Magic Mirror escrita por Juliet Rivers


Capítulo 4
Lágrimas


Notas iniciais do capítulo

Yoo minna-san, gomen' pela demora mas eu tive alguns probleminhas para escrever essa fic então demorou mais do que eu esperava, mas agora estamos aqui ^^
Enjoy~~



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Len’s POV:

Eu ainda me lembro como se fosse ontem, o dia em que um homem misterioso apareceu no castelo carregando um espelho antigo e poderoso, o dia em que eu descobri que a minha felicidade custava a tristeza de uma garota que eu nunca havia conhecido, o dia em que eu decidi mudar aquilo.

– Len-sama! Len-sama! – Uma das criadas entrou correndo na minha biblioteca, arfando e com ares de urgência.

– O que houve? – Me levantei da cadeira e fui até a porta. Ela fez uma rápida reverência, algo que eu já tinha me cansado de dizer que não era preciso. Mas isso mostrava que o assunto não era tão urgente assim, o que me acalmou um pouco.

– Um homem pede para falar com o senhor, diz que é importante. – Explicou e eu assenti, saindo da minha sala preferida até o salão principal, onde um homem usando uma capa cujo capuz cobria seu rosto me esperava. Mesmo sendo ligeiramente corcunda, ele ainda era alto e exageradamente magro, como se não comesse havia semanas; suas roupas eram humildes e em alguns lugares, rasgos mostravam sua pele escoriada e sangrando. Ao seu lado estava um espelho de aproximadamente dois metros coberto por um pano roxo escuro.

– Posso ajudá-lo? – Indaguei estudando-o cuidadosamente. Vi o homem sorrir e ele se curvou desajeitadamente em uma reverência.

– Príncipe Len, que prazer imensurável finalmente encontrar o jovem príncipe de quem tanto falam!– Cumprimentou-me. – Eu sou um mágico de uma aldeia distante. Ouvi dizer que o senhor é a pessoa mais feliz do mundo.

– E por que eu não seria? – Disse ironicamente. Porém o que ele dizia era verdade, nunca na minha vida eu tinha sentido tristeza. Nunca eu havia chorado. Todos achavam isso uma bênção, diziam que os deuses haviam me escolhido como seu preferido. Mas eu sentia que algo estava errado.

– Você tem razão, amado, respeitado, admirado, valioso. – Seu sorriso aumentou e ele tirou o capuz, revelando um rosto velho e maltratado. Tudo nele era suspeito, o que apenas aumentou a minha curiosidade. – Quem é responsável por sua felicidade? – Ele me fez a pergunta que eu mesmo me perguntava há anos. – Pergunte ao espelho mágico. – Tirou a capa do espelho, agora posicionado bem em frente a mim.

Fiz um esforço para não arquear as sobrancelhas quando ergui os olhos para o espelho velho e enferrujado. Os criados olhavam na minha direção com expressões preocupadas e eu dei meu melhor sorriso para acalmá-los.

– Poderiam deixar-me sozinho com o senhor... mago, por favor? – Pedi mantendo a expressão tranquila e o olhar no homem que observava a sala com admiração.

– Com licença, Ouji-sama. – Eles disseram quase em uníssono ao saírem do hall.

– Agora, se aproxime. – Falou o velho apontando para o espelho. Não me movi e ele suspirou, estalando os dedos. Senti um puxão no fundo do estômago e de repente eu estava bem em frente ao espelho enorme, três metros de onde eu estava. – Assim é melhor.

– O que você quer? – Perguntei olhando bem em seus olhos que pareciam mudar de cor.

– Eu quero te mostrar uma coisa. Mas você, caro príncipe, não está facilitando as coisas. – Fez uma expressão de desgosto que rapidamente voltou para o sorriso macabro de antes. – Quem é responsável pela sua felicidade? Pergunte ao espelho mágico.

Desviei o olhar e fitei meu reflexo no espelho embaçado. “Melhor acabar logo com isso.” Pensei e assenti com a cabeça.

– Quem é responsável pela minha felicidade? – Fiz o que ele mandou e perguntei ao espelho.

“1, 2, 3, 4...” Comecei a contar mentalmente e continuei olhando para meu reflexo levemente distorcido.

Estava quase expulsando o velho quando a imagem no espelho mudou, mostrando uma sala empoeirada e cheia de coisas quebradas ou simplesmente abandonadas. A cena se tornou mais nítida e de repente um som invadiu a sala. Demorou alguns segundos até que eu reconhecesse o choro de uma garota que se encolhia em um canto da sala.

– Quem é ela? – Indaguei olhando para a menina que sacudia levemente os ombros conforme se debulhava em lágrimas.

– Seu nome é Rin. Ela mora em um lugar bem diferente daqui. Sua vida também é bem diferente da sua.

– Quer dizer que... toda a felicidade dela foi roubada por mim? – Ele sorriu e a imagem mudou. Mostrando a mesma garota sendo empurrada em uma cadeira de rodas pelos corredores de uma casa enorme e fria.

