A Vampira, A Loba E A Bruxa escrita por Emily Longbottom
Gleyce ficara aliviada, pois sua mãe não descobrira o que ela e Emily fizeram, nem desconfiara, apesar de que foi bem estranho o modo como elas recepcionaram a Sra. Silvermoon. Estava decidida. Por mais horripilante que seja o lugar que escolhera para ser seu esconderijo secreto, voltaria à meia-noite do mesmo dia para esconder os arquivos em um lugar menos complicado.
–- Vou mandar uma mensagem... - os resmungos de Gleyce foram abafados pelo celular - Porcaria! Deveria ter colocado o barulho do celular em um volume mais baixo. O que a Vitória quer agora, hein?
"Gleyce, estarei de volta amanhã."
A Lua já estava nítida no céu, Gleyce resolvera tomar banho antes que o Sol se pusesse completamente.
A banheira já estava cheia, o roupão e as roupas preparadas - além das duas lanternas, caso a primeira pifasse. Depois do banho, ela se deitou, esperando dar meia-noite. A hora chegou, passou no quarto de cada um para ter certeza de que estavam todos dormindo, desceu até a sala de estar silenciosamente, e com toda a sua força empurrou a lareira, aos pouquinhos ia se movendo para o lado, ela deixou apenas um espaço para ela passar.
Respirou fundo apanhou a lanterna que deixara no chão e começou a descer a escadaria, não demorou muito e já estava no pé da escada, correra até a caixa e a levou para cima. Mas ela ouvira algo que fez seu estômago afundar e seu coração palpitar: passos na escada.
"Como eu sou burra! Como pude me esquecer que toda noite o Augusto levanta para beber água!" pensava em desespero. Augusto era o irmão mais novo de Gleyce, ele tinha quinze anos. Ela se encolheu atrás da lareira que cobria dois terços do portal,suas mãos suadas e trêmulas continuando a segurar a caixa. Ela espiou e viu que seu irmão sonolento nem percebera que o portal estava aberto. "Achei alguém mais burro que eu, agora" pensou aliviando-se, mas tinha que voltar agora, ou seu irmão perceberia na hora de voltar para o seu quarto. Silenciosamente, pôs o pé pra fora e andou na pontinha deles, achou melhor ir por trás do sofá, onde ninguém a veria.
As escadas estavam mais perto, faltavam mais quatro passos, mais dois e finalmente chegou à escada. Estava tão aliviada, já cantando vitória antes do tempo quando tropeçou na metade da escada.
–- Quem está aí? - perguntou o irmão.
Gleyce manteve silêncio, o que temia estava acontecendo. A cada passo que o garoto dava em direção a escada, - ele soubera de onde viera o barulho e olhava fixamente para onde Gleyce estava.
–- O que você está fazendo aí? - perguntou surpreso.
–- Não te interessa, e... E o que você está fazendo aqui?
–- Acho que você já sabe a resposta. E o que são essas folhas de papel espalhadas pelo chão?
–- Nada! - disse Gleyce, desesperada, juntando os papéis. Ele arrancara uma das folhas de suas mãos, Gleyce tentou recuperá-las a tempo, mas ele levou o papel para longe do alcance de suas mãos. Ele poderia ser mais novo, mas era mais alto.
–- Onde você arranjou isso? - perguntou ele interessado. Gleyce fez cara feia. - Me conta ou eu vou contar pro pai sobre essas folhas.
Naquele momento tudo o que Gleyce menos queria era que seu pai descobrisse sobre o que ela andara fazendo.
–- Tudo bem... Só conto se você prometer que não vai dizer a ninguém sobre isso. - naquele momento ouviram a respiração profunda de alguém que os fizeram lembrar que ainda era madrugada. - É melhor eu te contar amanhã. Ou a mãe e o pai vão acordar. O.K.?
–- Certo. - disse. E ajudou a irmã a levar a caixa de papéis para o quarto dela.
Emily estava dormindo profundamente, mas estava inquieta, sonhava com a sombra de um homem, ele estava andando em sua direção ele estava vindo para a luz, deixando revelar seu rosto, tinha os cabelos intensamente pretos, a pele pálida e um par de olhos profundamente azuis. Era bonito. Ele deu mais um passo e... Ela acordou. O Sol batia em seu rosto.
–- Oh, não! - disse sentando-se desesperadamente - Vitória!
Pulou da cama e começou a se arrumar, em menos de quinze minutos já estava pronta. Desceu as escadas correndo e foi à casa de Gleyce, tocou a campainha, a porta foi rapidamente atendida.
–- Oi Emily,entra - disse a amiga, e depois baixou o tom de voz - Ontem foi por pouco, hein?
Emily concordou com um breve aceno de cabeça.
–- MÃÃÃÃÃÃE! - gritou Gleyce de repente para a mãe que estava no andar de cima lavando o banheiro. Emily dera um pulo pra trás, assustada. - POSSO ESPERAR A VITÓRIA NA FRENTE DA CASA DELA?
–- PODE! - gritou a mãe dela em resposta.
Elas caminharam por cinco casas e chegaram na velha casa dos Bennett. Sentaram-se no banco em frente a casa e esperaram.
–- Como você acha que a Vitória está? - perguntou Emily.
–- Bem.
