Are You Mine? escrita por Clove Flor


Capítulo 19
Capítulo 17


Notas iniciais do capítulo

Poxa, se passou 1 mês? Pensei que fosse bem menos!
Mas, para compensar, fiz um super capítulo! Eu espero que gostem dele, é bem dramático, mas... Ah, vocês vão ver.
Estou escrevendo esse cap faz umas duas semanas! Demorei bastante porque tive 4 trabalhos para esses dias, e todos incluíam grupos grandes e apresentações (bleh). Mas já passou!

Espero muito que vocês possam me dizer o que acharam, no que devo melhorar e um monte de coisa!
BEIJOS!!!! :*



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/451064/chapter/19

"I think we deserve a soft epilogue, my love
We are good people and we've
suffered enough."

"Eu acho que merecemos um suave epílogo, meu amor
nós somos boas pessoas e já sofremos o bastante."

Point of View – Cato

Meu pé afunda tão forte no acelerador que sinto o carro alçando voo.

Eu só estou sofrendo por antecedência – claro que é só isso. Clove é desnaturada e irracional, mas nunca, nunca sequer encostaria um pequeno alfinete em sua pele com segundas intenções. Ela é arrogante e espertona, mas é a Clove, é a minha garota, e eu sei que tudo não passa de um mal entendido. Eu vou entrar em sua casa e ela vai ficar desapontada por eu não ter levado os doces dos quais gosta, porque estive muito ocupado pensando que ela poderia estar - - ferida, ferida, essa é a palavra certa, porque nenhuma outra palavra deveria ecoar em minha mente.

Eu estou sofrendo por antecedência e nenhum ser humano deveria se sentir assim sem ter a certeza do que está acontecendo ao seu redor.

Mas a incerteza que me move e é por isso que, um minuto e sete segundos depois, quase esqueço de puxar o freio de mão quando chego em sua casa no Bairro Dois.

Porta. A porta, ela ta fechada, onde diabos ela guardava a chave? Onde? Onde, céus, ela guardava em algum lugar essa porra de chave e... caixa! Caixa de correio, achei, achei, agora abra, por favor abra, porque essa merda não gira? Foi, foi, eu consegui.

─ Clove? – grito do hall de entrada, mas não recebo resposta. Consigo enxergar o seu quarto daqui debaixo através das grades que formam a varanda interna do segundo andar. Subo as escadas correndo com o coração na garganta, e respiro fundo quando passo pela batente da inexistente porta de seu quarto e ouço o chuveiro ligado. Ela só está tomando banho, não está - - ferida. Clove está bem, lavando toda a tristeza do seu pequeno corpo.

Sento em sua cama desarrumada, tentando me acalmar.

“Me desculpa, Cato. Eu sinto tanto.”

Tem algo errado.

Olho ao redor, tentando ver se encontro algo de anormal em um quarto de uma garota. As coisas são bagunçadas, mas continua sendo o canto dela, então não posso julgá-la. Ela tem coisas piores pra se preocupar do que arrumar sua escrivaninha.

Tem algo errado.

Clove possui um criado-mudo ao lado de sua cama estreita. A pequena gaveta está entreaberta e posso ver algo reluzir de dentro dela.

Meu coração está tão acelerado quando abro a gaveta que penso na possibilidade de ter um ataque cardíaco. É um canivete – um canivete manchado de sangue seco ─ que brilha com a luz do ambiente.

Clove se corta?

Clove...?

Não.

Já estou com o celular na mão quando soco a porta do banheiro dela, com muita força e várias vezes. Estou tremendo tanto, minhas pernas estão bambas e sinto que vou cair quando não há uma resposta. Quando não ouço a sua voz.

É quando começo a gritar.

─ Clove?! Clove, você está ai? Abra essa porta, Clove!

Está tudo silencioso quando deixo um espaço de poucos segundos entre os gritos e as batidas para tentar ouvir algum ruído dela, mas não há nada, não consigo escutar sua doce voz mandando eu calar a minha boca e parar com a gritaria.

Me afasto e observo a madeira oca que é construída a porta. Ela abre para dentro, então conseguirei arrombá-la com alguns chutes. A moldura é a parte mais fraca – posso ver o material de baixa qualidade ─ então faço com que o meu calcanhar se choque com toda a força embaixo da maçaneta. Mais uma vez - - a moldura está cedendo. - - mais uma vez. Mais uma vez.

Consigo.

Não estou mais gritando – estou mudo.

Estou mudo quando vejo a garota mais bonita do mundo sentada no piso frio do banheiro, com a cabeça apoiada no próprio ombro e olhos fechados.

