Minecraft. A Origem Das Trevas escrita por Hermes JR


Capítulo 37
O Poder do Medo


Notas iniciais do capítulo

"Um pequeno silêncio. Águas quebrando suavemente na lateral do barco. Um ronco ao longe. Um trovão ecoando a centena de quilômetros de distância. A vida serena da natureza se exibindo."



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Nicko estava tremendo, caído numa posição fetal e chorando alto como uma criança chora de medo ao ter um pesadelo. Nunca antes um choro foi capaz de parar um mundo assim, e o mais assustador de tudo era que saída da boca de um adulto. O sangue se acumulava ao seu redor, escorrendo e ganhando mais espaço, abrindo caminho, tomando sua espada caída.

Esmeralda correu para ajudá-lo, caindo de joelhos e tudo mais na poça vermelha, sem se importar nem um pouco com a sujeira.

–Nicko! –Gritou com a voz quase não saindo, começando a chorar também sem perceber. –Nicko!

Steve tropeçou e saiu cambaleando na direção de seu amigo, e seus companheiros fizeram o mesmo, assim como algum dos piratas. Todos estavam igualmente espantados, sendo eles amigos ou não de Nicko.

–Oh... –Esmeralda murmurou. –Oh não! Não! Não! Não! –Seus olhos não paravam de derramar lágrimas, e agora chorava tanto quanto seu colega caído ao chão e sangrando, tremendo muito e gemendo de agonia.

Steve conseguiu ver também o que era. Um corte. Um corte profundo em sua barriga. Mas Nicko havia vencido sua luta, não havia como ele ter sido ferido daquela maneira. Adália tapou os olhos de Fred para que o menino não visse aquela cena digna de estar numa obra de terror secular, porém, não podia impedi-lo de ouvir aqueles urros de quem agonizava e estava a um passo da vida e da morte.

Alguém o atacara. Só podia ser isso. Alguém o atacar de surpresa. Algum dos desgraçados dos corsários tentou matá-lo num momento de distração.

–Não... Não... –Os olhos de Esmeralda estavam cheios de um ódio que fez Steve recuar e cair sentado na poça de sangue quando ela o fitou.

Num salto, Esmeralda colocou-se de pé, tremendo e tentando controlar as mãos fechadas antes que agarrassem qualquer um dos piratas e os estrangulasse vivo. Passaram por muita coisa para chegar ali, lobos, um ferreiro com uma esposa feiticeira, monstros no meio da noite, e muito frio. Não podia deixar que a vida de Nicko acabasse assim, e se, numa hipótese assustadora que ela esperava não estar próxima, ela não pudesse fazer nada para salvá-lo, ia vingar sua morte com mais sangue derramado do que aquela poça que ela estava em cima.

Os piratas, por puro instinto, deram um passo para trás quando viram a garota levantar, com suas feições contraída numa face explícita de dor, numa face inigualável de medo. Ao mesmo tempo, era uma mulher ameaçadora, e eles simplesmente sabiam disso. Ela ainda não revelara seus poderes a eles, e quando o fizesse, alguns podiam chegar até mesmo a se borrarem. Esmeralda não era mais a mesma.

Steve segurou a mão de Nicko, molhando a mão de ambos de sangue, tentando calar aqueles gritos agoniados e mantê-lo consciente.

–Vamos lá amigão... –Balbuciou muito nervoso para que pudesse manter o controle. –Sei que você consegue! Vamos lá! Não nos deixe agora.

A única resposta que teve foi a mais assustadora de sua vida. Nicko conseguiu conter os gritos. Parou de espernear, e nisso, olhou com olhar vazio para Steve. A falta de vida em seus olhos era algo impossível de ser descrito com palavras, e, apesar de estarem vidrados em Steve, não era como se os olhasse, era como se olhasse através dele, para o céu logo acima onde provavelmente iria habitar daqui a alguns minutos.

–Estou com medo... –Foram as palavras que saíram de seus lábios trêmulos.

De repente ocorreu o inesperado. Esmeralda explodiu. Revelou seus poderes. Os ventos se agitaram e uma corrente invisível, vinda do nada, ou do mar, começou a balançar a embarcação enorme. Todos caíram e se estatelaram no chão, menos ela, que continuou firme, com olhos cheios de raiva fitando aquele que tentara matar Nicko, e mesmo que ninguém houvesse visto, ela sabia. Os piratas soltaram gemeram de medo, tentando se levantar e correr. Foi quando uma onda surgida do nada se chocou contra o barco, e ninguém, pirata ou companheiro dela, conseguia manter o controle; o próprio Fred estava chorando com medo e desespero, e Adália o envolvia num abraço caloroso de mãe, de uma mãe também muito assustada.

