The Legends of Hogwarts - O Legado de Slytherin escrita por Sídhe, Thiago, Pam


Capítulo 5
Reyna/Hylla


Notas iniciais do capítulo

Pois é, dois meses sem postar. Mas a escola é um lugar cruel que não nos deixa ter vida. Enfim, neste capítulo o POV da Reyna, como sempre, foi escrito pela MadGryffindor (Pam) e o especial da Hylla, pela June. Boa leitura! Leiam as notas finais para mais informações.



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Quando Reyna se levantou na manhã de sábado, o clima era ameno e fresco em seu dormitório praticamente vazio, com exceção de si mesma e Bianca di Angelo, que estava em frente ao espelho, penteando o cabelo. O dormitório que ela dividia com outras quatro garotas era espaçoso e confortável, com as camas de dossel com lençóis de fios bordados prateados e cortinas de seda esmeralda.

– Bom dia. - ela disse cordialmente, se levantando. Uma leve tontura a atingiu, mas a garota não percebeu ter notado.

– 'Dia. - Bianca respondeu, enfiando seu gorro verde na cabeça. Bianca di Angelo tinha a pele cor de oliva e os cabelos lisos, negros e sedosos, de feições aristocráticas e não costumava se misturar muito com outras pessoas fora seu irmão, Nico di Angelo. A família Di Angelo era muito respeitada no mundo dos bruxos. Seu pai, Hades di Angelo, era um Inominável e seu tio, Plutão Levesque, havia sido gerente do Gringotes, o banco dos bruxos, mas havia sido assassinado misteriosamente no último verão.

Reyna foi até o banheiro e tomou um banho rápido, vestiu suas roupas esverdeadas de Quadribol, e enquanto fazia isso, pensou no pesadelo que tivera naquela noite. Eles não haviam parado, diminuído talvez, mas ainda estavam lá, quem sabe até mais nítidos e vívidos. E ela continuava vendo as mesmas coisas, a sensação de escamas pelo corpo, o homem estranho escrevendo em seu diário. Era difícil saber o que a deixava mais intrigada. O fato de sonhar com um homem estranho a si, ou nunca saber o que ele escrevia com tinta carmesim naquele pergaminho. E aquela sensação de escamas que era com certeza sobre uma cobra, pois sempre vinha acompanhada de ruídos sibilantes, e isso também era assustador. Não que ela tivesse medo de cobras, era apenas o pesadelo.

Ao voltar para o dormitório, notara que Bianca já havia descido, então ela apenas pegou sua Firebolt cuidadosamente polida e aparada e fora tomar seu café da manhã. Lá embaixo, no Salão Comunal da Sonserina, alguns alunos primeiranistas tinham os narizes colados nas janelas que, diferente das dos outros salões comunais, não podia ser aberta por dar vista para dentro do Lago Negro. “Eu estou te dizendo, cara. Eu vi um dos tentáculos da Lula Gigante lá” o menor deles dizia, apontando enfaticamente para um ponto fora da janela. Reyna riu levemente pelo nariz. Ela - e nem ninguém da sua casa, que ela soubesse - jamais havia visto a Lula Gigante por ali. Talvez fosse algum ponto do Lago Negro que ela não costumasse frequentar. Em compensação, era comum se ver sereianos ou grindylows passando por ali, como em todo inicio de ano letivo, eles apreciavam com suas caras esverdeadas e dentes limbosos para dar oi aos alunos novos.

O Salão Comunal da Sonserina tinha a fama de ser o mais luxuoso da escola, o que Reyna não duvidava. O chão e as paredes eram de pedra, que davam a aparência rústica de um castelo medieval, além de ser longo, com poltronas e sofás verde-esmeralda e tapeçarias, algumas mostrando feitos históricos de antigos alunos da casa, outras enfeitadas com o brasão e as suas cores, verde e prata. Enquanto ela caminhava para o Salão Principal, já no andar térreo, escutou gritos de frustração e risadas que só poderiam ser de Pirraça, o poltergeist.

Ao virar em um corredor onde havia uma gárgula que, particularmente, lhe parecera mais feiosa do que as outras, ela encontrou Hazel Levesque, a prima de Bianca di Angelo. Ela estava com os cabelos ligeiramente desarrumados e as vestes fora do lugar enquanto reunia seus livros que estavam no chão.

– Ei, Hazel - Ela chamou se aproximando e se abaixando para ajudar a garota com os livros.

