Guerreiros de Gáler escrita por Marko Koell


Capítulo 11
A partida de Álderi




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– Eu odeio esse lugar e essas criaturas nojentas. – disse Jhuan – Não devíamos ter ouvido Madros, devíamos ter ficado acima e partido para terminados logo essa maldita missão.

– Jhuan, cuidado com suas palavras, não amaldiçoe aquilo que estávamos engajados a fazer, pode nos trazer azar.

– Azar? Por Sölly, você é capaz de inventar cada palavra estranha e sem sentido.

– Quem sabe o motivo de serem criadas não é mesmo? – disse Káros, rindo. O luto ainda estava presente em seus corações, mas estranhamente naquele lugar, parecia ser algo normal.

Os Söllys tentavam falar sobre a revolta do acontecido, embora não conhecessem Hérkai como Táro, o Söllys assassinado era próximo, de terras regidas que mal conheciam, mas ainda sim, era um Söllys.

Mas o fato que realmente os angustiavam era Táro não ter saído ainda do salão de Kaàkur. O que estava acontecendo lá dentro? Qual o motivo para que Táro quisesse ficar sozinho com o príncipe daquelas terras. Eles mal podiam esperar pela saída de Táro, e obviamente sair daquelas terras que tanto lhe faziam mal.

– O tempo parece não passar aqui. – comentou Káros em certo momento, enquanto Jhuan andava para um lado e outro mostrando insatisfação com a demora de Táro.

– Eu já não posso mais aguenta. Eu vou entrar.

– Não! – disse Káros entrando na frente de Jhuan – Vamos esperar mais um pouco.

Eles ouviram então um gemido fraco que foi ganhando força, não era difícil de identificar quem seria. Urkatho chegou bem próximo a eles, se arrastando de forma rápida, seus olhos estavam vidrados na porta do salão de Kaàkur.

– Saiam da frente, criaturas nojentas! – disse ele rispidamente.

– Urkatho, contenha-se! – disse Káros.

– Me conter? – Urkatho deu uma longa e assustadora risada – Algo esta acontecendo lá dentro, vocês não capazes de sentir?

– Não estamos sentindo nada, criatura esquisita.

– Ah Jhuan, como sempre um lorde com suas atitudes e insultos. Já estou me cansando de você, já estou me cansando desse tal Káros, - Urkatho pareceu engasgar para soltar o próximo nome – e Táro... estou enojado.

“O que pensam que são? Só porque vivem nas terras do oeste acham que mandam em tudo? Acham que podem insultar quem bem entender? Não. As coisas não são assim, vocês são das terras do oeste, então devem ficar por lá, e deixar todo o resto para quem é de direito.”

– E pressuponho que seja seu mestre?

– Quem sabe de quem pertence o que, não é mesmo? O que importa é que vocês estão muito longe de casa, e ate a ajuda vir, pode demorar um pouco, ou alguns membros serem arrancados... vai saber o que pode acontecer se meu mestre se cansar de vocês tal qual eu estou cansado.

– Isso é patético, estamos realmente sendo ameaçados por uma criatura que mal consegue se locomover. – disse Jhuan rindo – Não venha com papos sem sentindo, podemos fugir de você andando que mesmo assim você não nos alcançaria.

– Tem certeza disso? – disse Urkatho com um olhar frio – Sempre tive vontade de experimentar carnes iguais a sua. Seria um banquete digno de realeza. Tão clara, enrijecida... vejam esses músculos, hmmm, seria um frenesi eu garanto.

– Estamos realmente tendo essa conversa? – perguntou Káros a Jhuan.

– Já chega! Estou farto deste lugar, farto de Kaàkur, de Táro e alias de tudo isso. Vou embora.

– Mas vai para onde Jhuan, vai andar sozinho por ai?

– Qualquer lugar é melhor do que aqui Káros! – disse Jhuan se afastando.

– Espere por Táro, ele já deve estar terminando...

Urkatho começou a rir de forma compulsiva, fazendo com Jhuan retornasse alguns passos que tinha dado. Jhuan era de fato muito esquentado para um Söllys e Urkatho percebeu isso.

– Fraco! Fraco! Fraco! – dizia a criatura.

– O que você disse? – perguntou ele a Urkatho.

– Você é um fraco Jhuan. Seus amigos já não aguentam mais isso, porque sabem que não podem contar com você e nem seus conhecimentos. É melhor ir embora, antes que eles o coloquem como iscas dos gigantes do sul. – Urkatho olhou para Káros – Vocês vão para o sul? Se forem não esqueçam de dar Jhuan como oferenda, só assim poderão passar pelos portões secretos de Hurnamá. – e então a criatura sorriu e logo depois cuspiu nos pés de Jhuan que partiu pra cima da criatura desembainhando sua espada.

– Já chega!

Era Táro. Ele estava arfando e com lagrimas nos olhos. Caminhou até próximo de Káros cambaleando e tremendo. Seu amigo o segurou pelos ombros preocupado com o estado dele, enquanto Jhuan chegou mais perto e o indagou sobre o que tinha acontecido lá dentro.

– O que aconteceu lá dentro será guardado comigo. Mas foi um mal necessário.

– Mal necessário? Temos que voltar Táro, levar o corpo de Hérkai para as terras de Madros, ele merece um... como podemos chamar isso?

– Adoro funerais, tão tristes e depreciativos... – disse Urkatho a si mesmo.

– Não tem corpo Jhuan. – Táro tomou fôlego – Hérkai descansa nas terras do divino, ele se foi.

– Do que está falando Táro?

