Money Make Her Smile escrita por Clarawr


Capítulo 39
Is it too late now to say sorry?


Notas iniciais do capítulo

'CAUSE I'M
MISSING MORE THAN JUST YOUR BODY
TCHURURUTCHUTCHURURU
IS IT TOO LATE NOW TO SAY SORRY?????
YEAH I KNOW THAT I LET YOU DOWN
IS IT TOO LATE TO SAY SORRY NOW??????
Gente, eu NÃO RESISTI. Precisei colocar esse hit aqui na fanfic. Eu bem achava que fosse conseguir bater a marca de passar mais de dois anos escrevendo uma fanfic que tem duas músicas por capítulo e nunca colocar nenhuma do nosso amigo jb (reflexo da época que gostar de jb era vergonhoso, quem lembra??), mas essa música é hit demais para simplesmente ser ignorada. Especialmente em um capítulo para o qual ela é ABSOLUTAMENTE PERFEITA.
Hmmm, apostas de quais serão os destaques de hoje?? Eu espero que vocês já saibam de quem falaremos nesse capítulo hehehe E espero que gostem também. Muita gente vem pedindo por isso há bastante tempo, então tô deixando um presentinho para vocês aqui hehehe
Bom, esse capítulo conta com o hit Sorry, do gente boníssima Justin Bieber no título e P.S.: I'm Still Not Over You, da rainha Rihanna como música do capítulo. Eu escrevi esse capítulo ouvindo umas musiquinhas pra me inspirar, e como vocês sabem que eu gosto de compartilhar essas coisas com vocês, vou colocar aqui umas sugestões de músicas pra ouvir enquanto vocês leem esse capítulo. Além das duas que já estão aqui, recomendo fortemente Casualty of Love, da Jessie J, Without You, do Usher com o David Guetta, Gypsy, da Lady Gaga e Codinome Beija Flor, do Cazuza.
Boa leitura!!! Ahh, e marquem um 10 nas notas finais hoje, tenho um recadinho para vocês lá.



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“Don’t you know I’ve tried and I’ve tried to get you off my mind

But it don’t get no better as each day goes by

And I’m lost and confused

I’ve got nothing to lose

Hope to hear from you soon

P.S.: I’m still not over you”

 

 

Era um dos típicos dias que deixavam Peeta de mau humor. As nuvens se misturavam, espessando-se de modo agourento no céu, que parecia cada vez mais opaco, o azul cada vez mais esmaecido e feio com a chuva que ameaçava cair e inundar a cidade, causando o habitual caos no trânsito que o Rio de Janeiro era obrigado a enfrentar sempre o temporal dava o ar de sua graça.

Como se ele não tivesse motivos suficientes para estar mal humorado. Uma pilha de textos e plantas de apartamentos repousava acusadoramente na sempre abarrotada mesinha de centro ao lado do sofá, e ele era quase capaz de encarar o olhar acusador das folhas de papel em branco, reclamando da negligência. Ele estava começando a se enrolar com os prazos da faculdade, e sabia disso, mas não tinha forças para se ajudar e começar a trabalhar nas tarefas. Ele sabia que isso só geraria acúmulo de trabalho, e a irritação e o cansaço que ele sentiria quando estivesse praticamente sendo enforcado pelos prazos dos professores faria a irritação aleatória de agora parecer cócegas. Com certeza não valia a pena protelar, e essa conclusão havia sido tirada lá nos meados do primeiro período, mas ele já estava às portas da formatura e até agora nada de aprender com seus erros.

Mas Peeta sabia muito bem que a irritação latente em seu peito não se tratava apenas do tempo, nem de sua irresponsabilidade para com os estudos. Ele sabia que tinha algo a fazer, mas era obrigado a lidar com a frustração de não conseguir tomar uma atitude. O rosto de Katniss pulou involuntariamente dentro de sua cabeça, seu nome soando em seus ouvidos. Fora justamente sua falta de atitude a estragar tudo entre eles, e era irônico pensar que a única maneira de consertar as coisas seria se Peeta fosse corajoso e agisse. Se ele não foi capaz de agir antes, por que seria agora? Era um círculo vicioso inexorável que o esmagava, debochando dele e de sua incapacidade de fazer o que precisava ser feito. Ele quase podia ouvir as risadas dentro de sua cabeça.

