BitterSweetheart escrita por Marcella Chase


Capítulo 19
Capítulo 19 – Armações concretizadas




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Paula

Cheguei mais cedo ao trabalho no dia após a despedida da Olívia. Fiquei no estacionamento esperando Anne chegar. Precisava falar com ela. Eu ainda não acreditava na ceninha que ela fizera no bar ontem. Após meia hora de espera, eu vi o carro de Carla parando no estacionamento e dele descerem Carla e Anne. Meu coração disparou. Eu não podia imaginar nenhuma explicação que fosse plausível e agradável para que elas estivessem chegando juntas ao trabalho. Será que dormiram juntas? A merda da resposta veio em seguida quando Carla encostou Anne no carro e a beijou. As duas se despediram e seguiram cada uma para sua sala. Eu fiquei olhando aquilo com um ódio profundo.

– Eu não vou perder mais ninguém para você, Carla. A Anne vai ser minha.

Segui direto para a sala de Tiago. Tinha um plano, mas para dar certo precisaria dele. Só ele seria idiota o suficiente para ser testa de ferro sem nem mesmo perceber. Entrei na sala dele sem bater.

– Que merda é essa? Você não bate mais na porta, Paula?

– Você ainda quer a Carla para você?

– Isso te importa por quê? O que você está querendo?

– Você viu a cena de ontem Tiago. A Anne está louca pela Carla. E elas vão ficar juntas se não fizermos algo rápido.

– Você odeia tanto a Carla a ponto de me ajudar só para vê-la se ferrar?

– Sim. Mas não é só por isso, talvez eu queira separá-las porque quero a Anne.

– A Anne? Achei que você me amava.

Esse foi o melhor momento da minha vida. Eu ri tanto que minha barriga doeu. Finalmente podia olhar naqueles olhos que antes me atormentavam e não sentir mais nada. E ele ali, ainda achando que nada mudara.

– Você é passado. É um idiota e eu demorei demais para perceber isso. Mas a Anne me mostrou que eu posso ter coisa melhor do que você. Agora se quiser ter sua vagabunda eu posso te ajudar.

A minha satisfação não poderia ser maior ao perceber que Tiago não pareceu gostar nada de ouvir aquilo. Eu sabia bem o que se passava na cabeça daquele idiota. Era ultrajante para ele imaginar que uma mulher poderia ser melhor para mim do que ele e, ver isso no lampejo de ódio que trespassou seus olhos, foi ainda mais prazeroso. Mas eu também sabia que ele não tinha opção por enquanto se quisesse ter a Carla.

– O que eu tenho que fazer?

– É simples, Tiago. Até seu único neurônio entorpecido pode dar conta do recado.

Ele me olhou novamente com aquele lampejo de ódio e eu soube que talvez estivesse passando dos limites. Ele podia resolver me bater a qualquer momento, então dei um passo para trás.

– Calma. Segure seus hormônios.

– Fale logo sua vadia. Não vou te aguentar por muito tempo.

– A Carla tem um casinho secreto.

– Mais um? Essa garota só não trepa mesmo comigo? Que vaca.

– E esse é especial. Ela anda dormindo com nossa querida Procuradora. E aposto como a Anne ia adorar saber que a princesinha dela tem um caso com uma mulher casada.

– Mentira! A Mai corta pros dois lados?

– Parece que sim. E todo mundo percebeu isso ontem. Você só precisa semear a fofoca para a Anne. Ela vai sacar na hora e vai tirar satisfações com a brutamontes. A confiança vai ficar abalada. Do resto eu cuido. Mas olhe lá. Não vá sair contando isso para todo mundo ou nós dois vamos para o olho da rua. Só conte para Anne. Finja que as viu juntas e está preocupado com sua amiga loirinha.

– Não me trate como um débil mental. Eu sei o que preciso fazer.

Eu concordei com a cabeça e me retirei sorrindo maliciosamente – Não te tratar como débil metal? E o que mais você seria Tiaguinho?

Carla

Mal cheguei a minha sala e descobri pelo menos seis recados de Mai em minha caixa de e-mail. Não teria como adiar essa conversa. Eu precisava ir ver Mai agora. Não poderia haver mais nada entre nós depois de ontem. Fui até a sala de Mai e bati, aguardando que ela me mandasse entrar.

