Money Make Her Smile escrita por Clarawr


Capítulo 38
Feeling like an animal with these cameras all in my grill


Notas iniciais do capítulo

FANFIC DEVIDAMENTE ATUALIZADA 12 DIAS DEPOIS DO ÚLTIMO CAPÍTULO: SERIA MEU SONHO??????
Eu juro que tentei correr pra postar esse capítulo ainda antes, mas foi forçar uma barra que não era minha, pessoal. Mas nem demorou tanto, né nom???
Sei que estou em dívida com vocês porque ainda não respondi os comentários do último capítulo, mas já já eu resolvo isso, prometo!! De amanhã não deve passar. Eu ia deixar para responder e postar logo de uma vez, mas aí teria que fazer tudo amanhã, mas o capítulo já estava pronto hoje e eu tenho muita agonia de estar com tudo pronto e não postar, porque acho que vocês não merecem isso. Especialmente eu, que demoro tanto, me sinto traindo de verdade vocês se seguro um capítulo pronto por tanto tempo. Então resolvi postar logo, mas as respostas aos comments de vocês vem amanhã.
Espero que vocês gostem. Não tenho muito o que falar sobre o capítulo, apesar de que uma pequena bombinha vai estourar aqui (hehe) (atiçando a curiosidade)
As músicas tanto do título (Drunk in Love, da DONA DO PLANETA TERRA Beyoncé e seu marido Jay-Z) quanto do capítulo (Do What U Want, de uma outra DONA DO PLANETA TERRA que atende pelo nome artístico de Lady Gaga, junto com o R. Kelly) (ainda espero esse clipe #iludida) se referem à situação do Finnick na primeira parte do capítulo. Já a segunda parte, bom... Só posso dizer: HAVERÁ CONTINUAÇÃO hehehe
Até as finais!



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“You can't have my heart and
You won't use my mind but
Do what you want with my body
Do what you want with my body
You can't stop my voice cause
You don't own my life but
Do what you want with my body
Do what you want with my body”

 

 

— Abraça ela pela cintura. – O fotógrafo disse mecanicamente, enquanto apertava o olho esquerdo contra a lente de sua câmera para enquadrar o casal a sua frente na nova pose. – Casualmente, como se esse fosse o primeiro encontro de vocês, como se você quisesse tocá-la, mas tivesse medo de forçar a barra. Bem de leve, bem suave.

Finnick, hesitante, passou o braço pela cintura surrealmente fina da modelo que dividia a foto com ele, seus pensamentos escapando imediatamente para Annie. Ela ia odiar aquilo, ainda mais do que já estava odiando.

Não tinha sido exatamente tranquilo dar a Annie a notícia de seu investimento na carreira de modelo, mas depois de alguns minutos de discussão, Finnick conseguiu aplacar o desagrado da namorada. O problema começou quando ele disse quem seria sua agente nesse início de carreira.

— Você vai realmente fazer isso comigo? – Ela perguntara, depois de alguns segundos de muda incredulidade logo assim que Finnick contara do envolvimento de Coin em seu primeiro ensaio. – Você sabe que ela dá em cima de você, e você sabe que eu detesto ela. E você vai correr justamente pra ela para te apresentar o mundo da moda?

— Eu não corri para ela. – Finnick corrigiu. Quis acrescentar que não tinha opção, mas segurou a língua. – Ela me ofereceu a oportunidade, e você viu que eu tentei recusar.

— Mas bastou ela insistir um pouquinho e você logo abriu a guarda, não foi? – Annie estrilou. – Podia ser qualquer pessoa, Finnick. Você podia começar com isso com qualquer outra pessoa. Ela sabe que você vai estourar, e ela quer o seu sucesso pra ela. Ela quer te explorar. – Annie acusou, a voz saturada de uma mistura explosiva de raiva, ciúmes e exasperação. – É impossível que você não esteja vendo isso.

— Eu sei que ela não é flor que se cheire, mas ainda sim é uma oportunidade, Annie. E eu não posso deixar escapar. Eu preciso do dinheiro. E com ela, vou começar ganhando muito mais do que um modelo ganha quando começa em uma agência comum.

Annie não pode argumentar com essa lógica. Para justificar sua súbita aliança com Coin, Finnick alegara a piora de sua situação financeira, com o aumento do aluguel e a recente diminuição de seus ganhos no Señorita com a ligeira queda no movimento do bar, que diminuiu consideravelmente sua comissão. Ele precisava de dinheiro, e rápido, e Coin caíra de paraquedas com uma solução para o problema. Era uma meia verdade, porque ele estava mesmo mais apertado financeiramente do que de costume – eu sei, vocês achavam que isso nem fosse possível, mas o que está ruim sempre pode piorar. -, só não era o principal motivo por trás da decisão.

