Our Peace, Their War escrita por somedayrobsten


Capítulo 15
Capítulo XV


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal!
Como estão?
Demorei mas voltei! Preparem os lencinhos, esse capítulo tá com um final de matar!!!!
Vejo vocês nas notas finais.



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“Mas como causar pode em seu favor, nos corações humanos amizade, se tão contrário a si é o mesmo amor?”

(Luís de Camões)

2 semanas depois

― Nós todos sentiremos falta daquilo que tivemos um dia. Estamos destruídos... por enquanto... – Juno falou enquanto conversava com Bella.

― Acho que não verei mais minha mãe, meu pai e meu irmão Jacob, que tem quase quatro aninhos agora.

Juno olhou ao redor sentado na madeira onde Isabella se deitava para dormir. Eles dividiam a “cama”, afinal, por pior que fosse a situação, o que Juno não merecia era o chão. Não merecia dormir no chão.

― Perdi minha mulher e meus dois filhos. Hans tinha apenas cinco para seis anos. Já Eva é mais velha, tem 10 para 11. Espero encontra-los vivos, espero encontra-los bem. De alguma maneira encontra-los, é só o que preciso. – Ele olhou os nós os dedos de Isabella. O silêncio preencheu o porão escuro e fétido devido à estranha umidade.

Quando se tratava desse assunto, apesar de querer ouvir Juno, ouvir o que ele sentia e apoiá-lo, Bella não podia evitar se sentir deslocada. Sentia-se, às vezes, até mesmo culpada. Mas não era algo que ela pudesse mudar ou impedir.

― Qual foi a última coisa que você disse? – Bella perguntou. – Qual foi a última coisa que você disse a eles? – ela ergueu os olhos pra encontrar os olhos de Juno, transbordando em expectativa.

Mas de repente, toda a expectativa se transformou em dor. Ela podia sentir isso. Podia sentir a dor das imagens atravessando a mente dele. Porque isso acontecia com ela também.

― A noite em que fomos pegos foi quando Sarah me disse que estava esperando nosso terceiro filho. Eu não fazia nem ideia. Eu não estava nem esperando por uma notícia dessas. Estávamos juntos em frente a lareira. Eva e Hans estavam brincando. Estávamos felizes. Eu a abracei. Disse que a amava. Deixei as lágrimas escorrerem pelo meu rosto enquanto via o lindo sorriso de minha amada Sarah. As crianças estavam radiantes de expectativa... Até que a SS invadiu... – ele engoliu em seco. Bella ia se manifestar, dizer que ele não precisava fazer aquilo, mas ele continuou. – Dois oficiais arrancaram Eva e Hans de meus braços e os puxaram até a porta. Eles estavam com as mãos estendidas, gritavam, gritavam muito. Papai e mamãe. Papai! Mamãe! – ele repetiu, um tom transtornado em sua voz.

Ele encarou o vazio.

Um vazio preenchido pela memória dolorosa. Por gritos, botas pisando o chão e ecoando como grandes bolas de chumbo.

― Eu gritei que os amava. Que tudo ia ficar bem. Disse a eles algo que não podia cumprir, mas disse que amava-os imensamente. E isso vou cumprir até o meu último suspiro...  Sarah estava caída, agarrando minhas pernas. Em desespero. Quando levaram Hans e Eva, levaram a parte mais importante dela. Levaram a maior preciosidade de sua vida. Ela fincava as unhas em minha perna e quando fiz menção de abaixar pra abraça-la, um dos soldados com olhos azuis simplesmente me empurrou. Eu caí pra trás e bati a cabeça em uma estante. Minha visão ficou turva, mas ainda vi enquanto puxaram Sarah pelos cabelos em ordem de levantá-la.
“Eu te amo, Edgar!” eu ouvi entre os soluços e gritos. Parecia distante, mas ela estava bem ali.
“Eu também amo você, Sarah.” Foi o que sussurrei pra ela.

Edgar juntou as pernas ao peito, enquanto os sons desapareciam de sua mente. Ou pelo menos, era o que ele dizia a si mesmo. Que os sons iam desaparecer.

