Alter Ego escrita por Fe


Capítulo 1
Capítulo Unico.


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem.
Boa leitura.



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Os duendes já estavam terminando de preparar os últimos presentes, todos lado a lado naquela esteira com embrulhos, caixas e brinquedos. Felizes e cantantes, os duendes trabalhavam por dias e noites procurando proporcionar o Natal perfeito para todas as crianças. Ou melhor, quase todas. Aquelas crianças que causavam problemas eram punidas, ficavam sem presentes.

“Então, bom Natal
Pro branco e pro negro
Amarelo e vermelho
Pra paz, afinal
Então, bom Natal
E um Ano Novo também
Que seja feliz quem
Souber o que é o bem”

Os duendes cantavam quando finalmente terminavam de embalar o último presente. O colocaram na caixa e embrulharam. Puseram um laço contrastando com o embrulho e por último o nome e endereço do remetente. No fim da esteira, a caixa colorida caiu em um carrinho em que os outros embrulhos também seriam levados para a sala do trenó, onde encontrariam o enorme saco de veludo avermelhado que Papai Noel levava os presentes.

Todo o processo feito, os duendes finalmente poderiam descansar. Deixaram seus postos e foram para os cômodos permitidos do interior da mansão. Mamãe Noel estava na cozinha preparando biscoitos para os pequenos trabalhadores e Papai Noel estava em seu escritório se preparando para a longa jornada da meia noite do dia 25 de dezembro.

O relógio badala à meia noite do dia 23. O forno apita avisando que os biscoitos estavam prontos. Os duendes riam festejando. E os ventos cantam ao passarem pelas frestas das janelas. Tudo isso abafou o estrondo que vinha da sala do trenó.

.oOo.

O som provocado pelo movimento das hélices dos helicópteros que chegavam à frente da mansão era quase que ensurdecedor. Os duendes estavam em pânico e Mamãe Noel tentava manter-se firme para responder as perguntas feitas pelos agentes. Durante o interrogatório, um dos agentes do FBI foi o responsável pelo questionário.

— Diga-me, senhora Noel, o que estava fazendo quando seu marido desapareceu? — A mulher respirou fundo e fechou os olhos.

— Eu estava fazendo biscoitos. Ofereci aos duendes e resolvi levar um pouco para meu marido. — Ela mordeu o lábio inferior que tremia levemente. — Quando cheguei em seu escritório, os papeis estavam espalhados pelo chão e não havia ninguém lá. O procurei por toda a mansão, mas não o encontrei em lugar nenhum.

— Fizemos uma vistoria na mansão, não encontramos nenhum índice de possível sequestro. A senhora tem alguma suspeita do que pode ter acontecido? — A mulher deu um leve suspiro, uniu toda sua força e tentou falar da forma mais segura possível.

— Desde o início dos tempos em que Papai Noel precisou lidar com crianças imprudentes, ele vêm demonstrando um comportamento diferente perante esses casos. Conforme o tempo foi passando, esse comportamento veio sendo mais frequente. Chegamos à conclusão de que o senhor Noel sofre de um transtorno de personalidade. Essa personalidade é um tanto... Rigorosa. É, rigorosa é um bom adjetivo para caracterizá-la.

— E o que isso tem a ver com o desaparecimento de seu marido? — O agente perguntou curioso quanto à nova hipótese. A senhora permaneceu em silêncio. Passou-se um minuto... Dois... Três... Dez... Quinze... A mulher parecia uma boneca de cera. Não se mexia, não piscava, parecia que nem respirava. Após aqueles quinze minutos que mais pareceram séculos, a mulher finalmente teve reação:

— Ache-o.

.oOo.

A busca começou. Quinhentos duendes no lado ocidental, mil do lado oriental e os agentes em seus respectivos países. Todos atrás do velhinho de roupa vermelha com a grande barba branca. Ele podia estar em qualquer lugar do mundo. Em uma mesa de debates numa das salas da enorme mansão do Polo Norte, estavam os líderes das bases das forças secretas e os duendes que trabalhavam mais próximos ao Papai Noel. Todos eles pensando em um lugar em que poderiam encontrar o homem do Natal.

— Ele pode estar em outro lugar aqui do Polo Norte. — Disse um homem de terno sentado em uma das extremidades da mesa.

— Não. Nós temos sensores que encobrem todo o Polo Norte. Ele não está aqui. — Disse um duende.

— Podemos excluir a hipótese d'ele estar em um país tropical. Papai Noel odeia calor. — Disse outro duende.

— Sinceramente, acho que ele está na Rússia. — Disse o superior da base russa. — Temos o clima frio e paisagens magníficas.

— Magníficas? Nesse caso ele deve estar no Canadá. Afinal nós...

— Senhores, ficar vangloriando a própria pátria não vai trazer o Papai Noel de volta. — Falou um duende interrompendo o superior da base canadense. — O pigmeu está certo. — Falou o superior da base americana.

— É duende, senhor. — Corrigiu o nomeado pigmeu.