Idiota. Ele se acusou mentalmente, mas vinha se acusando disso há tanto tempo que a palavra não tinha mais efeito. Podia muito bem ter se tornado seu sobrenome, tamanha a frequência com a qual ele se atribuía esse título. Peeta Idiota Mellark. Precisava arranjar xingamentos mais contundentes.

Peeta ouviu os passos de Finnick no corredor, indicando que em poucos segundos o amigo surgiria na sala. Tentou recompor a expressão para evitar as perguntas, mas não foi totalmente capaz de impedir que Finnick interrompesse sua caminhada até a cozinha para encará-lo com o olhar cheio de confusão. Talvez sua expressão estivesse pior do que ele imaginara.

Finnick parou por um segundo, olhando interrogativamente para Peeta atirado no sofá. Peeta o ignorou, fitando inexpressivamente a TV a sua frente, e Finnick então continuou a caminhada. Embora evitasse o rosto de Finnick, podia jurar ter visto o amigo dar de ombros suavemente antes de recomeçar a andar.

— Porra, Peeta, não acredito que você esqueceu de encher a garrafa de água de novo. – A voz irritada de Finnick soou abafada pela parede que dividia os cômodos. Peeta pode ouvir o barulho da garrafa de vidro sendo pousada na bancada com força desnecessária, e em menos de um segundo o barulho do filtro sendo aberto e da água enchendo o recipiente se fez ouvir. – Não tem uma gota de água gelada para beber nessa casa. – A porta da geladeira foi fechada com violência.

— Chupa gelo. – Peeta sugeriu, friamente. – Te garanto que está bem fresquinho. E é água também.

Finnick caminhou até a sala, um olhar homicida no rosto.

— Se você tivesse a competência de colocar água dentro da porra da forma de gelo e enfiasse dentro do congelador, eu até podia tentar. Mas nem isso você faz. – Ele rebateu, raivoso.

— Nem você. – Peeta rebateu. – Se fizesse, nem estaríamos tendo essa discussão.

— Caralho, Peeta. – Finnick bufou. – Se você foi o último a beber água, é obrigação moral encher a garrafa e botar pra gelar. Todo mundo sabe disso. – Ele disse, um tanto exasperado, e logo depois voltou à cozinha para verificar se a garrafa já estava cheia.

Peeta levantou-se do sofá e seguiu o amigo até a cozinha.

— Tá, foi mal, cara. Prometo que não vou fazer isso de novo. – Ele disse, a voz mais mansa.

Finnick fechou o filtro e tateou a bancada atrás da tampa da garrafa. Depois, abriu a geladeira e acomodou a garrafa no fundo da prateleira para gelar mais rápido.

— Reparou que não tem nada para beber além de água? – Ele perguntou, ainda segurando a porta e examinando a geladeira lamentavelmente vazia. Tudo que se via era a garrafa de água e uns potes de comida congelada que variavam entre as marmitas que os dois levavam para a faculdade e as porções separadas para as refeições em casa. E algumas bananas já claramente mais maduras do que o aceitável, enfiadas ali em uma tentativa desesperada de retardar o apodrecimento. E vários ovos na porta.

Peeta não queria, mas acabou rindo.

— Fecha essa merda. – Ele disse, entre risos. - A gente já nem tem dinheiro pra comprar comida e você ainda quer aumentar a conta de luz com essa porta aberta.

Finnick acompanhou a risada do amigo e bateu a porta. Quando estava a meio caminho de passar por Peeta, encostado na porta do cômodo, as palavras cortaram o momentâneo silêncio.