― Eu sei como você se sente. Sei como Sarah se sentiu. Eu estava segurando meu irmão em meus braços e um oficial arrancou-o de mim. Foi como se tivessem arrancado meu coração com os dentes. – ela se aproximou de Edgar e o abraçou.

― Apesar de tudo isso, eu não me sinto tão perdido e tão sozinho, Bella. Encontrei você. Sei que precisamos um do outro, sei que amamos quem amamos e que entendemos o sentimento. Eu mal a conheço, mas sinto que estamos fortemente ligados. – ele tocou as bochechas pálidas de Bella.

Ela concordou. 

― Não são os pontos fortes que unem as pessoas, Edgar. São os pontos fracos. – ele olhou nos olhos de Bella, sabendo que estava seguro ali. Que ela o queria por perto. Que eles iam lutar aquilo juntos.

― Eu sei que isso não é amor. Amor é o que sinto por Sarah e você por Edward. Mas estamos feridos. Rute não está conosco e sem um ao outro não temos ninguém. Mas agora eu tenho você. – ele a abraçou.

Ela permaneceu em seu silêncio o que fazia crescer um tremendo arrependimento em Edgar-Juno.

― Bells, olha... ah, me desculpe, eu não...

― Juno, acalme-se. Não faz sentido desculpar-se. Eu sei o que você quis dizer. Apesar de ter prego-me um belo espanto, foi uma grande surpresa. Me sinto da mesma forma. Sei sua dor. Posso senti-la como se fosse a dor que carrego. Estamos ligados por este fio que é alma, coração, sentimentos feridos e a vontade imensa de viver. E isso vai acabar. Quando acabar, você será feliz com Sarah.

― E você com Edward.

Bella balançou a cabeça levemente de um lado para o outro, em negativa. Havia um sorriso regado de mágoa em seus lábios.

― Claro que vai, Bella! – ele insistiu.

― O problema é maior que isso, Juno. Mais tarde eu lhe conto. Encontre-me entre os arbustos às oito horas. – ela sorriu para ele, que parecia pouco contente. – Agora preciso fazer o jantar, se atraso-me dez segundos sequer, posso esperar punições de Mike e Rute.

Bella levantou-se e Edgar também. Ele assentiu e deu-lhe um suave beijo entre os cabelos, no alto da cabeça.

― Ah, mais uma coisa! – disse Bella em direção às escadas. – Não atrase seus compromissos e tarefas aqui. Mike e Rute certamente não poupam ninguém, nem a própria raça. Se é que essa história de raça pode ser real. Pra mim existem pessoas boas e mas, mas não vem ao caso. – ela revirou os olhos, o que fez Edgar esboçar um sorriso e foi em direção à cozinha.

[...]

― Não precisamos fazer uma grande festa, Irina. Você mesma sabe que nem poderíamos relaxar do trabalho pra fazer isso. – Edward andava de um lado para o outro, o copo de uísque na mão, enquanto tentava inutilmente convencer a futura esposa de que não era necessária uma festança.

Sentou-se no sofá de sua sala e encarou a lareira.

O que ele não podia dizer, no entanto, era para ela largar aquelas coisas todas e cair em si de que um casamento falso toma muito dinheiro, e que infelizmente não podiam comprar coisas com dinheiro falso. Porque ele não estava realmente propenso a desperdiçar seu dinheiro.

Mas o que não fazemos por amor? O que não fazemos para garantir que, por mais distante que a pessoa que amamos esteja, manteremos a segurança dela?

― Se fizermos uma festa “pequena” – debochou a mulher – como você quer, todos saberão que é tudo uma farsa. Que o casamento é um suborno, embora eu goste de você. Ame você com o meu coração e minha alma.

― Você não sabe nada sobre o amor, Irina.

Ela fez sinal pra ele ficar quieto e levantou-se, indo em direção a ele. Lábios famintos atacando os de Edward com fúria. O sentimento de posse que irradiava através dos poros de Irina era incômodo. Ela realmente acreditava que podia controlar Edward, e até certo ponto, era verdade.

