Premonição: Brincando com Sangue escrita por Violet King


Capítulo 3
O Pacto


Notas iniciais do capítulo

Olá! Estou de volta com mais um capítulo que cheio de revelações...
Bem, espero que quem estiver acompanhando esta fic, continue, pois se tudo der certo, o próximo sairá mais rápido ainda.
Enfim, tomara que gostem, e boa leitura :)



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Era como se tivesse acordado de um terrível pesadelo. Um pesadelo muito real. O ginásio não havia desmoronado, ninguém tinha morrido e Madison estava lá, sentada em uma mesa junto do quarterback, com os olhos enchendo-se de lágrimas enquanto ofegava intensamente.

– Rufem os tambores, pois chegou o grande momento da noite! – o diretor da escola com microfone em mãos anunciou a coroação. A loira já tinha ouvido aquela frase antes, o que fez sua espinha gelar. Está acontecendo, pensou consigo mesma. – Os votos para Rei e Rainha do baile já foram contados e os vencedores são... – Por favor, não anuncie meu nome. Por favor. – Cory Evans e Madison Carter!

Bastou aquilo para ela entrar em pânico.

Aplausos e mais aplausos. A banda começou a tocar o hino da escola e Cory lhe deu um sorriso, pegando sua mão, da mesma maneira que na premonição. Porém, quando ele notou a expressão de pavor da namorada, ficou sério e preocupado.

– Mad, você está bem? O que há de errado?

– Cory Evans e Madison Carter, por favor, compareçam ao palco – insistia o diretor.

– VAI ACONTECER UM ACIDENTE! – a líder torcida levantou e gritou aos prantos para todos, que a olhavam como se estivesse louca. – TUDO VAI PEGAR FOGO E DESABAR! EU VI!

– Essa vadia só quer chamar atenção! – Maia, perto dali com o namorado, manifestou-se.

– Cala a boca, garota! – disse Cory.

– Quem você acha que é para falar assim com ela? – Hector aproximou-se do rapaz e o empurrou. – Seu otário!

– Não encosta em mim, idiota! – o quarterback revidou com outro empurrão, no entanto, mais forte.

Ao perder a paciência, Hector desferiu um soco contra o rosto dele, derrubando-o. Jogado no meio do salão, Cory sentiu um gosto de sangue se formando em sua boca. Assim que cuspiu para livrar-se do fluido, um dente foi junto. Madison agachou ao seu lado, no intuito de socorrê-lo. A garota lhe dizia algo, mas ele não conseguia escutá-la, apenas via seus lábios se moverem devagar, como um filme em câmera lenta. Mesmo assim, não dava para lê-los, pois estava difícil raciocinar desorientado. Sua cabeça girava e girava. Via em dobro a multidão que os rodeava, encarando-os.

No momento que se recuperou da tontura, o adolescente levantou furioso, ignorando os protestos da loira para eles saírem dali.

– Desgraçado! Você me fez perder um dente! – Cory avançou em direção a Hector e retribuiu o soco que o mesmo havia lhe dado.

Em seguida, os dois estavam rolando pelo chão aos murros enquanto as garotas tentavam separá-los.

– Saiam da frente! Saiam da frente! – Elle disse, passando com Ryan por entre a aglomeração de estudantes que cercava os quatro adolescentes até conseguir alcançá-los.

Os professores entraram no meio da briga, apartando-a ao puxar um jogador para cada lado. Madison e a treinadora seguravam o quarterback, e Ryan e a mexicana seguravam Hector. Ambos bufavam e relutavam para desvencilharem-se dos que os impediam de recomeçar a confusão.

– O que vocês têm na cabeça? – a professora perguntou ao quarteto. – Querem estragar o baile dos outros? Pois acabaram estragando o de vocês!

– A festa acabou para os quatro – o professor falou. – E se for para resolvermos isso, que seja conversando lá fora!

Gwen – que se mantinha atrás do palco aguardando os coroados subirem ali para que puxasse a corda – estava cansada de esperar. Quando afastou a cortina para o lado e espiou no intuito de saber o que deu de errado com o plano, viu um alvoroço no centro do salão. Ela visualizou Maia com Hector no meio do tumulto, e em seguida, ambos serem retirados do ginásio junto de Madison e Cory por Ryan e Elle. A garota resolveu seguir a latina caso precisasse de sua ajuda.