— Você acha que a Katniss me perdoaria? – Ele perguntou, e as palavras pareciam ter literalmente saído do nada. De alguma maneira, porém, Finnick parecia esperar essa súbita disposição para conversas profundas do amigo. Ele sabia muito bem que as palavras estavam boiando dentro de Peeta, loucas para emergir e serem discutidas, mas ele as mantinhas seguramente afogadas sob a água de insegurança que o impedia de deixar de ser o covarde que ele vinha se mostrando.

— Acho. – Finnick respondeu, e viu os olhos do amigo se iluminarem. – Eu perdoei a Annie, não perdoei? A situação é parecida.

Em outros tempos, Peeta faria uma careta ao ser comparado à Annie. Agora, porém, que já estava ciente de sua semelhança com a antes odiada namorada do amigo, não incomodava tanto. Era a verdade, afinal.

— Mas eu não contaria com isso. – Finnick recuou levemente, tentando manter os pés de Peeta no chão. – Você a magoou, e talvez ela ainda não tenha conseguido passar por cima disso. Eu demorei a conseguir superar. – Ele disse, a voz ficando distante no final da sentença, lembrando-se do quanto queria aceitar Annie de volta, mas do quanto seu orgulho ferido falou mais alto, pelo menos no início, quando ela voltou a procura-lo. – Você a quer de volta?

— Quero. – Peeta respondeu, sem pensar duas vezes.

— E você está disposto a mudar por ela? – Finnick perguntou, a voz levemente mais intensa, como se ele destacasse um ponto de extrema importância, mas que talvez Peeta não tivesse considerado. – Não pense que as coisas vão voltar ao que eram antes. Vocês terminaram por um motivo, porque você não queria se comprometer. Você já resolveu isso?

Peeta deixou o olhar se perder na bancada bagunçada, encarando um pano de prato esquecido ali.

— Eu preciso escolher, cara. Por enquanto, eu tenho escolhido estar solteiro, mas essa escolha não está me fazendo nenhum bem.

— E você vai correr para ela só porque está infeliz agora? – Finnick deixou que a reprovação envolvesse as palavras.

— Eu estou infeliz porque estou sem ela. Não é como se eu fosse correr para ela porque ela é uma substituta pra minha infelicidade. Ela não é uma distração. – Ele disse, e sentiu as palavras arderem no fundo da garganta. Eu a amo. Ele quis acrescentar, porque seria uma explicação muito mais simples, genuína e eficiente. Mas ele não conseguiu dizer, nunca conseguia.

Ele baixou os ombros, impotente. Se não conseguia confessar nem para seu melhor amigo, como esperava conseguir falar para ela?

Finnick quis dizer em voz alta. Você a ama. Bem vindo ao clube dos apaixonados. Mas achou que seria melhor que as palavras viessem de Peeta naturalmente, ao invés de colocar a ideia na cabeça do amigo.

— Ah, cara. – Finnick suspirou, sacudindo a cabeça pra teimosia do amigo. – Por que você está perdendo tanto tempo, hein?

E foi o que bastou. Num rompante, Peeta se lançou pra fora da cozinha e correu até a mesa de centro, bagunçando seus papéis da faculdade até achar as chaves do carro. Um fino chuvisco caía na rua, e as nuvens continuavam pesadas e escurecidas, indicando que o temporal verdadeiro ainda estava por vir. Provavelmente não era inteligente sair naquele momento, mas Peeta não era famoso pelas atitudes sensatas. E precisava ir logo antes de perder a coragem.

— Boa sorte! – Ouviu Finnick gritar, e não soube se o amigo ouviu o obrigado que ele gritou por cima do ombro enquanto fechava a porta e apertava com força o botão do elevador.

~~

— Peeta? – A voz suave de Katniss deixou trair uma nota vibrante de surpresa quando ela abriu a porta de casa e deu de cara com ele. Eram quase sete da noite de um monótono dia chuvoso, e fazia cerca de uma hora que Johanna e Annie deixaram sua casa, encerrando a pequena reunião para a escolha das fotos que comporiam a campanha da Cherry.

Contrariando o clichê, Peeta na verdade tivera bastante tempo para pensar no que fazer quando encontrasse Katniss, devido ao trânsito que já começava a demonstrar reflexo da chuva que se armava para assolar a cidade. Tempo o suficiente para que o jorro de coragem perdesse o efeito e o nervosismo entrasse em ação, mas não o suficiente para fazê-lo desistir.