— Tanto faz. Precisamos de ideias. Já estamos quase no dia 24 e até agora nenhuma pista do Papai Noel. Se alguém nessa mesa tem algo a dizer, fale. — O superior americano, que está representando a maior superpotência mundial, falou com tom de autoridade. Quando na verdade, perante o caso, não tinha autoridade nenhuma. Na extremidade da mesa, um duende que estava em silencio desde o inicio da reunião finalmente decidiu se pronunciar:

— Papai Noel, uma vez me disse que apenas as crianças que creem fielmente nele, podem vê-lo. E garanto que nenhum dos soldados enviados creem nele, muito menos são crianças.

— Está tentando dizer que devemos enviar crianças para uma busca de um velho? — Falou o superior americano.

— Caso o senhor não tenha percebido, mesmo sendo o representante do país que têm a maior influencia mundial, você não sabe nada sobre o espírito natalino para contradizer um duende. — Disse o mesmo duende com firmeza sem ter medo de enfrentar o representante.

— Espírito natalino? Isso não existe! Pigmeu, escute o que eu vou te dizer. O Papai Noel se comprometeu em entregar presentes para todas as crianças do mundo em apenas uma noite. Se ele não fizer isso, haverá uma revolução mundial sobre o Natal e essa data será destruída. A igreja vai cair em cima dos líderes e será declarado guerra. Precisamos dele aqui, para evitar todo esse desgaste.

— Então é isso que pensa sobre o Natal? Não! O Natal é um dia o qual as famílias devem mostrar o afeto entre as pessoas presentes nela. Essa data pode ser comemorada de várias formas. A mais comum é enfeitando as casas com luzes e cores, fazendo um banquete delicioso e acima de tudo demonstrando o amor ao próximo. Esse é o espírito natalino que o Papai Noel quer em todos os natais. E como recompensa para as crianças de bom coração, ele entrega um presente para elas. Natal é a data do amor, o presente é apenas uma forma do Papai Noel agradecer e retribuir às pessoas tudo aquilo que elas proporcionaram de bom e sustentável ao próximo.

— E o velho arranjou uma ótima maneira de demonstrar o amor: dando um presente. Achei que a melhor maneira de mostrar que ama alguém seria não envolver o dinheiro nisso. — O americano falou com um sorriso sacana nos lábios.

— Você começa errando dizendo que o Papai Noel só dá presentes materiais. Caso não saiba, há crianças no mundo que não se importam com presentes materiais. Elas fazem desejos, desejos que são como sonhos. O Papai Noel só faz de tudo para que eles se tornem reais. O que foi? Um presente não pode ser algo não material? — O duende sorriu. — Quem está envolvendo dinheiro nisso é você. — Todos presentes naquela sala ficaram em silêncio.

— Crianças de bom coração... — Pensou alto o superior da União Europeia.

— Acho que seria uma boa... — Concordou o superior japonês.

— O que? Vocês só podem estar brincando. Os senhores vão mesmo acreditar no que esse pigmeu está falando? — O superior russo indagou dando apoio à opinião do superior americano. Todos tinham medo de contradizer o representante dos Estados Unidos, afinal, o país exerce uma forte influencia em praticamente todo o mundo, seja no cargo econômico, militar ou político. Porém aquilo não se tratava dos três fatores mencionados. Aquilo era o espírito natalino.

— Não é pigmeu — Falou o superior brasileiro. — É duende. E se eles dizem que os únicos que podem achar o Papai Noel são as crianças que creem nele, não vamos perder tempo! Enviem as crianças! — Todos ficaram novamente em silêncio. Não vendo mais saída, o representante dos Estados Unidos sacou o celular e discou um número.

— Mande os soldados levarem crianças na busca.

.oOo.

Quem disse que o bom velhinho não tinha um alter ego? Antagonizando com o tão conhecido Papai Noel, seu alter ego nominado Tio Leon era um homem frio, cruel, impiedoso e insensível. Tio Leon aparecia raramente em épocas depois do Natal durante o ano no processo de leitura de cartas. Ele era quem ajudava Noel a julgar as crianças. Porém esse ano ele não quer esperar.

As cartas enviadas para o Papai Noel eram separadas pelo mesmo. Primeiramente ele separa as cartas das crianças prudentes das imprudentes, depois dessa separação, o velhinho separa o bolo de cartas das crianças de bom coração em duas partes: presentes materiais de presentes não materiais. As cartas dos presentes materiais eram enviadas para o escritório dos duendes que iriam separá-las em tipos de material utilizado para o presente e logo após outras separações como tamanho, cores e etc. Já as cartas com presentes não materiais, eram separadas em pedidos possíveis e impossíveis, depois guardadas em um arquivo.

Vamos para as cartas das crianças imprudentes. Eram cartas interessantes, separadas em ordem alfabética. Papai Noel lia uma a uma com muita atenção. Junto da carta, também era lida uma ficha com todas as ações negativas feita pela criança. Dependendo das ações e pedido, a criança era liberada para receber o presente de Natal. Já aquelas que fizeram coisas muito ruins, não recebiam presente.

Com o passar dos anos, a pilha de crianças prudentes diminuiu drasticamente fazendo com que a pilha de crianças imprudentes tivesse um aumento significativo. Como se não bastasse, a gravidade os erros cometidos pelos imprudentes também tiveram um aumento colossal. As ações antes nomeadas negativas, agora eram qualificadas como desumanas. As cartas eram escritas com informações cruéis, coisas a qual uma criança jamais poderia desejar. O que são essas cartas? As cartas são todos os desejos materiais, não materiais, positivos e negativos feitos pelos seres humanos desde o nascimento até completar 18 anos.