— Vai ser só por um tempo. – Ele disse, aproximando-se de Annie e beijando sua testa, aproveitando para afundar o nariz em seus cabelos e sentir o cheiro característico de seu shampoo. – Eu não gosto disso mais que você, pode acreditar. – Provavelmente a primeira frase sincera dita por ele durante toda a conversa. – Assim que eu puder, me livro disso, e aí eu volto a ser eu. – Ele disse, um pouco mais intensamente do que alguém que pretendia aparentar a despreocupação que ele pretendia. Era quase uma promessa, mas tinha algo mais, uma esperança deslocada ardia nessas palavras, escapando através da camada de mentiras que ele criava para proteger Annie da realidade na qual ele se encontrava. Esperança de que ele pudesse de fato se livrar disso, de não ter de ser para sempre a marionete que ele estava se propondo a ser para proteger quem amava.

A conversa com Annie passou como um clarão por sua mente enquanto ele enlaçava a cintura da modelo ruiva. Encarou as roupas que usava, uma calça de um tecido marfim estranho que ele não sabia o nome, uma blusa vermelho sangue enrolada até os cotovelos, os dois primeiros botões desabotoados, um suspensório de bolinhas e uma boina da mesma cor da calça. Ele se sentia fantasiado para alguma coisa, mas todos no estúdio o tratavam como se ele fosse algum tipo de deus da sensualidade, e ele captara vários olhares indiscretos das mulheres presentes; mais do que o normal para alguém acostumado a chamar atenção como ele era. Por algum motivo, o achavam bonito naquela roupa absurda, o que era bom para disfarçar sua total inexperiência com as câmeras. Era seu primeiro ensaio, na tal Mr. Lizzard. Quando Coin chegara ao estúdio, com ele a tiracolo, foi cumprimentada entusiasmadamente por todos, e depois de apresentar Finnick aos presentes, o fotógrafo e o estilista começaram a falar sobre conceitos, estampas, poses e iluminação em uma língua totalmente estranha a Finnick.

Ele não era das exatas, ok, mas também estava longe de ser das humanas. Tinha certa dificuldade com os conceitos abstratos tratados com tanta importância e caras sérias pelos presentes, e duvidava que uma fotografia fosse capaz de transmitir tudo aquilo do que eles estavam conversando. Ele tinha certeza que um cliente não ia passar os olhos naquela imagem por mais de três segundos – talvez uns cinco na foto dele, porque afinal de contas ele estava mesmo atraente com aquela roupa, por mais que fosse difícil para ele próprio acreditar -, e jamais pensaria em todas aquelas coisas que todos pareciam querer que o público pensasse quando colocasse os olhos nas fotos.

Finnick sentiu que colocavam uma esperança exagerada nos modelos. Como se eles fossem capaz de operar algum milagre dependendo do jeito que olhassem ou se posicionassem para a câmera.

— Finnick. – O fotógrafo disse, a voz soando cansada. Aparentemente, ele tinha se dado ao trabalho de aprender o nome de Finnick antes de gritar com ele, como o loiro acabara de vê-lo fazendo com outros modelos que posaram antes dele. Em todas as vezes, esse tom cansado premeditou o ataque, mas em nenhuma o fotógrafo chamara seu alvo pelo nome antes de explodir. – Eu sei que você tem namorada, a Alma me contou. Mas eu preciso de um pouquinho de atuação aqui. Olha pra ela. – Finnick ergueu o queixo timidamente e encarou a modelo ruiva, que sorriu para ele, encorajando-o. Ela parecia ter mais experiência, e ele não percebeu nenhum tipo de interesse naquele sorriso que ela lhe abriu. – Isso, olha pra ela, ela não vai te morder. Vocês formam um casal lindo para a câmera, mas é só isso, para a câmera. Não precisa ter medo.

— Eu namoro também. – A ruiva sussurrou para Finnick, em tom de confissão, e ele conseguiu esboçar um sorriso.

— É a primeira vez dele. – Coin interrompeu, a voz perfeitamente composta, porém o tom contido demonstrando o quanto lhe era custoso manter a paciência.

— Vamos tentar de novo. – O fotógrafo disse, mas a frase saiu mais como um suspiro. – Eu quero o romance sugerido no ar. Quero que as pessoas olhem a foto e achem que vocês são um casal real, mas sem que vocês se toquem muito.

Finnick trouxe a ruiva um pouco mais para perto, seu nariz roçando no cabelo solto dela. Parecia tremendamente errado, mas o “Isso!” empolgado que o fotógrafo deixou escapar com a nova pose o encorajou. Depois do flash, virou um pouco mais para frente e sorriu, mantendo a ruiva na frente de seu corpo, como se estivesse despreocupadamente abraçando-a por trás.

