Are You Mine? escrita por Clove Flor


Capítulo 18
Capítulo 16


Notas iniciais do capítulo

Pensei em excluir a fanfic em certo ponto, mas não. Não.
Me perdoem. São as mesmas desculpas: provas. E minha vó veio passar 15 dias aqui comigo. Eu não a via faziam 9 meses, então minha prioridade era outra no momento, entendem?
Mas obrigada por continuarem lendo. Acho o capítulo um tanto pesado, mas suportável.
Beijão.
Ah! E foi meu aniversário no dia 15! ♥



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Point of View – Katniss

São 3 horas e 17 minutos da madrugada quando acordo gritando. Rose logo se deita ao meu lado, sonolenta, e começa a cantar baixinho a música da campina para eu me acalmar. Respiro fundo.

No sonho, um dos perseguidores é o meu pai. Ele repete que eu lhe prometi algo – não chega a falar o quê. Então me espanca.

Choro – não por causa do pesadelo em si, mas por essas serem as últimas imagens de meu pai em minha cabeça. Ele nunca me agrediu, não, sempre fora tão carinhoso... porque minha mente insiste em me fazer ter apenas pesadelos com cenas do meu pai explodindo ou me batendo? Ele, que sempre foi um homem justo e amoroso... Às vezes, mal sei qual das duas versões é correta – uma vez em que sou recordada apenas com uma.

Prim não canta mais – deve ter adormecido. Um de seus braços está largado sobre meu ombro, seus dedos tocando levemente minha bochecha. Sinto pena dela.

Algumas horas depois, percebo que já é quarta-feira e Clove ainda não deu as caras. Envio uma mensagem perguntando onde ela está e o que houve, mas não responde. Começo a ficar preocupada – apesar de ser as vezes inconsequente, não é idiota para perder tantas aulas e não nos avisar o motivo. Talvez eu tenha que falar com Annie mais tarde sobre isso.

Também não me encontro com Peeta – não temos aulas juntos hoje ─ e meu coração afunda um pouco.

Encontro Cato Overwhill do outro lado do refeitório no horário de almoço – quarta é o dia em que temos aula em tempo integral. Ele olha para o relógio constantemente e parece estar louco para sair daqui. Não que ninguém esteja, realmente. Vejo-o respirando fundo e abaixando a cabeça.

Sento ao seu lado e sorrio, empurrando de leve seu ombro com o meu.

─ Ei, Cato, você tá bem? – pergunto, preocupada quando ele mal me cumprimenta.

O loiro balança a cabeça e enfia três batatinhas fritas em sua boca. Não olha para mim e parece estar muito envolvido em seus próprios pensamentos. Sua boca está comprimida e seus olhos, incrivelmente marejados, distantes.

Nunca o tinha visto tão... desolado.

Envolvi meus braços em seu pescoço – de leve, porque ele ainda estava engolindo sua comida – e o abracei. Não queria ver Cato triste.

─ Vai ficar tudo bem – assegurei, sentindo o cheiro de shampoo cítrico dos seus cabelos. ─ as coisas sempre ficam bem, não é?

O senti apertar fraco minha cintura, como se concordasse. Me afastei e sorri, roubando uma batatinha de seu prato.

Eu o fiz rir.

[...]

Point of View – Clove

Cato vinha me visitar todos os dias após as aulas. Eu já havia perdido uma prova, e, provavelmente, acumulado muita matéria, mas como eu poderia simplesmente dar as caras lá?

Eu não me sentia bem. E tinha motivos para isso.

De qualquer modo, insistia para que ele não viesse. Era... constrangedor demais quando ele olhava em meus olhos. Porque eu via o quão triste e decepcionado ele estava, o quanto... ele se importava.

O que só me fazia chorar ainda mais.

Cato sempre chegava com uma sacola plástica presa em seus dedos. Normalmente trazia algum doce que eu gostava – como cheesecake ou pipoca caramelizada. Hoje ele trouxe marshmallows.

Dividimos o espaço que tínhamos em minha cama. Eu estava enrolada em meu cobertor roxo, mas não por estar muito frio – o que estava ─. Para que ele não me tocasse.