– Oh, olá Reyna – Ambas se levantaram e a morena então respondeu a pergunta muda no olhar da outra - Pirraça.

Reyna maneou a cabeça.

– Ele é uma pedra no sapato - sorriu - Mas se quiser dar um jeito nele, ameace-o com o Barão Sangrento, ele o assusta.

– A mim também - Hazel comentou e Reyna soltou uma meia risada.

– Ele não é tão ruim. - disse - O Barão pode ser bem simpático, às vezes.

– Mas todo aquele sangue em sua roupa. - Hazel estremeceu levemente, o que fez Reyna se divertir - Bom, meus livros fizeram um bom trabalho por enquanto.

– Vamos para o Salão Principal?

Hazel balançou a cabeça em concordância e elas começaram a caminhar em direção ao salão em um silêncio desconfortável. A sonserina pigarreou e se lembrou da breve conversa que tiveram no compartimento de monitores sobre o pai dela, Plutão. Observando Hazel, ela não parecia muito abalada. Ela era uma garota bonita da Lufa-Lufa com a pele morena clara, cabelos muito cacheados castanhos num tom médio e olhos avelã amendoados e bondosos, que tinha um riso fácil e agradável.

Mas se ela observasse atenta aos sinais, notaria as olheiras pouco perceptíveis devido a pele morena, a expressão abatida e linhas de preocupação em seu cenho. Quando chegaram às pesadas portas de carvalho, se despediram rapidamente e se encaminharam cada uma para a determinada mesa de sua casa. O teto do Salão Principal estava azul límpido e sem nuvens, o que era um excelente clima para treinar quadribol. Na mesa de sua casa - e na maioria das outras - haviam umas poucas pessoas que haviam se demorado mais no seu café da manhã, ou acordado tarde demais. Enquanto termina de comer uma maçã, levantou o olhar e notou Piper McLean, uma das garotas com quem Reyna dividia o dormitório, se aproximando.

– Está pronta para o treino? Jason tem um comunicado a fazer. - ela disse.

Piper tinha a aparência de índios nativo-americanos, com feições levemente pronunciadas, o cabelo em uma trança lateral presa por uma pena e olhos caleidoscópicos, era realmente bonita. O apetite de Reyna não andava dos melhores ultimamente, e apenas a maçã que comera a fizera sentir-se mais que satisfeita. A falta de fome estava preocupando Hylla, e agora Annabeth, mas era difícil comer após apenas algumas horas de sono.

– Claro. - disse rígida, se levantando para acompanhar a garota. Jason Grace, loiro e alto, de olhos azuis como o céu e com uma leve cicatriz no lábio superior, era o capitão do time de quadribol da Sonserina e namorado de Piper. Ele era o tipo de pessoa que nascia para comandar, confiante e seguro. Reyna ainda se lembrava de como haviam se conhecido no Expresso de Hogwarts em seu primeiro ano na escola. E então eles haviam coincidentemente caído na mesma casa. Ele havia, realmente, sido a primeira pessoa que ela chamaria de amigo naquela escola.

Quando as garotas chegaram ao vestiário, Jason estava completamente vestido com o uniforme do time e sentado em um dos bancos que haviam espalhados por entre os armários, mexendo a perna e parecendo ligeiramente nervoso. Por ali estavam também os outros integrantes do time. Ethan Nakamura, o apanhador, estava ajustando suas luvas, Zetes e Calais, dois irmãos grandalhões e mal encarados que eram os batedores do time conversavam baixo no canto e Sherman, o goleiro, posicionava seu equipamento.

– Bem, agora que estamos todos aqui... - Jason disse, se levantando e chamando a atenção de todos da equipe - Eu gostaria de fazer um comunicado.

– Isso nós percebemos. - Zetes riu, sendo acompanhado do irmão.

Reyna revirou os olhos no seu canto. Jason não se deixou intimidar e estufou o peito.

– Eu gostaria de dizer que, em todos esses anos em que eu venho sido capitão do time, nós não conseguimos muitas vitória e nenhum prêmio. -Eele continuou, mas novamente foi interrompido, dessa vez por Calais.

– É, a gente sabe disso. Agora diga a...

– Novidade. - Zetes completou devido à incapacidade do irmão de não dizer palavras com mais de duas sílabas.

– Cala a boca! - Piper resmungou - E deixem Jason terminar de falar.