— Eu sabia! – O júbilo escorria pela voz do fotógrafo. – Sabia que se a Alma tinha te trazido aqui, você realmente levava jeito. Só precisava de um tempinho.

De relance, Finnick viu Coin abrir um sorriso torto. Os olhos cinza da estilista estavam fixos nele com uma espécie de presunção divertida.

Depois de uma rodada de fotos, o estilista que acompanhava o ensaio decidiu fazer uma pausa. Coin saltitou para o lado de Finnick.

— Eles gostam de você. – Ele disse, resplandecente.

— Imagino que fossem gostar de qualquer pessoa que tivesse o selo de qualidade Alma Coin. – Ele disse, ríspido.

Coin parecia se divertir com o jeito arredio de Finnick. Como se ele fosse um bicho do mato que ela tivesse esperança de domar.

— Mas você ainda não está dando o melhor de si... – Ela comentou, como se estivesse pensando em voz alta. – Hmm. – Ela deu a volta em torno de Finnick e colocou as mãos suavemente em seus ombros, que se retraíram com o toque. – O que eu vou precisar fazer para ter todo o seu potencial para mim, Finnick? – O tom da ameaça voltava à sua voz, dando uma nota cruel ao tom afável.

Finnick suspirou.

— Não vai precisar fazer nada. – Ele disse, rapidamente. – Olha, isso é difícil para mim. Eu nunca fiz nada parecido antes, preciso de um pouco de tempo. – Ele justificou, antes que a cabeça de Coin já começasse a trabalhar em novos planos que pudessem prejudicar a Cherry. – Eu estou tentando. Não é vantagem para mim te decepcionar.

Coin o encarou, séria, a testa vincada como se estivesse mergulhada em intensas reflexões.

— Você tem razão. – Ela ponderou. – Você tem toda a razão. – Ela apertou suavemente os músculos dos ombros de Finnick, que olhou em volta e pegou o fotógrafo olhando desconfiado para os dois. Assim que encontrou o olhar de Finnick, ele desviou a cara. Ótimo. Quanto tempo demoraria até que as fofocas de que ele e Coin tinham um caso começassem a estourar? Tentou não pensar demais nisso, para não perder a pouca concentração que havia acabado de conseguir. – Nós devíamos ter treinado, mas eu estava empolgada demais para te mostrar pro mundo. – A voz parecia distante, uma avaliação fria de um erro cometido. – Mas você está se saindo bem para uma primeira vez. – Ela estimulou. – E isso é ótimo. Você não ia querer me ver insatisfeita com o seu trabalho.

Finnick tentou fazer parecer um suspiro, mas o som que ele deixou escapar se aproximava mais de um grunhido de exasperação.

— Você não precisa ficar me ameaçando a cada minuto. Eu sei muito bem porque estou aqui, e sei tudo que está em jogo. Eu vou fazer o que eu preciso fazer, e vou fazer direito. – Ele ralhou, e ela sorriu atrás dele. Deu a volta até estar bem de frente para o loiro, olhando fundo em seus olhos verdes.

— Bom saber disso. Eu achava que às vezes você esquecia.

— Que eu virei seu escravo? Impossível.

Coin soltou uma gargalhada tão escandalosa que o fotógrafo se virou para olhá-los curiosamente quando ouviu o som.

— Meu Deus, Finnick, como você é dramático! – Ela acusou, ainda entre gargalhadas. – Eu achei que você tinha jeito para modelo, mas agora preciso considerar te colocar na carreira de ator. Talvez seja mais a sua cara. – Ela completou, os olhos divertidos encarando Finnick, que lutou contra a raiva que ameaçou emergir do fundo de seu estômago. Não era hora pra isso. – De qualquer forma, fico triste de saber que você se vê desse jeito. Não é como o resto do mundo parece te enxergar. – Ela disse, com uma piscadela. – Eles – Coin apontou discretamente para o fotógrafo e o estilista, que conversavam em voz baixa enquanto viam algumas das fotos na câmera. – te veem como um rosto que ninguém gostaria de abrir mão. Pense nisso e reveja sua maneira de encarar sua situação. Você não está tão ruim quanto imagina.

O estúdio foi se repovoando imperceptivelmente, inclusive a ruiva que fotografava com ele há poucos minutos.

— Oi. – Ela disse enquanto se aproximava timidamente de Finnick.  – Eu ouvi te chamarem de Finnick, mas não sei se esse é o seu nome mesmo...? – Sua voz transformou a frase em uma pergunta quando ela se interrompeu para que Finnick pudesse esclarecer.

