Guerreiros de Gáler escrita por Marko Koell


Capítulo 7
Os Mártires


Notas iniciais do capítulo

Preparando o mapa de "Gáler" a vocês!!!!!



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— Já estamos a dois dias caminhando e nada encontramos. – disse Káros.

— Eu estou faminto, mas não me atrevo a comer nem um coelho desta terra pútrida. – disse Jhuan.

— Vocês são soldados, continuem que logo acharemos um lugar para passar o tempo. – disse Táro.

— É impressão minha ou o dia está ficando diferente? - observou Jhuan.

Todos olharam para o céu onde o sol, com dificuldade, fazia com que aquele lugar fosse um pouco menos tenebroso. Eles não estavam acostumados a ver a escuridão, já que em Gáler, o dia reinava.

— Meu pai disse que quando Lyha estiver pronta para trazer seus soldados, poderemos ver algo semelhante em nossas terras. Chama-se noite. – comentou Táro.

Eles seguiram pelas colinas desconhecidas, temendo o que aquilo, á noite¸ poderia trazer a eles. Mesmo assim estavam cientes de que seria muito possível não encontrar mal algum, já que o tempo deles em Gáler seria o mesmo tempo de Netus, logo seria impossível todo aquele lugar ser tomado por criaturas sombrias. Eles estavam sozinhos, e isso era um fato. Mas a fome, já estava os atacando e seria essa a grande sombra que os cercava. Talvez nem tanto a fome, mas também o cansaço de não saber ao certo para onde ir ou o que de fato fazer. Mas a pergunta que mais os atormentava naquele momento era: como vamos encontrar tais deuses?

— Já chega. Eu não aguento mais. – disse Jhuan.

— Mas são os cavalos que devem reclamar, você passou por tudo isso sentado, do que reclama? – perguntou Káros.

— Reclamo de tudo. E por mais que sejam esses pobres coitados a se cansar, não muda o fato que ficar montado todo esse tempo também cansa. Vou caminhando, e quem sabe consigo distrair a cabeça.

— Talvez seja o melhor a se fazer. – disse Táro desmontando de seu cavalo, e assim fizeram os outros dois.

As terras que viam a sua frente eram iguais, e já estava no meio da noite, e Táro resolveu parar um pouco e refletir sobre qual direção deveriam seguir.

— Quem sabe devamos ir ao norte? – disse Jhuan – É lá onde tudo se encontra, já contava meu pai em histórias.

— Quais histórias? Estamos no primórdio da criação, não há lendas a serem contadas.

— Eu sei, não sou um tolo. Mas meu pai é um grande contador de histórias, e elas não precisam necessariamente ser verdades absolutas, Káros.

— Mas tem que existir um fundamento para dizer que devemos ir ao norte, pois lá tudo se encontra, não acha? – disse Káros desdenhando da fala de Jhuan.

— Era uma simples história Káros, nela havia dois jovens guerreiros que ansiavam por conquista e fortuna, mas quando a obtiveram entraram em conflito e acabaram se matando...

— E onde o norte se encaixa?

— Todos os grandes tesouros se encontram no norte, pois é a direção onde o ouro está. – disse Táro — Pois é. Meu pai contava algo parecido a mim, e nossos pais Káros foram uns dos primeiros a respirar então algo devem saber. – ele respirou fundo — Vamos seguir para o norte.

Sem pestanejar todos viraram para o norte e seguiram, e suas visões puderam ver algo que até então não haviam visto ali. Um pequeno círculo de mata fechada.

— Realmente, talvez histórias, não precisam ser verdadeiras. Aquela mata é a prova disso. – disse Káros.

O círculo era realmente muito pequeno, não se levaria mais que alguns metros para atravessar, no entanto sentiram pesar e pânico ao se aproximar. Seus corações ficaram aflitos e seus cavalos se recusaram a entrar. Obviamente aquele não seria um lugar seguro para permanecer, ainda mais em se tratar de seres tão puros, e de um lugar aparentemente visível para serem atacados, mas precisavam descansar.

— Não acha um pouco arriscado?

— O perigo nos cerca desde que atravessamos O Portal meu caro Jhuan. Vamos, os cavalos podem ficar por aqui, eles não se atreveriam a nos abandonar. – disse Táro.