– Alunos, por favor, retornem à suas mesas – pedia o diretor.

– Por que seu pai e a treinadora estão indo para fora com eles? – Scott perguntou à Natalie, não entendendo o que tinha ocorrido por estarem no fundo do amontoamento de gente.

– Não sei – ela respondeu –, mas iremos descobrir – e agarrou o pulso do nerd, o puxando em direção à saída.

* * *

– O que foi aquilo lá dentro? – Ryan questionou no instante que chegou com os outros no estacionamento em frente ao ginásio. Então, todos começaram a falar paralelamente tentando se explicar, entretanto, ele e Elle não entenderam nada.

– Já chega! – disse a professora, e imediatamente os dois casais ficaram calados. – Apenas um de vocês pode nos esclarecer o que houve? Madison? – perguntou à loira, vendo-a chorando e aterrorizada.

– Eu tive uma visão – a líder de torcida comentou aos soluços. – Vi o prédio pegar fogo e em seguida, cair. Vi cada um de vocês morrerem.

Em um breve momento houve silêncio, sendo possível ouvir somente o assobiar do vento. Após as palavras ditas pela adolescente, por mais que não quisessem admitir, todos ali tiveram a sensação de serem rondados por uma presença gélida e invisível. Eles se entreolharam para cada um ter certeza de que não era o único a sentir os pelos do corpo se ouriçar.

– Natalie, o que está fazendo aqui? – O professor quebrou o silêncio assim que visualizou a filha se aproximar com Scott.

– Eu é que te pergunto – disse a gótica.

– Ufa, finalmente encontrei vocês – Gwen falou ao alcançá-los, arquejando.

– Gwen? – Maia exclamou surpresa. – Eu não mandei você...?

– Sim – ela interrompeu a mexicana –, mas eu te vi saindo e pensei se não precisaria de mim.

– Por favor, vocês precisam avisar os outros alunos sobre o acidente e tirá-los de lá! – Madison advertia Ryan e Ellen.

– Garota, você usou alguma droga? – Maia perguntou. – Porque todo esse seu showzinho está ridículo!

– Você que é ridícula! Se tivesse visto o que eu vi, não estaria falando merda! – gritou com a latina.

– Escuta aqui, sua... – a morena disse perdendo a cabeça e partindo para cima da cheerleader. Entretanto, Hector a conteve, segurando-a com seus braços musculosos. – Me larga!

– Acho que, por hoje, já tivemos brigas demais, Maia – disse ele.

– Madison, acalme-se, ok? – Elle chegou perto da loira, segurando o rosto dela com as duas mãos e olhando dentro de seus olhos. – O que você teve foi só um ataque de pânico por conta da coroação. Vai ficar tudo bem. Ninguém vai morrer.

A confiança que a professora tinha em suas palavras fez a líder de torcida, por um instante, duvidar do que havia visto. Será que tive apenas uma alucinação? Ela gostaria de estar errada a respeito da premonição. Porém, de repente, o grupo avistou uma fumaça negra saindo do telhado do ginásio. Fogo, todos deduziram mentalmente.

Era possível ouvir gritos de desespero dos estudantes presos lá dentro. Em seguida, todos se viraram para Madison, fuzilando-a com olhos arregalados de medo.

Bruja! – Maia a chamava de algo em espanhol que a loira não sabia o que significava. Mas pelo tom agressivo dela, deduziu que fosse um insulto. – Bruja!

– Elle, tire-os daqui e ligue para a emergência! – pediu Ryan.

– Droga, meu celular ficou lá dentro – a treinadora comentou.

– Eu tenho o meu – Scott tirou o aparelho do bolso da calça, discando 911 e pondo-o perto do ouvido.

– Ótimo – o professor disse. – Agora vão!

– Mas o que você vai fazer? – Natalie perguntou ao pai, segurando seu antebraço com força enquanto Elle e os outros se afastavam.

– Preciso ajudar aquelas pessoas!

– Eu não vou deixar você ir lá! É suicídio!

– Natalie, me solta!

– Não! Você é a minha família! O único que me resta...