— Preciso falar com você. – Ele disse, a voz intensa, ardente. Katniss olhou para o apartamento e depois para Peeta. Ela se afastou para que ele pudesse entrar.

— Entra. – Ela convidou, os olhos magnificamente acinzentados ainda confusos. – Alguma coisa com a Prim de novo? – Ele perguntou, tentando entender o tom de Peeta.

— Não. – Ele respondeu, enquanto entrava. Ela apontou o sofá e ele se sentou. Ela sentou-se logo depois dele, a seu lado, cotovelo apoiado nas costas do estofado e a cabeça pousada na mão.

Silêncio. Ela esperou que ele falasse, os olhos de aço ainda confusos, mas nada duros ou na defensiva como da última vez em que se encontraram. Ela não parecia nada além de curiosa, e isso preocupou Peeta. Será que sua presença não tinha mais nenhum efeito sobre ela? Será que vê-lo não lhe despertava mais nada?

Ele a encarou gravemente, sem saber como começar. Observou os cabelos negros presos em um rabo de cavalo alto, o casaco esverdeado com estampa de corações com o zíper fechado até a metade, o short jeans desfiado. Ela estava prestes a chama-lo, porque ele parecia ter esquecido onde estava ou o que ia fazer enquanto admirava seu rosto, quando ele respirou fundo e sua boca se moveu.

— Eu vim porque isso estava me matando, Katniss. – Ele começou. – Desde aquele dia em que eu saí do seu quarto eu sabia que tinha sido um erro, e que eu ia me arrepender, mas eu não podia não fazer aquilo, porque era a única atitude que eu sabia tomar. Era a única coisa que eu podia fazer, porque eu nunca vivi nada que me fizesse querer ficar.

Katniss franziu o cenho, tentando entender as palavras de Peeta. É lógico que ela sabia a que ele estava se referindo, mas ainda assim, ele parecia não estar falando nada com nada.

Peeta não havia escolhido um bom dia. Ela tinha acabado de descobrir clandestinamente a paixão secreta que Gale nutria por ela, e só essa notícia já era o suficiente para um ataque nervoso que duraria a noite toda. O choque ainda não havia passado, e Katniss ainda podia ouvir o tom magoado de Johanna enquanto Annie arrancava a verdade dela. Agora ela ainda seria forçada a ter essa conversa? Ele teve tantas oportunidades...

Mas é claro que, se tratando de Peeta, ele escolheria o pior momento possível para despejar todo o seu arrependimento.

Seria hipocrisia dizer que a iniciativa de Peeta não acelerou seu coração, ou que ela estava completamente indiferente às palavras do loiro. Mas, naquele momento, o sentimento predominante foi uma pontada de irritação que lhe perfurou com o discurso vazio proferido por ele, e com o timing ruim. É lógico que dessa última parte ele não tinha culpa, mas ela não viu como refrear o sentimento. Era quase infantil, e ela queria virar a cara e fugir dali para que Peeta não continuasse com aquilo, não naquele momento, mas teve medo de interrompê-lo e perder para sempre a oportunidade de ouvir aquelas palavras saindo de sua boca. Decidiu esperar que ele amarrasse as pontas e desse alguma coerência e significado ao que pretendia dizer.

— Foi difícil pra mim te deixar, mas eu... Eu sei lá, Katniss. Achei que fosse a única coisa que eu pudesse fazer. Era o que eu fazia sempre, e eu sabia que você era alguém diferente, que merecia que eu tivesse uma atitude diferente, mas eu não consegui. Mas eu fui tão idiota, porque eu sabia que era um erro desde sempre, e eu não prestei para fazer nada a respeito disso até agora... – Ele se interrompeu, sacudindo a cabeça, evitando os olhos levemente estreitos nos cantos de Katniss.