Ele sorriu um pouco.

— É, sim. Finnick. E você é...? – Ele se interrompeu também, e ela riu do tom hesitante dele, a conversa cheia de reticências.

— Lavignia. – Ela solucionou o mistério, e ele assentiu. – Olha, você não me perguntou nada, mas eu vi que hoje é seu primeiro ensaio... E eu sei que é tudo meio esquisito, especialmente quando a gente é comprometido e os fotógrafos insistem em mandar a gente tirar foto agarrando um desconhecido. – Os dois riram um pouquinho.- Mas já, já você se acostuma, nem é tão difícil assim e você leva jeito.

— Você não acha que eu não devia ter que me “acostumar”? – Ele fez aspas com as mãos no ar. – Isso não devia ser talento? – Ele perguntou, sabendo que até certo ponto estava falando demais, mas deixando as coisas rolarem mesmo assim. Coin não seria capaz de ouvir sua conversa com Lavignia, estava longe demais trocando ideias com o fotógrafo. A não ser que ela fosse algum tipo de demônio com audição sobrenatural, e talvez Finnick não devesse duvidar disso.

— Nem sempre é talento. – Ela comentou, sorrindo. – No meu caso, a principal motivação foi pagar a faculdade, não vocação.

— Achei que eu fosse o único. – Ele disse, sorrindo de lado.

— Mas você leva mesmo jeito. – Ela comentou, pensativa. – Não sei como você veio parar aqui, mas se foi por acaso como eu, você pode ter descoberto um talento. Quem sabe? – Ela deu de ombros. O fotógrafo acenava freneticamente na direção dos dois. – Acho que nos querem de volta. – Ela comentou.

— Vai ficar mais fácil agora que sei o seu nome. – Finnick comentou, e Lavignia riu.

— Seremos o casal falso mais verdadeiro que esse estúdio já viu. – Ela rebateu, e Finnick sorriu. Ela era legal. Ele poderia ter tido mais azar nessa primeira vez.

Agora que tinham mais familiaridade e que já tinham tirado algumas fotos, a coisa fluiu mesmo com mais facilidade, então Finnick teve a chance de pensar um pouco sobre a situação em que estava. Especificamente sobre a condição de “escravo” na qual ele se colocara para Coin. A escolha das palavras foi para provocá-la, é lógico, mas não estava assim tão distante da realidade. Por mais que fosse até meio chocante pensar assim, seu corpo estava mesmo sob o poder de Coin, e ela tinha armas muito poderosas para mantê-lo subjugado a ela. O que mais Coin poderia pedir dele? O corpo, ela já tinha; para lucrar e exibir por aí como sua nova grande descoberta.

Sua mente rejeitou a ideia de sua situação ficar pior; ele não conseguia imaginar exatamente como, nem queria. Seu corpo já estava sob o poder de Coin, mas não havia muito mais que ela pudesse pedir a ele, havia? Ela não teria interesse em nada dele além disso. Sua mente e seu coração ainda estavam seguros. Ele ainda era dono de seus pensamentos e de seus sentimentos. Por mais que Coin continuasse invadindo-o e controlando-o, algumas coisas ainda eram privadas.

Enquanto ele pensava nisso, o fotógrafo o dispensou novamente, pedindo que Lavignia posasse sozinha. Coin parecia ter saído para comprar um café, e ele parecia ter alguns segundos consigo mesmo no meio daquela doideira. Correu de volta ao camarim em busca de seu celular, encarando fervorosamente a tela de bloqueio, uma foto dele com Annie no dia do primeiro ensaio de Annie para a Cherry. Ela estava vestida com uma das roupas da loja, de sabe-se lá qual signo, e o abraçava estranguladamente pelo pescoço, esmagando sua bochecha em um beijo estalado. Katniss havia tirado a foto, ele se lembrava muito bem.

Desbloqueou a tela rapidamente e digitou uma rápida mensagem para Annie.

Precisava se lembrar porque estava fazendo aquilo. E, acima de tudo, precisava se lembrar que estava seguro, porque era nisso que Coin apostava. Enquanto seu coração ainda fosse seu, ele amaria Annie, e era desse amor que Coin precisava para usar contra ele e manter o jogo a seu favor. Embora isso fosse perturbador sob certa perspectiva, era reconfortante sob outra; porque significava que seus sentimentos ainda estavam seguros dentro de si.

“Passei para dizer que te amo ♥” Ele mandou, talvez um pouco romântico demais para seus próprios padrões. Mas ele precisava disso. Precisava ter certeza que seu coração ainda era seu, sua mente ainda era sua, enquanto assistia seu corpo se tornar de outra pessoa.