“Está tentando dizer que o Papai Noel pode ler nossas mentes?” Sim. No ano inteiro, tudo que você desejar vai ficar registrado, logo depois será transformado em uma carta e enviado para o Papai Noel. Cuidado com o que deseja, esse desejo pode um dia ser virado contra você.

Dia 22/12/13, 15 minutos para a meia noite.

Noel estava no escritório relendo a enorme quantidade de cartas cruéis que recebera nesse ano de 2013. O velho tinha vontade de chorar. Vontade de abandonar o Natal, mas não faria isso. Não faria isso pelas boas crianças que confiavam nele. Noel pode nunca ter conversado com uma única criança da face da terra, mas amava todas elas como se fossem seus filhos. Afinal, não é a toa que o mesmo é chamado de “Papai”, não?

“Crianças imbecis. Elas não merecem o Natal, Noel. Deixe-as, concentre-se apenas nas crianças boas.”

— Você não entende! — O velho falou alto.

“Claro que entendo. Entendo que está perdendo seu tempo. Largue essas cartas! Essas crianças não são dignas de receberem um bom Natal! Nenhuma delas é! Sinceramente, por mim você nem precisava se dedicar ao Natal.”

— Não diga isso! Existem crianças boas, crianças que dependem de mim!

“Dependem de você para que? Para dar presentes fúteis? Eu quero uma boneca! Eu quero um carrinho! Eu quero um vídeo game! Eu quero um celular! Essas crianças só se importam com isso!”

— Pare! Pare de dizer isso! Você não conhece as crianças!

“Você também não, velho.”

Noel tremia, chorava e tentava não gritar. Era triste para ele saber como suas crianças encaravam a vida. Era deprimente. Angustiante. Pesaroso. Lamentável. Deplorável. Lastimável.

Vamos fazer o seguinte, Noel. Esse ano, deixe-me tomar conta do Natal.”

— NÃO!

“Você sabe, você sabe muito bem que se me deixar no comando nem que seja um misero ano, as coisas vão mudar. Te ver... Não. Nos ver nesse estado é algo que me dá desgosto. Deixe-me no controle.”

— NÃO! NÃO LEON, NÃO!

“Tarde demais, velho.”

.oOo.

Leon podia ir para qualquer lugar do mundo, qualquer um mesmo. Não, ele não tinha o poder de teletransporte. Ele tinha as renas e o trenó. Renas não falam, não são inteligentes o suficiente para isso. Todavia, são inteligentes o suficiente para entender. Tio Leon foi para a sala do trenó que já estava preparado para a noite de natal.

— Olá. — Disse Leon tentando parecer o máximo possível com o Papai Noel. — Preciso que me levem para os Estados Unidos, mas preciso que façam isso escondidas. Podem fazer isso por mim? — As renas levantavam as patas dianteiras e balançavam a cabeça para frente e para trás demonstrando uma resposta positiva. Leon sorriu. — Ótimo. Se qualquer um perguntar, vocês não sabem de nada, certo? E assim foi feito. As Renas levaram Leon em menos de um minuto para os endereços desejados. O primeiro foi onde ele escondeu os presentes, o segundo foi onde ele resolveu ficar. As renas voltaram e quando descobriram o desaparecimento do Papai Noel, nenhum dos agentes desconfiou que as renas foram cúmplices. Leon foi muito inteligente. Não é que as renas acharam que ele era mesmo o Papai Noel?

O alter ego do Papai Noel foi até uma escola. Não havia nada de especial naquele lugar. Ele se sentou em um banco que ficava no pátio da entrada do lugar e lá ficou matutando. A neve caia aos poucos, mas tinha uma camada significativa no chão. Era madrugada, o corpo de Noel/Leon já estava avisando de que precisava de repouso. Entre um bocejo e outro, o velho dormiu sentado. Ao acordar, percebe que o céu estava clareando aos poucos. Por estar debaixo de um teto, não estava sujo pela neve, mas poucos flocos conseguiam alcançar seus pés. Leon voltou a observar as extremidades da escola, apenas pensando no verdadeiro inferno que naquele lugar poderia ser feito.

— Papai Noel? — Leon percebe a presença de uma criança na entrada da escola. Agasalhada com um casaco marrom, que combinava com o tom parecido da saia, bota e gorro. Vestia também uma meia calça branca por baixo da saia. Contrastando com as roupas, a menina usava um cachecol cor-de-rosa e um óculos de grau com armação grossa vermelha. — Papai Noel! — A menina veio correndo em sua direção. Conforme se aproximava, Leon pode ver que o que carregava em mãos era um saquinho com biscoitos. Os cachinhos ruivos da pequena balançavam de forma quase que hipnotizante enquanto a mesma corria. — O que o senhor faz aqui?

— Eu? — Leon sorriu amarelo. Ele poderia se livrar da garota em segundos se quisesse. Ou, ele poderia fingir ser o Papai Noel e entender o que ele tanto vê nas crianças. Por mais idiota que isso parecesse ao ver dele, Leon escolheu a segunda opção. — Eu estava dando uma descansada.

