BitterSweetheart escrita por Marcella Chase


Capítulo 20
Capítulo 20 – Reparos e estragos


Notas iniciais do capítulo

Cap com um pouco de yaoi, avisando pra quem não curtir e tals.



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Diego

Liguei para Anne a fim de convidá-la para um jantar na casa de minha mãe e ela me atendeu aos prantos. Eu não aguentava mais ver minha amiga daquele jeito. Sempre chorando pelos cantos. Precisava fazer alguma coisa urgentemente. Perguntei o que havia acontecido e Anne me contou tudo sobre a noite que passara com Carla e como tudo desmoronara no dia seguinte.

– Loirinha, eu imagino o quanto deve estar sendo difícil para você imaginar o seu grande amor com outra pessoa. Mas veja só, vocês não estavam namorando quando ela teve um caso com a Mai. Eu sei que você é ciumenta, mas não é para tanto. E principalmente não seja hipócrita também. Você beijou a Paula e me contou que ficou com raiva de você mesma por não conseguir ir para a cama com ela porque você sabia que devia. Você não pode querer que outros tenham a mesma reação que você quando você mesma considera essa reação idiota. Eu não estou defendendo a Carla – Falei logo antes que Anne explodisse em fúria contra mim dizendo que eu estava tomando o partido da outra. Sim, ela fazia isso o tempo todo. – Só estou tentando abrir seus olhos para que não sabote sua própria felicidade sem motivos. Esqueça isso e dê uma chance a ela. Uma chance para o amor de vocês. Procure ela amanhã assim que chegar ao trabalho e converse.

Deus sabe o quanto estava me custando dizer essas coisas à Anne, mas eu não poderia agir diferentemente. Eu não poderia dizer isso à Anne, mas talvez fosse por minha culpa que Carla teve um caso com Mai ao invés de tentar algo com a minha loira. E essa culpa vinha me corroendo há um tempo. Estava perdido em meus próprios pensamentos quando ouvi Anne chamar meu nome.

– Diego, você está me ouvindo?

– Desculpe-me Anne. Eu viajei em pensamentos aqui. O que você disse?

– Disse que fiquei mais tranqüila por ter conversado com você. Você sempre tem os melhores conselhos. O problema é que não quero ir falar com a Carla. Se ela não estiver disposta a conversar, vai ser grossa e vamos acabar brigando. Acho que pelo menos uma vez ela devia me procurar.

– Eu concordo com você, loirinha. E prometo que vou te ajudar.

Desliguei o telefone e me joguei no sofá. Eu sabia exatamente o que precisava fazer para ajudar. Eu precisava convencer Carla a procurar Anne, pois assim a loira aceitaria relevar o que já passou e tudo ficaria bem. Mas eu só conseguia pensar em uma forma de convencer Carla e eu não estava muito feliz em ter que recorrer a isso. Infelizmente como fui eu mesmo quem comecei a complicar toda a história das duas, eu teria que fazer tudo que fosse necessário para reparar os estragos. Arrependi-me amargamente da crise absurda de inconsequência que tive ao dizer para a Carla tudo que eu disse enquanto entrava no carro e tomava a direção menos desejável desse mundo.

Ao chegar ao meu destino desci do carro e fiquei por vários minutos parado olhando a porta. Eu tive certeza naquele momento que eu não conseguiria bater. Já estava me preparando para desistir de tudo e sair correndo dali quando ouvi uma voz às minhas costas.

– O que você está fazendo parado olhando a minha porta, Diego?

Dei um pulo involuntário de susto ao ouvir aquela voz, tropecei nos meus próprios pés e sai cambaleando para trás até esbarrar em um vaso de plantas e derrubá-lo. Como se a situação já não fosse constrangedora o suficiente, eu me desequilibrei e cai por cima de toda a bagunça que havia feito. Guilherme estava parado a minha frente agora, claramente fazendo um esforço enorme para não rir. Esforço inútil, eu devo dizer, porque a cara dele entregava tudo. Guilherme me estendeu a mão e me ajudou a me levantar.

– O que você está fazendo aqui, cara? – Aparentemente toda a cena ridícula do susto não fora suficiente. Minha boca precisava ajudar a me fazer parecer ainda mais idiota. Que tipo de pergunta foi essa? O cara mora aqui. Dessa vez ele não conseguiu segurar e deu uma risada.

– Eu moro aqui, Diego. – Claro, eu tinha percebido isso. E você não podia ter deixado essa passar, não é?

– Não aqui. – Apontei para a casa dele. – Aqui, aqui. Quer dizer, aqui fora, por que não está em casa. Você está em casa eu sei. Por que não esta dentro de casa. – Ótimo, agora eu não devia mais parecer um idiota. Era algo mais parecido com uma ameba rastejante. Que papel ridículo.

– Diego, você está nervoso. Desculpe ter te assustado. Entre. – Ele falou abrindo a porta sem me olhar. Eu agradeci silenciosamente pelo espaço que ele me deu e por ter fingido achar que meu nervosismo se devia ao fato de ele ter me assustado. – Vou te pegar um copo de água para você se acalmar. Depois me explica o que está acontecendo.