O tempo para ao meu redor.

Tudo está congelado e devagar.

Eu respiro, mas não entendo como. Tem vômito ao lado do quadril dela e comprimidos espalhados pelo chão.

Eu não respiro.

O celular em minha mão está tremendo muito quando a emergência atende. Eu tenho que repetir duas vezes qual é o problema e o endereço para que eles entendam e, logo em seguida, me submetem a um monte de procedimentos para que eu siga enquanto eles não chegam.

Lágrimas grossas escorrem pelo meu rosto e tenho que fungar para que eu não fique com as mãos melecadas. Me aproximo de Clove, porque pediram para que eu certificasse se ela está viva ou não e que eu tente, por favor, tente saber se ela está respirando. Estou tremendo e com muita dor de cabeça, porque tenho medo de que ela não esteja viva. Tenho medo de estar encarando um cadáver - - o de Clove.

Demoradamente, vejo o peito dela subindo – mas está muito devagar, não está captando tanto oxigênio necessário.

Eu me ergo e entro no box de seu banheiro, desligando o chuveiro barulhento - - que molha parcialmente minha blusa. A água está quente e parece arder quando entra em contato com minha pele gelada.

Que remédios a garota ingeriu?, eles perguntam, ainda na linha, e eu tento encontrar os frascos com os malditos comprimidos. Soluço, dizendo que uma mistura entre aspirinas e algo como anti-inflamatórios, mas minha voz está muito pesada e rouca – não consigo respirar com Clove inconsciente do meu lado.

Pego os potes brancos de remédios e guardo nos bolsos da minha bermuda, para ajudar os médicos a saberem o que fazer - porque eu estou desesperado demais para saber o que fazer -.

Eu tento avisar que ela vomitou algo antes de desmaiar, mas ninguém me entende e calma garoto, qual o seu nome mesmo? Cato, olha só Cato, não se desespere agora porque já estamos a caminho. Mantenha-se na linha, porque estamos chegando e tudo vai ficar bem, porque você está fazendo um ótimo trabalho.

Mas não estou fazendo merda nenhuma de ótimo trabalho, porque eu a deixei desse modo – tudo começou quando eu bebi tanto naquela festa na época em que namorávamos e a traí. Céus, quem no mundo pensaria sequer em trair Clove? Ela era perfeita e eu a quebrei. Não importa o quanto eu tente reconquistá-la, não mereço o amor dela.

O pescoço da minha garota está molhado de suor. Não me importo com o cheiro de vômito da sua roupa porque, quando ouço a sirene de uma ambulância um tanto longe, volto a chorar com força.

Consigo pegá-la no colo mesmo com as pernas fracas e doloridas e desço as escadas com ela, tentando evitar a perda de tempo que seria fazer com que os médicos tivessem que ir até o banheiro do segundo andar para nos encontrarem.

Estou com tanto medo.

Tanto medo de perdê-la.

Eu não posso imaginar um mundo sem ela. Não posso imaginar a minha vida sem ela.

É por isso que estou soluçando e chorando e morrendo junto quando a ambulância estaciona na frente do meu carro, os socorristas correndo para pegar a maca. Não quero que eles a tirem dos meus braços, não quero, mas ela precisa deitar nessa cama portátil que parece ser tão desconfortável para seu corpo. Quero dizer que ela merece mais que esse colchonete verde cheio de tiras de segurança – que seu corpo deveria estar deitado sobre um colchão macio e tecidos que a façam se sentir bem. Mas ninguém está se importando com o conforto.

Eu consigo dizer em meio de soluços e engasgos que vou junto, e tenho a consciência de trancar rapidamente a porta da frente da casa de Clove antes de entrar pelos fundos da ambulância.

Estou chorando. Estou desesperado e nervoso enquanto três dos médicos nos acompanham e tentam me fazer perguntas. Eles já estão examinando a Clove, erguendo as pálpebras fechadas dela e apontando uma lanterna em sua pupila ─ ela está reagindo, eles dizem, o que é bom. Ela tem chances de ficar bem, mas nos diga, garoto, o que houve?

─ E-ela estava passa-ando por uns - - uns problemas, e e-eu ia visitá-la t-tod-dos os dias, porque - - você sabe, ela n-não estava indo na esc-cola - - e eu recebi uma men-sagem de voz d-dela ped-dindo desculpas, e achei tão estra-tranho que corri pra ver se ela esta-tava bem. ─ respiro, mas meu nariz está trancado.