Aquela frase o pegou em cheio, fazendo-o desistir de qualquer plano que tivesse em mente. Ryan fitou a adolescente por alguns segundos, vendo o desespero em seu rosto e imaginando-a sozinha caso ele morresse. Quem a protegeria? pensou. Não, ela precisa de mim.

E esse foi tempo das estruturas do prédio se instabilizarem de vez. Ouviu-se um estrondo ensurdecedor seguido da uma terrível cena do ginásio desabando. Uma poeira cinza se elevou uns vinte metros de altura, e quando se abrandou, o local desaparecera, dando lugar a uma enorme pilha de escombros.

* * *

Já era final de tarde e Scott estava deitado no sofá de sua casa, de frente para a TV com o controle na mão, mudando de canal a cada um segundo. Nenhum programa o atraía, e sua mente estava em outro lugar: no desabamento do ginásio. Já se passara cinco meses após o ocorrido, entretanto, a cena do prédio em chamas se projetava em sua cabeça claramente.

De modo súbito, algo que passava na televisão o deteve de apertar o botão que trocava de canal. A repórter do jornal de uma emissora local falava sobre o desastre do colégio:

– Amanhã acompanharemos o memorial em homenagem às vítimas do desabamento do ginásio do colégio Charles Lee Ray, que causou a morte de 171 pessoas. Segundo as autoridades, somente nove indivíduos saíram do local, minutos antes do ocorrido. Ainda estão investigando a causa do acidente...

Click. Ao apertar o botão “off”, a tela da TV se apagou. Já chega! Não quero mais ouvir nada sobre a droga desse dia! Scott colocou o controle na mesinha de centro à frente e foi para o seu quarto, no segundo andar.

– Não vai jantar, querido? – Edna, sua mãe, perguntava da cozinha, colocando uma torta para assar no forno.

– Estou sem fome – ele respondeu subindo as escadas.

O adolescente acomodou-se em sua cama, pegou o notebook sobre o criado mudo e o pôs no colo, ligando-o. Resolveu tentar esquecer todo aquele episódio do baile. Tentar se distrair navegando na internet. Quem sabe assistir algum filme de terror online, pensou, mas mudou de ideia rapidamente. Não. Terror, não. Tudo, menos terror.

De repente, visualizou no canto inferior da tela uma pasta que continha as fotos do baile. Ele nunca as tinha visto. Apenas tirou-as e passou para seu notebook. Não tivera coragem de rever seus colegas momentos antes de terem morrido. Porém, algo – talvez a curiosidade – o fez clicar no arquivo e abri-lo. Havia imagens de todos os casais na entrada do ginásio, e também momentos durante o baile que tinha capturado. Essas últimas, por motivo desconhecido, o deixaram com um mau pressentimento.

* * *

Natalie estava deitada de bruços em sua cama, lendo um livro. Seus olhos de coruja mantinham-se fixos em cada palavra que percorriam. Ouvindo música no fone, era possível criar uma barreira invisível entre o mundo real e seu refujo pessoal. Entretanto, algo quebrou aquela barreira. Um som mais alto do que qualquer volume máximo que seus fones pudessem atingir. Ryan gritava do outro cômodo.

A adolescente deu um pulo, ficou em pé de imediato e em seguida, correu pelo corredor em direção ao quarto do pai. Ela abriu a porta, o coração martelando furiosamente.

– Pai, você está bem?! – perguntou, encontrando o homem sentado na beira da cama, suado e ofegante.

– Desculpe filha – disse ele, a cabeça apoiada nas mãos e os cotovelos nas coxas. – Não foi nada. Eu só tive um pesadelo.

– Igual àquelas outras vezes? – a gótica se aproximou e sentou ao lado dele. – Isso já está me deixando preocupada. Não é normal Lily sempre aparecer em seus sonhos.

– Acho que ela quer me dizer algo, mas eu não sei o quê. Sei que parece loucura...

– Não, não parece. Eu acredito em você. Olhe só pra mim, sou uma bruxa! – Ryan deu um sorriso de canto que logo se desfez assim que a filha disse: – Sabe, tenho saudade dela... e da mamãe.

– Eu também, querida – ele envolveu o braço esquerdo ao redor dos ombros da garota. – Eu também.

