–Se os guardiões soubessem o que estamos fazendo juntos- Eu disse- Acho que nunca mais designariam um dhampir para um Moroi do sexo oposto.

Anthony sorriu e fechou a porta.

–Minha mãe não para de mandar cartas- Murmurou.

–Pelo menos ela manda- Eu disse a ele.

A mãe de Anthony vivia na Alemanha, eu nunca havia a visto, mas pelas fotos, ela era alta, ruiva e tinha olhos azuis. Lydia era o nome dela. Já o seu pai era desconhecido. A mãe de Anthony, por não ser uma Moroi da realeza, fora criado no mundo humano, pelo que eu soube, ela havia conhecido o pai dele na faculdade e se apaixonado, mas quando ela ficou grávida ele simplesmente desapareceu. Anthony abriu o envelope e alguma coisa caiu no chão. Ele se ajoelhou e pegou o objeto.

–É um broche.

–Percebi- Eu disse me ajoelhando ao seu lado.

Era um broche de ouro com uma forma parecida com um floco de neve, tinha alguns diamantes vermelhos entalhados e uma perola branca no meio. Anthony analisou a carta e a colocou em uma caixa de madeira junto as outras.

–O broche é dela?

–Não, ela só diz que é para espantar espíritos ruins. Acho que isso era da minha avó- Ele disse analisando o objeto.

Anthony andou até o guarda-roupa e o guardou dentro de uma das gavetas.

–Vamos indo- Eu disse.

Eu não me incomodava muito com o fato de Louise ou August nunca me mandarem cartas, porque, primeiro: Eles eram strigois, strigois são incapazes ou não conseguem se preocupar com nada, não é? E segundo: Receber cartas deles colocaria nosso segredo em risco.

Entramos no refeitório para o café da manhã, Clara estava com Brant, Paul e Sabine. Andamos em direção a mesa deles, mas outra voz chamou nossa atenção.

–Sentem aqui com a gente!- Christian chamou.

Como assim? Estávamos sendo chamados para nos sentarmos à mesa da rainha? Anthony me olhou com aquela cara vai, ou não vai? Eu assenti com a cabeça. Sentamos em um dos lados da mesa, ao lado de Adrian.

–Crianças... Crianças... A aura de vocês está radiante. O que vocês usam para ficarem assim?- Adrian disse- Liss, hoje você vai dixar o garoto tentar fazer as plantinhas crescerem, não é?

–Se ele quiser Adrian- Vasilisa disse.

–Eu posso te ensinar a ler auras!- Ele disse sorrindo. Anthony respondeu apenas com um sorriso.

Ok, excluindo Vasilisa, Adrian e talvez Christian, a turma deles era intimidadora.

–E então gracinha- Adrian disse me encarando- Não tivemos muita oportunidade para conversar nos últimos dias, não? Você nunca tomou sol na vida? É tão pálida...

–Não tenho muitas oportunidades de sair no sol.

–Acho que um bronzeado não cairia bem nela- A guardiã Hathaway manifestou- Você pretende cortar seu cabelo quando se formar?

–Nem se me matarem. – Eu disse para ela, que riu.

Eu era a única dhampir veterana da escola que ainda não havia cortado o cabelo. Até Clara já havia, mas ela optara por um corte um pouco mais longo, indo até o ombro.

–Poderíamos levar esses dois para a corte qualquer dia- Adrian disse- Ir á um SPA, a algum bar, festas, piscinas...

Yeah! Seria ótimo ver todos esses caras lindos (destacando: Anthony, Adrian e Guardião Belikov. Nada contra Christian, mas ele era um pouco magrelo) só com trajes de banho.

–Alberta certamente não deixaria que nós saíssemos da experiência de campo.

–Bom... Em todo caso- Vasilisa disse- Eu sou a Rainha.

Nós sorrimos e trocamos olhares. Esse ano podia ficar melhor?

Foi-se uma semana, nós passávamos todas as tardes (Obrigada Senhor!) na biblioteca junto a Rainha e seus amigos. Tenho de ressaltar que foi mais que um susto quando Anthony conseguiu fazer uma planta crescer. Nesse fim de semana haveria um baile, onde provavelmente ocorreria algum ataque surpresa de “strigois”. Agora a pergunta era: Onde eu iria arrumar um vestido para o baile? Claro, alguns alunos pediam para os pais, outros compravam pela internet e outros simplesmente confeccionavam.

–Já escolheu seu vestido para baile?- Clara murmurou enquanto bancávamos a guarda durante uma aula.

–Não- Eu disse- Como se eu tivesse como adquirir um vestido.

–Eu vou ir com um preto justo até acima do joelho, o decote é lindo- Ela disse abrindo um largo sorriso.

–Não é um baile erótico, Clara.

–Mas a roupa tem que ser pratica. Sabine disse que quer ir com um vestido de princesa. Imagina eu ter que correr com ela caso haja um ataque. É melhor ir assim que pelo menos vou me sentir no clima- Ela disse erguendo a sobrancelha e mexendo de leve a cintura.