E então os três adentraram a pequena mata, com poucas árvores e grandes arbustos de folhas negras e mesmo que seus corações trepidassem com o pavor daquele lugar, eles seguiram até o centro e lá armaram uma fogueira. Prepararam rapidamente uma sopa de ervas que os confortou por um momento, e se aninharam para descansar, fazendo pequenos turnos de vigia até que o sol chegasse. Mas a sensação que tiveram era de que a luz não entrava ali. Foi quando ouviram um cleck em meio a galhos mortos no chão.

— O que foi? - perguntou Káros.

Táro acordou e fitou o lugar com atenção, e eles ouviram um tilintar de prata batendo.

— Quem será que está por ai? – perguntou Jhuan sussurrando.

Maldito sejais vós, maldito sejais todos vós...

Táro os olhou e ordenou com o dedo que ficassem em silêncio.

Prometo a mim que quando retornar será diferente, tolos são eles que acham que vou permitir que me tratem de tal forma. Maldito sejais vós... Não, quando eu voltar não será diferente, será tudo igual como antes, açoites, gritos e pânico... Sim, sim, isso é o que vai acontecer comigo se eu não levar algo de útil a eles. Ervas. Ervas daninha para poções mágicas e proteção. Do que adianta proteção se somos açoitados? – a voz grunhiu – Minhas costas doem, meu peito dói... Seria mais fácil causar dor, isso é certo!

— Quem está ai? – perguntou Táro.

A mata estava escura, e havia pouca luz da fogueira.

Quem está ai? Que pergunta oportuna levando em conta que aqui é meu lugar. Logo rebato a pergunta, quem se atreve a estar aqui?

Somos três, e até onde posso perceber você é apenas um, então não me importa se aqui é o seu lugar, eu perguntei primeiro e gostaria de uma resposta.

Audacioso você, não? Ou extremamente tolo em acreditar que eu esteja sozinho.

Sou um Söllys, e sei que você está sozinho. – dizia caros, enquanto Jhuan esticava seu arco em várias direções tentando encontra o dono da voz e Káros segurava seu cajado, presentes de Madros.

Talvez por que tenha olhado pelo ângulo errado.

Diga vil criatura noturna, quem é você?

Educação não precede a Oncorianos, isso é um fato. No entanto sou Urkatho, e sou um mero escravo de meu mestre.

— Obedece a Netus então...

Netus? – a criatura riu ferozmente — Netus de nada tem haver comigo e os outros, ele nos exilou para longe das terras abençoadas onde agora habita o horror. Eu nada sou do que um mártir a minha real situação.

— Então se mostre a nós, pois não vou aceitar falar com o escuro, já que você tem um corpo. Vamos. Apareça!

Eles ouviram um farfalhar no arbusto á frente, e preparam suas armas contra o que estava vindo. No entanto não era algo que eles tinham que temer. Não. A criatura era pequena e magrela e se rastejava, pois uma de suas pernas parecia quebrada. Tinha dedos longos e esbranquiçados, um enorme nariz, poucos cabelos e corpo liso, quase translúcido. Seus olhos eram grandes, porém, pareciam estar cobertos de névoa.

— Uma criatura do Oncor cega? – disse Jhuan – Bem se explica o porquê Netus o enviou para longe de suas terras amaldiçoadas.

Urkatho grunhiu mais uma vez.

— Posso não ver o que vocês veem, mas sinto o cheiro podre dos três.

— Deve sentir mesmo com um nariz deste tamanho. – os Arknats riram, recolhendo suas armas.

— Zombam de mim, apenas porque tive a infelicidade de ser criado pelo difamador...

— Pode ser, mas que você não nos é uma ameaça e além de tudo padece de beleza, ah sim, isso é um fato. – disse Káros.

— Grandiosos foram os dias que eu passei ao lado do meu senhor. – disse Urkatho — Toda vil criatura que não respondia diretamente a ele era entregue a mim. Eu os emboscava no salão oval do castelo, meio a penumbra e sibiiiilava meus grunhidos aterradores. E eles me temiam. E eles se apavoravam. E então eu os atacava com um golpe na cabeça e fazia questão de deixá-los vivos enquanto devorava suas entranhas! Não julgue minha aparência, jovem Söllys, pois meu nome refere-se ao que sou. Um carniceiro.