Após a morte de Lily, as coisas ficaram difíceis para a família de Natalie. Judith, sua mãe, entrou em profunda depressão. Certa vez, quando estava sozinha em casa, tentou cometer suicídio. Tinha comprado uma garrafa de vinho para tomar com vários comprimidos. Por sorte – ou azar dela –, Ryan chegara mais cedo do trabalho, impedindo-a de se matar.

Então, Judith foi internada em uma instituição psiquiátrica. Dali em diante, a mulher nunca mais dissera uma palavra. O marido e a filha sempre a visitavam e tentavam conversar. Diziam que ela poderia voltar pra casa se houvesse algum progresso em seu tratamento. No entanto, não houve.

– Bom – a gótica falou depois de certo tempo em silêncio junto do pai –, acho que vou tentar dormir – e se levantou, caminhando em direção à porta e virando-se de volta para Ryan. – O senhor devia fazer o mesmo, afinal, temos que acordar cedo amanhã para o memorial do pessoal do colégio.

– Tem razão. Quase ia me esquecendo.

– Não sei o que seria de você sem mim – ela disse aos risos, encostada no batente.

– Eu também não. – o professor respondeu com um tom triste, tentando imaginar tal possibilidade.

– Boa noite, pai. E não se preocupe. Vou descobrir o que Lily quer.

– Boa noite, querida.

Natalie apagou a luz, fechou a porta e se dirigiu para seu quarto.

A relação que tinha com Ryan não era uma das melhores – e estava longe de ser uma das piores –, mas após o acidente do ginásio, os dois se tornaram mais próximos. Ao perceber que poderia ter perdido o único membro de sua família que ainda estava presente, a adolescente decidiu se esforçar em demonstrar quanto o amava e era grata por tudo que ele fazia.

A gótica fechou a porta e iniciou uma busca em seu armário. Havia muitas roupas pretas penduradas em cabides, e caixas de papelão. Rapidamente, começou a abri-las uma por uma, as vasculhando. Livros antigos, CDs de bandas que não ouvia mais e outras coisas eram retiradas de uma delas até que finalmente achou o que procurava. O tabuleiro de ouija.

Natalie pegou o objeto do fundo e o ergueu com um largo sorriso.

* * *

Suor, pingando no seu peito

Pensando nos seus dedos tatuados

Na minha coxa garoto

Banho gelado, você não tem

Poder para controlar

Como faço de você meu brinquedo

Meus quadris movem-se

Enquanto nos beijamos

Fazemos os vizinhos gritarem

Cada vez mais alto, mais alto

Lamba-me como se você

Estivesse enrolando um papel

Estou pegando fogo

Venha e me apague

Sou sua garota dos sonhos

Isso é amor verdadeiro

Mas você sabe o que dizem sobre mim

Essa garota é um problema

Garota é um problema

Garota é um problema, problema

Ooh, baby

Você é tão mau, garoto

Me deixa louca, garoto

Mas você não se importa com o que dizem sobre mim

Essa garota é um problema

Garota é um problema

Garota é um problema, problema

Na manhã seguinte, Maia e Hector encontravam-se deitados em uma cama de um motel de beira de estrada, vestindo somente suas roupas intimas. O quarto que se hospedaram estava escuro, iluminado apenas por uma fraca luz vinda de fora, que invadia o recinto por uma brecha entre as duas cortinas que cobriam a janela.

A morena repousava a cabeça sobre o peito do namorado enquanto ele afagava seus cabelos cacheados e encarava o teto. Os dois estavam quietos (o que não era normal) e pensativos demais. Sempre, após o sexo, eles conversavam sobre qualquer coisa. Mas naquela manhã, Hector andava meio calado.

O silêncio já estava irritando Maia. Subitamente, ela levantou a cabeça e por um instante, examinou o semblante do rapaz. Ele parecia intrigado com algo.

– O que houve, hein? – a mexicana indagou. – Você está tão estranho.

– Não é nada. – até para seus próprios ouvidos aquelas palavras não convenciam.

– Você é um péssimo mentiroso, sabia? Eu te conheço. Seus olhos refletem mentira. Agora, me conta o que há de errado.