~~

— Meu Deus, não é que a gente ficou mesmo com cara de modelo? – Johanna comentou, encarando a tela do notebook de Katniss, aberto na pasta que continha todas as fotos tiradas no ensaio das três amigas na Quinta da Boa Vista. – Olha essa. – Ela selecionou uma foto na qual se esticava graciosamente para alcançar uma flor presa em um tronco alto de uma enorme árvore. – Minha cintura ficou tão fininha, olha isso. – Ela suspirou, genuinamente surpresa. – Eles enviaram as fotos já editadas? Isso passou por photoshop? – Johanna perguntou.

— Não faço ideia. Acho que prefiro não saber. Prefiro pensar que essa sou eu ao natural mesmo. – Katniss comentou, voltando da cozinha com um copo de água na mão e sentando-se no sofá ao lado das duas amigas.

Elas estavam reunidas no sofá da sala da ampla casa de Katniss para selecionarem as melhores fotos tiradas no ensaio para os banners da campanha. Ainda havia outro ensaio, feito em estúdio, mas esse estamparia o catálogo e a decoração interna da loja. Nos anúncios e nos banners principais, o fotógrafo achou melhor usar as fotos ao ar livre.

— Já estou ficando cansada, faz umas duas horas que a gente está de frente pra esse computador e só escolhemos as fotos em grupo. – Katniss comentou, dando um suspiro enfadado logo em seguida.

— Ok, vamos agir como garotas práticas do mundo dos negócios. – Johanna começou, se remexendo no sofá e sentando com perninhas de chinês. – A gente deixa o notebook com cada uma pra escolhermos nossas fotos individuais. E quem estiver com o notebook se tranca no quarto para poder se concentrar, sem uma ficar dando pitaco nas fotos da outra. Depois que todas nós já tivermos decidido, a gente dá uma olhada e conversa sobre as escolhas. O que acham?

— Olha como ela está executiva! – Annie zombou, botando os cabelos atrás da orelha. – Eu concordo. Provavelmente foi a única coisa que preste que uma de nós falou aqui desde que ligamos esse notebook.

— Ai, me deixa começar, pelo amor de Deus, porque eu já não aguento mais olhar pra essa tela. – Katniss pediu, tomando o computador do colo de Johanna. – Não vou demorar. Já volto para continuarmos falando besteira. – A morena prometeu, levantando-se com o aparelho nas mãos e arrastando o fio da fonte pelo chão, quase como um rastro do caminho que percorria até o quarto, no final do corredor.

Sem a objeção das amigas, Katniss desapareceu no fundo do corredor, aproveitando o silêncio do quarto, já que Prim não estava em casa porque tinha ido dormir na casa de sua amiga Rue. Ela se jogou na cama e conectou a fonte do computador na tomada mais próxima, jurando a si mesma que não demoraria mais que trinta minutos escolhendo aquelas fotos. Mesmo que houvesse bastante opções para confundi-la (as três haviam sido fotografadas com pelo menos duas produções diferentes para cada um dos quatro signos que foram designados a cada uma) e que aquele fosse seu primeiro trabalho como modelo, merecendo portanto uma atenção especial, Katniss não se sentia exatamente disposta a perder tanto tempo encarando fotos de si mesma. Desde o término com Peeta, ela parecia se sentir cada vez mais impaciente consigo mesma e com as coisas e pessoas a seu redor, e tentava se convencer que aquela reação não era tão descabida para o fim de um relacionamento que prometia tanto, mas acabara de um jeito tão idiota.

Katniss voltou ao início das fotos, amaldiçoando mentalmente o fotógrafo por não ter lhe mandado as fotos separadas, as dela em uma pasta, as de Johanna em outra e as de Annie em outra. Agora, ela era obrigada a catar os cliques nos quais aparecia em meio a 237 fotos (sim, 237, esse era o número exato de arquivos a sua frente) que misturavam imagens suas, de Annie, de Johanna, das três juntas, dela apenas com Johanna, dela apenas com Annie e de Johanna e Annie sem ela.

Decidiu fazer um favor as amigas, e abriu três pastas para separar suas fotos. A medida que abria os arquivos, colocava-os nas pastas dependendo de quem aparecia na imagem, e aproveitou para ir selecionando suas próprias fotos enquanto arrumava os retratos nas pastas “Annie”, “Jo” e “Eu”.