– Que bom que você chegou. Pode me explicar aquela ceninha de ontem?

– Primeiro você me explica a sua ceninha. Que história foi essa de aparecer no bar?

– Eu já te disse que estava cuidando do que é meu. E ainda bem que fui assim eu pude presenciar a crise épica que aquela loira barata estava aprontando. O que há entre vocês?

– Não fale assim da Anne. O que ela resolve fazer quando está bêbada não te diz respeito. Ela é uma pessoa maravilhosa, não uma loira barata.

– Eu sabia. Não é de hoje que tenho percebido o que rola entre vocês. Eu me decepcionei muito com você Carla. Achei que podia confiar em você. Mas você, como todas as outras pessoas, não vale nada.

– Não fale assim, Mai. – Eu sei, não devia estar abalada com o que ela dizia, porque era exatamente o que ela queria. Atingir-me. Mas era impossível bloquear qualquer sentimento, afinal de alguma forma eu realmente gostava dela. – Eu gosto muito de você. Por isso a gente ficou por tanto tempo. Mas você está ficando paranóica. Está querendo mandar em mim e me controlar. E ninguém manda em mim, morena.

– Não acredito no que eu estou ouvindo. Carla eu não aceito o que você está fazendo. Já era o nosso namoro. Eu não vou ser traída assim descaradamente e deixar por isso mesmo.

– Nós não tínhamos um namoro, Mai. Você pé casada e sempre fez questão de deixar claro que nossa relação era exclusivamente sexual. Mas concordo com você, não pode mais haver uma relação. Eu não sabia qual seria sua reação e estava com medo. Mas eu tenho que terminar com você também. Ao contrário do que você acha, eu não conseguiria mentir para você. Nosso lance foi muito legal, a gente se dava muito bem e o sexo sempre foi simplesmente incrível. Mas você se envolveu demais e perdeu o controle. Eu não posso ficar com você assim porque não me envolvi da mesma forma. Eu amo outra pessoa. A gente não pode continuar com isso.

– Que bom que você é sincera. Parabéns! Fiquei emocionada agora. Mas tenho que te dar um aviso. Eu não vou estar com você, mas não admito te ver com outra pessoa. Ou seja, tenha quem você quiser longe daqui, mas eu te proíbo de ter qualquer relacionamento com alguém do trabalho. Isso inclui a oxigenada.

– Você não pode me proibir de nada. Minha vida pessoal não te diz respeito e você não pode interferir nela usando sua autoridade, pois seria antiético e nada profissional. Por enquanto nossa conversa terminou porque você está de cabeça quente e falando besteira. Depois nós conversaremos melhor sobre isso. Boa tarde Mai. E me desculpe por qualquer coisa.

Mai me deixou sair da sala sem discutir, o que de certa forma me assustou. Não era o estilo dela simplesmente deixar por isso mesmo. Nesse momento senti um arrepio percorrer todo meu corpo. Algo me dizia que esse comportamento apenas confirmava que a ameaça dela era real. Ela poderia realmente tentar me impedir de ficar com a Anne.

Anne

Eu estava sentada na minha mesa com um milhão de casos para avaliar e ainda assim estava olhando para a parede com um sorriso idiota no rosto. Sim eu não consegui trabalhar, não tive fome, não conseguia pensar em nada a não ser Carla. Eu olhava para o computador e isso me lembrava da noite passada. Olhava para os papéis e me lembrava da noite passada. Eu não parava de checar o relógio e contar os minutos para a hora de ver o meu amor. Mas o tempo insistia em demorar a passar. Alguém bateu na porta e eu mandei entrar.

– Tudo bem?

– Tiago? O que você está fazendo aqui? – Eu nunca fui muito com a cara de Tiago. Depois do que Paula contou a seu respeito, eu definitivamente o odiava e não tinha a menor idéia do que ele estava fazendo aqui.

– Posso me sentar?

– Claro. O que você deseja?

– Eu vi o que aconteceu ontem. Eu sei que você estava bêbada e descontrolada, mas não pude deixar de me preocupar. Você parece gostar muito da Carla.