Hector desvencilhou-se de Maia e se ajeitou na cama para ficar sentado. Ela fez o mesmo. Assim que deu longo suspiro, começou:

– Hoje é dia do memorial do acidente do baile, e isso fez lembrar-me de algo... – o garoto prosseguiu. – Naquele dia, após o desastre, de longe ouvi Madison contar aos policias o que, provavelmente, causou o incêndio. Ela disse que foi um holofote mal instalado. E quando fomos montar aquela “armadilha” pra ela, acabei esbarrando o braço num daqueles holofotes, mas nem dei a mínima.

– Então você acha que causou tudo aquilo? – Maia perguntou tentando ligar os pontos. Ele fez que sim com a cabeça. – Ah, Hector, você não tem culpa pelo que aconteceu! Quem garante que foi o mesmo holofote que você esbarrou? E se fosse, não haveria alguém para lhe dar certeza, pois estão todos mortos! Exceto a vadia da Madison, que todos acham maluca! Além disso, ninguém sabe que estivemos no ginásio aquela madrugada.

– Eu sei, e você também sabe! Como não consegue se sentir culpada? Ah, é mesmo! Você não sentiu culpa nem quando matamos a filha do professor Ryan!

– Cala a boca! Nós prometemos nunca mais falar sobre isso!

No entanto, Maia se recordava perfeitamente do fatídico dia, há quase um ano atrás, quando ela, Hector, Cory e Madison atropelaram e mataram Lily Grey.

Aconteceu em uma noite de Hallowen, e naquela época, os quatro ainda eram amigos – muito unidos por sinal. O grupo estava a caminho de uma festa, no Impala de Hector com ele dirigindo, Maia sentada ao seu lado, e Madison e Cory aos beijos no banco de trás. Hector já tinha bebido bastante, e nesse tempo, dirigia muito rápido – entretanto, nenhum dos outros reclamavam disso.

Eles passavam pela estrada deserta da reserva florestal, no intuito de cortarem caminho para chegarem mais cedo. Contudo, não imaginavam que aquele lugar não estava tão deserto assim.

Tudo aconteceu rápido demais. Num momento, estavam rindo ao som de uma canção qualquer que tocava no rádio, e no outro, gritando em pânico quando algo surgiu no meio da rodovia. Não houve tempo de frear ou desviar. Apenas conseguiram ver, por um segundo, o semblante assustado de uma garota iluminado pelos faróis. Logo depois, o barulho do automóvel se chocando contra o corpo dela, e então, passando por cima.

– Oh, meu Deus! – exclamou Madison.

– Cara, o que foi isso?! – Cory perguntou.

Hector pisou no freio e girou o volante com todas suas forças. Os pneus chiaram e o Impala parou atravessado no meio da pista. Exceto pelo choro de Madison, houve um breve silêncio.

– Saiam do carro – Hector disse por fim, desligando o motor.

– O quê? – Maia falou incrédula. – Você só pode estar brincando, né?

– SAIAM DO CARRO AGORA! – ele explodiu. – NÃO VOU LÁ SOZINHO!

Os outros se entreolharam como se quisessem dizer: “Será que é uma boa ideia?”.

– Seja lá quem for que atropelamos, precisamos ajudar – a loira disse aos soluços com o rosto borrado de rímel pelas lágrimas.

– Temos que verificar se ela está viva – Cory acrescentou.

– Ok – a latina concordou balançando a cabeça positivamente.

O quarteto saiu do veículo e caminhou lentamente em direção ao corpo da menina. Ela usava um vestido branco e estava deitada de bruços no meio do asfalto. Diversas partes de seu corpo estavam raladas. O grupo parou assim que ficou a dois metros de distância dela. Tentaram identificá-la dali, mas seu cabelo cobria o rosto.

Subitamente, olharam para Hector. Ele arregalou os olhos, entendendo o que estavam pensando e falou:

– Não! Nem ferrando eu irei virá-la!

– Precisamos saber quem ela é! – disse Madison.

– Mas, por que eu?

– Porque você que a atropelou! – Cory o lembrou.

– Tá certo – Hector concordou ao ser dominado pela culpa. – Merda, merda, merda... – xingava se aproximando cada vez mais da garota, dando passos curtos.