Chegou a uma sequência da qual se lembrava bem, porque gostara muito da roupa escolhida. A blusa amarela justa tinha alças que eram amarradas no formato de um laço bem em cima dos ombros, e tinha sido colocada por dentro da calça branca de cintura alta, que terminava um pouco antes do tornozelo e tinha uns rasgos e fiapos ao longo das coxas. Nos pés, um escapin nude completava a produção elegante, e de seu pescoço pendia um colar delicado e comprido, com uma pena de metal como pingente. Ela gostara tanto daquela roupa que pedira a Mags para reserva-la na loja assim que a coleção completa chegasse à Cherry, mas Mags disse que levasse aquela que estava em seu corpo mesmo, já que servira perfeitamente. Sem pagar nada. “É um presente. Por você ter sido tão dedicada à campanha, tanto na agência quanto nesse ensaio.”, Mags dissera. Era a roupa do signo de Virgem, e Katniss se surpreendera por ter gostado mais até do que a de seu próprio signo.

Agora, ela encarava uma foto onde ela estava sentada em uma canga magnificamente estampada em tons de marrom, laranja, vermelho e azul. Suas pernas estavam despreocupadamente cruzadas uma sobre a outra, deixando o sapato bem a mostra e ela sorria abertamente para a câmera, os olhos fechados e o cabelo ondulando suavemente ao seu redor. O destaque da foto era o sorriso e o contraste dos tons da roupa com o da canga, mas tudo parecia se encaixar perfeitamente: seu cabelo preto esvoaçando ao redor de seu rosto, o corpo levemente jogado para frente, os olhos fechados e enrugados nos cantos por conta do tamanho do sorriso... A foto parecia perfeita, Katniss parecia perfeita, uma imagem digna de ampliação e de pendurar em algum ponto importante da casa. Mas havia outra foto pela qual Katniss também sentiu seu coração vacilar, uma na qual ela olhava distraída para o nada, segurando os cabelos para trás. A roupa era a mesma, mas nessa ela usava um bracelete dourado, que se destacava na imagem.

Depois de alguns minutos de indecisão, Katniss decidiu recorrer às amigas para ajuda-la a desempatar. Ela saiu segurando o notebook e tomando cuidado para não tropeçar no fio que se arrastava pelo chão, e, à medida que caminhava pelo corredor, pode ouvir a voz das amigas conversando animadamente na sala. Quanto mais perto chegava da sala, com mais clareza podia distinguir as palavras.

— Annie, não vai rolar. É sério. Ele gosta de outra pessoa. – Ela pegou a conversa cortada pelo meio, mas, por algum motivo, entendeu que conversavam sobre Gale. A voz de Johanna parecia levemente irritada.

— Por quê? Isso é tão idiota. Ele é um gato e fica sempre tão feliz quando te vê. Você é que é uma ridícula, mesmo. – Annie opinou, e Katniss foi quase capaz de ver a amiga revirar os olhos verdes enquanto discursava.

— Ele fica feliz quando me vê porque você namora o Finnick e a Kat namorava o Peeta, e eu sou a salvação para ele não ficar de vela. É lógica, Annie.

— Então faça não ser lógica, Johanna. Estou te estranhando, você acha mesmo que ele não cairia na sua se você tentasse o suficiente?

Katniss ouviu Johanna suspirar. Já estava na boca da sala, se desse mais um passo, seria vista pelas amigas, mas, por algum motivo, ficou parada, ainda oculta pela esquina do corredor. Ela sabia que as amigas continuariam conversando normalmente se ela chegasse, mas não queria interromper com sua chegada o caminho que a discussão tomava. Preferiu continuar ouvindo o diálogo se desenrolar sem sua presença.

— Ele gosta de outra pessoa. – Johanna disse, e a frase soou quase como uma confissão. Embora ela não tivesse dito nada sobre quem Gale gostava, só se aproximar desse assunto já a deixava nervosa.

— E isso por acaso impede ele de continuar a vida e beijar essa sua boquinha linda? – Katniss sorriu diante da observação de Annie, prestes a irromper pela sala e apoiar a amiga. Ela também torcia para que os dois avançassem o sinal. A verdade é que ninguém ainda entendia porque Johanna e Gale ainda não tinham acontecido. Mas os dois sabiam muito bem o impedimento que existia, muito embora Gale tenha parecido esquecer-se desse empecilho quando tentara beijá-la no Señorita algumas semanas atrás.

Johanna não tinha contado sobre aquele quase beijo a ninguém, muito embora estivesse louca para desabafar sobre aquela noite insana assim que se despediu do moreno, de Peeta e de Finnick e entrou no táxi de volta para casa. Mas ela não podia, porque teria que explicar porque negara tão veementemente o beijo, e ela jurara que ninguém além dela e de Gale teria acesso àquela informação. Teve que aturar a lembrança e todos os sentimentos despertados por ela queimando-a por dentro durante dias, até que decidiu que precisava esquecer o que acontecera para não enlouquecer. E sempre que alguém mencionava o nome de Gale – o que parecia acontecer com uma frequência maior que o normal ultimamente, e, para seu desespero, Johanna começou a reparar que os amigos dos dois tinham tomado para si a função de juntá-los de uma vez por todas - a frustração, a raiva, o ciúme, o desejo, tudo aquilo lhe subia pelo peito como uma tsunami e ela sentia vontade de gritar.