Os irmãos riram a bateram os punhos enquanto Reyna bufava e revirava os olhos mentalmente. Os Harshwind eram irmãos gêmeos, mas não eram muito parecidos exceto pelos cabelos tão loiros que chegavam a ser quase esbranquiçados. Calais era grande como um centauro e de olhos negros e sempre usava uma camiseta dos Falmouth Falcons, quando não o uniforme. Já Zetes era menor e mais magro que o irmão, com olhos azuis glaciais e um grave problema de acne no qual nem mesmo Melinoe, a curandeira da escola, fora capaz de resolver.

Jason lançou um olhar frio em direção aos dois irmãos.

– Bem, se já deram suas opiniões e decidiram me deixar terminar , eu gostaria de dizer que estou renunciando ao posto de capitão do time.

O vestiário ficou completamente em silencio, nem mesmo Zetes ou Calais fizeram alguma de suas piadas infames.

– Como assim renunciando? - Ethan Nakamura perguntou, se desencostando de seu armário. Ele era asiático, magro e com os cabelos escuros.

O ex-capitão deu de ombros e bagunçou os cabelos, uma das mãos enfiadas no bolso.

– Como eu disse, eu não venho sido o melhor capitão que o time da Sonserina já teve. - Ele falou.

– Certo, mas sair do time não ajuda muito. - Sherman disse - Sabe, a gente vai acabar ficando sem capitão e isto não vai nos fazer vencer. - Ele era alto e forte, a pele ligeiramente bronzeada que sugeria que deveria ser de algum lugar mais ao sul do país, ou que ele passasse tempo demais jogando quadribol. As feições eram fortes e marcadas, o nariz meio curvo que fora quebrado por algum balaço em seus anos anteriores no time.

– É, quem seria nosso capitão? - Piper perguntou. Ela aparentemente não sabia dos planos de Jason sobre deixar de ser capitão da equipe.

– Reyna . - Ele respondeu e todos ficam em silêncio por mais algum tempo - Não existe melhor escolha. Você seria a pessoa perfeita para o cargo, Reyna.

Ele havia se virado para a garota nesta ultima frase. Ela havia ficado parada, sem reação, e observando enquanto todos absorviam a ideia de Jason não querer ser mais o capitão do time. Os outros jogadores haviam se virado para ela e sorrido, obviamente sendo motivados pelas palavras confiantes de Jason.

– Eu concordo. - Sherman se pronunciou, o que deixou Reyna meio espantada. Ela e Sherman não eram amigos, na verdade, haviam apenas trocados umas poucas palavras educadas durante os treinos ou "bom dia" pelos corredores.

Reyna arrumou a postura e suspirou. Não queria demonstrar incerteza ou o cansaço que sentia, mas balançou a cabeça em acordo num gesto que gritava ESGOTADA em letras maiúsculas.

– Se todos estiverem se acordo com isto. - disse e mexeu a ponta da trança entre os dedos em um despercebido gesto nervoso - Eu me sentiria honrada em aceitar. E se a professora Lupa o achar favorável.

Jason se adiantou orgulhoso.

– Eu já cuidei disso - falou - Lupa concorda que você seria a melhor capitã que o time da Sonserina já viu.

Ela ofereceu um sorriso de lado agradecido e ligeiramente constrangido, olhando para os outros jogadores. Todos pareciam de acordo, embora Piper carregasse uma ligeira ruga entre as sobrancelhas.

– Bom... - Ela pegou sua vassoura e sorriu realmente animada pela primeira vez ao dia. - O que estamos esperando? Temos muito que treinar.

Enquanto Reyna caminhava, seus pensamentos estavam rondando sobre os acontecimentos das últimas duas semanas enquanto fazia sua monitoria pela escola. Os treinos de quadribol haviam sido, bem, complicados, embora produtivos. Eles haviam tido vários problemas pequenos, como as várias reprimendas para com os irmãos Harshwind. Zetes e Callais pareciam ter um ímã para problemas, lançando seus balaços nos lugares errados ou com força demais. Reyna suspirou ao se lembrar do nariz quebrado que Ethan Nakamura havia recebido durante o último treino, e ainda tentava se esquecer da briga que ele resultara.

Piper parecia discordar constantemente das ordens da capitã, embora não deixasse isso expresso em palavras, era possível notar por conta da forma como seus ombros se enrijeciam quando era corrigida sobre algo, ou aconselhada a tentar algum outro movimento. Além disso, Reyna parecia estar sempre cansada. As machas escuras debaixo de seus olhos pareciam crescer constantemente, ao mesmo tempo em que iam ficando mais e mais visíveis. Os pesadelos continuavam, nem melhores, nem piores, apenas contínuos. Um dos sonhos que tivera na semana anterior haviam a deixado realmente confusa. Não era um dos típicos sonhos com cobras ou o homem, o qual ela já tinha desconfianças de quem poderia ser. Na verdade era um sonho bem vindo depois de tanto tempo tendo pesadelos perturbadores e incômodos durante meses seguidos.