Bebi a água de uma só vez, o que me ajudou a me acalmar e retomar o controle das minhas ações. Graças a Deus. Fiquei feliz por ele, mais uma vez, demonstrar muita sensibilidade ao perceber que eu precisava de um pouco de espaço para me recompor. Apesar de me encarar com um olhar curioso, Diego não me pressionou a falar nada, esperando que eu começasse a falar.

– Gui, desculpe-me o mau jeito. É que eu estou meio nervoso.

– Isso eu percebi. Nervoso por quê? – Gui se aproximou e sentou-se ao meu lado no sofá, o que fez com que eu me assustasse novamente e me afastasse para a outra ponta do sofá. Arrependi-me na mesma hora pela reação involuntária, pois percebi que Diego ficara um pouco sem jeito. Resolvi voltar a falar logo, antes que outro silêncio constrangedor se instaurasse.

– Estou preocupado com a Anne. Ela está sofrendo por causa da Carla e sei que a Carla também está. Elas se amam e eu fiz uma burrada uma vez. Uma grande burrada que atrapalhou muito as duas. Agora eu queria ajudar, meio que para limpar minha consciência e faze-las feliz.

Percebi o olhar de Guilherme mudar repentinamente, não era mais o olhar divertido e curioso que ele tinha quando me viu à sua porta. Seus olhos estavam mais escuros e profundos agora. Ele tentou disfarçar, mas percebi que havia um toque de desapontamento naquele olhar. Será que ele esperava que eu estivesse aqui para falar sobre outra coisa? Em alguns segundos ele se recompôs e voltou a me olhar com os mesmos olhos brincalhões característicos do Guilherme.

– Eu há muito já devia ter desistido de me preocupar com a Carla. Ela sempre faz alguma merda. Mas não consigo. Se for por ela eu estarei sempre aqui. Do que você precisa?

– A Anne e a Carla ficaram ontem.

– Eu sei. A Carla me falou disso a manhã inteira. O que tem?

– Tem que o Tiago contou para a Anne que a Carla estava de caso com a Maitê e elas brigaram feio.

– Que filho da mãe! Eu ainda mato o Tiago. Aliás, se ele não fosse gostoso eu já teria matado. – Acho que ele percebeu na hora minha cara assustada e sem graça porque tentou se retratar. – Desculpe falar assim, é o hábito. Esqueço que você não está acostumado e se sente mal quando um homem fala de outro assim perto de você.

– Não me sinto mal. Tudo bem pode ficar a vontade. Mas continuando, eu falei com a Anne e a fiz reconsiderar a crise histérica que ela teve por causa dessa notícia. Mas a Anne não vai procurar a Carla porque sabe que se a Carla não estiver a fim de uma conversa, ela será grossa e irônica como sempre e as duas vão acabar discutindo mais feio ainda. Ou seja, a gente precisa fazer a Carla reconsiderar também e procurar a Anne, assim elas vão se reconciliar com certeza. E como você é o melhor amigo da Carla só consegui pensar em você para me ajudar a falar com ela.

– E você pretendia falar comigo brincando de estátua na minha porta? Queria que eu te ouvisse por telepatia?

– Não. Eu ia bater. Só estava... Bem, eu... Eu estava pensando em como pedir sua ajuda.

– Mentiroso. Você estava com medo de entrar na minha casa. Estava com medo de me encarar, de saber que só estaríamos eu e você aqui. – Por que exatamente ele entrou nesse assunto? Achei que o problema aqui fosse a Anne e a Carla. – Você está com medo de mim ou de você mesmo, Diego?

– Então você vai me ajudar ou não

– Você tem ideia do que está me pedindo? Mudar a cabeça de pedra da Carla? É uma missão quase impossível. Mas por você eu... – Quando o vi dizer que faria aquilo por mim, eu corei furiosamente. Não pude evitar o reflexo de virar o rosto e encarar a parede. Eu continuava completamente perdido perto de Guilherme desde que ele praticamente se declarara para mim. Ok, ele não se declarara, mas foi uma espécie de flerte e eu não sabia como lidar com isso. Não queria que ele achasse que eu estava ofendido e nem que ele achasse que eu estava incentivando. Não queria, não é? Não sei como foi que ele interpretou minha reação, mas deve ter achado que eu estava chateado com o que ele dissera, pois tentou corrigir no mesmo instante. – Quer dizer por elas eu vou fazer o possível. Vou ligar para a Carla. Não, farei melhor. Vou até a casa dela agora.

– Obrigado. Eu sabia que podia contar com você. É pela felicidade das duas.

– E da sua felicidade quem cuida? – Mais uma vez tentando fazer com que eu me abra. Ele é insistente, tenho que admitir isso.

– Eu estou bem.

