Guerreiros de Gáler escrita por Marko Koell


Capítulo 10
Um coração puro


Notas iniciais do capítulo

O Mapa que eu havia prometido.....



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— Ah, por que choram? – disse Kaàkur na porta, olhando avidamente aquela cena — Por qual motivo as lágrimas escorrem? Ah, a perda é algo realmente lamentável, mas não se preocupem, o que está por vir farão vocês mais fortes do que os demais.

–—Sua criatura imunda. – vociferou Jhuan, virando e desembainhando sua espada, ele correu até Kaàkur para lhe aferir um golpe, mas o senhor das Terras dos Mártires fez um só movimento com a mão e o arremessou longe.

Káros se levantou e fez um movimento com a mão criando magia pura, uma luz branca fora lançada contra Kaàkur que com outro movimento pareceu engolir a luz, transformando-a em escuridão. As toras antes acesas estavam apagadas agora, e a escuridão se fez presente. Apenas Táro não se movimentou.

— Saiam daqui, criaturas desprezíveis. O que pensam? Que apenas porque tem o poder do Divino serão capazes de me vencer? Eu bem disse que não seria capaz de derrotá-los, mas não quer dizer que eu não possa me defender. SAIAM!

— Vão amigos, eu preciso conversar com o senhor Kaàkur a sós. Aguardem-me lá fora.

— Tem certeza Táro?

— A mais absoluta delas. – respondeu Táro a Káros.

Káros e Jhuan se retiraram, fitando ferozmente os olhos de Kaàkur que pareceu lhes dar um leve sorriso. Este deu dois passos a frente, e a porta se fechou.

— Àlantar alieni alar. (Crie luz onde há escuridão) – disse Táro. O livro que ele ganhara de Madros estava aberto e repousando sob o corpo de Herkái, e uma luz emanou do corpo do Söllys, e assim Táro se levantou e fitou Kaàkur. – O que você quer de nós?

— Ontem, o senhor e seus amigos na ânsia indubitável de esclarecimentos sobre a minha pessoa perguntou a mim sobre o significado de meu nome. E eu gostaria, neste momento de dizer a você. Ou melhor, de mostrar o porquê meu pai me exilou de suas terras.

Kaàkur se aproximou um pouco mais, e lhe estendeu a mão, com seus enormes dedos ossudos.

— Toque, e eu lhe mostrarei.

Táro hesitou por um breve momento, mas logo esticou seu braço e tocou nos dedos de Kaàkur, que sorriu e então tudo ficou escuro novamente. Uma explosão vermelha se deu em sua mente e ele abriu os olhos.

Estava no salão do Oncor, um imenso salão de paredes e chão negro liso que podia-se ver o próprio reflexo. Havia dezenas de colunas espalhadas por todos os lugares, e archotes de um fogo azul trepidavam nelas. À frente estavam cinco criaturas altas, esbeltas com armaduras e elmos que lhe cobriam o rosto. Do lado uma mulher, de vestes brancas e curtas, cabelos vermelhos longos e belos olhos azuis. Ela estava ajoelhada com a mão entre as pernas e parecia estar se acariciando. Ao lado dela, um enorme trono de crânios e ossos, mas este trono estava sem um rei.

Táro olhou ao lado, e Kaàkur o olhou.

— Não diga nada meu jovem, apenas observe.

Eles foram caminhando para próximo do trono e então sentiram um tremor vindo do lado de fora.

— Netus está se preparando para abrir os portões de ferro que guardam o Oncor, ele está quase pronto para criar o elo entre este mundo e Gáler. – disse Kaàkur.

Houve outro grande tremor e correntes puderam ser ouvidos atrás deles. O ranger de uma enorme porta de chumbo foi ouvido e por esta porta, passou Netus. Ele era alto, tão esbelto quanto os soldados que ali estavam próximo ao trono. Tinha uma enorme capa, um cajado com o crânio do que seria um bode, seu elmo lhe tampava quase todo o rosto, deixando apenas visível sua enorme boca negra, com dentes afiados e uma língua bifurcada, no topo do elmo havia enormes chifres curvados que iam até próximo à nuca. Suas vestes eram negras e pareciam queimar conforme andava. O cheiro de podridão era evidente quando ele se aproximou dos dois visitantes, mas ele pareceu não dar importância. Após passar por eles, Netus não se sentou no trono, ele se virou e ordenou que alguém entrasse no salão.

Pela porta passou uma enorme criatura, quase idêntica a Kaàkur, só que tinha músculos e muito mais carne. Olhos terríveis amarelo pus, rosto largo e os dentes eram parecidos a de Netus. Vestia uma enorme túnica que arrastava pelo chão.