Sonhara com sua mãe. Bellona. Bellona Avila era uma aspirante a auror quando conhecera seu pai, Marco Ramirez-Arellano, que, assim como ela, estava em seus treinamentos para se tornar caçador de bruxos das trevas. Pouco tempo depois de se casarem tiveram a primeira filha, Hylla. Alguns anos depois, Reyna. Quando Bellona morreu, ela e Marco eram grandes aurores de muito sucesso e que faziam parte da guarda pessoal do Primeiro Ministro Júpiter, durante a Grande Guerra.

Reyna não tinha muito mais do que dois anos nessa época, e o pouco que se lembrava da mãe eram de fotos que Hylla lhe mostrara quando era menor. Marco, por outro lado, afogara-se em uma depressão profunda. Não trabalhava e não fazia algo de grande utilidade, chegando à beira da loucura. Aos seis ou sete anos, Reyna tentava se lembrar de algo sobre a mãe, mas única coisa que lhe vinha à memória era uma vaga lembrança de ela afagando seus cabelos enquanto a colocava para dormir. Depois deste sonho, ela havia cogitado até mesmo parar de tomar a poção que Circe havia lhe dado, mas ela lhe proporcionava um alívio momentâneo que a deixava desperta para poder assistir as aulas, fazer seus deveres como monitora e como nova capitã do time de quadribol. Agora, enquanto andava pelos corredores vazios e seguia os sons estranhos ao longe, tudo o que ela mais queria era poder tomar logo sua poção e então poder deitar-se em sua cama de dossel na e dormir até o dia seguinte, mas lembrou-se de um dever que havia se esquecido de começar.

Ela praguejou mentalmente quando reconheceu as vozes de Zetes e Callais soando ameaçadoras, embora de uma forma... Harshwind. Quando dobrou o corredor, encontrou Leo Valdez pendurado pelos tornozelos, as orelhas élficas vermelhas apesar da pele latina e a capa quase caindo, os tornozelos tão magricelas quanto o resto do garoto à mostra. Suspirou pesadamente e reuniu toda a ameaça que conseguiu.

– Harshwind! - ela disse altiva, ainda que sem levantar a voz. A risada dos garotos morreu enquanto ela se aproximava a passos firmes e decididos - O que estão fazendo? Larguem ele.

Enquanto ela se aproximava, a camisa de botões que Leo vestia desceu e tapou o rosto do Lufano. "Estou bem", ele disse, mas soou abafado, e o garoto atrapalhou-se ao tirar o tecido do rosto.

"Dá para notar." ela pensou debochadamente enquanto os irmãos se atrapalhavam com o contrafeitiço para libertar Leo. Zetes estava completamente vermelho enquanto Reyna o observava, e Callais murmurava coisas ainda mais descoerentes do que o normal tentando explicar-se. Com um baque repentino, Valdez caiu no chão em um emaranhado de membros magros e tecido sobrando.

– Não poderiam fazer isso mais delicadamente? - ele perguntou se botando em pé e arrumando as vestes e cabelo.

– Zetes e Callais. - ela se virou para os irmãos Harshwind com fúria contida nos olhos e ignorando o que Leo havia dito - Vocês têm me trazido mais problemas do que eu sou capaz de contar em apenas três semanas. Se eu pegar vocês saindo mais um dedo da linha, irão para detenção. E fora do time.

Eles balançaram a cabeça em sintonia.

– Não se preocupe, Reyna. Não vamos mais causar problemas. - Zetes disse, tentando usar seu charme inexistente.

Ela afirmou com a cabeça.

– É o que espero. Agora vão embora, e menos vinte pontos de cada um.

Eles meio correram, meio se apressaram pelo corredor.

– Uou. Você faz isso com seu cachorro também ou trata ele melhor? - Leo disse, passando a mão pela cabeça no ponto em que havia batido na queda.

– Talvez devesse passar na enfermaria para Melinoe ver se não machucou a cabeça. - ela revirou os olhos para o comentário dele.

– Não se preocupe com isso, eu tenho um crânio de ferro. - Ele franziu o cenho. Reyna deu-lhe uma última olhada e voltou à seu caminho. – Ei,ei.