–Hmmm, vou tentar pensar em alguma coisa.

Ela sorriu e o sinal tocou.

–Vamos matar essa aula?- Anthony perguntou.

Não me senti nem um pouco à-vontade com aquilo, matar aula durante a experiência de campo poderia diminuir muito minha nota. Anthony estava aprendendo a controlar a compulsão, pois, uma hora ou outra ele poderia ser pego.

–Não- Respondi.

–Por quê?

–Está congelando lá fora Anthony.

–Hm. Podemos ficar na sessão de livros egípcios da biblioteca, nunca tem ninguém lá.

–Por que você odeia tanto arte eslava?

–Só não prende minha atenção.

–Se nós formos pegos tenho certeza que eu vou perder nota.

–Como se você precisasse!

–Eu gosto de manter meu estoque alto para caso algum dia eu precise.

–Tudo bem, eu vou para a maldita aula. Mas só se você concordar em uma coisa.

–O que?

Ele se aproximou de mim e murmurou ao pé da minha orelha:

–Você vai ficar me devendo uma.

–Não, não, não! Nem se me matarem, ou me torturarem, me jogarem no tártaro e me dessem para um mega hiper tubarão daqueles filmes de terror, nem se me casassem com um velho, nem se me exilarem, nem se ameaçarem me jogar para os strigois, nem se me esquartejassem, nem se me mandassem para o Haiti... Mas caso você queira negociar um Prince indiano amaldiçoado com olhos azuis e que se transforme em tigre eu pensaria no seu caso.

–Ham?- Ele perguntou meio sem entender.

–Você nunca leu a maldição do tigre, não é?

–Não.

–Então você não vai entender. Mas mesmo assim, se quiser negociar isso estou disposta.

Ele riu.

***

Passamos à tarde na biblioteca com Vasilisa, Christian, Adrian e seus guardiões. Yeah, a única coisa que mantinha eu e Christian acordados era grandes xícaras com o liquido viscoso, quente e um tanto oleoso que chamávamos de café.

–Poderíamos ensinar para ele como entrar nos sonhos- Adrian disse erguendo a sobrancelha e logo depois me lançando um olhar que me fez congelar. Ele riu e se debruçou contra a mesa. -Cá entre nós, é um dom devastador- Ele disse para Anthony.

Encarei Adrian com a expressão mais seria que eu tinha e me joguei para trás no sofá.

–Nós poderíamos ir ao shopping- Vasilisa sugeriu- O baile é daqui a alguns dias e eu não tenho o que vestir.

Os guardiões se entreolharam e assentiram com a cabeça.

–Podemos levar as crianças!- Adrian disse gesticulando em nossa direção. -Vocês querem ir?

Assentimos com a cabeça e sorrimos.

Fomos ao shopping durante a noite (dia para os humanos) E meu deus! Eu nunca havia andado em um Hummer em toda a minha vida! Christian preferiu ficar na escola, então fomos apenas eu, Anthony, Guardiã Hathaway, a Rainha, Adrian (Droga), e guardião Belikov, mesmo ele sendo o guardião de Christian. Adrian praticamente me arrastou pelo shopping dizendo que eu ficaria perfeita em um vestido azul cobalto. Após entrarmos em 12 lojas, eu contei, e experimentar trinta e seis vestidos de modelos diferentes, escolhemos um. E quando já íamos nos juntar novamente com o grupo, bummmmm, sapatos. E lá fomos nós por sete lojas diferentes, vinte e nove sapatos diferentes, até que escolhemos um. Escolhemos alguns acessórios para cabelo e voltamos ao grupo.

–Mas que rápido!- Guardiã Hathaway exclamou.

–Sim eu sei. Demos duro para fazer esse tempo.

Eu e Adrian rimos.

–Ok, vamos indo que eu preciso do meu sono de beleza- Guardiã Hathaway disse nos apressando.

Voltamos para o Hummer. Eu não queria me separar daquele carro, nunca mais. Mas infelizmente tive que fazer isso cerca de duas horas e meia depois. Saí me arrastando de dentro do carro. Nos despedimos e eu dei meu ultimo adeus ao carro da minha vida.

–Que cara é essa?

–Eu quero um Hummer...- Murmurei.

–Tudo isso por causa de um carro?- Anthony perguntou rindo.

–Não é só um carro, é “O carro”, o carro da minha vida, o carro que eu quero ser enterrada ao lado, o carro que eu quero passar meus melhores momentos junto, o carro que eu quero usar para fugir de uma perseguição- Dei um grande suspiro- É o carro.

Anthony riu novamente e entramos no dormitório.

***

Eu estava cantarolando parte de uma musica enquanto me equilibrava no parapeito.

–Você vai com o vestido que Adrian te deu?- Anthony perguntou.