Guilherme

– Está mesmo? Tem certeza? – Eu não tinha nada a perder e era uma de minhas características nunca me esconder e muito menos perder uma oportunidade como essa. Eu tinha certeza que a insegurança de Diego ao vir conversar comigo estava relacionada à insegurança que ele sentia quanto à sua própria sexualidade. Eu jamais me arriscaria assim, mas desde que ele veio me perguntar sobre isso eu tive a confirmação de que ele não tinha tanta certeza de si mesmo quanto demonstrava ter. Decidi me arriscar e fui me aproximando dele devagar enquanto falava. À medida que eu me aproximava, ele dava mais um passo para trás, fugindo. Continuei andando na direção dele, a parede estava logo atrás o que o encurralaria. Assim que ele encostou-se à parede percebi confusão passar por seus olhos. Ele olhou nervosamente para os lados, provavelmente buscando uma rota de fuga.

– Eu tenho que ir agora, Gui.

– Pode ir, Diego – Falei sem desviar meu olhar do de Diego. Eu sabia que se ele não quisesse, ele já teria saído. Se Diego não tivesse ao menos curioso, eu nunca teria chegado tão longe. Esse era o momento certo de investir, pois Diego queria saber o que sentia afinal. E eu estava mais que feliz por ser eu a mostrar esse lindo lado da vida ao pobre Diego.

– Eu estou indo. A porta está fechada e vo... vo... você não abriu ainda.

– Você está gaguejando. Está nervoso assim desde que chegou aqui. Eu sei que você está com medo e isso é normal. Você tinha medo de vir falar comigo porque sabia que isso ia acabar assim. E você sabia disso porque queria tanto quanto eu. – Eu já estava quase colado em Diego. Coloquei as mãos na parede, uma de cada lado do corpo dele, prendendo-o. Era a hora do ataque. Se eu esperasse mais, Diego fugiria, pois estava estampada em seu rosto tanto a vontade de matar sua curiosidade quanto o medo de descobrir que se gostaria daquilo. – Aproximei meu rosto do de Diego mantendo a posição dos braços para que ele não fugisse. Mordi os lábios enquanto encarava a boca grossa do loiro com desejo. Antes de encostar nossos lábios eu senti a barba cerrada de Diego roçar meu rosto e perdi o controle. Agarrei-o com vontade. Beijei aquela boca linda como nunca beijara outra. Lutava comigo mesmo para que eu conseguisse manter um pouco de calma, pois eu queria matar todo meu desejo por ele e ao mesmo tempo tinha que ir com calma, pois não podia esquecer-me que aquela era a primeira vez que ele beijava um homem. E eu sabia por experiência própria que o processo de sair do armário pode ser dolorido e traumatizante.

Diego

Eu não estava nenhum pouco acostumado com aquilo. Um milhão de coisas passou por minha cabeça enquanto Gui se aproximava. Eu queria sair correndo dali, queria sumir e mandar Guilherme para o inferno. Mas também queria muito beijar aquela boca bem desenhada que sorria provocante para mim.

Meu Deus o que eu estou pensando? Não pode ser verdade. Eu devo estar maluco. – Eu pensava muitas coisas ao mesmo tempo, o que estava me deixando realmente maluco. Minha mente estava lotada de pensamentos conflitantes que, no fim, acabavam me deixando sem reação. Acabei por desistir de lutar contra meus instintos, afinal eu realmente precisava saber se o que Anne falara era verdade e que forma melhor para entender do que essa? Continuei ali encarando Guilherme e esperando o que viria a seguir. Quando ele se aproximou o suficiente para que eu pudesse sentir sua respiração aconteceu algo que eu nunca imaginara. Um turbilhão de sentimentos. O perfume dele quase me fez desmaiar. O dele fez contato com o meu e foi diferente de tudo que eu já sentira. Era áspero por causa da barba, rude e excitante. Ficou completamente excitado e ele provavelmente percebeu porque tomou coragem repentinamente e me beijou. Um beijo rápido, agressivo, delirante e quente. Era tudo que se podia esperar de um beijo. Nossas línguas se buscavam loucamente e meu corpo queimava. Aquele simples beijo me fez imaginar coisas com Guilherme que eu nunca havia imagino nem mesmo com Anne. Senti meu membro enrijecer e naquele instante só consegui pensar em sexo. Segurei Guilherme pelos pulsos e o joguei contra a parede de costas para mim, beijei seu pescoço e sua nuca, mordendo com um pouco de força, talvez até demais, pois estava deixando marcas grandes. Ele mordeu os lábios e abriu um sorriso safado que me deixou ainda com mais tesão e sussurrou.

– Você é ainda melhor do que eu imaginava.

Assim que ouvi a voz grossa de Guilherme, eu travei. A realidade do que estava fazendo me inundou de uma forma assustadora e me fez vacilar sem acreditar que eu estivesse mesmo a ponto de transar com um homem. O soltei e saí correndo do apartamento dele. Fugi desesperado da nova realidade que se abria agora. A voz de Anne veio clara em minha cabeça, como se ela estivesse ao meu lado “eu não gosto de homem, mas você, Di. Nós dois sabemos que você gosta”. Cheguei a minha casa e chorei por um longo tempo. Acabei terminando sozinho o que não terminara na casa de Guilherme. Eu tentava insistentemente pensar em Anne, mas só Gui é que vinha a minha cabeça.


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Notas finais do capítulo

Diego se soltando cada vez mais HAHAHAHAHA Agora resta saber se ele e o Guilherme vão conseguir ajudar as duas cabeçudas XD