Ela se virou e viu o garoto vindo em sua direção, ele tinha uma expressão pensativa no rosto.

– Espera aí... Se me despreza tanto, por que me ajudou? - ele parecia realmente procurar uma resposta para essa pergunta.

– Eu fiz meu trabalho como monitora, e nunca disse que lhe desprezava - Reyna respondeu. Isso apenas pareceu deixar Leo ainda mais confuso.

– Mas disse que não somos amigos. - ele disse e Reyna sorriu de lado sem mostrar os dentes.

– E realmente não o somos. Mas eu nunca tive motivos para desprezar você. – E então ela sorriu - um sorriso de verdade, ainda que sem mostrar os dentes, e retomou seu caminho para as masmorras.

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Hylla

Ao andar na direção do vestiário, Hylla podia ouvir os gritos do lado de fora do lugar. Ela estava acostumada àquilo, a ser observada em todos os lugares que ia, a olhares a encarando de cima a baixo. No entanto, ela apreciava jogar nas Harpias de Holyhead. Não era como se importasse, ela não tinha nada para se incomodar depois que saia do chuveiro ainda pingando da água quente, secando o cabelo negro e o rosto de feições sérias com uma toalha. As pessoas não a marcavam mais como gostaria. Suas colegas de trabalho continuavam a se vangloriar e emocionar perante os gritos de fãs histéricos que poderiam marcar a própria testa com seus nomes, mas a capitã apenas dava um sorriso a cada início de jogo, procurando se concentrar no que deveria ter mais importância. Como a partida daquela noite, semifinal de Harpias contra os Pegas de Montrose. Se os derrotassem, jogariam na final contra os Gaviões de Heidelberg. A última vez na qual ambos chegaram a um ponto importante como aquele fora há 60 anos, e seu time deveria se prevenir de uma vingança certa.

Ela fechou a porta do armário ao vestir-se com seu uniforme, as calças brancas junto da garra estampada no peito, deixando apenas a capa esverdeada por colocar. Sua mente estava em Reyna. Hylla sabia que deveria mandá-la para Circe mesmo que os riscos fossem desastrosos, a bruxa era a única no ramo que poderia realizar tal serviço tão bem, apesar de a confiança entre elas não ser algo mútuo. As chances de que Reyna ficasse melhor eram escassas, Circe a disse. Mas ela estava disposta a fazer tudo o que pudesse por sua única irmã. Sua única família.

Bufou e franziu o cenho ao pensar em seu pai. Hylla não entendia como Reyna ainda poderia defendê-lo, um homem como ele não deveria ser levado como exemplo, ou mesmo como um pai. Ele fugira, ele fora imbecil como todos os outros que ela já conhecera, mas a garota ainda tinha o senso de dizer que ela não deveria odiá-lo, pois aquilo não a levaria a nada.

E ela sabia que Reyna estava certa, por Merlin, sabia como ela estava certa. Mas como poder perdoar alguém que lhe deixara sozinha com uma irmã mais nova para criar, vivendo num lar arruinado e sem comida?

Colocou as mãos na cabeça, tentando respirar fundo. Perdera a mãe tão cedo. Reyna se parecia com ela, ainda que a filha fosse mais dura. Ambiciosas, sim, mas leais. Doces quando deviam e mordazes quando lhes era vago. E elas sabiam perdoar; mas perdão era uma qualidade que Hylla não tinha. Talvez Reyna fosse uma pessoa melhor.

Ela estava sozinha no vestiário, estranhando que Kinzie não estivesse ali, geralmente a primeira a chegar. Poderia ter ocorrido algum problema, mas Hylla ignorou, crispando os lábios e prendendo o cabelo num alto rabo de cavalo. Seus olhos negros se fixaram nas próprias botas para Quadribol ao se sentar no banco, com as pernas meio abertas enquanto apoiava os braços em seus joelhos. Ela ouviu a porta se abrir e se levantou, mesmo que não tivesse ouvido som de passos. Aparecera na porta uma garota de beleza perfeita, entrando depois de espiar e sorrir timidamente. Tinha os cabelos loiros platinados e seus olhos azuis gélidos brilhavam ao ver Hylla à sua frente. Vestia um suéter nas cores do Harpias e calças jeans coladas demais para o gosto da outra, e tinha duas listras em cada lado do rosto pintadas de verde e dourado. Seus cabelos esvoaçavam mesmo na ausência de vento... Engoliu em seco, notando que aquela pessoa não seria uma humana qualquer. Sua mão formigou em vontade de alcançar a varinha. Veela.