— Entendi. — A menina sorriu fechando os olhinhos. Os músculos contraídos para formar o sorriso deixaram suas sardas de nariz e bochecha mais amostra. Sardas bem claras, difícil vê-las a distancia. Ela devia ter por volta dos seis anos. Era estranho ver uma criança tão pequena andando sozinha. — E então pequena, onde estão seus pais?

— O sorriso da menina morreu. Ela olhou para Leon de forma curiosa. — Eu não tenho pais. Eu vim de um orfanato. — Leon se sentiu culpado, mas apenas ignorou o erro. — Quer um biscoito? — A menina ofereceu levantando o saquinho para mais perto do velho.

— Aceito sim. — Leon pegou o pacote e a menina sentou-se ao seu lado.

— Qual o seu nome? — Tábata, mas me chame de Tabby. — Após pegar um biscoito, Leon passou o pacote para a garota que também pegou um. — Por que está cansado? — A pequena perguntou após dar uma mordida no biscoito.

— Sabe o que acontece Tabby, eu estou farto das crianças serem hipócritas. Sinceramente acho que nenhuma delas merece o Natal. — A menina se assustou.

— Por que diz isso?

— Olhe bem para onde estamos. Uma escola. Muitos adolescentes sofrem lá dentro, sabe por quê? Por serem diferentes. Por serem gordos, altos, baixos, magros, inteligentes, burros... Não só alunos como também professores, apesar de alunos serem mais comuns. E sabe o que acontece depois? Um garoto que pratica bullying chega em casa no Natal e ganha presentinho dos pais. Ele merece? Claro que não. Sabe quantas cartas eu recebo de pessoas pedindo de presente de Natal que ela pare de sofrer? Sabe quantas cartas eu recebo de pessoas pedindo para ver outras pessoas sofrerem? Me diz, Tabby, me diz se tem como eu continuar um Natal assim. Sabe o que eu sinto por vocês? Asco. Acho que cada um de vocês deveriam sofrer na pele tudo que pedem. Sofrerem implorando por clemência. Sofrerem até se arrependerem de seus atos. — Leon se deu conta de que desabafava com uma criança (que provavelmente não entendeu metade do que o mesmo disse). Ele se calou e esperou que a menina dissesse alguma coisa.

— Nem todas as crianças são assim! — Tábata se levantou do banco e foi para frente do velho. A menina colocou as mãos na cintura e o olhou com os belíssimos olhos castanhos claros quase como o mel. — Existem crianças boas que precisam de você, Papai Noel. Não desista do Natal porque algumas estão sendo más.

— Não são algumas, são milhares! — Leon se levantou — Pessoas se matam por causa de coisas como essa! Há os que dizem que eu não posso punir com morte aqueles que matam! Eu estou cansado de ler essas coisas cruéis e não poder fazer nada!

— Você quer matar crianças Papai Noel? — Tabby perguntou tristemente. Leon se sentou.

— Não, é claro que não Tabby. Eu apenas... — “Sou péssimo tentando ser o Papai Noel” pensou Leon. — Eu acho que as crianças boas que não pedem brinquedos pedem para pararem de sofrer. E as crianças ruins quando não pedem brinquedo pedem para fazer alguém sofrer. Tudo gira em torno de bens materiais e sofrimentos nesse lugar? — A ruivinha franziu o cenho.

— É claro que não. Existem crianças que pedem outras coisas. — Leon riu debochado.

— É mesmo? Me diga uma. — Ele cruzou os braços.

— Eu. — Ela também cruzou os bracinhos. — O senhor se esqueceu? Eu pedi para ser adotada. — Leon se amaldiçoou em silêncio. Já devia ser a quinta vez em que ele falha se fazendo de Papai Noel. O velho suspirou.

— Me desculpe Tabby, Papai Noel anda com a cabeça muito cheia. — Tudo bem. — A menina sorriu mostrando os dentes pouco tortos novamente e se sentou. “Vai ser uma longa manhã” Pensou Leon. A menina acabou dormindo, ela devia estar muito casada. Sua cabeça estava apoiada na perna do “Papai Noel” e o resto de seu corpo esticado no banco. Leon acariciava seus cachinhos que iam até os ombros enquanto a mesma parecia nem sentir. Ele pensou no que ela disse: “Eu pedi para ser adotada”. Será mesmo que existiam crianças que pediam coisas assim? Apenas lendo o arquivo de crianças boas do Papai Noel. Nesse arquivo, Leon nunca sonhou em chegar perto. Até conhecer Tabby.

.oOo.

Horas depois Tábata acorda. A pequena se senta e esfrega os olhinhos. Ao olhar para o lado, vê Papai Noel a encarando. A mesma sorri e o abraça.

— Ainda bem! Pensei que tivesse sido um sonho! — Leon não conseguia entender a mente daquela criança. Ele disse a ela coisas horríveis antes da mesma acabar dormindo e mesmo assim ela fica feliz em vê-lo. Definitivamente, crianças são estranhas.

— Também queria que você estivesse dormindo... — Pensou alto.

— O que? — Ela olhou para ele confusa.