Os três ficaram em silêncio após ouvir o que Urkatho tinha falado, e foi quase que inevitável não sentir repulsa daquela criatura. Mas Táro se aproximou e o reverenciou.

— Diga, não tão nobre Urkatho, o que faz perdido longe das terras de trevas?

— Quer saber o porquê fui exilado? Pois bem, eu conto... Fui mandado a essa terra por não agradar mais os olhos de meu mestre. Ele criou um carniceiro pior do que eu. É assim nas terras de Netus, todos somos descartáveis.

— Você mencionou que precisava levar algo para alguém. Existe mais de vocês? – perguntou Káros.

— Certamente que existe. Netus não desiste de criar o ser perfeito a seu modo de ver. Somos aos montes. Centenas que vivem escondidos debaixo da terra.

— E onde ficam? – perguntou Táro.

— Abaixo de seus pés, é claro. – disse Urkatho sorridente — Seria interessante uma visita dos nobres da luz a nossa morada. Vocês não passam de profanadores e estarão amaldiçoados até que meu senhor os declare inocentes.

— Netus?

— Não, Söllys de sangue real tolo. Meu outro senhor... Venham, basta apenas me seguir, a entrada para a terra dos Mártires é logo ali, através daquela árvore morta. Venham.

E a criatura começou a se rastejar por entre a mata, seguindo ao centro dela. Os Arknats pensaram bem sobre o que fazer, já que se tratava de um ser criado por Netus. Mas foi como Táro sugeriu: se ele esta fora dos limites e proteção de Netus, o que ele e os outros podem fazer?

E então o seguiram, temendo o pior, mas preparados para o que fosse acontecer. Ao chegarem à árvore, Urkatho os indicou o caminho. Havia uma fenda larga no tronco.

— Uma passagem secreta... Interessante. – sussurrou Jhuan.

— Existem muitas fendas em troncos de árvores jovens seres da luz. E elas não são secretas, elas são o caminho para um novo lugar.

– O Portal! – sibilou Káros aos amigos, indicando o portal de suas terras para o novo mundo.

E eles atravessarem a fenda. Sentiram certo enjoo, devido a um forte cheiro de carne queimada e apodrecida. Seus pés eram consumidos por uma gosma escura que dificultou um pouco a travessia, mas não tardou até que seus olhos avistassem a frente dezenas de archotes acesos, e casas curvadas feita com madeira podre. A frente um longo caminho que levava até o alto de uma colina, onde a maior de todas as casas estava solitária.

— Vamos, devemos seguir pelo caminho até o castelo de meu senhor. – disse Urkatho.

Conforme andavam, sentiam aquele cheiro podre aumentar, e seus pés pareceram ficar duros devido à gosma que começava a secar. Perceberam então que suas vestes não estavam mais dignas de entrar nos reinos de Madros, e a ânsia e náusea aumentava a cada passo dado. Muitas outras criaturas, semelhantes ou mais horríveis do que Urkatho apareciam nas janelas quebradas dos casebres. Viviam na escuridão de sua morada, e era muito difícil de ver outra criatura naquela ruela, ao menos naquele momento em que eles estavam por ali.

Logo eles estariam de fronte ao portão do castelo do senhor de Urkatho. A verdade, o que a criatura chamava de castelo, aos olhos dos Söllys não passava de um casebre, ou melhor, o maior casebre que existia naquelas terras. Havia apenas uma porta, e não existia janela alguma. Ela parecia pender para o lado direito, e estava cheia de buracos e remendos, a madeira ao qual foi construída estava podre e cheio de um musgo de cor cinza.

— Táro, não sei se é uma boa ideia passar por esta porta! – disse Jhuan.

— Eu sinto muita escuridão lá dentro, desta vez fico com Jhuan. – completou Káros.

Táro sabia o que eles estavam sentindo, pois ele também o sentia. Aquela dor e sensação de angústia que parecia que jamais iria cessar. Mas ele precisava tentar. Lembrou das palavras de Madros ao dizer que Netus já sabia da existência dos Arknats, e que ele os tentaria de todas as formas. Mas ao mesmo tempo, Táro sentia que precisava estar ali. Ele olhou para o céu, ao qual via apenas uma gélida manhã cinza, onde nuvens escuras cobriam o sol e tomou fôlego.

– Nos anuncie Urkatho! – disse ele.

E então a criatura abriu a porta.


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