– Desculpe, mas você não deveria estar - A artilheira começou, mas a garota passou a falar.

– Oh - Suas bochechas ficaram rubras - Eu não sabia, é que... - Olhou para trás nervosamente, uma outra garota surgiu na porta do vestiário. Era negra e de cabelos castanhos cacheados, igualmente bela, também usava um pullover verde por baixo de uma camisa branca. Hylla xingou mentalmente, ela sabia que agora estava sem saída. A garota loira deu um passo para perto dela - Somos grandes, grandes, fãs suas e queríamos muito um autógrafo. Mas os seguranças não nos deixaram entrar e...

– Passaram pela segurança? - Hylla interrompeu, franzindo o cenho, fingindo que não sabia o que elas eram. Olhando para outra garota que ainda continuava na frente da porta aberta e pensou como ambas poderiam passar por diversos bruxos treinados para atacar. Pareciam mais líderes de torcida a bruxas experientes, ou veelas.

A loira deu um sorriso ofuscante.

– Sim, nós queríamos muito poder falar com você. Meu nome é Tammi! Minha amiga se chama Kelli. Seu último jogo foi incrível, quando você tirou a Goles do... - Ela continuara falando, mas Hylla apenas fingia escutar. Olhou seriamente para a garota negra que não demonstrara ser tão confiante quanto a outra. - Estou falando demais? Droga, sou realmente uma tagarela, mas você é tão... Incrível. - Ouviu a loira suspirar. Baixou o olhar enquanto observava Kelli, até que viu algo atrás dos pés da garota. No corredor, pôde ver vagamente uma mão aparecendo no tapete vermelho ao limite da porta, havia uma pessoa no chão. Num dos dedos, identificou um anel de compromisso de alguém conhecido. Hylla arregalou os olhos. Kinzie? Olhou novamente para Tammi, notando que os olhos dela agora estavam num vermelho intenso. De súbito, levou a mão ao cós da calça, esperando alcançar sua varinha, mas algo a impedira.

Tammi a puxou para um beijo. Para aquilo Hylla não estava preparada, mantendo os olhos abertos e as mãos para longe enquanto a loira a trazia mais perto pelo pescoço e invadia sua boca. Sentia-se como se houvesse uma serpente no lugar da língua da garota. Quando a soltou, a morena ainda a encarava desnorteada, com a boca meio aberta. Os olhos vermelhos de Tammi a deixavam confusa e, ao pensar Hylla que estava recuperando a consciência, ela fechou o punho e socou seu queixo com força. Uma dor lancinante veio quando sua mandíbula foi trincada e a capitã havia sido lançada contra os armários. Bateu-se contra eles e caiu no chão, ficando sem sentido por dois segundos antes que pudesse respirar com força. Seu corpo tremia, mas ela já havia levado piores com os treinos de Quadribol. Hylla tentou se mover.

– Fique aí! - Ela se assustou ao ouvir a voz de Tammi. Mas Hylla virou a cabeça para o lado, e notou que a loira estava falando aquilo para sua parceira. Forçou os olhos e distinguiu um sorriso no rosto de sua inimiga - Eu posso cuidar dela sozinha. E quem diria, todos falam que as Arellano são duras na queda - Tammi sorriu com satisfação ao olhar para a artilheira caída, e a puxou do chão pelo pescoço, encostando-a contra os armários entre si e a superfície metálica. Havia um brilho assassino em seus olhos, e Hylla tentava mascarar o desespero - Você foi tão fácil quanto aquela sua amiguinha, mas... Vamos direto ao assunto. - Levantou a mão livre e suas unhas foram transformadas em presas de 15 centímetros afiadas como adagas - Onde está o medalhão?

Hylla franziu as sobrancelhas, e aquilo lhe causou certa dor. Medalhão. Aquele medalhão. A palavra ecoava em sua mente, e ela soube do que a veela estava falando. A voz sussurrante de sua mãe ainda estava vívida desde o dia em que ela se fora. Ninguém com sangue trouxa poderá o encontrar e a ninguém com veias impuras poderá lhes pertencer: o sangue vem antes.

Os cabelos de Tammi que antes esvoaçavam loiros, agora tinham as pontas chamuscantes e vermelhas iguais a fogo.

– Não vai abrir a boca?

A capitã sorriu e murmurou:

– Eu não quero sentir o seu bafo de cobra outra vez.