— Nada não. — Disfarçou. Leon queria se livrar daquela criança. Não que Tabby fosse chata, mas estamos falando de Tio Leon, o cara que odeia crianças. Enquanto ele pensava em como ele poderia expulsá-la sem ser rude, ele escuta o som vindo do estomago da menina. — Está com fome Tabby?

— Um pouco. — Disse a pequena envergonhada. “Que ótimo” Pensou Leon “Agora a criança vai ficar reclamando da fome.”

“Você pode dar dinheiro a ela.” Disse uma voz que ecoava em sua mente.

“Há quanto tempo está aqui, Noel?”

“Desde o momento em que você começou a gostar da garota.”

“Eu não gosto dela.” Noel riu.

“Gosta sim, em breve vai perceber que gosta.” Leon revirou os olhos. “Dê dinheiro a ela, Leon.” Leon colocou a mão no bolso e fez com que dinheiro aparecesse lá. Ele entregou uma cédula para Tábata.

— Tome, vai comer alguma coisa. — Tabby pegou a nota sorrindo.

— Obrigada Papai Noel! — Ela saiu correndo com o dinheiro. — Eu já volto! — Ela gritou olhando para trás sem parar de correr. Leon a observou de longe. Realmente havia algo naquela garota que o encantava, mas não daria o braço a torcer. Ele odeia crianças e vai odiar para sempre.

“Agora você acredita em crianças de bom coração?”

— Cale a boca, Noel! É, talvez exista uma criança de bom coração.

“Tábata não é a única. Existem milhões de crianças como ela, mas com pedidos diferentes.”

— É mesmo é? — Falou Leon debochado. — Diga-me uma com um desejo plausível.

“Temos as crianças da áfrica que pedem por comida e água potável. As do Haiti que pedem por abrigo...” — Você está apelando para as crianças do subdesenvolvido. Quero ver uma criança que não sofre de pobreza com um desejo assim.

“Temos Louis que pede que a mãe dele acorde do coma. Temos Eliza que pede que os pais parem de brigar. Tem Giovanna que pede que parem de zombar da melhor amiga e muito mais.” Leon bufou.

— Está bem. Você venceu, Noel.

“Não se trata de vencer, Leon. Entende porque não posso abandonar o Natal?”

— Se você é tão poderoso assim, por que todos esses problemas não estão resolvidos? — Noel suspirou.

“Leon... Eu não sou poderoso. Se eu pudesse fazer alguma coisa que realmente pudesse ajudar as crianças necessitadas, eu me chamaria Deus, não Papai Noel.”

— É verdade, não somos tão poderosos assim.

“Não somos mesmo. Eu posso realizar sonhos pequenos, como curar uma doença. Acabar com a fome e sofrimento do mundo, eu tento, mas não consigo.”

— Noel! Pare de se lamentar, não cabe a você mudar o mundo. Você não pode controlar a mente humana. Um dia eles vão perceber que estão apodrecendo o mundo.

“Quem sabe um dia eles não achem uma forma de melhorá-lo.”

— Eu sinceramente acho que violência é um meio adequado.

“Violência só gera mais violência, Leon. O jeito é mostrar para as pessoas que ela está errando usando inteligência e bons argumentos.” Leon suspirou.

— Com você me irritando assim, estou até sentindo falta da Tábata.

.oOo.

Enquanto isso, os agentes estavam desesperados à procura do velho de barba branca. A dupla de agentes americana formada por rapazes circulava pelo bairro buscando alguma coisa suspeita do Papai Noel. Sabiam que estavam sendo rebaixados por serem jovens, porque todos os agentes mais velhos (considerados mais experientes) estavam em helicópteros, vasculhando prédios, lojas de brinquedos, parques... E os jovens? Eles estavam nas ruas como vigias.

— E então James, o que está achando sobre esse sumiço do velho? — Perguntou o loiro.

— O que eu acho? — O moreno deu de ombros. — Trabalho é trabalho, não é?

— Qual é cara?! Eles estão mandando a gente procurar pelo Papai Noel e você não acha nada?

— E você queria que eu achasse o quê, Aiden? — O moreno olhou para o parceiro tedioso.

— Um absurdo? — Aiden falou como se fosse o óbvio. — Esses caras tão colocando a gente de vigia numa rua para que caso um Papai Noel aparecer a gente possa comunicá-los. Enquanto a gente tá aqui, o Dylan tá tirando onda de helicóptero. — James revirou os olhos.

— Entendi o seu problema, você está com inveja porque o velhote com quem você compete cargo tá num helicóptero e você aqui na rua. — Aiden deu um tapa no ombro do amigo.

— É claro que não! — James sorriu vitorioso. — Só acho que se é pra procurar um velho que voa com um trenó a gente devia estar no alto, não?

— Você é imbecil ou o quê? O chefe já avisou que o velho tá sem trenó. — O loiro estava prestes a responder o parceiro quando se deu conta do quão surreal era aquela conversa.

— Cara, na moral, você acredita no Papai Noel?

— Não! — O moreno respondeu irritado, porém sem entender. — E você?

— Também não. Estamos discutindo isso por que mesmo? — James ficou sem ter o que argumentar, eles estavam tendo a típica briga pelo sexo dos anjos.