Sentamos lado a lado, o estreito colchão nos obrigando a permanecer perto um do outro.

─ Você gosta, não gosta? – perguntou, estendendo o pacote com o doce. Assenti, mas não me mexi para pegar nenhum – não estava com fome.

Por que Cato estava fazendo isso comigo?

Por que ele queria me ajudar?

─ Ei, olha só o que eu trouxe – o loiro chamou, e espiei com o canto do olho. Meu ombro estava colado em seu braço. Ele tirou da sacola dois controles de vídeo-game. ─, sei que o seu quebrou.

Sorri. Não pude evitar.

O cobertor escorregou de meu pescoço e caiu sobre minha cama. Com os dedos tremendo, segurei as pontas do controle e esperei Cato ligar minha televisão.

Ele colocou Mario Kart.

Eu arrasava no Mario Kart.

─ Bem, você vai perder. – eu alertei e o ouvi dar risada.

─ Não estou contando com isso.

Então o jogo começou e estávamos rindo de novo.

[...]

Clove?

Acordei assustada.

─ Clove! – Annie gritou, brava, ao lado de minha cama. Estava com as mãos na cintura, me encarando irritada. ─ Nós estávamos loucas de preocupação por você, e você estava... dor-min-do?

Olhei para o relógio. Eram onze horas da manhã de quinta-feira. Elas estavam matando as duas últimas aulas.

─ O quê? – resmunguei, coçando os olhos. Katniss estava atrás dela. ─ Quem deixou vocês entrarem aqui?

─ Sua mãe. – Katniss respondeu, mau-humorada. ─ Ela estava saindo para o trabalho.

─ E você deveria estar na escola! – Annie gritou, puxando meu braço com força para fora da cama. Berrei.

─ Me solta, Ann! – recuei, assustada. Meu coração pulsava com força. Eu não posso contar para elas! Não posso! Pelo amor de Deus, alguém me salva daqui...

─ Cala a boca, Clove! – chicoteou a ruiva, largando minha pele. Seus dedos haviam deixado marcas avermelhadas. ─ Qual é a sua grande doença que te faz ficar quatro dias faltando nas aulas? E sem dar notícias!

─ Relaxa, Cresta. – Kat interviu, a afastando de mim e amparando a amiga. ─ Respira fundo, você pode entrar em uma crise de raiva de novo.

Estou matando todo mundo.

Eu estou destruindo todo mundo.

─ Mas, Kat! Isso é imperdoável! – Annie apontou para mim, que havia sentado no colchão. ─ Ela obviamente não tem nada quebrado, ou a porra de doença alguma! E nós estávamos cheias de medo de ter acontecido algo!

Comecei a chorar incontrolavelmente. Elas estavam preocupadas comigo! Uma pessoa imunda e amiga terrível! Solucei, minha garganta ardendo, e agarrei meus cobertores para cobrir meu rosto. Para cobrir minha vergonha.

─ Ai Ann, olha só o que você fez. – ouvi Katniss murmurar, e o espaço de colchão ao meu lado se afundou com o seu peso. Senti sua mão esfregar levemente minhas costas, e eu desabei mais ainda com o carinho. ─ Ei, Clo... não fica assim... a gente só estava muito preocupada com você, ok? Mas você está bem, é o que importa. Nós te amamos, Clo.

Não me amem, não depois do que eu fiz!

Se afasta de mim, Katniss! Se afasta do monstro que eu sou!

─ Kaaaat... – choraminguei, abaixando as cobertas sobre o meu rosto.

Eu tenho que contar para elas. Tenho que assumir meus erros, e não fugir deles.

─ Katniss – Annie foi dura. ─ vamos embora. Estamos matando aula por nada.

─ Aaah, fique quieta, Annie! – brigou Katniss. Por mim. Para me defender. ─ Se ela está faltando, tem que ter algum motivo. Não é, Clo?

Solucei. Fechei os olhos, apertando com força minhas pálpebras. Respire fundo. Não enlouqueça. Você não pode fugir pra sempre de si mesma. Até quando isso iria, mesmo? Um dia eu teria que contar. Elas vão me perdoar?