Tammi puxou novamente Hylla com sua força sobre-humana e a jogou no chão, sentando-se em cima dela e a cercando com um braço enquanto o outro pairava com as garras sobre a coxa da jogadora. Seus rostos estavam a centímetros de distância e Hylla sentia um leve formigamento no local onde elas tocavam, prestes a rasgar-lhe a pele.

– Tammi... - Elas ouviram Kelli falar ainda na porta, os punhos fechados.

– Você vai ficar de guarda até que eu mande sair! – Tammi gritou, grosseira, e ela voltou-se novamente para Hylla - Se você pode brincar, então pelo visto é a minha vez. - Os cabelos dela agora estavam quase totalmente em chamas, vívidas e alaranjadas, dando ao rosto da veela uma impressão totalmente diferente da primeira. Ela arranhou de leve a perna da garota, mas o suficiente para Hylla sentir seu próprio sangue escorrendo. Ela falou devagar: - Onde está o medalhão?

– Sabe - Hylla começou, encarando os olhos vermelhos tentando não demonstrar medo ou dor pelo ferimento. Os olhos de Tammi se tornaram em ódio puro e começara a se cobrir de escamas. - A sua maneira de extrair algo é muito excitante para uma galinha em chamas, mas eu não sou lésbica.

A veela sorriu e respondeu:

– Nem eu.

A dor correu por sua perna quando Tammi cravou as unhas em Hylla. Sentindo tais garras lhe atravessando a carne e a fazendo gritar, ela lançou sua cabeça contra Tammi, confundindo-a o suficiente para que mudasse suas posições e ficasse por cima. Um filete de sangue escorreu do novo corte na testa de Hylla. A capitã ergueu os punhos e começou uma sequência de socos contra a veela até que os nós de seus dedos se ferissem, o rosto contorcido pela dor pulsante em sua perna.

Quando o sangue de Tammi passou a sair de sua boca, tossindo e cuspindo, Kelli decidira que ignoraria a ordem de manter-se isolada e correu até Hylla. Mas ela sacou sua varinha e lançou um feitiço contra a garota, lhe cortando o peito profundamente com sectumsempra e a fazendo cair pelo impacto.

Hylla se levantou com dificuldade enquanto Kelli, com as roupas cobertas de um sangue escuro e viscoso, puxara a própria varinha. Ela não seria uma veela pura, talvez descendesse de alguma de seu grupo, no entanto aquilo não importava, ainda seria difícil matá-la. Kelli lançou um feitiço e Hylla rebateu-o, causando uma pequena explosão no canto da sala, mas elas continuavam o combate. Alguns ataques da garota passavam de raspão em seus braços ou pernas, ela ainda tinha o ferimento na perna a impedindo de ser tão ágil, fazendo tudo o que podia.

Ela tentou lançar um feitiço, mas Kelli pegou a varinha de si ao conjurar um expelliarmus.

Sua mãe deve ter dito para vocêComeçou ela, segurando as duas varinhas para um possível ataque com o dobro de poder – Ou será que foi o seu querido pai quando a deixou?

Hylla rosnou à menção dele, cerrando os punhos.

– Quem lhe disse isto? O mandante para qual você trabalha? Pois fique ciente de que eu não ganhei nada vindo daquele homem, nem mesmo o medalhão que você quer. Ele era apenas um bêbado sem escrúpulos, e não foi nada além disto, era um covarde que não me deixaria sequer um sicle. Eu nunca tive um pai. – Cuspiu aquelas palavras – Não sei de nada. Se quer me matar, faça logo. Existem coisas mais importantes do que a minha vida.

– Como a da sua irmã – Pela primeira vez, Hylla se mostrou atingida. Seus joelhos falharam. – Mas não acredito que não tenha ao menos um palpite. Se não está com você, está com ela. Ou em sua casa, no seu cofre, até mesmo na escola dela. Nós podemos facilmente cortar a garganta de sua irmã mais nova antes que ela tente alguma coisa. Podemos dilacerar o peito dela, engolir seu coração e jogá-la da torre mais alta; a não ser que você me diga onde o escondeu.

Hylla falou lentamente:

– Eu não sei onde ele está.

– Espero que não esteja blefando. – Kelli disse.