— Vamos tomar um café? — Sugestionou o moreno.

— Claro.

Para muitos agentes, aquele trabalho não fazia sentido algum. Até porque a maioria das pessoas que trabalhavam lá não acreditavam no Papai Noel, mas como os agentes principais estavam em desespero, a fé de alguns começou a ser abalada. Na lanchonete, Aiden e James escolhiam o café que tomariam.

— Para ser sincero, não entendi até agora o sentido disso tudo. — Comentou Aiden.

— Sinceramente, acho que é uma pegadinha.

— Se for, cabeças vão rolar. — O moreno riu.

— Estou pensando em cappuccino, e você? — James falou mudando o assunto.

— Não sei, acho que vou pedir cappuccino também. — Ao fundo puderam ouvir a conversa de uma criança com a mulher do caixa.

São dois sucos e dois biscoitos, certo? — Perguntou a mulher.

— Estou pensando em pedir um cookie, o que acha? — Falou o mais velho. Aiden deu de ombros.

— É uma boa, mas estou pensando em pedir um pão de queijo.

Sim! Um pra mim e o outro para o papai Noel! — Respondeu a criança.

— James, você ouviu o que eu ouvi? — Perguntou o louro com as sobrancelhas franzidas.

Quer que coloque em uma sacola? — Perguntou a mulher sem dar muita importância ao que a criança acabara de falar.

Sim, por favor.

— Ouvi... — James respondeu.

— Então eu não estou enlouquecendo.

— E eu também não. — James olhou em volta a procura de quem falava sobre o Papai Noel e Aiden fez o mesmo.

— Ali! — Aiden falou vendo uma criança saindo da lanchonete. — Devemos segui-la?

— Acho uma boa. — Eles se levantaram e foram atrás da garotinha. Entre uma rua e outra eles perderam a menina de vista.

— Que ótimo. — Disse o loiro.

— E agora? — James olhou em volta procurando pela garota.

— Essa rua leva para a escola municipal não? Ela deve estar no parquinho que tem lá.

— Os brinquedos estão congelados, ela vai se machucar se for lá.

— Ela é uma criança e está sozinha, acha mesmo que ela vai se preocupar com o gelo? — James revirou os olhos e foram em direção à escola onde encontraram a menina. Infelizmente ela estava sozinha, ou melhor, aparentava estar. — Maravilha, viemos até aqui para nada.

— Vamos voltar para o café.

— É uma boa mesmo.

.oOo.

— Papai Noel... — Falou Tábata que ficara o dia inteiro com o velho. Já estava escuro, aproximadamente nove da noite. — O senhor se importaria se eu dormisse aqui com você? — Leon olhou para a garota sem conseguir compreende-la. Ela preferia dormir em um banco duro no frio ao lado de um velho ao invés de dormir em uma cama confortável e quentinha em um orfanato.

— Pode, pode sim Tabby. — A pequena sorriu. Tirou os óculos e o colocou no bolso do casaco. Ela apoiou a cabeça na perna do Papai Noel e deitou o corpo no banco. Ele acariciou os cachos ruivos da menina e em poucos minutos a mesma dormiu.

Leon olhou para o céu e observou as estrelas. Começou a pensar em o que ele queria fazer quando se apossou do corpo de Papai Noel. Ele só pensava em matar os humanos sádicos, torturá-los e agoniá-los. Fazê-los pagar por cada dor e sofrimento que causaram um ao outro. Era assim que Leon pensava, olho por olho dente por dente. O problema é que o bom velhinho Noel nunca o permitiu fazer nada. Leon foi muito esperto em ficar no controle quando Noel estava em um momento de fraqueza.

Tábata se encolhe e treme de frio. Leon se concentrou o máximo que pode para criar um cobertor para a pequena. Em poucos segundos um enorme e expeço cobertor azul marinho foi se formando sobre o corpo de Tábata que ia parando de tremer aos poucos. Para Leon, se apegar tanto assim a um ser humano era quase uma insanidade. Ele sempre sentiu ódio e asco pelos humanos, porque essa pequena garota mudava tanto as coisas?

“Há quanto tempo está aqui, Noel?

Desde o momento em que você começou a gostar da garota.

Eu não gosto dela.

Gosta sim, em breve vai perceber que gosta.”

Leon suspira ao se lembrar das palavras do bom velhinho. Ele gostava mesmo de Tabby. Não adiantava mais tentar recusar essa hipótese. Podia ser apenas uma humana, a única exceção, mas essa pequena conseguiu abrir os olhos do tão frio Tio Leon. Coisa que Papai Noel vem tentando fazer há incontáveis séculos. Leon ia perdendo as forças com o tempo. Ele finalmente percebeu que quanto mais afeto ele tinha pelos seres humanos, mais Noel ficava forte. E Tábata não ajudava nem um pouco a manter Noel incapacitado.

Do outro lado da cidade, James acabará de chegar em casa. Apesar de novo, já era casado. Sua esposa terminava de preparar o jantar enquanto a mesma falava com a sogra no telefone. James começou a retirar os sapatos quando recebeu uma ligação de Aiden. Não quis atender, estava no seu momento de paz, queria apenas jantar com a esposa para depois dormir ao lado dela.