Dizem que se alguém consegue atingir seu ponto fraco, então a pessoa pode atingir você de qualquer maneira. Qualquer golpe em seu ponto fraco e tudo que você levou tempo pra construir é arruinado.

Deixando o rosto de Edward manchado pela tinta vermelha em seus lábios, Irina levantou-se do colo dele.

― Uh, eu entendo. Você é apenas um homem... – olhou para Edward,  enojado e excitado, tentando evitar. ― Mas voltando à nossa festa. Tem de ser uma coisa grande, Edward!

Cansado e indisposto a discutir, ele assentiu.

― Tudo bem, Irina. Vá em frente. Já vi que isso é o mais importante. O exibicionismo, a ostentação. O show.

― Sabe, nada disso é verdade. – ele gesticulou ao redor entre ele e Irina. – Mas o amor vem junto com o sacrifício. Estou me sacrificando por Bella! – ele bateu com o punho na mesa de centro.

Ele levantou-se, colocou mais uma dose de uísque em seu copo e subiu as escadas. Irina engoliu em seco e sentou-se no sofá, voltando-se para o caderno em suas mãos, anotando diversos nomes a quem preparar convites.

Às duras penas, Irina descobriria que o silêncio é sempre o melhor meio de lidar com as coisas. Mas até descobrir...

[...]

Após servir o jantar para Mike e seus pais, Bella foi encontrar-se com Juno. Havia encontrado em Juno, apesar de tudo, uma espécie nova de amor. Um amor que ela não tinha experimentado antes. Ela descobriu que o amor pode ser mais do que a família ou Edward. Que não é simples, fácil ou exclusivista. Você pode amar uma pessoa com o fogo inapagável sustentado pela paixão. Mas existe o amor brando e simples, onde a alma entra em contato em uma profundidade inimaginável.

Você não precisa esperar dias, meses, anos. Você ama. Porque existe algo que conecta você àquela pessoa.

Afinal, o que é o amor?

― Bella! Aí está você. – Juno sorriu. A lua iluminava a silhueta da moça enquanto a tristeza em suas feições era estarrecedora.

Mas ela estava feliz. Juno não precisava ver toda aquela tristeza.

― É tudo uma questão de tempo por aqui, Edgar.

Ela se sentou junto a ele entre as folhagens, entregou para ele um pequeno prato com sobras do jantar, e apoiou a cabeça em seu ombro.

― Estive pensando em como são as coisas... Será que somos tão amaldiçoados assim? – ele entrelaçou os dedos entre os dela. Ela olhou para ele, a luz da lua iluminando a interrogação em seus olhos. – Nós. Eu e você. Dois judeus. Duas pessoas carregando suas lutas nas costas como um enorme fardo. Mas uma mão estranha do destino nos escolheu e viemos parar nas mãos de um soldado. Não é bom, mas estamos vivos... por enquanto, claro. Não é sorte, mas é melhor.

― Talvez seja por isso que não me aborreço tanto. – mentiu. – Mas não consigo parar de pensar em minha família e se eu tivesse que morrer por eles, ah, Edgar! Se eu tivesse que morrer para eles viverem...

O silêncio que se seguiu preencheu a frase. Estar vivo parecia muito com estar morto neste caso, mas dentro deles havia um grito dizendo para que permanecessem fortes.

Algumas lágrimas escorreram pelo rosto de Isabella em direção ao ombro de Edgar que terminava de comer. Com o polegar, ele limpou as lágrimas que escorriam dos olhos da moça e respirou fundo.

Ele depositou um beijo nos cabelos de Bella, que não cheiravam essencialmente bem. A água era fria, e eles evitavam banhos o máximo possível.

Ela ergueu os olhos.

― Nós vamos enfrentar isso juntos, não vamos?

― Nós vamos, Bells. E nós vamos sair ilesos. – ele fez carinho em seus cabelos e aproximou o rosto do dela. – Obrigada por estar por aqui, Isabella. Sem você eu não saberia o que fazer. Sem você aqui eu não teria forças para... – ela encostou os lábios nos dele. Suavemente. Calando-o. Fazendo daquele momento algo pra se guardar na memória.