Quando chegamos ao hospital do Bairro Cinco, os paramédicos retiram a maca com Clove e percebo que ela está com máscara respiratória. Consigo descer da ambulância, desesperado para poder segui-los, mas me barram assim que passo pelas portas metálicas do lugar.

Desculpe, eles pedem, mas agora o trabalho é com a gente. Se sente um pouco, respire fundo, tome uma água.

Eu já a perdi de vista, mas continuo tentando encontrá-la nos corredores largos e compridos que se estendem do hall de entrada. Minhas mãos tremem quando se infiltram nos meus bolsos, retirando os frascos que peguei da casa dela.

─ F-foi isso que e-ela ingeriu. – informei, dando para essas pessoas de jaleco que não conheço os potes.

─ Pode ter certeza que isso será muito necessário, obrigada. – uma mulher que segura meu braço diz, sorrindo. ─ O que você é dela, querido?

Eu quero que eles parem de ser tão delicados e confiantes comigo, porque eu não preciso do conforto deles agora, eu preciso de Clove. Mas o que sou dela? Amigo? Namorado? Nossa, como ela ficaria irritada se eu dissesse à essas pessoas que sou seu namorado. Clove provavelmente me daria um soco no estômago, e depois pediria desculpas, porque não foi realmente a intenção dela me machucar - - então jogaria na minha cara todas as vezes que eu a machuquei (e é desse modo que ela realmente me fere).

─ A-amigo. – respondo, e então eles perguntam se eu sei o telefone dos pais de Clove, que precisam entrar em contato, e eu tenho (por sorte) salvo o número da mãe dela em meu celular.

Eles me levam para a sala de esperas e eu torno a chorar novamente.

[...]

A mãe de Clove está desesperada do meu lado. Ela não conseguiu se sentar ainda e veio correndo do seu trabalho pra cá. Tentei ligar para Katniss e Annie, mas nenhuma delas atendeu. Consegui falar com Peeta ─ um amigo que joga futebol comigo no colégio e que, de uns tempos pra cá, aparece perto da Everdeen ─ e ele diz que vai tentar entrar em contato com elas e que eu devo me acalmar, porque tudo vai dar certo.

Não vai dar certo. Nada mais vai dar certo porque Clove tentou se matar. E ela pode estar morta nesse exato momento e eu não sei, porque os médicos querem me fazer sofrer e não vêm me contar como ela está e estou ficando louco, louco, louco.

Não entendo, pensei que Clove estava realmente se recuperando. Ela ganhou de mim no Mario Kart e ficou tão feliz, rindo e elétrica. Achei mesmo que, semana que vem, ela já poderia voltar à escola. Poderia seguir sua vida feliz.

Tem coisas que ela me esconde.

Céus, será que eu aguentaria mais segredos sujos da garota que eu mais amo? Porque eu a amo, a amo desesperadamente e não quero nunca perdê-la - - para a morte e para seus segredos.

─ Sally Coleman? – alguém chama e, mesmo não sendo meu nome, me ergo da cadeira. Há um médico com jaleco verde na porta da sala. A mãe de Clove logo corre na direção dele e eu sofro, sofro ao tentar procurar qualquer sinal de felicidade ou tristeza no rosto do homem.

─ Sou eu, sou eu, sou eu... – ela chora. Me aproximo dos dois com minhas pernas tremendo.

─ Pode respirar tranquila, mãe ─ ele a conforta, colocando a mão no ombro de Sally. ─ salvamos sua filha.

Aaah.

Algo cresce dentro de mim, subindo pelo peito, explodindo em minha garganta e ofego, aliviado. Todo o ar que eu tinha prendido até agora, toda a tensão, sai do meu corpo e estou totalmente cansado.

Clove está bem. Clove está salva. Clove não morreu, céus, ela não morreu, ela está viva, está bem, eu ainda vou vê-la! Meu Deus, caramba, obrigado, ah, Clove...! Puta susto!

Quando percebo, estou chorando pela terceira vez em quatro horas. Que alívio.

─ A paciente está um tanto agitada, mas você já pode vê-la. Fizemos uma lavagem gástrica e utilizamos alguns medicamentos que impedem que a droga seja absorvida. Foi ótimo que o Sr Overwhill tenha trazido os comprimidos que a paciente ingeriu. ─ explica o médico e então sorri. ─ Apenas uma pessoa por vez, por favor. – eu olho para a Sra. Coleman esperançoso. Céus, eu preciso ir primeiro, não vou aguentar esperar.

─ Tudo bem, Cato, pode ir agora que sei que Clove está bem... – ela diz e eu respiro. Então seus braços magros me abraçam. ─ Você a salvou. Você salvou minha filha, Cato, e eu sou tão grata por isso. Obrigada, obrigada.