— Amor? — A mulher o chamou. — Já estou pondo a mesa! — Ele sorriu, finalmente poderia relaxar jantando com sua amada.

— Já estou indo! — Diferente de James, sua esposa, Erika, tinha a pele mulata, cabelos negros e lisos. Seus olhos eram duas pedras castanhas e o corpo magro vinte centímetros mais baixo que o do marido. A jovem tinha um amor intenso por crianças, seu sonho era ter filhos. Pena que seu sonho jamais iria se concretizar. Após ter sido atropelada na saída da faculdade, Erika teve que remover os ovários. James se sentou na mesa e deu uma garfada na lasanha recém saída do forno. — Tá uma delicia. — Ele falou saboreando o prato.

— Sua mãe que me ensinou. — James sorriu.

— Está melhor que a dela.

— Para, James! — Ela riu.

— É serio! — Ele respondeu rindo um pouco também. O riso foi morrendo no rosto de Erika, ela fixou o olhar em um ponto da parede da sala. — Amor, tudo bem?

— James... — Ela pegou na mão do marido. — Sei que já falamos isso várias vezes, mas... — O toque do celular de James cortou a fala dela.

— Erika, não vamos discutir sobre isso. Nós não estamos prontos para isso.

— Nós ou você? — O som do telefone sendo tocado apenas aumentava os nervos do casal. — Criar uma criança não é tão fácil quanto pensa, Erika! — O som emitido pelo celular parou. O casal apenas se entreolhava raivoso. O celular voltou a tocar.

— Atende logo essa droga! — James bufou e sacou o telefone. A tela mostrava o nome de Aiden. — Inferno... Alô?

— James, o chefe deu um aviso urgente sobre o caso do velho de barba branca. Precisamos voltar a procurar agora. — O moreno suspirou e massageou as têmporas.

— Preciso mesmo ir? — Perguntou sem saco para rondar na cidade a procura de um ser que ele considerava inexistente.

— Se quiser ganhar o salário extra, sim. Vou buscar meu sobrinho e já estou indo pra sua casa.

— Espere o que seu sobrinho tem a ver com...? — O mais novo desligou. — Que ótimo. Amor, tenho que voltar para o trabalho, aconteceu uma emergência.

— Ta. — A mesma disse magoada, mas o marido não conseguiu ouvir a resposta de tão baixa que foi.

.oOo.

— Então quer dizer que apenas crianças que têm fé no velho podem vê-lo? Era só o que me faltava...

— James falou irritado já dentro do carro. O sobrinho de Aiden estava no banco de trás olhando as luzes das casas sem prestar menor atenção no que os mais velhos falavam.

— Cara eu estou começando a achar que é sério. O chefe falou que o FBI está oferecendo dez mil dólares para quem acha-lo.

— Que ótimo, gênio. — O moreno falou com sarcasmo. — Agora, tem alguma ideia de por onde começaremos a procurar? Ou você achou que seria só ir andando de carro que acharíamos crianças gritando dizendo que estão com o Papai Noel? — Ficaram por segundos em silêncio. Ambos se entreolham pensando na mesma coisa.

— A garota da lanchonete. — Falam juntos.

— Estamos há quanto tempo do colégio municipal? — Perguntou o louro.

— Uns trinta ou quarenta minutos.

— Interessante. Mike, aperte o cinto. — A criança obedeceu sem questionar.

— Você enlouqueceu? — Indagou James.

— Estão oferecendo dez mil pra quem achar um velhinho. Eu só tenho 23 anos, eu preciso de dinheiro. E você em breve fará 30, não vai querer uma festinha?

— Você é um policial! Seja um exemplo!

— Tudo bem eu ligo a sirene. — Aiden ligou desnecessariamente aquele barulho angustiante que logo foi desligado por James. O louro gargalhou alto. — Vamos nessa! — Ele pisou no acelerador e o carro arrancou com um estrondo.

.oOo.

Tudo estava silencioso, o vento cantava nos ouvidos de Leon. Ele estava relaxado, esperando o sono consumi-lo por completo para que assim ele dormisse. Porém as luzes de um carro de policia o despertaram. Todo o sono de Leon sumiu quando viu o a policia finalmente o achara. — Eu não estou vendo nada, está vendo alguma coisa?

— Parece ter um cobertor ali no banco. — Disse James.

— PAPAI NOEL! — Gritou Mike tirando o cinto e descendo do carro. James e Aiden se entreolharam e saíram do carro com pressa. Ao ver a criança correndo em sua direção Leon suspirou.

“De novo não.” Pensou o mesmo.

— Papai Noel o que faz aqui? — Perguntou o garoto encantado fazendo Tábata acordar.

— Mike, onde está o Papai Noel? — Perguntou Ainden.

— Aqui tio Aiden! — A criança apontava e pulava empolgada. Os policiais fecharam os olhos e se concentraram para acreditar que aquilo era verdade. Aiden foi o primeiro a abrir os olhos. Com o tempo, a imagem do Papai Noel começou a se formar.

— Jesus Cristo... — O mesmo falou fazendo James abrir os olhos e se deparar com a mesma coisa. — Chefe? — Disse Aiden ligando o rádio portátil em seu ombro. — Encontramos o velho.