– Ela tem uma doença que a impede de andar, por esse motivo os pais a ignoram e as únicas pessoas que ela conhece são seus professores e criados. – Contou-me enquanto o espelho continuava me mostrando diferentes partes da vida da menina. Observei sua expressão melancólica enquanto ela olhava várias crianças brincando pela janela do que parecia ser seu quarto.

– O que eu posso fazer? – A culpa pesava dentro de mim e eu me recusei a continuar vendo as imagens. Não me parecia justo que eu tivesse tudo do bom e do melhor quando ela vivia daquele modo.

– Oh, nada. – Respondeu-me surpreso. – Como você poderia fazer algo?

– Me diga como eu posso ajudá-la!

– Bem, você poderia... Não, seria impossível. – Ele refletiu, murmurando para si mesmo.

– O que?

– Eu poderia te ensinar magia. Talvez assim você possa ajudá-la.

– Então me ensine. – Pedi e o mago riu.

– Você estaria preparado para sacrificar tudo o que conhece?

– Sim. – Respondi sem nem hesitar.

– Muito bem. – O sorriso macabro voltou a preencher seus lábios rachados e nós fomos transportados para a biblioteca.

Em um segundo ele transformou o lugar completamente, afastando as estantes de livros e fazendo objetos surgirem do nada. Em uma das paredes estava o espelho que ainda mostrava o rosto triste de Rin. Cerrei os punhos ao ver que ela continuava chorando e me virei para o mago.

– Podemos começar.

Foram vários meses de treinamento ininterrupto até eu conseguir dominar o básico, era a primeira vez que eu sofrera tanto para conseguir aprender algo. Mas desistir não era uma opção, a cada vez que eu me sentia cansado ou pensava em parar, o espelho me mostrava a garota chorando sem parar no sótão escuro e empoeirado, e toda a minha motivação parecia voltar em um segundo.

– Você está pronto. – O mago me disse um dia. Ergui o olhar e suspirei.

– Mesmo? Tem certeza? – Senti meu corpo ser tomado pela angústia misturada à felicidade.

– Sim. Mas não se esqueça, toda magia tem um preço. – Falou misterioso e desapareceu.

Como se estivesse esperando por sua deixa, Rin entrou no sótão empoeirado arfando e massageando as pernas inchadas. Imediatamente começou a espirrar, graças ao excesso de poeira no lugar.

Observei-a enquanto ela abria, com esforço, uma janela pequena sorrindo levemente. Antes que eu percebesse, eu já estava sentado na frente do espelho olhando para ela, os cabelos louros e lisos que chegavam aos seus ombros, com um laço branco que prendia metade dos fios dourados, os olhos azuis claros e as expressões que fazia, que denunciavam o que ela estava pensando.

– Ai! – Ela exclamou e sua mão foi diretamente para a perna diretamente. Estendi a minha própria como se pudesse fazer algo.

Rin se sentou com as costas apoiadas no espelho e ficou ali por o que me pareceram dez minutos, até ela se levantar de novo e seguir para a porta. Seus olhos se moveram na minha direção e ela deu um pulo para trás, trombando em um móvel que parecia uma penteadeira.

– Q-quem é você? – Perguntou com a voz trêmula.

– Eu sou... um mágico. – Hesitei em dizer meu nome.

– Eu não acredito nessas coisas... Papai diz que só tolos acreditam em magia.

– Imagino que você não seja tola, não é?

– Se você é um mágico... então o que você pode fazer? – Ela foi vencida pela curiosidade e eu ri.

– Huum... Minha especialidade são desejos. – Sorri para ela, que retribuiu.

Senti meu estômago se revirar e pareceu que, naquele único momento, todas as rodas do destino começaram a girar.

– Rin-sama! – Uma voz desconhecida subiu as escadas e ela se encolheu.

– Droga!

– Você devia ir.

– Mas você vai desaparecer. – Respondeu e eu ri.

– Não se preocupe. Pode ir, eu vou estar aqui quando você voltar. É uma promessa. – Ela assentiu e se foi.

Naquele momento eu decidi que faria de tudo para proteger aquela garota dos cabelos dourados e olhos cristalinos.

A cada dia que eu conversava com ela, eu passava a entender melhor o seu mundo e ela o meu. Ela gostava de desenhar e se impressionava facilmente, sendo surpreendida por truques bobos, mas que a faziam sorrir de um jeito fofo.

Mas no fundo eu sabia que quanto mais nos envolvíamos, mais perigoso era, e as palavras do mágico constantemente invadiam meus pensamentos: “Toda magia tem um preço.”

Aos poucos eu fui me apegando àquele sorriso que me contagiava, aos gestos que ela sempre fazia com as mãos quando ficava nervosa, ao seu modo calmo de falar, suas expressões... Tudo era especial para mim. Eu nunca queria que aquilo acabasse. Mas eu sentia que algo estava prestes a acontecer. E eu nunca odiei tanto estar certo.

