Money Make Her Smile escrita por Clarawr


Capítulo 37
But things just get so crazy, living life gets hard to do


Notas iniciais do capítulo

[ANA PAULA DO BBB'S VOICE]: OLHA ELAAAAAAAAAAAAAAAAAAA A A A A A
Pois é, queridos, assim como Ana Paula foi eliminada num paredão falso do BBB e voltou mais rica do que nunca, EU VOLTEI TAMBÉM, mesmo que o meu retorno seja menos triunfal que o dela kkkkk
Eu sei, eu sei que jurei que ia maneirar nas demoras durante as férias, mas eu fiquei muito empacada com esse capítulo, gente. Como eu disse na última atualização, precisei mexer naquele meu planejamento final pra Money, e agora que estou tendo que reorganizar as coisas me deparei com um monte de probleminhas que eu não tinha considerado antes. Além disso, um delicioso bloqueio de escritora me atacou, e aí é que minha criatividade foi pro brejo e eu não conseguia mais ver solução pra arrumar as coisas que ainda vão acontecer nesta fanfic. Mas agora desempaquei e consegui arrumar tudo um pouquinho melhor, então acho que as coisas vão fluir mais facilmente.
Sobre o capítulo, bem, é agora que as coisas começam a ruir, pessoal. Tô construindo a base do castelo que será o problemão do plot final de mmhs, e agora as coisas vão começar a esquentar na direção da última treta (que eu pretendo que seja ÉPICA) (hehe).
Espero que vocês gostem, mas não acho que vão gostar. Tentei incluir uns momentos fofos do nosso casal favorito aí pra amenizar, mas vocês não se contentam com tão pouco kkkkk
Como de costume: música do título: Sunday Morning, do Maroon 5 (outra música que eu AMO e achei que nunca fosse conseguir colocar aqui) (o capítulo pode ser meio down mas pelo menos essa alegria ele tá me proporcionando) e música do capítulo é Disturbia - Rihanna (um dos hinos da melhor era do pop) (quem lembra quando começaram a dizer que a Rihanna tinha pacto com o demônio depois desse clipe??) (aquele cabelo da época de UUmbrella era top mesmo)
Até as notas finais!!!



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“It's a thief in the night, to come and grab you

It can creep up inside you and consume you

A disease of the mind, it can control you

It's too close for comfort

 

Put on your green lights, we're in the city of wonder

Ain't gonna play nice

Watch out, you might just go under

Better think twice, your train of thought will be altered

So if you must faulter, be wise

Your mind is in disturbia

It's like the darkness is the light

Disturbia

Am I scaring you tonight?

Your mind is in disturbia

Ain't used to what you like”

 

 

Finnick havia perdido a noção do tempo. Ele não fazia ideia de quantas horas passara sentado na cama do quarto, com o obsoleto laptop que seu pai lhe dera de presente quando ele terminara o ensino médio no colo, trabalhando furiosamente em sua monografia para a conclusão de seu curso na faculdade de biologia.

Faltava pouco agora. Esse semestre era o último antes de sua formatura, o que lhe dava uns dois meses e meio até o fim definitivo da faculdade. Parecia loucura pensar nisso, porque parecia ontem que ele estava sentado naquela cadeira desconfortável e apavorante para prestar vestibular...

O toque de seu celular o trouxe de volta à realidade, tirando-o do mundo das algas e plâncton no qual ele estava afundado até o momento. Ele finalmente se deu conta que ainda era um ser humano – àquela altura, ele podia facilmente se confundir com um pedaço de madeira, tamanha a quantidade de tempo que passara imóvel -, e seu corpo protestou contra a imobilidade forçada por tanto tempo enquanto ele se esticava para resgatar o aparelho da ponta da cama oposta à cabeceira, na qual ele se encontrava encostado.

— Oi, meu amor. – Ele disse para o telefone, sua voz um tanto rouca devido ao tempo em silêncio. A frase soou arrastada, quase como um gemido de dor, porque a concentração distraíra Finnick do incômodo que a posição na cama proporcionava, mas agora que o telefonema de Annie lhe retirava de seu transe, os diferentes músculos maltratados pareciam gritar por sua atenção, e era praticamente impossível ignorá-los.