Eles ouviram o ranger da porta atrás deles, e dali saiu uma luz com uma silhueta humanoide, tal como eles. Urkatho deu uns passos para trás espantado com o que via e todos, menos Táro, não podiam acreditar no que estavam vendo.

– Vejam a ascensão do novo rei destas Terras.

Era Kaàkur que se aproximava. Aos poucos sua luz foi perdendo intensidade, embora que seu corpo ainda parecesse iluminado. Ele estava alto, mas não como antes, sua pele agora estava clara e sua aparência não dava mais medo. Ele parecia aos olhos dele um Söllys qualquer, com cabelos negros e longos, vestido com uma túnica branca com fios dourados. Seus olhos ainda estavam negros, embora seus dentes e unhas tivessem diminuído drasticamente de tamanhos. Na pouca luz que se fazia nas Terras dos Mártires, Kaàkur ergueu as mãos, emocionado por ter carne enfim, e uma pele tão sedosa quanto aos dos Arknats.

– Como... como isso é possível? – perguntou Jhuan espantado.

– É uma sensação maravilhosa, devo confessar. – disse Kaàkur.

– Você está... está tão parecido com a gente.

– Devo agradecer ao nobre Táro pela ajuda.

Kaàkur ergueu uma das mãos e o livro que Táro havia ganhado de Madros voou de dentro do salão até sua mão, e ele entregou a Táro.

– Não tema, meu amigo. – disse Kaàkur a ele.

– Mestre? O senhor se, - Urkatho engasgou novamente – o senhor está corrompido...

– Não Urkatho, eu estou livre. – disse Kaàkur. Sua voz não causava mais arrepios, embora ainda estivesse grossa e majestosa – E todos que assim desejarem também estarão. No entanto, sinto algo de estranho em meus olhos. Acredito que não posso mais ver o futuro da forma como eu via. É engraçado, vejo dois caminhos a ser traçado e independente de qual caminho a ser escolhido, ambos trazem desgraçada e dor. Eu nunca vi algo assim.

– Kaàkur, diga o que você vê? – perguntou Táro.

O novo mestre daquelas terras olhou para o céu e tentou dizer algo, mas não conseguia. Sua boca parecia amarrada.

– Acho que não posso dizer, pois não cabe a eu dar tal escolha. Mas posso ser claro em dizer que vocês precisam partir o mais breve possível. Continuem pelo norte, até encontrarem uma fenda numa enorme rocha. Mas tenham cuidado, e usem das palavras mais do que suas espadas. E enquanto isso, farei o resgate daqueles que assim quiserem se juntar a mim.

– E quem se opor? - disse Urkatho.

– Vou lamentar.

Por ordens de Kaàkur, os Arknats iriam descansar já do lado de cima, tendo a segurança de uma nova terra. Em conversa até o caminho da fenda da arvore, Kaàkur mencionou que eles não ficariam ali por muito tempo, pois ele sentia que deveriam partir para um lugar mais aberto, claro e alto.

– Quando houve a criação teve um Söllys que perguntou a Madros sobre as terras das montanhas. Madros mencionou que ali ficariam os Lyhas e que bem próximo a terras dos Anjos Dourados, que ainda não tinha sidos criados.

Kaàkur colocou a mão no ombro de Káros.

– Acredito então que sejamos estes tais Anjos Dourados, embora ainda não tenhamos poder suficiente para sair deste local.

– Kaàkur, eu gostaria de fazer um pedido, meu amigo. Quando a...

– Táro, é evidente que estarei lá. Foi você o responsável por me libertar, nada melhor do que retribuir com a minha nova força e meus soldados. Eu sei que ainda tenho muito trabalho até receber a ordem de partir, mas farei tudo o mais rápido possível, para quando chegar tal momento e estiver disposto a atendê-lo. – Kaàkur pensou – Álderi, sim... os Álderianos estarão a sua disposição.

Táro sorriu.

– Sua primeira palavra na linguagem Söllys. Acredito que tenha sido uma boa decisão então.

– Mais do que acertada. Agora vão, e que a graça de meu mais novo senhor cai sobre vós, e tenham cuidado com as armadilhas do profano, pois ele esta pronto para abrir seus portões para este lado. Seus cavalos os aguardam são e salvo acima. E apenas um até breve!

Eles se despediram de Kaàkur e atravessaram a fenda da arvore, que continuava tão nojenta e gosmenta como antes. Mas seus corações foram ficando cada vez menos angustiados, já que estavam deixando aquelas terras. Ao passar pela fenda, esta se fechou e a arvore pareceu torcer o seu tronco, lacrando de vez a passagem.

Era dia. E Sölly estava a pino e parecia ferver a terra em que os Söllys pisavam.

– Acho que alguém está de mau humor hoje. – ironizou Káros olhando para o sol.

Seus cavalos estavam a salvo, tal qual como Kaàkur havia mencionado. Eles se aproximaram e montaram e deram ordem para que os animais seguissem para o norte. Logo eles estavam bem longe do pequeno monte de arvores que aos poucos foi desaparecendo de vista. Mas seus olhos eram poderosos e eles sabiam que o sumiço das arvores não era pela distancia, e sim porque aquela entrada estava deixando de existir.

Táro não falava absolutamente nada, e assim Jhuan e Káros também ficaram mudos, já que não sabiam se obteriam respostas as suas perguntas. Queriam saber como Kaàkur havia sido agraciado pelo poder de Sölly, mas temiam as negativas de Táro. A viagem ao norte estava apenas por começar, e ainda muita coisa estava por vir, mas sentiam pressa e temor de não encontrar os três deuses. Já havia se passado muito tempo desde a partida de Söllaghe, e tempo era algo que estava contra eles.


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Notas finais do capítulo

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