– Não se preocupe. Da minha vida cuido eu. Era só isso? Se sim, então pode se retirar agora.

– Mas não parece.

– O que não parece?

– Que você sabe cuidar da sua vida. Não sei se a sua princesa viking te contou, mas ela tem um caso com a nossa Procuradora. E bem, ela é chefe de todos nós. Você pode perder o emprego se ficar com a namorada da toda poderosa. Sem contar que ela mente para todo mundo sem o menor pudor. Quem sabe sobre o que mais ela é capaz de mentir.

– E como você sabe disso?

– Não importa. O fato é que eu sei. Se não acredita em mim, pergunte a ela. Vamos ver se ela vai negar. E só para você pensar um pouco a respeito, por que você acha que a Mai apareceu no bar, na despedida de uma subordinada, sendo que ela nunca confraterniza conosco? E bem na noite de gala do congresso. – Meu olhar de susto e incredulidade deve ter ficado óbvio porque ele sorriu e confirmou com a cabeça. – É, era ontem você se esqueceu? A Maitê saiu de um evento muito importante em que sua presença era primordial e foi para um bar de esquina. Que motivos ela teria para isso? Ela foi lá para vigiar a garota dela. Se toca Anne. Não vai fazer papel de idiota.

Quando Tiago saiu, eu fiquei encarando a porta por um longo tempo. Eu não queria acreditar no que estava acontecendo. Achei que nada poderia estragar minha felicidade hoje, mas a maldita vida é cheia de surpresas e sabe como derrubar alguém que está na nuvem mais alta. Eu tive vontade de chorar e me afundar naquela cadeira. Como Carla pôde fazer isso? Mentir assim. Era demais isso. Eu precisava saber a história da boca dela, então resolvi ir falar com ela.

Carla abriu a porta e sorriu ao ver-me. Parecia ainda mais feliz que pela manhã. Sorria como uma menina apaixonada, o que fez meu coração bater rápido e doer ainda mais intensamente, o nó na minha garganta se apertando com mais força. Ela fechou a porta e tentou beijar-me, mas eu recuei.

– O que houve, loirinha?

– Você tem um caso com a Maitê?

Sabe o que a filha de uma puta fez? Ela riu. – Não tenho mais. Acabou tudo. Mas como você soube? A Mai vai matar a Paula se ela estiver espalhando isso por aí. – Se alguém souber de um medidor de ódio que suporte escalas megalomaníacas, por favor, me indique ou eu nunca poderei explicar o tamanho do ódio que eu senti naquele momento. Olhei Carla incrédula. Ela nem se deu ao trabalho de negar, nem de tentar se explicar. Achava isso a coisa mais normal do mundo. E o pior, pelo jeito a Paula também sabia, ou seja, todos sabiam menos eu. Somente eu era feita de palhaça por ali.

– Na verdade não foi a Paula. Então quer dizer que todos sabiam menos eu.

– Ninguém sabia, Anne. Ela é casada. A Paula descobriu e deve ter aberto a boca para alguém.

– E porque você não me contou? Achei que fossemos amigas.

– Mas eu acabei de dizer que ninguém podia saber, loirinha. Poxa, isso já era. Eu terminei tudo com ela porque eu te amo. É com você que eu quero ficar.

– Então ontem você ainda estava com ela? Quer dizer que além de mentir para mim, você mentiu para ela? Você trai todo mundo assim e acha que isso é normal, Carla?

Percebi pela expressão dela que o mundo estava se abrindo sob ela. Que bom, o meu havia acabo de ser aberto e ela ainda me empurrou para o buraco.

Carla

Não era possível que Anne estivesse falando aquelas coisas. Eu acabei de terminar com Mai e estava disposta a tentar algo que eu nunca tentava, ia tentar um namoro com ela. Sério e exclusivo. Será que ela não via isso? Qual o problema de eu ter tido um caso com alguém? Não é como se não tivéssemos passado. Tenho certeza que ela também tem ex. O que importava era que eu a amava, não era?