— Você está ocupado? Pode falar um pouco comigo agora? – A voz de Annie soou meio engasgada do outro lado da linha. Finnick franziu o cenho, tirou o computador do colo e atirou as pernas para fora da cama, tocando o chão com pés agora dormentes. Ele foi capaz de sentir a desagradável ardência do sangue voltando a correr nos membros inferiores, os músculos entorpecidos relutantes em se contrair plenamente. Se minhas pernas não tiverem gangrenado, posso sim, ele pensou, mas obviamente não verbalizou. O tom de voz de Annie não abria espaço para gracinhas.

— Annie? – Ele perguntou, a voz cautelosa devido à tensão do outro lado da linha. – Aconteceu alguma coisa?

Annie suspirou do outro lado da linha.

— A Cherry, Finnick. Quase todos os investidores que tinham fechado conosco voltaram atrás e desistiram de liberar dinheiro para nós. O nosso dinheiro está acabando e ainda temos um milhão de coisas por fazer e pra pagar. – Annie explicou e se calou, esperando que Finnick lhe dissesse alguma coisa. Ela parecia cansada só de contar a história.

Finnick se levantou e, ignorando uma dor aguda e formigante que atingiu sua lombar, começou a caminhar pelo quarto com o telefone apertado na orelha.

— Como assim? Eles podem fazer isso? Eles não assinaram nada pra impedir que uma coisa assim acontecesse?

— Assinaram, mas a multa de rescisão do contrato ainda é menor do que o dinheiro que eles iam investir. O que é um erro muito idiota que até eu teria percebido se tivesse lido a versão final dos contratos dos investidores. Mas isso era função do Plutarch. – Ela disse, a voz assumindo um tom agourento.

— O que você quer dizer? Você está desconfiada que ele passou a perna em vocês?

Annie suspirou novamente.

— Não sei, Finnick. Eu conheço o Plutarch há muito tempo, e não acredito que ele faria isso. Ele gosta muito da minha tia, se é que você me entende – Sua voz assumiu um tom malicioso. – Não acho que ele faria isso com ela. Mas tem alguma coisa muito errada nessa história.

Finnick não entendia absolutamente nada sobre empreendedorismo, ações e essas coisas do mundo dos negócios. Na verdade, ele tinha horror a tudo isso, mas tinha que concordar com Annie que aquele era um erro muito de principiante. Ele não conseguia acreditar que aquilo passaria batido por Plutarch, que tinha feito milhões justamente porque cuidava bem do dinheiro dos ricaços do Rio de Janeiro. Ele não teria construído um nome tão sólido se deixasse coisas como essas passarem e arruinarem os investimentos de toda essa gente que ele agenciava.

Um silêncio se fez na linha enquanto Finnick tentava dar algum sentido à situação que Annie acabara de atirar-lhe na cara.

— E o que vocês vão fazer agora? – Ele perguntou, ainda se sentindo desagradavelmente vazio por dentro, como se soubesse que não havia atingido o nível correto de desespero que aquela notícia exigia. Ele podia ouvir Annie respirando apressadamente do outro lado da linha, como se ela estivesse caminhando rapidamente para algum lugar.

A agonia borbulhante na voz de Annie era o que mais fazia seu peito se apertar, mas ele tinha certeza que ela e Mags dariam um jeito rapidamente. O que gente rica não consegue resolver?

— Eu não faço ideia, Finnick. – Sua voz mal humorada respondeu. Era muito fácil reconhecer quando Annie estava irritada, porque sua voz adquiria uma cadência mais dura, um jeito de quem tentava com muito afinco se conter, mas se largasse as rédeas de seu gênio acabaria quebrando a mobília inteira com sua fúria. – Mas preciso descobrir logo. No momento, estou correndo para encontrar a Johanna e dar esse contrato para ela ler e dizer se tem mais alguma armadilha em outra cláusula. Mas eu nem sei... – Ela disse e se interrompeu, soltando um suspiro cansado logo em seguida. – talvez a gente tenha que adiar o lançamento da coleção. E, se a gente realmente não arranjar o dinheiro, talvez a coleção nem saia. E ainda vamos ficar com dívidas.

— Dívidas? – Finnick perguntou, o tom de voz finalmente aumentado com o choque. Era impossível para ele conceber a ideia de Annie e sua família tendo que lidar com dívidas. – Vocês não tem como arranjar esse dinheiro de outra maneira?