Por um instante, o rapaz hesitou e olhou para trás. Maia o encorajou a continuar. Então, se agachou, agarrou o ombro da menina e a virou de barriga para cima. Quando afastou seu cabelo para o lado, revelando o rosto, todos levaram um choque. Era Lily Grey, a filha do professor de história deles, com quem estudavam e viam andando pelos corredores da escola, e que agora, estava estirada e ensanguentada diante deles.

– Eu acho que ela está morta – concluiu Hector.

– Isso não pode estar acontecendo – balbuciou Cory.

– Ainda dá tempo de cairmos fora antes que alguém passe e nos veja – Maia sugeriu.

– O quê? Esse é o seu plano? Atropelá-la e deixá-la jogada no meio da estrada? – a loira perguntou indignada. – Temos que ligar para polícia! Nós matamos uma pessoa!

– Nós seremos presos! – a mexicana rebateu. – Bem, talvez vocês sejam, mas eu não, porque meu pai é advogado e temos muito dinheiro.

– Ela tem razão – Hector concordou, se levantando e voltando para junto deles. – Mesmo que não sejamos presos, que faculdade nos aceitaria? Nossos planos para o futuro iriam por água abaixo. Seriamos lembrados pela cidade inteira como assassinos.

– E qual é o plano de vocês dois? – indagou Cory.

– Enterrar o corpo – Maia disse de imediato, num tom frio.

Até para seu parceiro aquilo pegou de surpresa. Mesmo assim, Hector falou:

– Tem uma pá grande lá em casa.

– Não – Madison balançou a cabeça negativamente, não acreditando no que estava ouvindo. – Eu não vou fazer parte disso!

– Então vamos votar – a latina decidiu. – Quem está comigo? – ela levantou a mão direita, e sem seguida, Hector fez o mesmo.

Todos olharam para Cory, o último a dar seu voto, já que sabiam a opinião de Madison.

– Me desculpa – ele disse para a namorada. – Não posso jogar tudo fora – e levantou a mão direita.

Ela apenas o fitou com uma expressão de decepção enquanto lágrimas deslizavam sobre seu rosto.

– Agora que resolvemos de forma justa, vamos fazer um pacto de nunca contar a ninguém o que houve aqui – a morena disse de modo intimidador. – Nem mesmo tocaremos nesse assunto novamente. Levaremos esse segredo para o túmulo. Vocês juram por suas vidas?

– Eu juro por minha vida – eles disseram em uníssono.

Então, Maia acordou de seu devaneio.

– Vocês juraram por suas vidas – ela falou, encarando o nada. Subitamente, seu olhar voltou para Hector. – Não quero mais falar sobre isso. Vista suas roupas. Vamos embora.

O rapaz a obedeceu sem reclamar. Calçou os sapatos, colocou a calça jeans com o cinto e vestiu uma camisa branca por baixo de sua jaqueta de couro preto. Maia apenas pôs os saltos e o vestido. Ao saírem do quarto do motel, os dois caminharam quietos pelo estacionamento em direção ao Impala. Porém, assim que se aproximaram do automóvel, viram algo que fez Hector gritar de raiva. A lataria da traseira de seu carro estava riscada, escrito: “EU SEI O QUE VOCÊS FIZERAM NO ÚLTIMO HALLOWEEN”.

– Quem foi o desgraçado?! – ele fechou o punho e deu um soco onde a mensagem tinha sido gravada.

– Alguém sabe – Maia disse, tentando disfarçar o desespero, o coração quase saindo pela boca. – Você contou para alguém?

– Claro que não! Dei minha palavra.

– Eu também dei a minha. Se não foi um de nós, então...

– Foi a Madison ou Cory – Hector completou, deduzindo. – Aposto que foi ele que abriu a boca. Pensando bem, aposto que ele mesmo fez isso. Quando eu encontrá-lo...

– Pois o encontraremos agora. E a vadia oxigenada também. Precisamos tirar essa história a limpo – ela se dirigiu até a porta do Impala e a abriu. – Vamos para o memorial. Tenho certeza que aqueles dois estarão lá junto com o resto da cidade.