– Len-sama! Len-sama! Venha rápido! – Uma das criadas entrou estrondosamente pela porta e me guiou até a janela, onde era possível ver uma onda gigante se formando ao longe. O céu se tingiu de um tom roxo escuro e raios começaram a rasgar o céu, seguidos por trovões que sacudiam o castelo.

– Evacuem a cidade! Soem os alarmes! – Eu ordenei e ela assentiu, correndo pelo corredor.

Os raios começaram a cair em algumas árvores que irromperam em chamas no mesmo instante.

Fui para a cidade para ajudar os cidadãos mas o caos já havia tomado conta de tudo. Pessoas corriam desesperadas para qualquer direção, gritando e chorando. Crianças perdidas imploravam pela mãe e todos tentavam escapar dali.

– Fujam! Rápido!

– Meu filho! Onde está meu filho?!

– Por aqui!

Os gritos de todos se misturavam e formavam um único som, o som do medo.

Avistei uma única pessoa que não corria, mas sim olhava fixamente na minha direção, com uma capa que cobria metade de seu rosto e um sorriso perturbador nos lábios. O mágico.

– Você! – Corri em sua direção e ele nos transportou para uma montanha ao lado da cidade. – O que está acontecendo?! O que você fez?!

– A pergunta correta seria o que você fez, não é? – Respondeu.

– Estou cansado dos seus enigmas! Me responda!

– Você interferiu com as escalas do destino no dia em que falou com a garota. Eu te avisei, toda magia tem um preço. E o preço do que você fez é, - ele apontou para a cidade em chamas. – este mundo.

– Não. – Minha garganta se fechou e meus olhos se arregalaram.

– Sim. E como consequência a magia também está acabando. Você não sente? Seus músculos ficarem cada vez mais fracos, sua energia sumindo lentamente. – Ele estava certo, minhas pernas pareciam chumbo e meu corpo não me obedecia corretamente. Olhei para o outro castelo e meu coração pareceu cair no vazio.

– Rin.

– Ah, sim. Ela também percebeu que a magia está sumindo. Veja. – O velho agitou os dedos e uma imagem de Rin se formou bem à frente dos meus olhos. Ela subia com esforço as escadas da biblioteca murmurando para si mesma: Só mais um pouco.

– O que você fez? – Perguntei com a voz ameaçadora.

– Mas eu já te disse, caro príncipe, quem fez tudo isso foi você. E se me permite dizer, acho que seria melhor ajudar a garota, já que este mundo irá desaparecer de qualquer modo.

– Por que você não me ajudou a impedir isso?!

– Porque você, meu caro príncipe, tomou o meu lugar como o herdeiro do trono, sem nem perceber.

– O que? – Eu estava sem reação.

– Quando seu pai morreu, você, uma mera criança tomou o meu lugar como o príncipe regente. Desde então eu tive que arrumar um meio de me vingar, não concorda?

– Essa... é a coisa mais estúpida que eu já ouvi na vida. – A raiva fervia dentro de mim e eu cerrei os punhos com força.

– Diga o que quiser, mas agora este reino será totalmente destruído, junto com vocês dois e você não pode fazer nada! Ela irá morrer, assim como todos aqui e você será o culpado!

– Não. Eu vou mudar isso com as minhas próprias mãos.

– Ah, e o que você pode fazer? Você é só uma criança!

– Sente-se e observe, velho.

Dizendo isso, eu fui até a biblioteca em um piscar de olhos, sentindo minhas pernas fraquejarem quando cheguei.

– Len!

– Rin, você precisa fugir. – Disse às pressas.

– O que? Não, o que está acontecendo? – Ela perguntou e eu tentei sorrir.

– Você vai ficar bem, apenas vá. – Puxei-a pela mão até o espelho, sentindo o castelo inteiro se sacudir. Minhas pernas viraram gelatina e o tempo pareceu desacelerar quando a imagem refletida no espelho era a nossa.

– Len, o que está acontecendo?

– Eu nunca deveria ter feito isso. Quando eu falei com você, nós interferimos com o destino.

– Como assim? – Sua expressão mostrava confusão e medo.

– Mesmo que nossos destinos estejam conectados, eles nunca deveriam ter se cruzado.

– Não... – Seus olhos se encheram de lágrimas e ela cobriu a boca com as mãos.

– A magia está se dissolvendo, você precisa ir. Temos que nos despedir. – Fitei o chão, ainda segurando suas mãos.

– Não vou dizer adeus.

– Agora eu te imploro: por favor não chore.

– Por favor não vá embora.

– Eu quero que você me prometa que eu vou sempre estar nas suas memórias. – Pedi e ouvi seu choro mais uma vez.

Me concentrei no espelho à nossa frente e ele voltou a mostrar o sótão escuro.

– Vá, eu não posso segurar por muito tempo. – Ela soltou minhas mãos e atravessou o espelho, olhando uma última vez para trás. Sua boca se abriu para dizer mais alguma coisa mas a imagem sumiu e o reflexo no espelho voltou a me mostrar.

Foi a primeira vez em que eu senti como é realmente chorar.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Comentem mesmo se não gostaram oks? Arigatou gozaimasu!
Kisusssss



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