Assenti com a cabeça, mordi o lábio e encarei Anthony um pouco.

–Como ele é?- Ele continuou a perguntar.

–Você verá- Eu disse rindo.

Andamos até a sala de aula e tentamos entrar de fininho, mas a porta rangeu e todos olharam para nós.

–Muito bonito, chegando atrasados não é?

–Desculpe- Eu disse por nós dois e me dirigi ao grupo de dhampirs no fundo dela. Os dias passaram rápido, e logo chegou o dia do baile.

–Eu vou me arrumar junto às meninas, a gente se encontra na porta do baile? Esquece, se eles te verem sozinho podem muito bem te “seqüestrar” e eu iria perder meu moroi pelo resto da experiência de campo.

Ele riu.

–Não se preocupe comigo! Então a gente se encontra na frente do salão.

–Certo- Eu disse pegando a sacola com minhas roupas.

Corri até o quarto de Sabine, nós duas não chegávamos a ser amigas, mas, quando se trata de roupas, sapatos, fofocas e maquiagem, não tem o que separa um grupo de garotas adolescentes, não é? Bati na porta e ela abriu, o cheiro de perfumes, spray para cabelo e pó de maquiagem enchia o ar.

–Para que tudo isso?- Eu disse quando entramos.

–É o primeiro baile do ano! Temos que arrasar. - Clara se pronunciou.

Resolvi não acabar com a alegria dela dizendo que provavelmente a noite terminaria em um ataque surpresa, então simplesmente comecei a me arrumar. Minha roupa consistia em um top azul cobalto com mangas curtas e detalhes bordados em dourado, deixava toda a minha barriga à mostra, mas uma tira larga de tecido roxo transparente, com flores bordadas em azul e as bordas em dourado cobria a barriga, uma longa saia da mesma cor do top se estendia até um pouco abaixo dos calcanhares, dois cortes se estendiam até um pouco abaixo do joelho nas laterais da perna, para facilitar caso eu tivesse que correr, as bordas também eram em dourado e algumas flores surgiam ao longo do tecido. Calcei as sandálias douradas com tiras, que atração maldita é essa que os homens têm com sapatos com tiras?

–M-m-eu D-eus- Sabine e as outras garotas ficaram boquiabertas.

–Estou feia?

–O cabelo!- Sabine exclamou- Vamos arrumar esse cabelo.

Elas me jogaram em uma poltrona e começaram a usar laquê, pentes, presilhas e mais laquê, vários sorrisos, e olhos esbugalhados acompanharam minha trajetória até o espelho.

–Meu Deus- Murmurei- Eu não vou me casar!

Elas riram.

Meu cabelo consistia em um coque embutido com um broche branco em forma de flor.

–Maquiagem!- Chloe exclamou- Vamos fazer a maquiagem dela, vai ficar perfeita!

Considerando o fato de que minha maquiagem iria se desfazer totalmente quando eu lutasse, tentei convencê-las a não fazer aquilo, mas, quatro garotas em cima de mim com sombras, bases, blushes, batons, gloss e delineadores não foi fácil de conter. Acabou que minha maquiagem ficou perfeita, elas usaram uma sombra da cor do vestido e contornaram meus olhos com delineador preto, pintaram minha boca de um marrom avermelhado e passaram levemente blush nas maças do meu rosto.

Clara estava vestida com o vestido preto, um coque alto e batom vermelho, o que chamava MUITA atenção. Sabine estava vestida com um longo vestido rosa claro com varias camadas na saia, Chloe com um azul claro e Paulla com um amarelo. Acho que a tentativa delas era imitar as princesas dos contos da Disney.

–Perfeitas- Sabine sibilou.

Coloquei minha “estaca” escondida rente ao quadril. Os cortes na saia ajudaram muito na hora de andar. Respirei fundo e andei junto a elas. Algumas outras garotas vestiam vestidos longos e justos, outras curtos e mais justos ainda, algumas copiavam o estilo dos vestidos medievais, e bem, ninguém tinha um vestido parecido com o meu... Isso atraiu todo o tipo de olhares diretamente para mim... Esse povo não tinha nada para fazer mesmo...

Chegamos à entrada do salão e não havia nenhum sinal de Anthony. Quando entramos no salão, algumas pessoas nos encararam, e logo o salão todo fazia o mesmo, eles olhavam diretamente para mim. Respirei fundo e desci as escadas copiando os mesmos passos das garotas ao meu lado. Logo adentrei o baile a procura de um sujeito alto, pálido e de cabelos castanhos. Uma mão tocou meu ombro e eu me virei. Adrian... Aqueles olhos verdes me avaliaram da cabeça aos pés e eu congelei novamente.

–Me concede a próxima dança?- Ele perguntou sorrindo.

–Não posso, estou procurando meu Moroi- Eu disse.

–A sua disposição- Ele disse, fazendo uma pequena reverencia- Vamos procurá-lo.