Elas vão me perdoar?

─ Ai Clove, me desculpa. – ouvi a ruiva dizer e a olhei, espantada. Annie olhava para o chão, envergonhada. ─ Fui muito dura com você. Deve ter algo acontecendo, não é? Você está bem?

Eu tentei de primeira, juro. Mas no momento em que minha boca se abriu para contar, não consegui mais parar de chorar. Meus ombros balançavam e eu senti quando minhas duas amigas me abraçaram. Respirei forte, soluçando.

E então eu as afastei.

─ Me perdoem ─ foi como comecei. ─ Me perdoem.

[...]

─ Diga alguma coisa! – implorei, chorando. Meu rosto estava molhado e minha voz rouca, áspera. ─ Só diga alguma coisa pra mim!

Annie soluçava, as lágrimas tornando seu rosto adorável em aterrorizante. Ela não se sentava mais em minha cama, estava em pé, tremendo. Katniss apenas existia no quarto, olhando para o nada.

─ Me xinguem! – gritei, desesperada por algum movimento. ─ Me batam, façam alguma co...

A palma da mão da ruiva se chocou contra minha bochecha antes que eu pudesse terminar a frase. O som alto e estalado continuava se repetindo segundos depois do ato em minha cabeça, ressoando.

Meu rosto ardia.

Mas eu mereci.

Com isso, Katniss se ergueu.

E saiu pela batente da porta do meu quarto.

─ Não! – gritei, tentando afastar os lençóis e alcançá-la. Cresta começou a ir embora também. ─ Por favor! Por favor, não me deixem aqui. – implorei, tropeçando no embolado de tecido, caindo no piso frio de madeira. Eu podia ouvir os passos das duas descendo as escadas. ─ Annieee! Katniiiis! – berrei com o máximo de força, tentando me erguer.

O que eu esperava?

Esse é o resultado de quando estou perto das pessoas que amo.

Eu as destruo.

A porta da frente é fechada com força.

E, então, estou sozinha.

[...]

Quando abro os olhos novamente, apenas se passaram quarenta minutos do ocorrido. Meu rosto arde e pinica por causa do choro incessante. Sinto o meu coração bater fraco e dolorido, porque sequer respirar é uma atividade difícil. Continuar respirando é uma atividade difícil.

Falta meia hora para que Cato chegue aqui em casa - mas não quero que ele venha. Nunca mais. Não depois de hoje. Como posso mantê-lo perto, se tudo o que eu faço é ferir as pessoas ao meu redor? É me ferir?

Volto a chorar.

Snow, minha mãe, Cato, Katniss, Finnick, Annie, Seneca, Thresh, Plutarch…

Eu.

Tudo… tudo dá errado.

Tudo me atinge tão profundamente.

faz
isso
parar,

por favor. Faz essa dor parar.

Consigo me levantar, cambaleante. Meus pés descalços falham quando tento dar os primeiros passos, porque estou enjoada. O celular está caído no chão, e o pego, tremendo. Porque eu desisto. Não aguento mais.

Eu rezo para que ele não atenda e não o faz. Está tendo aula – a qual eu faltei.

Então deixo uma mensagem de voz, meu coração batendo muito forte.

Me perdoa, Cato. – eu peço. As lágrimas pingam em meu pijama. ─ Eu sinto tanto.

Segundos após desligar, meus dedos procuram os remédios de minha mãe. Encontro um potinho com aspirinas e outro com anti-inflamatórios. Decido pegar os dois, mas estou tremendo tanto. Entro em minha suíte. Ligo o chuveiro, deixando a água escorrer pelo piso e descer até o ralo – o ruído alto expulsa qualquer outro som que eu possa emitir.

Consigo desrosquear as tampas e encho minha mão com os comprimidos, deixando vários caírem no chão, mas não hesito. Não posso. Eu estarei ajudando o mundo se não existir mais. Estarei... protegendo quem amo. Nunca mais terei que machucar meus amigos de novo. Nunca mais terei que... conviver com... a realidade.

Respiro fundo e sorrio.

Engulo.


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Notas finais do capítulo

O que vocês acharaaaaaaaaaaaaaaaam?



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