— Ah sim. – disse Netus. Sua voz era rouca e amedrontadora, e parecia que até sua respiração era irônica, ela, a voz, parecia ganhar forma, conforme o som batia naquelas paredes, e Táro sentia calafrio — Apreciem meus caros. Eu enfim, consegui. Eis aqui perante vocês o meu Capitão. A criatura mais bela e terrível das eras.

Netus se aproximou do Capitão.

— A força de um guerreiro. – disse ele passando sua mão no braço do seu mais novo filho — Esta é sim uma boa criação, não aqueles do passado. Este é diferente, foi bem planejado, avaliado. O melhor dos melhores e sim, ele me será muito útil. Mas ainda lhe falta algo, ainda lhe falta uma coisa. – Netus abriu os braços e sombras saíram de seu corpo, e invadiram o corpo do Capitão, que ganhou enormes asas negras, que se abriram e quase não couberam no salão. Netus sorriu de forma compulsiva — Mas não, ele ainda não está pronto. Ainda precisa de vida. – Ele olhou para a mulher e a chamou — Venha Mirna, venha logo.

Mirna se arrastou até Netus, ainda com as mãos entre a perna.

— O que o senhor deseja?

— Se entregue a ele, faça com que ele sinta o sangue correr em suas veias.

Ela então se aproximou do Capitão e agarrou em sua túnica, se puxando para chegar próximo à cintura da criatura.

— Vá meu filho, prove de sua carne. – Netus sorriu.

— Receio que deva fechar os olhos, meu caro Táro, pois apenas os gritos já o dirão o que virá a seguir.

Táro então se virou, e apreciou o ocorrido com os olhos tapados com as mãos. Mesmo assim ainda podia ouvir os gritos de prazer enquanto o Capitão copulava com a mulher. Dele não se ouvia nenhum suspiro, enquanto ela começou a gritar enquanto seu corpo começava a ser rasgado pelas garras da criatura. E enquanto a mundana forma de amar era praticada, Netus sorria e estava extasiado.

E então o coito acabou, e o Capitão se levantou. Mirna estava estirada no chão, com cortes por todo o corpo e se arrastou para perto de seu mestre, ainda com a mão entre as pernas. Táro tornou a olhar para a cena.

— Mirna?

— Meu senhor... – disse ela com a voz fraca.

— Procrie! – disse Netus.

Mirna começou a gritar e a se debater, e talvez pela primeira vez em sua fútil vida, ela retirou a mão do meio de suas pernas e as colocou na barriga, que começou a crescer de uma forma estranha enquanto pesinhos e mãos ficavam á mostra sob a pele da bela mulher.

— Senhor? – gritou ela em desespero.

— Procrie Mirna, é uma ordem! – disse ele.

Ela já não aguentava de dor, e se virou e agarrou nas vestes de Netus, que se afastou e foi para trás da mulher. Ele se ajoelhou e segurou seu pescoço com umas das mãos. Ouviram-se três fortes gritos, e sete criaturas parecidas com o Capitão rasgaram a barriga da mulher, que ainda estava viva.

— Coma-a! – disse Netus.

— Mas meu senhor.... – suplicou Mirna.

— É uma ordem!

E assim, as sete criaturas comeram aquela que os gerou naqueles poucos minutos, e sombras se criaram e estrondos e açoites. Tão rápido, os sete filhos do Capitão ganharam forma física tal qual o pai, mas não em maestria. Eram menores, no entanto tão cruel quanto.

— Como eu disse, a criação perfeita. – disse Netus — Me tragam todas às mundanas e torpes das mulheres deste reino, precisamos de mais... – disse ele. Os soldados que estavam ao lado do trono então saíram em busca do que foi pedido por Netus, e no salão ficou apenas ele, o Capitão e seus filhos.

— Sinto um cheiro diferente aqui. – disse ele olhando para os lados, até que parou e os fitou — Embora eu não os veja, eu sei que estão aqui. Kaàkur é você? Ah, lógico que é você, quem mais seria se não o vidente do mundo antigo. Embora eu neste momento seja apenas uma visão do passado, eu vejo o futuro. Aprecie a minha mais nova criação, aquilo que você não foi capaz de ser. Superior!

A visão então acabou, e num suspiro sufocante, Táro caiu no chão, ao lado de Herkái. A sua frente estava Kaàkur.

— Ao menos conseguiu entender? – disse ele.

— Acredito que sim, embora seu nome esteja em oncoriano, acredito que posso dizê-lo: o viajante do tempo, este é o significado de seu nome. É por isso que Netus o dispensou. E então me diga o que você viu?

Kaàkur silenciou-se por um tempo antes de falar.