– Anne para e pensa. O que aconteceu ontem, você acha que foi mentira? Você acha que eu estava traindo alguém? Eu e a Maitê nem namorávamos. Ela é casada e por isso estávamos apenas ficando, mas ela começou a ficar paranóica de ciúmes e querer mandar em mim. Não estava dando mais certo. Ontem foi o fim da picada. Aí eu e você tivemos aquela noite inacreditável. Eu joguei tudo para o alto assim que cheguei aqui. Foi a primeira coisa que eu fiz. Talvez eu não seja a pessoa mais correta do mundo. Sim, eu erro e faço besteiras o tempo todo. Tenho defeitos demais, mas se você se lembrar do que houve ontem vai entender. Aquilo não foi só sexo, foi amor. Eu mudei por você Anne, e você não pode negar isso.

Anne me olhou com o olhar triste, porém resignado. Eu sabia muito bem o que isso significava, ela entendeu meus argumentos, mas não estava disposta a abrir mão das suas convicções. Anne sendo Anne. Eu não pude deixar de sorrir.

– Carla, não adianta se explicar. Talvez você até tenha dito algo com sentido, mas eu estou confusa, magoada e me sentindo traída agora. Eu te amava muito. Deixei de ficar com várias pessoas só porque eu te amava enquanto você estava saindo com todo mundo. Nossa forma de amar é muito diferente. Nem sei mais se isso pode dar certo porque eu estou com muito medo de me machucar.

– Você também acha que eu não presto? – Não pude evitar encarar meus próprios pés naquele momento. Nunca me importei com o que as pessoas achavam de mim, mas por algum motivo o que ela achava me importava. E saber que ela pensava assim de mim doeu muito. – Qual o problema de ter ficado com alguém se eu era solteira, Anne? Eu sei que somos muito diferentes. Mas por que o seu jeito de amar é que é o certo?

– Não sei se o meu jeito é o correto, mas sei o que eu estou sentindo e o que estou sentindo é que não posso aceitar alguém que age como você age. Não posso entregar meu coração a alguém que não presta e respondendo sua pergunta, sim, eu também acho isso. É melhor deixarmos tudo como está Carla.

Ela saiu e me deixou parada, olhando a porta com os olhos cheios d’água. Eu finalmente me abrira a alguém e, no momento em que o fiz, me machuquei. Anne nunca teria ideia do quanto as palavras dela me machucaram.

Anne

Eu não acreditava no que estava acontecendo. Eu sei que agi por impulso e sem pensar, mas eu sabia que Carla era orgulhosa e acabaríamos brigando. Se ela dissesse aquelas palavras eu morreria por dentro, então eu disse primeiro. Mas ninguém nunca me disse que dizê-las doeria tanto. E o pior é que ela não fizera nada. Vê-la parada me olhando como se algo tivesse quebrado em seu olhar fez tudo mais difícil. Irritei-me por ter acabado o que nem havia começado e irritei-me por Carla não ter feito nada. Tudo bem que ela era orgulhosa, mas ser orgulhosa não quer dizer ser indiferente. E essa indiferença que Carla sempre demonstrara nas horas em que precisava gritar e brigar é que me matava. Decidi que não queria correr atrás de Carla. Não dessa vez. Eu terminei e sustentaria minha opinião. Ela teria que correr atrás de mim se me quisesse. Saí de lá sem dizer palavra e fui para minha sala, tranquei a porta, liguei o computador e coloquei uma seleção das minhas músicas mais depressivas para curtir minha fossa. Eu sei, não é a atitude mais madura do mundo, mas eu sempre tive essa mania ridícula. Parece que gosto de sofrer. Minha vida foi dos céus e ao inferno em um dia. E aparentemente sempre seria assim com Carla e seu dom de fazer a vida parecer uma montanha russa gigante.


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Notas finais do capítulo

Infelizmente, tudo lindo não é emocionante. Me odeiem HAHAHAHAHA
Mas e agora, será que a Carla vai finalmente fazer algo certo e correr atrás da Anne?
Espero que curtam, esse cap foi meio complicado de fazer porque eu realmente não queria fazê-las brigar agora, e passei todo o tempo querendo matar os meus personagens idiotas. Juro que quando resolver escrever outra fic vou fazer todos os personagens tediosamente certinhos hahahahahaha