— E você veio aqui para fazer exatamente o quê? – Ela incitou, contendo um sorriso diante da confusão dele. Não queria tornar as coisas mais difíceis para Peeta, então tratou de recompor a expressão para ele não achar que ela estava debochando dele.

— Pedir desculpas. Dizer o quanto eu fui estúpido. Dizer que você não merecia, na verdade, você merecia alguém bem melhor do que eu. Dizer que eu sinto muito, muito mesmo a sua falta. E que eu te quero de volta, mas sei que não mereço.

Ela ainda o encarava, os olhos impenetráveis. Ela se endireitou no sofá até estar de frente para ele, tentando se reorganizar por dentro. De certa forma, sempre que ela via Peeta depois do término, esperava ouvir essas palavras dele, porque intuitivamente sabia que sua história com ele não estava acabada. Mas ouvir tudo aquilo não era tão reconfortante quanto ela esperava que fosse.

— Ah, Peeta. – Ela suspirou, um sorriso tristonho movendo os lábios cheios. – Você não faz ideia de como foi descobrir que eu estava para seguir em frente e você não... – Ela soltou uma risada que mais parecia uma tentativa de segurar o choro. Como uma pequena abertura em uma válvula de emoções, para evitar que a panela explodisse através de seus olhos em uma torrente de lágrimas.

— Mas não foi porque eu não gostava de você o suficiente. – Ele se apressou em explicar.

Ela assentiu. De um jeito estranho, ela sabia.

— Lembra o que eu te disse aquele dia? Que eu não sabia se conseguiria ser sensata se tivéssemos aquela conversa? Então você achou mesmo que eu fosse entender isso naquele momento? – Ela perguntou, os olhos gentis.

— Mas entende agora? – Ele perguntou, esperançoso.

— Acho que sim. – Ela disse. – Mas isso não resolve o problema. – A frase fez seu coração doer, e daí, tudo rolou ladeira abaixo. Ela precisou respirar fundo duas vezes para poder falar sem derrubar nenhuma lágrima.

Sentiu seu peito se apertar enquanto olhava para Peeta ali à sua frente, tão à mercê. Ela ainda o amava, como poderia se enganar? Mas o sentimento ainda tinha o gosto amargo da decepção, e ela não sabia como arrumar aquilo se não era mais tão puro. Não era simples como costumava ser, porque aquela rejeição de Peeta reavivou inseguranças antigas, que ele mesmo tinha ajudado a fazê-la superar. Era o primeiro obstáculo que eles teriam que superar.

Ela encarou os olhos azuis de Peeta, sentindo aquele típica sensação que lhe sobressaltava sempre que ela se maravilhava com a cor. Aquela explosão morna e suave, quase um borbulhar que parecia fazer seu coração inchar e uma ânsia imensa de sorrir tomar seu rosto. Ela quis erguer a mão e passar os dedos pelos cabelos loiros, afagar seu rosto, mas sabia que a felicidade não seria completa se ela cedesse agora. Ela ainda não tinha se refeito, e não lhe parecia justo deixar parecer que ela estava esperando por ele. Mesmo que ela estivesse.

— O que resolve então? – Ele perguntou, daquele jeito estabanado de sempre, pronto pra resolver as coisas da maneira mais óbvia que encontrasse.

— Não sei, Peeta. – Ela respondeu. – Não é porque entendo um pouco melhor as coisas agora que isso deixou de me magoar.

— Isso é um não? – Ele perguntou, a voz perceptivelmente mais dura.

— É. – Ela respondeu, curta e grossa, em reação à mudança nele. – Não sei se essa é a melhor ideia, Peeta... – Ela suavizou o tom. – Não sei se é o que eu quero agora, e não se trata apenas de você. Eu quero passar um tempo sozinha. Não está sendo tão ruim quanto costumava ser, e eu quero aproveitar isso por um tempo.

Peeta se enrijeceu no sofá, sua cabeça imediatamente montando o pior cenário assim que as palavras foram ouvidas. Aproveitar por um tempo? Será que ela tinha descoberto as facilidades da vida sem compromisso e estava aproveitando da mesma maneira que ele aproveitava? O ciúme atacou, mordendo violentamente e lhe travando os músculos em uma onda de desespero. Ele precisou de um minuto para se acalmar, e de outro para se lembrar que não era mais de sua conta.