– E não estou em condições de dar falsa informação – Praguejou em mente enquanto pressionava a mão contra o ferimento na perna, seu sangue escorrendo sem cessar – Não o vejo desde que Marco foi embora, e não acho que ele teria interesse naquilo. Se o levou, se foi, nunca mais o vi ou verei, e duvido que vocês também. - Ela não estava mentindo, pelo menos não de todo. Sabia que o medalhão estava escondido num lugar seguro, e tinha suas suspeitas, mas sua mãe nunca havia lhe dito a localização exata.

De repente, Hylla ouviu um grito vindo de trás, onde antes havia uma veela no chão. A palavra “mentira” viera de Tammi, agora transformada, com chamas no lugar dos olhos, um grande bico e asas como de Harpias. Ela atacou por trás e arranhou as costas de Hylla, que gritou com toda a força de seus pulmões enquanto levantou o cotovelo e bateu-o no rosto do monstro, sentindo-o queimar pelas labaredas que irradiavam dela. Tammi recuou com o golpe da garota, voando e logo se preparava para atacar novamente. Suas costas estavam acabadas e sua perna ferida, assim como a cabeça, e braço ardendo pela queimadura, mas a adrenalina a ajudava a se manter firme no chão.

Ela está mentindo! – Gritou avançando de novo, mesmo quando Kelli repetia várias vezes o nome da veela, mas Tammi não lhe dava ouvidos, havia perdido o controle. Lançou uma bola de fogo na direção de Hylla, que se jogou no chão a tempo de se proteger. O ataque pegou Kelli desprevenida, que se lançou contra a parede, porém as chamas ainda a alcançaram e ela caiu, fragilizada e imóvel, com as queimaduras em seus braços e rosto a impedindo de continuar – Mentirosa! Diga-me!

Hylla não conseguiu se sustentar e permaneceu de joelhos, com a mão esquerda ainda pressionando o ferimento da perna. Suas costas queimavam e seu braço direito ardia, mas ela ainda tinha uma chance. Era contra a lei dos bruxos, mas sua única saída. Ela que se resolvesse com o ministro Grace, mas que saísse viva.

Tammi avançou uma última vez e, esperando que não falhasse sem sua varinha, Hylla levantou a mão livre e gritou:

– Avada Kedavra!

O feitiço a atingiu diretamente no peito. Ela conseguiu ver a vida se esvaindo dos olhos de Tammi, agora caída como a mesma garota que era antes. Seus cabelos, no entanto, não tinham mais a mesma luz e sua pele estava pálida, o corpo débil jogado desajeitadamente.

Kelli continuava encostada na parede, com as varinhas paradas longe dela. Hylla respirou fundo e se levantou, arrastando a perna pela sala até chegar em frente à garota machucada. Conjurou um accio e ambas as varinhas voltaram para sua mão. Ela jogou a varinha de Kelli para ela e apontou a própria para o peito desta.

– Não pense que não posso fazer o mesmo com você – Disse, vendo Kelli chorando e tremendo, com os olhos arregalados fixos à varinha a sua frente. – Poderia acabar com você, mas quero que deixe um recado para quem lhe mandou aqui: Não sei quem deseja este medalhão, mas não conseguirá pegá-lo. E se tocarem em Reyna, eu farei mais do que lançar uma Maldição da Morte. Agora vá.

E num borrão, após segurar a sua varinha com dificuldade, a garota havia aparatado.

Assim que ela fora embora, a dor de Hylla se mostrou presente. Havia sangue por toda parte do vestiário, escorrendo por suas costas e sua perna, ela já havia perdido demais. Esperava que alguém viesse até lá depois que lançara tal feitiço imperdoável, logo outros voltariam a procurando. Largou sua varinha e, gritando de dor, usava as paredes como apoio até os chuveiros, manchando-as de sangue enquanto seguia. Ela ligou a ducha e voltou a gritar ao sentir a água morna caindo pelo seu corpo, mas que precisava fazê-lo para seus ferimentos graves.

– Hylla! – Ouviu alguém vindo do lado de fora, assim como ouvia passos, mas não conseguia mais distinguir quem era.

Cerrou os olhos e respirou vagamente, esperando definir melhor a sombra que corria para dentro do vestiário, porém tudo o que fez foi sussurrar um “Preciso falar com ela” antes de a escuridão total a tomar.


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Notas finais do capítulo

(June)
Pois é, tá difícil postar aqui com nosso tempo corrido, mas desistir? Não. Vamos atualizando enquanto der, escrevendo aqui e acolá e postando quando tivermos tempo até que cheguem as férias e finalmente postemos regularmente. Espero que acompanhem e deixem reviews!
Até o próximo!



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