Mas não podia. Porque, acima de tudo, ela tinha um segredo a proteger.

— Pode não impedi-lo, mas me impede. Eu não sou mulher de beijar uma boca sabendo que ele está pensando em outra. – Johanna disse, e Annie ergueu uma sobrancelha, descrente. Johanna suspirou. – Se eu sentisse que existe uma chance, podia até rolar. – Ela explicou. – Mas... é complicado, Annie. Não vou fazer isso só porque eu quero, porque depois ele vai me chamar pra conversar, dizer que eu sou muito legal, mas que ele não consegue tirar a outra da cabeça. E eu não vou conseguir lidar com isso. – A nota triste na voz de Johanna passaria despercebida para alguém que a conhecesse menos que Katniss. E ela sabia que Annie também tinha reparado.

— Que coisa mais idiota. – Annie reclamou, impaciente. – Nem pra um beijo na boca o Gale presta, hein? – Ela comentou. – Mas me diz aí, de quem ele gosta? – Annie perguntou, pensando que se não servia para proporcionar alguns beijos à amiga, pelo menos ele podia fornecer uma fofoquinha boa da qual as duas poderiam passar um tempo falando. – Ou é segredo de estado?

Johanna foi pega de surpresa pela pergunta, porque nunca imaginou que Annie se interessaria por essa informação. As palavras se embolaram em sua boca enquanto ela pensava em qualquer nome para compor uma mentira decente.

— Não sei. – Ela disse debilmente, as palavras ganhando entonações inadequadas porque não eram naturais, e sua cabeça estava mais concentrada em formular respostas para as perguntas que ela sabia que Annie faria logo em seguida. Porque Johanna sabia que a amiga não acreditaria nem por um segundo naquela resposta evasiva.

— Qual foi, Johanna? – Ela zombou, a voz distorcida de modo que Katniss pode perceber que ela sorria debochadamente. – Vai dizer que ele não te falou? Vocês são tão amiguinhos, está na cara que ele já abriu o coraçãozinho sobre isso com você. – Annie cutucou. – É alguém que a gente conhece?! – Ela perguntou, a voz animada. – Por isso você não quer falar?

Katniss não viu, mas Johanna sacudiu a cabeça.

— Claro que não, Annie. Você namora o Finnick, a Kat namorava o Peeta... Nada a ver. – Johanna saiu pela tangente, tentando a todo o custo fazer Annie perder o interesse na provável futrica que ela se convencera de que Johanna sabia. – Ele não me deu detalhes.

— Então como você sabe que ele gosta de outra pessoa? Ninguém chega e fala que é apaixonado por alguém e deixa a informação pela metade, Johanna! – Annie acusou. – Você sabe e não quer me falar, eu te conheço, Johanna Mason. E isso só prova o que eu disse antes: é alguém que a gente conhece.

Katniss estava com a cara quase grudada na parede, como se aquela posição fosse fazê-la ouvir melhor o diálogo. Ela sabia que era feio forçar Johanna a contar o segredo de outra pessoa, mas elas eram todas amigas e sabiam que podiam confiar umas nas outras. Ninguém ia vazar o segredo de Gale, nem envergonhá-lo. E ela duvidava que Gale fosse ficar assim tão chateado se Johanna cometesse aquela pequena inconfidência. Eram todos amigos ali, afinal.

— Ai, Annie, que saco. Eu não vou contar. É o segredo dele, e ele confiou em mim. Você não vai me fazer contar nada.

— É alguém que a gente conhece! – Annie disse, a voz alguns decibéis mais alta. – É a Katniss? Eu bem reparei que de vez em quando ele olhava pra ela de um jeito est...

— Cala a boca, Annie! – Johanna pediu, a voz também mais alta, provavelmente numa tentativa 100% frustrada de manter a conversa fora do alcance dos ouvidos de Katniss, que as duas achavam estar trancada no quarto com a cara enterrada no notebook.

Silêncio. Katniss daria tudo para poder botar a cara na sala e espiar as duas amigas para ter acesso às expressões faciais que acompanhavam a conversa, mas agora era ainda mais fundamental que ela se mantivesse escondida.

— Ele gosta mesmo da Katniss. – Annie balbuciou, e Johanna não negou, pelo menos não verbalmente. – Puta merda, Jo, ele gosta da Katniss. – O tom de voz de Annie agora era baixo, urgente e preocupado.