— Talvez minha tia possa assumir a maior parte das despesas, mas vamos ficar bem perto de quebrar se ela realmente tiver que fazer isso. – Annie tentou não deixar a nota de desespero em sua voz transparecer tanto, mas mesmo os 10% do tamanho real do terror que ela deixara passar serviram para Finnick finalmente entender exatamente o que estava em jogo naquele momento. – Além do mais, vamos precisar rezar pra coleção dar muito lucro, porque ainda temos que retornar alguma coisa para os poucos investidores que sobraram, além de recuperar o que nós mesmas vamos ter que investir... – Ela parou de explicar, sua voz morrendo a medida que as coisas paravam de fazer sentido em sua mente. Era aquela desagradável sensação de pesadelo, onde aos poucos você se perde no meio do caos até ficar completamente sem noção das coisas ao redor. – Preciso muito de você agora. Posso te encontrar depois que eu sair da Johanna?

— Claro. – Finnick respondeu. – Me avisa quando sair daí. Vou estar em casa o tempo todo.

— Tudo bem. Obrigada. Eu te amo. – Ela disse, e sua voz pareceu minimamente mais viva.

— Eu também te amo. – Ele respondeu. – E fica calma. Já, já tudo vai se resolver.

— Espero que sim. – Ela disse, a voz reassumindo o tom saturado de angústia.

Eles se despediram e Finnick se jogou atravessado na cama, os pés tocando o chão e as pernas dobradas como se ele estivesse sentado, mas o tronco encostado no colchão e a cabeça incomodamente apertada contra a parede. Ele estava sozinho em casa, e não havia nada que ele pudesse fazer além de esperar que Annie lhe ligasse para que os dois pudessem se ver.

Ele havia acabado de começar a entender o que aquela notícia significava realmente, mas não demorou muito para que ele começasse a sentir os sinais do desespero que toldava a voz de Annie. Sua cabeça finalmente compreendeu que Annie estava de cara com a possibilidade de perder quase tudo que vinha trabalhando com muito afinco nos últimos dois meses. Pela primeira vez ela se envolvia de verdade com os negócios da Cherry, e agora estava prestes a ter tudo arrancado de suas mãos em circunstâncias mais do que suspeitas. Na melhor das hipóteses, a coleção só teria seu lançamento adiado. Mas e na pior? Será que esse seria o primeiro passo para a ruína da família Cresta?

Ruína. Aquela palavra despertou um sinal em sua mente, e uma coisa foi puxando a outra até o fio ser totalmente desenrolado e deixar uma conclusão muito contundente piscando diante de seus olhos. Podia ter sido um tremendo de um azar, os investidores podem ter visto as fotos dos ensaios e as primeiras peças e não terem achado que o investimento valeria a pena... Mas havia, sim, alguém que tinha interesse em destruir a Cherry, e a maneira desencaixada com a qual o problema parecia estender à sua frente lhe fazia apostar em algo mais do que uma decisão repentina dos investidores de deixar a Cherry na mão. Alguém planejou uma desistência em massa dos investidores, e Finnick não precisou de muito tempo para entender quem era o responsável. Ou, nesse caso, a responsável.

Por um segundo, seu coração se acelerou com uma mistura de choque e raiva. Finnick não conseguia acreditar que ela fora mesmo capaz de fazer isso, muito menos entender como ela articulara uma tramoia daquelas se era apenas responsável pela parte criativa das peças da coleção, mas a frase agourenta reverberou por sua cabeça e ele entendeu que não devia se surpreender. Lembrava-se muito bem das palavras ameaçadoras: “Eu sou influente o bastante para elevar essa lojinha à glória, ou para afundá-la tão feio que nem toda a boa vontade da sua namorada e da mãe adotiva dela vão reergue-la da lama.”. Ela tinha contatos em muitas áreas, e aquele era apenas o seu primeiro golpe. O que mais ela seria capaz de aprontar se encarasse a resistência de Finnick uma segunda vez? Ele tinha medo de pensar.

Seus olhos estavam fixos no teto do quarto, dando-lhe a chance de notar que a tinta havia descascado em um pequeno ponto próximo à divisa com a parede. Ele não podia entrar em pânico, mas não conseguia pensar em nada além de ceder e se submeter à chantagem de Coin. De uma vez só, Coin já aleijara a nova coleção da Cherry e soltara sob as cabeças de Annie e Mags uma ameaça de quebra de finanças. Ela não hesitaria em soterrar a Cherry e a família de Annie se Finnick insistisse em contrariá-la.