* * *

Elle subiu o palanque, se dirigiu até um púlpito e ficou diante de centenas de pessoas que, assim como ela, vestiam preto. A professora seria a discursante do memorial, que foi organizado de frente para o que restou do colégio. A alguns metros a sua esquerda, havia um mural de mármore negro com uma placa dourada parafusada. Nela, estavam gravados os nomes dos alunos que morreram na noite do baile. Após o final da cerimônia, todos, que receberam uma rosa branca, deixariam a flor no pé do muro.

A treinadora encarou aquelas pessoas. A maioria estava sentada, mas muitos ficaram de pé pela falta de assentos. O lugar tinha lotado. Seus olhos percorreram a multidão. E lá estavam os pais dos estudantes falecidos, amparando uns aos outros. Oh, Deus, não vou conseguir fazer isso, pensou.

De onde estava, pôde visualizar cada dos sobreviventes daquela noite espalhados pelo lugar: Madison ao fundo com seus tios; Cory na primeira fileira com sua família; Scott com seus pais, os três sentados perto do corredor; Ryan e Natalie juntos numa fileira do meio; E por último, Gwen, que estava no canto com sua avó. Elle não avistara Maia ou Hector. Presumiu que, talvez, eles não tivessem vindo. Espero que sim. Esses dois são um problema.

Assim que tomou coragem, a professora abriu um pequeno papel dobrado que segurava, aproximou-se do microfone e começou a lê-lo, sua voz ecoando pelos alto-falantes cercando o local:

– “Costumamos dizer que a hora da morte não pode ser prevista. Mas, quando dizemos isso, imaginamos que esse momento está num futuro distante e obscuro. Nunca nos ocorre que tenha alguma conexão com o dia que já começou ou que a morte chegue nesta mesma manhã. Nesta manhã tão obvia e que tem todas as horas preenchidas com antecedência...”.

* * *

Quando o memorial acabou, Scott levantou da cadeira e resolveu procurar Natalie enquanto seus pais seguiam para uma fila em que as pessoas estavam deixando suas rosas brancas no pé do mural. No instante em que avistou a amiga, que estava ao lado pai, caminhou lentamente em sua direção.

– Oi, Nat – cumprimentou ele. – Oi, senhor Grey.

– Oi, Scott – disse o professor, contente em vê-lo. – Bom, vou deixar vocês conversarem em paz e falar com a Elle – e se distanciou com a flor na mão.

– Oi – Natalie disse por fim. – Terno bonito.

– Ah, obrigado – agradeceu o nerd. – O seu vestido também é.

– Você não tem nem ideia de como foi difícil encontrar uma roupa preta no meu armário – a gótica falou brincando. De repente, os dois caíram na gargalhada e as pessoas começaram a fuzilá-los com olhares. – Droga – ela disse tentando se controlar. – Será que vou para o inferno ou algo do tipo por estar rindo num memorial?

– Não sei, mas se for assim, o inferno deve estar cheio de gente com senso de humor – Scott respondeu.

Então, o silêncio pairou entre eles.

– Sabe, sinto falta de momentos como esse – disse Natalie. – De nossas conversas...

– Eu também – ele falou cheio de culpa. – Desculpe-me por ter me afastado de você. É que... toda essa história do baile me deixou meio abalado.

– Todos nós ficamos do mesmo jeito. E não é para menos. Nossos nomes podiam estar naquele mural.

– Tem razão. Eu... só não queria que as coisas ficassem estranhas entre nós. Queria que elas voltassem a ser como antes.

– Nem que ficássemos uma década sem nos falarmos, as coisas ficariam estranhas entre a gente – a adolescente disse com um sorriso de canto. – Pra mim, nada mudou.

– Sabia que você é a melhor? – Scott perguntou.

– É, eu sei – Natalie respondeu e eles voltaram a rir. – Bem, preciso ir. Mas, qualquer coisa, me liga. Podemos marcar para irmos ao cinema.

– Seria uma boa – disse o nerd. – Até mais, Nat – e a abraçou, pegando-a de surpresa.

Naquele momento, tão próxima de Scott, a gótica percebeu que continuava apaixonada pelo amigo. Conseguia sentir o coração dele batendo normalmente, enquanto o seu parecia que iria explodir. Gostaria que de continuar ali, junto do rapaz, envolvida por seus braços, se sentindo a pessoas mais segura do mundo. Entretanto, desvencilhou-se de Scott e se despediu:

– Até mais – em seguida, se virou e foi embora.