— Você não pode contar isso para ninguém, nunca! – Johanna começou, sua voz apresentando notas claras de nervosismo. Merda, merda, merda. Annie ter acesso a esse segredo nunca foi parte do plano, e podia muito bem ser o primeiro passo para um problemaço entre os seis.

Mas, como tudo que está ruim ainda pode piorar, o que Johanna nem imaginava era que Annie não tinha sido a única a ser surpreendida pela notícia.

Agora, a novidade também havia chegado aos ouvidos de Katniss.

Katniss essa que agora se grudara à parede do corredor, os dedos doendo do esforço de segurar o notebook em suas mãos. Mas ela não sentia mais nada. Choque era a única coisa que corria por suas veias, e seus nervos pareciam ter perdido a capacidade de sentir os estímulos. Katniss parecia ter sido jogada para fora de seu corpo, e tinha sensação de estar assistindo a tudo aquilo em espírito. Tinha certeza que se voltasse ao quarto, veria seu próprio corpo largado na cama, talvez dormindo em cima do computador, e aí se daria conta de que aquilo tudo não passava de um sonho que envolvia uma experiência extracorpórea. Porque as palavras que ela acabara de ouvir não podiam ser reais. Gale? Apaixonado por ela? Impossível. Até pouco tempo atrás, ela namorava seu melhor amigo. Gale jamais faria isso com Peeta, não, aquilo estava errado.

Se fosse verdade, não era muito como se ele tivesse escolhido gostar dela, mas não era. Não podia ser.

Então, como que para cutuca-la, uma lembrança aleatória cruzou sua cabeça, e seu cérebro maldoso resolveu concentrar-se na imagem. Katniss, Peeta, Finnick, Gale e, mais tarde, Cashmere naquele bar com os super heróis no porta guardanapos. Finnick e Annie ainda separados, Katniss se sentindo culpada por estar saindo com o ex da amiga. O desconforto quando o nome de Cashmere foi citado. Parecia ter acontecido há uma era atrás, mas agora, com a mente concentrada nesse detalhe que ela ignorou na época, ela se lembrou. O jeito como Gale a olhara enquanto Finnick e Peeta pareciam discutir por telepatia. Como aquilo incutiu pequenas caraminholas em sua cabeça, mas que foram esquecidas, porque depois daquilo ela havia saído com Gale um milhão de vezes e ele jamais demonstrara sentir nada além de amizade por ela.

Mas, pelo visto, as caraminholas que nasceram em sua cabeça naquele dia não eram tão infundadas assim.

— Eu não vou contar! – Annie agora sussurrava, exasperada. – Jo, eu ainda não acredito. – Ela comentou, parecendo verdadeiramente chocada com a notícia.

— Depois a gente fala disso, por favor. – Johanna pediu. – Daqui a pouco a Katniss sai do quarto e...

— Sim, sim. – Annie interrompeu a amiga. Sua cabeça já havia juntado os pontos e ela sabia a catástrofe que poderia se desenrolar se Katniss sequer sonhasse com essa bomba.

Mas agora, Katniss mais do que sonhava com esse fato. Ela sabia. E, naquele corredor estrategicamente iluminado com fracas luzes amarelas, ela não tinha ideia do que fazer com o que acabara de descobrir.


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Notas finais do capítulo

E AÍ??????? PRIMEIRO ENSAIO DO FINNICK, KATNISS DESCOBRINDO C O I S I N H A S que não eram para ser descobertas........... UI!!!
Espero que vocês tenham gostado. O que acha que nossa KatKat fará agora que tem posse dessa informação indiscreta???
Sei que o capítulo foi meio chatinho, e peço desculpas por isso, mas vocês sabem que eu prezo que as coisas tenham um ritmo e se aproximem da realidade, então ás vezes preciso dar uma diminuída no ritmo dos capítulos porque na vida real nem sempre as coisas saem do nada, né? Preciso ir preparando terreno pras bombas estourarem kkkkk.
Não esqueçam que amanhã eu respondo os comentários do último capítulo!!! Não fiquem achando que eu esqueci ou não gosto mais de vocês. Muito obrigada pelo carinho de sempre, vocês sabem o quanto significam para mim.
Indo dormir pensando nos reviews de vocês hehehe
Um beijo e um lap dance ao som de Work (QUEM JÁ VIU O CLIPE???? GOSTARAM MAIS DE QUAL DOS DOIS???) (vcs já deram sua rebolada diária ao som de work hoje??) (O ministério da saúde adverte: uma rebolada ao som de work por dia melhora a saúde cardíaca e muscular, aumenta o condicionamento físico e é fonte de felicidade e bem estar mental. Só cuidado para não deslocarem a coluna).