Flashes da noite com Clove piscaram em sua cabeça, para cravar a faca de culpa mais fundo. Ele não tinha o direito. Ele mesmo disse que ela merecia alguém melhor...

Katniss viu a expressão de Peeta desabar com sua menção a “aproveitar isso por um tempo”, e seu primeiro impulso foi dizer que ele tinha entendido mal. Não era daquilo que ela falava, estar solteira naquele momento significava mais um momento de autoconhecimento e de aprendizado do que uma carta branca para sair pela noite livre para beijar a boca aleatória que ela quisesse. Tratava-se muito mais de se recuperar, de tentar manter a paz e a autoestima que Peeta injetara em sua vida mesmo que ele não estivesse mais presente. Tratava-se de aprender que ela não estava sozinha porque não era desejável ou interessante, e que certamente não fora ela que não foi boa o suficiente para manter Peeta por perto. Tratava-se de se surpreender ao perceber que sua própria presença a fazia feliz, e aos poucos se sentir cada vez mais forte e satisfeita com sua própria personalidade. Mas depois ela concluiu, com uma pontada de malícia, que talvez uma dose de ciúme fizesse bem a Peeta, então deixou que ele entendesse sua frase como bem quisesse, e, com sorte, ele ficaria com isso na cabeça por um tempinho.

Por mais que dar um ultimato a Peeta doesse, ela ainda não estava preparada para abrir mão de se surpreender positivamente consigo mesma, para interromper aqueles momentos de alegria estranha e aleatória que a animavam quando ela percebia que estava bem, apesar de tudo. Se no início estar com Peeta era um ato de coragem para a menina tímida conseguir desabrochar, agora recusar estar com ele era o próximo passo para continuar seu crescimento. Voltando para Peeta naquele momento, ela abriria mão de se desafiar e voltaria para a zona de conforto que estar com ele havia se tornado. Ela queria continuar se alegrando consigo mesma a medida que percebia que se recuperar não era tão dolorido quanto ela pensou que seria.

Peeta deixou que seu olhar se perdesse no rosto de Katniss por um instante, enquanto apreendia que agora quem não era capaz de insistir neles dois era ela. Pelo visto ele tinha causado mais danos do que imaginara.  

— Eu te perdi mesmo, não é? – Ele sacudiu a cabeça, a frustração, a raiva de si mesmo, a mágoa e a tristeza se misturando em uma perigosa sopa de depressão que parecia fervê-lo por dentro. Era como se ele tivesse queimado a língua tomando algo quente demais e o líquido viesse abrindo caminhos a murros ferventes por seu esôfago, até chegar ao estômago com uma onda miseravelmente dolorida.

Ela sacudiu a cabeça involuntariamente.  

— Nada é para sempre. – Ela o lembrou, a contragosto. Não queria dar esperanças, mas ao mesmo tempo não queria mentir e dizer que a história deles estava acabada para sempre. Ela sabia que era uma questão de tempo, assim como fora para Annie e Finnick, mas não queria deixa-lo ciente desse fato.

Talvez fosse crueldade. Infantilidade, talvez ela fosse apenas orgulhosa demais para admitir que ainda o amava. Mas ela devia isso a si mesma. Mostrar-se forte o bastante para poder dizer não, por mais que seu coração parecesse se dilacerar enquanto ela encarava aqueles gloriosos olhos azuis se entristecerem com sua negativa.

Ele se levantou e, por reflexo, ela se pôs de pé também. Uma mecha de seu cabelo escapou do rabo de cavalo, e Peeta se aproximou para coloca-la atrás de sua orelha. O coração de Katniss crepitou com a proximidade e a saudade, mas ela se manteve firme.

— Eu não vou desistir de você. – Ele disse, e o coração dela se acelerou ainda mais com a frase. Mas não era uma pulsação nervosa, nem angustiada. Era morna, aquecida, como se seu sangue subitamente tivesse se transformado mel derretido dentro daquele órgão que pulsava insanamente rápido, mas agora não machucava.