–- Não estou falando em saúde ou em bem-estar, besta. Estou falando de aparência física.
–- Ah, sei lá, eu imagino ela com doze anos, só que mais alta.
–- Imagino ela completamente diferente desde a última vez que nos vimos. Infelizmente ela não posta mais fotos nas redes sociais.
–- Bem, é só esperar pra ver.
–- Lembra quando você achou um pneu velho na garagem do seu pai? Aí nós penduramos nessa mangueira, mas essa árvore estava tão cheia de mangas, que assim que a Vitória "inaugurou" nosso balanço, caiu uma manga na cabeça dela. Você rolou de rir.
–- Vou fazer questão de que ela se lembre disso. Ainda bem que a mangueira tinha só quatro metros, mais ou menos, senão a manga cairia com mais força na cabeça dela.
–- A última vez que a vimos foi quando tínhamos treze anos, ela tinha voltado para o velório da sua avó. Sem querer ser insensível, mas ela vai ficar com a casa só pra ela.
–- Provavelmente só vai ficar em casa pra dormir, vai ficar na nossa cola.
–- Nem eu ficaria em casa sozinha depois do que aconteceu.
–- Nem eu.
–- Hoje eu quase me atrasei. Acordei tarde, e o pior, esqueci de fechar a janela e a cortina do meu quarto.
–- Por que pior? - perguntou Gleyce levantando as sobrancelhas.
–- Ah, sei lá. Falei "pior" por falar.
–- Tive um sonho hoje.
–- Eu também, só que o meu foi bonito, apesar de não ter acontecido quase nada.
–- O que acoteceu?
–- Quase nada. Eu sonhei que estava parada e eu vi um vulto nas sombras, ele foi se aproximando e quando chegou na luz revelou seu rosto.
–- Como ele era?
–- Ele era alto, pálido, lindos olhos azuis e cabelos pretos. De uma coisa você pode ter certeza: ele era MUUUUITO bonito.
–- Uau! Eu gostaria de estar no seu sonho. O que aconteceu depois?
–- Ele deu mais um passo e ficou próximo de mim. Levou a mão ao meu rosto, só que antes que pudesse me tocar, eu, infelizmente, acordei.
–- Só? Pensei, somando dois mais dois, que ele iria te beijar.
–- Já pensou? Se eu desse o primeiro beijo no sonho?
–- Você nunca beijou?
–- Não, Gleyce, e você já está careca de saber disso.
–- Beijei aos doze anos.
–- Que legal - disse Emily sem emoção.
–- Por que, você queria também?
–- Não, eu disse ''Que legal'' no sentido "Não quero saber". E outra coisa, eu já sabia.
–- Ah, verdade. Que merda. Faltam só duas semanas para as aulas começarem.
–- Dê graças a Deus, pois ainda não é a universidade. Que legal! Já é ano que vem que eu vou entrar para a universidade. Quero me formar em Ciências Biológicas, ou Engenharia Química, ou Engenharia de Tecnologia de Informações.
–- Continuo com o mesmo sonho: Ser veterinária.
–- Hm. Lembra que eu queria ser arquiteta? Já tive muitos sonhos, realmente. Agora que eu lembrei. E o seu sonho?
–- Ah, sim. Sonhei com lobos. Estava sendo perseguida por eles. Mas pareciam que não queriam me machucar, mas como é sonho eu não posso me controlar, então continuei correndo.
–- Interessante. E por falar em interessante o que ocorreu com aqueles papéis na caixa?
–- Estão no meu quarto - tirei-os daquele lugar.
–- Por que?
–- Porque era difícil, toda vez que eu fosse descer ter que empurrar a lareira. Exige muita força.
Emily desviara seu olhar de Gleyce, olhou para o fim da rua. Um homem estava parado ali, observando-as. Emily apertou os olhos para ver melhor. Era ele. Era o rapaz com quem sonhara. Ela olhou pra Gleyce de novo, parecia que a amiga estava brisando. Emily chacoalhou o braço da menina.
–- Gleyce! Olhe! É o moço que eu disse ter sonhado. Olhe ele... Ué? Para onde ele foi?
–- Você está tendo alucinações, eu acho. Talvez você...
–- Eu não estou tendo alucinações! - exclamou indignada - Eu o vi! Estava bem ali!
No momento em que ela apontou para o fim da rua, um taxi amarelo apareceu. As duas se levantaram abruptamente. Sabiam quem estava nele. O taxi parou em frente a casa. A porta se abrira. Um Converse All Star fúcsia pisara para fora do taxi. A garota saiu do carro.
–- Uffs! Já estava ficando quente lá dentro. - disse a garota se endireitando e afastando a franja que cobria até a ponta do nariz.
O motorista tirou as malas do porta-malas e entregou-as a garota.
–- Vão ficar paradas aí olhando? - disse ela às duas outras que emudeceram.
–- Não, é porque você está muito diferente. E acho melhor tirar essa jaqueta de pelos, está um calor de rachar, Vitória. - disse Emily automaticamente. Ela e Gleyce deram um abraço em Vitória.
–- Sentimos sua falta. - disse Gleyce.
–- Vamos entrando? - disse Vitória. - Ainda tenho coisas para contar a vocês.
–- Verdade, Vitória, estou curiosíssima. - disse Gleyce animada.
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