.oOo.

Depois que o helicóptero pousou e os agentes fizeram o questionário, Leon contou o que pretendia e onde escondeu os presentes.Leon respondia o questionário com Tabby em seu lado. A menina estava enrolada no cobertor tomando uma caneca de chocolate quente. Tábata ainda tentava processar a informação de que o tempo todo estava com um homem que não era o Papai Noel de verdade. Para não ficar horas explicando que ele era uma segunda personalidade do velhinho, disseram a ela que ele era irmão gêmeo do Papai Noel.

— Leon. — Chamou um agente do FBI. — Precisamos que você apague a memória da criança. — Naquele momento Leon descobriu ter um coração, pois o mesmo ficou com o tão conhecido aperto no peito. Ele fechou os olhos e se concentrou. — Pronto, Mike não se lembra de nada. — Ela também. — Tábata olhou para Papai Noel.

— Você vai apagar minha memória? — Leon olhou para o chão. As lagrimas começaram a rolar pelo rosto da ruiva. — Não! Não, não, não, não, não! — Seu rosto rapidamente ficou vermelho. Ela se ajoelhou no chão e chorou mais e mais. — Vocês não podem fazer isso! — Ela começou a soluçar. — Pela primeira vez eu me senti com uma família! — Vendo a confusão se formar por conta da criança que chorava, James resolveu se aproximar. — Leon foi a única pessoa que me acolheu mesmo sendo uma pessoa má como vocês dizem! Ele foi bom para mim! Por favor, eu... EU NÃO QUERO ESQUECÊ-LO!

— Tábata... — James falou se ajoelhando na frente da menina. — Você precisa entender que isso faz parte do sistema. O Papai Noel ou o Tio Leon não podem ter nenhuma influencia direta na vida de uma criança.

— Mas... Mas... — A menina não conseguia mais formular frases de tanto que chorava.

— Leon — Um agente do FBI foi até ele. — Precisamos leva-la para casa, onde ela...

— Ela é órfã. — Leon falou cortando o agente. O coração de James começou a bater mais rápido, ele finalmente conseguiu entender o que a mulher sempre lhe dizia. “O amor que podem vir de ou para uma criança são maiores que qualquer amor já visto”.

— Tábata... — A menina ergueu a cabeça e olhou nos intensos olhos verdes do policial. — Se eu prometer te adotar, você promete que vai se despedir de suas lembranças recentes? — Os sentimentos da pequena Tabby eram indecifráveis naquele momento. Uma explosão de todas as boas emoções em um único segundo. James olhou para Leon que também o olhava.

— C-como posso saber que não está mentindo? — A pequena falou tentando secar os olhos ficando mais feliz.

— Porque eu digo que você pode confiar. — Disse Leon para Tabby. A menina se virou para olha-lo e o mesmo sorria para ela. Ela se levantou e foi correndo abraça-lo. Ela voltou a deixar as lagrimas caírem.

— Isso é um adeus, Leon? — Ela perguntou molhando o ombro do velho com as lagrimas.

— Não, Tabby, onde quer que esteja, eu sempre estarei com você. — Leon começou a apagar a memória da pequena que começava a ficar sonolenta eu seu ombro por conta da lenta perda das lembranças.

— Pra sempre? — Perguntou a pequena já perdendo a consciência.

— Pra sempre... — Quando a menina dormiu, Leon se recusou a deixar uma lagrima sequer cair.

.oOo.

— Bom dia Tábata. — Disse uma das mulheres que trabalhavam no orfanato. — Já arrumou suas coisas?

— O quê? Por quê? — Perguntou a pequena. A mulher olhou para ela confusa.

— Você vai ser adotada, Tábata, se esqueceu? — Os olhos da menina quase que saíram do rosto. Ela rapidamente trocou de roupa e colocou os pertences na malinha. Ela não se lembrava de nada sobre a adoção. Estava ansiosa para conhecer seu pai e sua mãe. Ao chegar no hall do orfanato ela se depara com um homem alto, branco de cabelos castanhos e olhos verdes. Ao lado dele, uma mulher um pouco mais baixa, magra, de pele mulata e cabelos negros. Ela sorriu para os dois.

— Oi Tábata! Lembra-se de nós? James e Erika? — Mesmo não se lembrando, a ruiva fez que sim com a cabeça.

— Pronta para conhecer sua nova casa? — Falou a mulher estendendo a mão para a mesma, mas o invés de segurá-la, Tabby abraçou a mulher que retribuiu o carinho. — Vamos! — Erika entrelaçou os dedos com a menina e James pegou a malinha dela.

— Olha, olha! É o Papai Noel! — Tábata falou apontando para o outro lado da calçada. James olhou para onde ela olhava. — Sim Tabby, é o Papai Noel.

— Onde vocês estão o vendo? — Erika falou procurando para quem eles olhavam. James sorriu e pegou na mão de Tábata.

— Vamos, filha? — A pequena olhou para ele e sorriu emocionada. Voltaram a caminhar na direção de casa.

Pra sempre... — Disse o velhinho que os observava do outro lado da rua.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Não deixem de comentar tanto o que acharam positivo quanto o negativo, seja sincero.