Ela não ia admitir o quanto era bom ouvir aquilo.

— Não duvido disso. – Ela respondeu, um sorriso suave nos lábios. Ele se inclinou e beijou seu rosto suavemente.

E, tão rápido que Katniss precisou de um segundo para se recompor, ele andou até a porta e saiu do apartamento.

Ela correu até a porta e a escancarou, só para dar de cara com o corredor vazio. Ele devia ter ido pelas escadas. Bateu a porta em seguida, sentindo o controle sobre si mesma lhe escapando aos poucos das palmas das mãos agora suadas.

Ela não queria ser dramática ao ponto de imitar os personagens de novela naquele clássico de grudar as costas na porta e deslizar até o chão enquanto deixava o choro convulsivo vir à tona, mas teve medo de não conseguir chegar ao sofá a tempo. Sua visão já estava embaçada com as lágrimas, e ela mal foi capaz de tropeçar até o estofado sem deixar que algumas caíssem, umedecendo o piso.

Katniss se atirou de bruços no sofá, enterrando o rosto em uma das almofadas e soltando um grunhido exasperado de frustração. Ela já havia chorado por Peeta, quando o término ainda era recente, e não achava que fosse mais capaz de derramar nenhuma lágrima por ele. Mas agora não era só a tristeza voltando. Ela nunca achou que sentia raiva de Peeta, mas agora foi consumida por um ódio tremendo; ódio dele, ódio de si mesma por sofrer por ele, ódio por ter achado que estava tão bem mas na verdade ainda ser capaz de chorar por ele só por ouvir meia dúzia de palavras bonitas.

— Desgraçado! – Ela gritou contra a almofada, os soluços distorcendo as palavras em sílabas esquisitas. – Cafajeste! – Ela se debateu.

Depois de grunhir e socar os estofados por alguns minutos, Katniss pôde sentir a temperatura de seu corpo abaixar lentamente, os tremores diminuírem. Ela sentiu calor, então tirou o casaco com muito cuidado, para compensar a série de socos e movimentos bruscos que ela acabara de protagonizar. Envergonhada de si mesma, - aquele seria um momento de descontrole do qual ela com certeza odiaria se lembrar no futuro, e odiaria mais ainda dar o crédito da responsabilidade por aquela atitude a Peeta. – ela se endireitou no sofá, sua cabeça se aquietando.

Provavelmente era uma péssima ideia, mas ela não conseguiu impedir seu cérebro de relembrar os eventos do dia, determinada a parar de sentir raiva de Peeta. Era uma atitude idiota e irracional, e não ajudaria em nada naquele momento. Mas o sentimento ainda queimava dentro dela, e a única possibilidade era direcioná-lo para outra situação tão ou mais ultrajante do que aquele pedido de desculpas tardio.

Gale.

Enquanto se lembrava da conversa de Annie e Johanna, foi capaz de se acalmar por alguns instantes, mas foi só a mágoa de Johanna reaparecer em sua mente para Katniss se sentir em chamas novamente. Por que todos os homens do mundo tinham que ser tão burros? Johanna gostava dele, e isso era tão óbvio! Mas não, ele teve que ir lá e se apaixonar por Katniss, e estragar tudo. As possibilidades de um relacionamento feliz com Johanna, a própria amizade com Katniss (agora que ela sabia, como conseguiria encarar Gale como sempre encarou?), a amizade com Peeta... Nem a ameaça de bagunçar tudo isso foi suficiente para Gale impedir seu coração de bater mais forte pela pessoa errada.

— Outro idiota. – Ela resmungou para si mesma. E se prometeu que, se não era capaz de dar um jeito na própria vida amorosa, ela tomaria para si a responsabilidade de arrumar as coisas para Johanna.

E seria naquele exato instante.