— A vitória de Netus. Foi isso o que eu vi. No entanto a visão ficou obscurecida em certo momento, e por mais que eu tenha o poder de mudar as coisas, eu não consegui ver quem poderia derrotá-lo. Não. Não teremos como vencê-lo, porque Netus é igual ao Divino, todos somos mortais, mas não Netus. Por mais que façamos de tudo ele permanecerá vivo.

— Mas você disse que Netus vencerá.

— Talvez o vencer não seja nesse mundo. Eu vejo muitas coisas em minhas andanças pelo tempo meu jovem.

— E foi por isso que você se rebelou contra ele?

— Não. A minha intenção era de permanecer ao seu lado, mas Netus é quem cria seu próprio destino, isso se há um a ser seguido. Ele jamais permitiria que alguém que tivesse o poder que eu tenho, ficasse ao seu lado, por isso eu sou um de seus fracassos.

— E porque ele não o matou?

— Por que se eu perder minha forma física, eu ganharei o poder de intervir no futuro de qualquer um. E por este motivo eu faço questão de viver, pois tal fardo não é algo que eu queira carregar.

— Mas se você pode fazer, e mudar os caminhos de Netus, por que não o faz?

— É um poder dado a um ser corrompido, acredita que eu simplesmente alteraria o futuro de Netus se não fosse para lucrar com isso?

— Eu não entendo, você tem uma visão diferente a de seu pai, embora aja da mesma maneira, tal qual como fez agora pouco açoitando e arrancando a cabeça daquela criatura. Por que você é desta forma?

— Eu não sei. Apenas sou o que sou, e minha forma não me deixa ver as coisas de outra maneira.

— E se houvesse uma maneira de não se corromper?

— Táro, apenas se eu me corromper eu teria tal poder.

— E então no que você acredita? O que deseja de nós?

— Uma vida ao lado de seu senhor. – disse Kaàkur reverenciando Táro. Ao abrir os braços, uma forte luz se criou no salão, e suas paredes puderam ser vistas. Havia dezenas de desenhos do Sol e da Lua e um ponto ao lado desta, que seria Gáler. Táro ficou encantado.

— Mas você disse que não acreditava no Divino. Indagou suas atitudes.

— Eu nunca disse que não acreditava nele, e sim, eu o indago, mas não como disse, não seria eu o responsável a ter sua ira perante a nós. Eu apenas o compreendo porque sei dos motivos da criação.

— E qual é?

– No momento certo jovem Táro, você saberá.

Táro odiava ouvir aquilo, ele nunca entendera o porquê não ir direto ao ponto, o porquê de sempre tinha que esperar pelas respostas.

— Você deseja a vida acima de tudo, mas sabe que perdera seu poder se assim o fizer.

— Sim, eu sei. Mas agora Netus tem algo muito maior do que meus supostos poderes. O Capitão é sua criação perfeita, com os poderes perfeitos, e como eu disse ontem ele fará de tudo para ganhar esta batalha.

— E com tal poder, como sugere que você tenha a vida que almeja?

— Um coração. Disse Kaàkur baixando a cabeça, e colocando um das mãos no peito.

Por mais que ele não acreditasse no que estava ouvindo, sabia o que tinha que fazer. Kaàkur era jovem também, mas tinha o poder da visão, e provavelmente ele, Káros e Jhuan só estavam vivos por um motivo. Destino? Talvez ele já tivesse sido criado, e talvez Herkái não estivesse ali à toa. Por mais que Kaàkur abominasse a ideia de um ser da luz ter sido morto, ele puniu seu assassino por essência, mas queria mudar, e a mudança viria através de um coração puro. Do coração de um Söllys que havia morrido há pouco tempo. Táro retirou uma adaga que carregava no tornozelo e se virou e de uma só vez aferiu no peito do amigo, arrancando-lhe ainda um coração quente. Levantou e entregou a Kaàkur, que recebeu de bom grado. Assim, o filho de Netus abriu a boca e engoliu o coração. Mas Táro, a partir daquele momento não seria mais o mesmo. Agora, era ele o corrompido.

O silêncio se fez no salão por alguns minutos, até que Kaàkur gritou e caiu de joelhos. Em torno de seu corpo uma forte luz se criou quase cegando Táro, que ainda estava no chão ao lado do corpo de seu amigo Hérkai. Ele se virou enquanto a luz aumentava sua intensidade e o príncipe das Terras dos Mártires urrava de dor. A sua frente, Hérkai se desmanchou aos poucos, virando poeira. Táro sentia seu coração saltar pela boca, e talvez, pela primeira vez estivesse sentindo medo do que estava por vir. O que foi que eu fiz? Pensou ele repetidamente vezes, até que a luz se apagou e Táro ficou encantado com o que viu.


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