sem perceber, segurei sua mão. - Principalmente porque você me esnobou a maior parte do tempo, mas você era tão linda, seus olhos tinham um mistério que quase me enlouqueceram. Sempre que eu vejo você, meu coração dispara. Aliás, meu coração não é mais meu, é totalmente seu. Eu sou completamente apaixonado por você, não sabe como foi doloroso ver você chorando. O beijo que me deu, não existem palavras pra descrever. Por favor, diga que aceita o meu amor.

Thalia ergueu os olhos marejados e fixou seu olhar no meu, mas ela sorria. Estava emocionada e confesso que vê-la sorrindo fez meus olhos marejarem.

–Claro que aceito o seu amor Leo, eu também te amo. Eu sinto por você algo que nunca senti por ninguém antes. – Thalia sorria e chorava ao mesmo tempo.

Estávamos tão envolvidos em nossa bolha particular que eu sentia as corrente elétricas que saiam de Thalia e passavam por meu braço, nos aproximamos e mal encostamos os lábios quando uma voz, que para mim foi extremamente desagradável, falou:

– Como são lindos os pombinhos. Aproveitem enquanto podem, pois pode ser a última vez que vocês se veem.