~~

Katniss estava no meio do caminho para a casa de Gale quando se deu conta de que aquela era uma péssima ideia, mas tentou evocar a raiva que sentiu em casa para lhe impedir de dar meia volta e voltar. Olhou o trânsito que se formava na entrada do Túnel Rebouças, e isso sim foi bastante eficaz para fortalecer sua motivação.  

Gale certamente ficaria chateado se soubesse que Katniss agora estava ciente de seu segredo, e toda a raiva ia recair sobre Johanna, afinal, ninguém mais sabia além dela. Mas Katniss não precisava trair Johanna e dizer que sabia de tudo. Ela podia só chegar como quem não quer nada e se dizer disposta a bancar o cupido, se Gale quisesse. Qualquer coisa para se ocupar da vida amorosa de outra pessoa e tirar o foco de si mesma.

Ela não tinha estado na casa de Gale tantas vezes, mas o porteiro não pareceu se incomodar em pedir-lhe alguma identificação, então ela só escapuliu para o corredor com os elevadores e se enfiou em um deles, tentando ao máximo manter a compostura no caminho até o andar do apartamento do amigo. Olhou-se no espelho, e seus cabelos pareciam desgrenhados, seus olhos um tanto ferozes. Gale estranharia aquela expressão, e as perguntas seriam inevitáveis.

Ela desembarcou pensando em como escaparia do interrogatório do amigo, pensando em estratégias para a conversa voltar a ele. Ela só se deu conta de que havia apertado a campainha quando notou que estava com o dedo afundado no botão há tempo demais, o grito agudo da sineta parecendo um protesto contra o aperto prolongado.

— Já vai! – Ela ouviu Gale gritar de dentro, o tom mal humorado.

A porta se abriu com um clique, e os olhos cinzentos do moreno se arregalaram em confusão um segundo depois de tocar o rosto de Katniss.

— Kat? – Ele perguntou, e ela sabia como ele se sentia. Há poucas horas, era ela quem abria a porta para uma visita inesperada. – O que você está fazendo aqui?


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Notas finais do capítulo

GENTE E AGORA????? E ESSE CLOSE QUE A KATNISS VAI DAR NA CARA DO GALE, COMO SERÁ??? SERÁ QUE ELA VAI FERRAR NOSSA JO??? O QUE ACHARAM??????
Eu tinha MUITA coisa pra falar nessas notas finais (mais do que o normal) (socorro), mas esqueci tudo. Aos que me pediram a volta Peeniss (e não foram poucos), espero que tenham gostado e entendam que mesmo que a Katniss tenha feito a cold hearted bitch, uma grande porta foi aberta aqui. Estamos cada vez mais pertinho de termos nossos chuchus de volta (ahh, isso não pode nem ser considerado spoiler, né??).
Mas eu queria falar de outra coisa com vocês. Gente, minhas fics nunca foram badaladas, e especialmente no caso de MMHS, com todas as demoras, eu MEGA entendo que vocês também demorem a comentar. Entendo MESMO, afinal, todos temos uma vida fora do Nyah. Mas na real, uma coisa que tem me incomodado, mesmo depois de dois anos de fic, é que o número de comentários nunca corresponde ao de acessos. Eu sei que é sempre assim, porque SEMPRE existem os fantasmas, mas tá ficando cada vez pior. Na última atualização, a fic chegou a 100 acessos só no primeiro dia (mais de 40 no capítulo de atualização), e recebi só DOIS comentários. Eu não gosto de cobrar reviews, nem nunca vou dizer pra vcs "só posto de novo se tivermos tantos comentários", mas saibam que eu fico muito feliz quando vocês se esforçam para me dar um feedback, nem que seja só um "adorei". Sério, gente, qualquer coisa. Demorem a comentar assim como eu demoro a poostar, mas APAREÇAM. Eu tenho exemplos de fantasminhas que ganharam forma corpórea (né, Arianne??? kkk) e várias outras amigas incríveis que fiz aqui no Nyah por meio de reviews. Quem sabe não acontece o mesmo com a gente?? Me deem uma chance, vai!!!
Um beijo atrás da orelha e uma arranhada na nuca.
Apesar de tudo, ainda amo vocês