Os olhos de Esmeralda estavam negros, literalmente. Eram agora duas esferas negras dentro de suas órbitas, emanando um poder nunca antes presenciado por ela, que ninguém a julgaria capaz de ter. Talvez houvesse sido o medo, talvez a raiva, ou os dois, ou até mesmo nenhum dos dois; fosse o que fosse, despertara em Esmeralda uma força mágica há muito guardada e desconhecida até por ela própria.

Ondas continuavam a se chocar contra o navio, ventos seguiam soprando e balançando a embarcação com igual violência. Não demoraria muito para que afundasse. Steve agarrava Nicko em seus braços, chorando ao perceber que seu amigo estava de olhos fechados e com a respiração leve, mal sabendo que daqui a alguns dias estaria segurando Adália em seus braços da mesma maneira. Sem vida.

–O barco... –Uma voz gutural saiu da garanta de Esmeralda, quase como se um monstro das profundezas de um pesadelo houvesse acordado.

Foram poucas palavras, e simples letras, que também foram o bastante para fazer os piratas se renderem.

Tomaram o barco, agora a embarcação era deles. O problema era saber se Nicko sobreviveria.

* * *

Passaram-se horas. Muitas horas, e a noite havia enfim caído. Já estavam em alto mar e longe de terra desde que o dia começara, e pela manhã do dia seguinte deviam estar próximos a alcançaram a outra porção de terra.

Esmeralda, ainda naquele estado de transe assustador, com os olhos negros e com uma barreira de força física emanando de seu corpo feminino e forte, andou levitando até Nicko e, com o toque de sua mão, sua ferida magicamente se fechou. O sangue parou de correr para fora de sua ferida, e os gemidos cessaram. Nunca antes podiam esperar algum assim vindo dela, era impossível até mesmo para o mais forte e milenar dos feiticeiros. Em consequência, ela apagou, caindo em cima de Steve e deixando-o ao chão com os dois em seus braços, sem poder reagir.

Os piratas, de uma hora para a outra, decidiram que seria uma boa ideia ajudá-los, e trataram de arrumar um local para Esmeralda e Nicko. Depois, voltaram ao comando do navio, se limitando somente a guiá-lo, sem fazerem objeção alguma quanto à presença deles ali.

Naquele momento em que Steve se encontrava sentado sobre um barril, vendo as águas geladas se agitarem, já era madrugada. Estava sem sono, obviamente, ainda perturbado com o que vira aquela manhã. Uma mão tocou sem ombro e, ao virar, deu de cara com Bruce, com os olhos inchados e cercados por olheiras roxas.

–Sem sono? –Perguntou retoricamente.

–E como...

Bruce sentou-se ao pé do barril, agarrando seus joelhos.

–Ainda ando pensando no que vimos hoje de manhã... –Bruce comentou.

–Não consigo tirar aquilo da mente.

–Esmeralda, quero dizer, ela... –Bruce estava sem palavras. –Conhecemos ela há muito tempo. Lutamos juntos contra coisas muito mais perigosas, lá no Ninho de Creepers, por exemplo, e aquilo nunca aconteceu! Era quase como se ela estivesse... –Travou.

–Possuída. –Steve completou. –E a maneira como ela curou Nicko, foi... Surreal...

–O que acha que aconteceu?

–Eu não acho nada... Na verdade tenho medo de dizer alguma coisa, afinal, estou com medo. –Admitiu, como se aquilo doesse ao sair de sua garganta. –Estou com medo do que ela vai ser quando acordar. Será que ela vai ser a mesma pessoa? É essa a pergunta que me amedronta.

Um pequeno silêncio. Águas quebrando suavemente na lateral do barco. Um ronco ao longe. Um trovão ecoando a centena de quilômetros de distância. A vida serena da natureza se exibindo.

–Alguma ideia? –Bruce perguntou.

Steve franziu a testa.

–Ideia? –Repetiu. –Não acho que alguma coisa tenha mudado.

–Acha que Nicko vai sair vivo?

Steve o repreendeu com o olhar por dizer algo daquela maneira.

–Antes eu tinha minhas dúvidas, mas agora tenho certeza. Ele vai sair dessa, e, amanhã de manhã estaremos novamente no nosso caminho até Hammer. Nunca estivemos mais próximos do estamos agora.

Bruce não fez objeção alguma, ainda que não concordasse completamente com as palavras de seu amigo. Estavam todos com medo, muito medo, e Esmeralda, por mais que fosse vista como uma líder, estava sendo vista agora como uma bruxa.

Aquilo fez Steve pensar, porque Adrian, o menino lobo, lhe dissera que havia dois feiticeiros entre eles. Como ela sabia daquilo não tinha a mínima ideia, mas uma dúvida agora também podia ser levantada: Será que ele errara um pouco na sua previsão e sentira na verdade aquela alma escondida dentro de Esmeralda?

Uma possibilidade. Muitas outras respostas, e várias perguntas também.

E o barco continuou sua viagem rumo ao continente, rumo ao reino de Hammer.


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