Enquanto ando pelo corredor comprido indicado por uma enfermeira, o médico e a mãe de Clove começam a conversar sobre os próximos procedimentos - - como tratamento psicológico e uma pequena internação de dois dias para se certificarem que está tudo bem - -. Meu coração está acelerado e eu consigo ouvir a pulsação na ponta das minhas orelhas, mas continuo procurando o quarto 7-2-6.

Os números parecem saltar da porta branca quando encontro. Eu os encaro e respiro fundo, entrando no pequeno cômodo. A última vez que entrei em um hospital foi aos doze anos, quando quebrei um braço, mas nunca mais voltei e não me lembrava de como era estar internado.

Os cabelos escuros dela estão espalhados pelo travesseiro verde.

Ela tem os olhos cinzentos vermelhos e o nariz também.

Sua pele está tão pálida que consigo ver bem mais nitidamente suas sardas e uma veia azulada em sua bochecha.

Clove me encara, mas não parece feliz. Parece me odiar.

─ Eu não queria estar aqui. – ela sussurra, e sua voz está tão fraca. Me aproximo de sua cama, com cuidado, como se ela fosse um animal selvagem - - porque tenho medo de que ela me trate como uma presa. ─ Cato,eu realmente não queria estar aqui.

─ Está tudo bem ─ digo, tentando transmitir calma. Quero tocar em seu rosto, quero segurar sua mão e carregar seu pequeno corpo para fora dessas paredes opacas e desses aparelhos médicos. ─ logo você vai voltar para casa, segura... - -

─ Não, Cato! – sua voz está alta, estridente e me assusto. ─ Cato, eu não queria estar viva! Não quero voltar pra casa, não quero ver Annie e Katniss e papai e você-ê-ê...

Quando Clove começa a soluçar, não resisto e me aproximo, sentando ao seu lado e puxando sua cabeça para meu ombro. Ela deita nele e abraça minha cintura, chorando forte, alto e tremendo em meus braços.

Mas está viva.

─ Por que, por que você não me deixou morrer, Cato?

Quero dizer a ela tudo o que sinto, porque é o que Clove precisa. Ela precisa de amor, carinho e atenção, porque sua vida já parou de ser feliz faz muito, muito tempo.

Eu a tenho nos meus braços.

E ela está viva, respirando e chorando.

Eu poderia estar tocando em um corpo morto agora mesmo, mas não estou, porque a encontrei. Clove poderia estar morta.

Mas não está.

─ Porque eu te amo – sussurro em sua têmpora, com a voz rasgada. ─ e não quero te perder.

Ela está soluçando em meu pescoço, seu corpo tremendo. Sinto sua mão sobre o meu coração, que martela forte no meu peito. Ela me ouviu? Tenho quase certeza de que sim, mas quando espero por sua resposta, fico duvidoso.

─ Egoísta. – Clove murmura e solto uma risada, abraçando seu corpo com mais força.

─ Podemos falar sobre isso depois. – aviso, querendo deixar claro que teríamos que ter um depois. ─ Mas agora sua mãe deve estar louca para te ver.

Ela geme, escondendo seu rosto no meu ombro.

─ Eu havia me esquecido do mundo.

─ Egoísta. – retruco e sorrio.

─ Não quero vê-la, Cato. – ouço-a respirando forte e chorando. ─ Não quero mais...

Shhh... – tento a acalmar e me ergo da cama do hospital, afastando seus braços de mim e olhando em seus olhos inchados e molhados. ─ Você tem que ser forte. Ok?

Clove aquiesceu, apertando os lábios pálidos.

Antes que eu conseguisse abrir a porta do seu quarto, ela me chama.

─ Obrigada. Obrigada.

[...]

Katniss está abraçada em Peeta, chorando e murmurando alguma história que eu não consigo entender. Finnick está sentado em uma das cadeiras almofadadas e se levanta quando me vê entrando na sala de espera. Estão todos assustados.

A Sra. Coleman já foi para o quarto dela e o médico teve de ir para uma cirurgia de emergência.

Há mais pessoas no local esperando notícias dos parentes/amigos/conhecidos que estão passando por algum risco. A todo o momento essas coisas acontecem, mas nunca pensamos que vai acontecer conosco.

Quando Finnick abraça minhas costas com força, estou rindo de alívio e chorando de nervoso.

Tudo está dando certo ou desmoronando?

Vamos conseguir mantê-la em pé? Porque, sozinho, não vou. Já vi o resultado.

Vou cuidar dela e, então, lhe dar motivos para viver.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Are You Mine?" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.