O beijo se transformou em vários, a demonstração da recíproca afetiva que os seres humanos tanto precisam.

― Você já tem a força. Você é a força. E eu vou estar bem aqui ao seu lado quando vencermos e quando passarmos por isso. – ele deu-lhe um beijo novamente.

De repente, o som de um tambor de revólver M1917 sendo girado os assustou. O gatilho estava puxado até o seu limite antes do disparo.

Mike Newton se aproximou dos dois e puxou a gola do vestido que a mola usava.

― Vocês realmente acham que vão se safar disso? Que vão sair vivos e inteiros dessa? Ratinha judia... acorde, você sabe que ele não vem busca-la. Porque ele não tem a menor ideia de onde você esteja. – o cheiro de bebida alcoólica emanava de cada poro de Mike.

E tudo que Isabella esperava era a chance pegar aquele revólver e enfiar uma bala no crânio daquele monstro.

Ele puxou o rosto de Isabella para mais perto e deu-lhe um beijo. Um beijo rude, nojento. Ele a pressionava contra seu rosto, e Edgar não hesitou por nenhum segundo antes que Mike pudesse causar mais mal pra Isabella e empurrou-o ao chão.

Ele disparava socos e mais socos no rosto de Mike, todo o seu peso concentrado no peito do homem que tentava empurrar o rosto de Edgar para longe. Ele não queria soltar a arma. Não podia.

Isabella gritava, queria que Edgar deixasse Mike o mais desfigurado possível. Queria fugir. Queria fugir! Fugir! Fugir...

O soldado desferiu um soco no rosto de Edgar, um soco tão preciso, que atordoado, parou com os golpes, dando a Mike sua tão esperada chance. Ele o derrubou para o lado, sentou-se em seu peito, exatamente como ele o fizera, e encarou-o.

Encarou-o e deu outro soco.

― Eu poderia ficar aqui e bater na sua cara até o dia raiar. Mas eu não vou. – ele apontou a arma entre as sobrancelhas de Edgar. Isabella gritou, dessa vez pedindo para parar.

― Pare! Pare! Não o mate. Por favor. Ele tem uma família, ele tem pessoas. Deixe-o em paz e ele nunca mais vai fazer nada pra você, Herr Mike. Por favor! Não o mate! – Mike encarou o pânico de Isabella. O sorriso malicioso que preencheu o rosto dele no minuto seguinte fez Isabella querer vomitar.

Vomitar sua sopa de restos de casca de batata e sobras do jantar.

Sem aviso, Mike voltou a olhar pra Edgar, que estava estarrecido no choque. Mike fechou os olhos como quem sente prazer e, sem contagem, sem hesitação, apertou o gatilho. Ele viu a vida esvaindo dos olhos de Edgar. Levantou-se e foi em direção à Isabella.

― Você sabe que eu poderia matar você aqui e agora. – ele disse, tocando as bochechas pálidas de Bella com as costas da mão. – Mas eu não vou. Você merece ficar viva para poder ver o que fez com esse homem. Pobre homem.

Ele encostou o cano do revólver, ainda quente, no braço de Isabella, deixando uma marca irreconhecível no breu. Ela chorou. Chorou alto e soluçou. Correu em direção ao corpo de Edgar, e enquanto o sangue escorria por sua testa, a única coisa que ela queria, era poder trazê-lo de volta.

Mike observou a miséria em que a moça se encontrava, e com um sorriso, entrou em casa.

Enquanto o corpo de um homem amado, de um pai, de um marido e de um herói que deu sua vida parar proteger alguém especial tinha agora sua temperatura caindo e caindo, até que não houvesse o mínimo de calor naquele corpo para provar que ali existira uma vida.

Uma linda vida.


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Notas finais do capítulo

E aíiiii gente? O que acharam?
Me contem!
Comentem, recomendem!
Demorei duas semaninhas mas voltei! :))
Obrigada por todo o apoio nos comentários do capítulo anterior! Vocês são muito importantes pra mim!
Por falar nisso, entrem no meu grupo



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