Depois que Katniss e Peeta venceram os Jogos, tudo mudou. Sua tentativa de suicídio foi um ato claro de provocação à Capital, um desafio. Isso criava uma oportunidade imperdível, com a qual eu teria de lidar quando chegasse a hora. Quando Katniss voltou, eu tive de esperar uma oportunidade para lhe avisar que a Capital não estava feliz; viram isso como um ato de rebelião. Antes de sua primeira aparição como vitoriosa, me aproximei e fingi olhar seu vestido, para depois oferecer um abraço de boa sorte. Sussurrei em seu ouvido:

— Escuta. Vocês estão encrencados. Estão falando por aí que a Capital está furiosa com vocês por terem armado pra cima deles na Arena. A única coisa que eles não conseguem suportar é ser motivo de riso e eles são a piada de Panem no momento – ela riu. Claro, não havia nada cobrindo sua boca, enquanto eu escondia a minha em seu cabelo.

  – E daí? – respondeu.

  – A única chance de vocês escaparem dessa é provar que vocês estavam tão loucamente apaixonados um pelo outro que não podem ser responsabilizados por suas ações – disse, arrumando a fitinha em seu cabelo – Sacou, docinho?

  – Saquei. Você contou isso pro Peeta? – ela perguntou. Como se eu precisasse. Aquele moleque entende muito mais do que ela acha.

  – Não preciso. Ele já sacou.

  – E você acha que eu não? – ela tinha razão, eu a subestimei demais. Mas sei que ela não liga.

  – Desde quando o que eu acho tem alguma importância? Melhor a gente ir logo pros nossos lugares – a conduzi para onde Effie havia me dito que deveria levá-la – Essa é a sua noite, docinho. Aproveite – não resisti e dei-lhe um beijo na testa antes de ir embora. Essa menina realmente me pegou de jeito. E, me parece, também havia pego toda Panem de jeito.

   A próxima vez que vi Effie em particular, sozinhos, a abracei com mais força do que jamais tinha abraçado. Ficamos em silêncio por um longo tempo, enquanto eu acariciava suas costas com meus dedos, até que ela disse:

  - Quem diria, Aber. Chegamos até aqui. Eu e você.

   Ri fracamente. Céus, como eu amo essa mulher.

  - Sim, chegamos. Eu e você.

  - É inacreditável.

  - Sim. – por mais um tempo em silêncio, eu refletia sobre o que faria a seguir, no que havia ouvido falar sobre Plutarch Heavensbee e no que estava finalmente se tornando possível: o sonho de todo cidadão oprimido de Panem e o pesadelo de todo cidadão da Capital. Ainda assim, sabendo da importância de tudo isso e no que isso significaria para o futuro do país, tudo que conseguia pensar naquele momento era em Effie, e como a manteria segura durante os tempos que viriam a seguir – Effie – disse, soltando-a do abraço.

  - Sim?

  - Lembra quando a gente brincou de você forjar sua morte e ir morar no 12?

   Ela franziu o cenho.

  - Sim.

  - Acho que daqui pouco tempo você deveria fazer isso de verdade. Ou uma variação disso.

  - O quê? – ela desvencilhou-se de vez, confusa.

  - Você sabe o que significa ambos os tributos do 12 vencerem os Jogos. Você tem que ter uma noção do que pode acontecer. Eu só quero que você fique segura.

  - E isso só é possível no 12? Pelo amor de Deus, Aber, eu não vou te deixar na mão. O lugar mais seguro pra mim é com você.

   Eu queria tentar convencê-la do contrário, mas sabia que não funcionaria. Tentarei outra hora, pensei.

   Isso foi um erro.