Após observar a amiga partir, Scott girou a cabeça para a esquerda e visualizou a imagem de Madison em pé, parada debaixo de um carvalho. Durante um minuto, ficou admirando-a de longe. E subitamente teve um insight. Essa é a oportunidade de falar como ela. Então, tomou coragem, ajeitou seu terno e andou até a garota.

– Oi, Madison – falou ao chegar mais perto.

– Oi... Scott, não é? – a líder de torcida perguntou.

Ai, meu Jesus Cristinho... Ela sabe o meu nome!

– Isso – ele respondeu calmamente, contendo-se por dentro. – Esperando alguém?

– Sim. Meus tios. Estão na fila do mural. E você?

– Meus pais. Estão lá também – disse o nerd. E antes que houvesse um silêncio constrangedor entre eles, prosseguiu: – Sei que nunca trocamos sequer uma palavra antes, mas, eu gostaria de te agradecer por, naquele dia do baile, ter nos avisado sobre o acidente. Se não fosse por você, eu seria um dos estudantes homenageados nesse memorial. Fique com isso – e entregou sua rosa branca para ela. – Sei que são para os alunos que faleceram, só que, você também merece por ter salvado minha vida e de mais sete pessoas.

– Obrigada, Scott – a loira agradeceu e pegou a flor, abrindo um tímido sorriso. – Você é muito gentil.

– Imagina. E se precisar de alguém para conversar, estou à disposição.

– Pode deixar – Madison disse. – Obrigada novamente.

– Eu que agradeço – ele falou. – Acho que tenho que ir agora. Meus pais estão vindo. Até mais.

– Até.

Quando o garoto se distanciou, Madison ouviu alguém bem próximo chamar seu nome. A adolescente reconheceu o dono daquela voz de imediato. Ao se virar, deu de cara com Cory e sua expressão mudou instantaneamente. A presença do rapaz a fez ser dominada pela raiva.

Após o incidente do baile, Cory começou a evitá-la, não atendendo os telefonemas ou respondendo as mensagens da adolescente. Certo dia, cansada de ser ignorada, a loira decidiu ir até a casa dele. Margo Evans, mãe de Cory, a atendeu no primeiro toque da campainha. A mulher disse que o filho estava no quarto, no andar de cima, e que ela podia subir. O quarterback, deitado em sua cama lendo uma revista, foi pego de surpresa ao ver a cheerleader na porta do dormitório. Os dois discutiram e inicialmente, sem dar motivos, ele resolveu terminar o namoro. Porém, depois de tanta insistência da parte dela em saber por que estava fazendo aquilo, Cory contou. Suas palavras a atingiram como uma facada nas costas e Madison saiu dali às pressas, chorando. Ambos não se viram novamente até agora, com ele em pé diante dela.

– O que você quer? – a loira perguntou rispidamente.

– Oi, Madison. Eu queria falar com você – ele respondeu sério.

– Falar o que? Já não tinha falado tudo quando terminou comigo? Você mesmo disse que nunca mais queria me ver, que eu era uma bruxa e te assustava.

– Eu sei, mas preciso saber se você me mandou isso – Cory tirou do bolso da calça um pequeno envelope branco e deu para Madison, que o pegou, abriu e tirou um bilhete escrito: “EU SEI O QUE VOCÊS FIZERAM NO ÚLTIMO HALLOWEEN”.

No instante em que viu os olhos da ex-namorada se arregalarem e o rosto empalidecer, percebeu que ela não era a remetente daquela carta. Então, quem é?

– Não pode ser – a líder de torcida disse, levando a mão até a boca.


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Notas finais do capítulo

Sei que este capítulo não teve morte de alguém da lista, pois havia muita coisa a ser explicada. Entretanto, no próximo, prometo que terá. E como já sabem, comentem para eu saber o que estão achando, além de me motivar a continuar escrevendo (e isso vale para os leitores fantasmas também).

Ah, aqui está o link da música que usei nesse capítulo: https://www.youtube.com/watch?v=5ZrZI6OmezE



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