Finnick tentou não entrar em pânico. Seu primeiro impulso era voar para o celular e ligar para Coin (que havia, inconvenientemente, registado seu telefone na agenda de Finnick para o caso de ele “mudar de ideia”. Ou talvez ela tivesse previsto esse momento e quis apenas prepara-lo para entrar em contato assim que percebesse a força da destruição que ela estava tramando se não tivesse o que queria.), mas algo segurava seus braços em uma imobilidade aterrorizada enquanto ele se dava conta do que estava sendo obrigado a encarar. A Cherry acabara de levar um golpe, e era culpa dele.

Ele precisou se forçar a respirar fundo e não agir como um idiota. Precisava encontrar-se com Annie antes de qualquer coisa, primeiro para apoiá-la, e depois para obter informações sobre a extensão real da catástrofe e fazer um movimento inteligente. Ele tinha 80% de certeza que seria obrigado a aceitar as condições de Coin, mas precisava entender exatamente onde estava se metendo para não ser atirado aos leões totalmente no escuro. Talvez houvesse um jeito de reverter o tiro, e ele não precisasse dar o braço a torcer para aquela mulher que ele tanto odiava.

Sua mão remexeu o celular novamente, mas dessa vez a intenção era conversar com Peeta ou Gale. Provavelmente Gale, que costumava ser mais sensato, mesmo que não fosse muito hábil nos conselhos. Entretanto, algo o parou, e uma voz de alerta em seu íntimo o deixou ciente de que talvez não fosse uma atitude esperta espalhar aquele problema, mesmo que apenas para seus melhores amigos. Ele precisava se manter em silêncio absoluto até decidir o que fazer, ou seja, não poderia contar com conselhos ou ajudas externas para ajuda-lo a decidir o que fazer.

A solidão era atordoante. Finnick não estava acostumado a esconder coisas de seus amigos. Uma vez ou outra ele preferia lidar com suas questões sozinho, mas ele sempre tinha a certeza de que a qualquer momento poderia pedir ajuda das pessoas com quem contava. Ele nunca fora obrigado a guardar segredo de seus melhores amigos, nem de sua namorada.

Era ainda mais central que Annie não soubesse de nada, porque ele sabia que ela ia dar um escândalo e tirar Coin do comando na Cherry e isso resultaria em mais retaliação. Ele não tinha muito para onde correr se quisesse manter a Cherry intacta; precisaria jogar o jogo de Coin e manter Annie bem longe dos problemas, pelo menos por um tempo, para que as coisas voltassem a seus lugares e a loja e a fortuna das Cresta estivessem a salvo.

Imediatamente quando a ideia surgiu em sua mente, Finnick foi obrigado a admitir que estava enganando a si mesmo. Se concordasse com as condições de Coin, estaria entrando num buraco sem fundo, porque ele tinha certeza que ela faria questão de manter as ameaças de pé só para mantê-lo ao seu lado como novo rosto do mundo da moda pelo máximo de tempo que pudesse. A influência que ela tinha para destruir a Cherry não iria se acabar caso Finnick aceitasse o acordo, e ele sabia que ela faria questão de lembra-lo do que estava em jogo sempre que ele sequer pensasse em pular fora. A Cherry estaria eternamente ameaçada, e ele estria eternamente nas mãos da desgraçada. O ideal seria que Coin jamais tivesse entrado na vida deles, jamais tivesse conhecido Finnick e a Cherry, mas agora não era possível chorar pelo leite derramado. Coin colocara os olhos nele e o queria para ela, e ele estava encurralado.

Seu celular tocou mais uma vez, e o toque pareceu arranhar seus ouvidos. Sua mão tateou pela cama até sentir a superfície lisa do aparelho entrando em contato com seus dedos.

— Oi, amor. – Ele disse depois de alguns segundos de atrapalhação para colocar o aparelho encostado na orelha na posição correta. Teve um leve sobressalto ao perceber que fazia quase duas horas da primeira ligação de Annie.

— Estou saindo daqui. – Ela respondeu. - Quer que eu passe aí ou a gente se encontra em algum lugar?

— Vem pra cá. – Ele disse. Sabia que ela ia querer estar sozinha com ele, para poder desabafar e receber seu apoio com mais privacidade. Um lugar público naquele momento seria a pior ideia.

Ela suspirou e abriu um meio sorriso. Ele a conhecia bem.

— O Peeta não está aqui. – Ele se apressou em dizer, interpretando o silêncio do outro lado da linha como hesitação.

Ela sacudiu a cabeça, esquecendo-se momentaneamente que Finnick não podia ver seu gesto.

— Não... – Ela ia contestar, mas logo percebeu que não era o momento para explicar sobre a trégua entre ela e Peeta. Ela nem sabia se existia trégua, na verdade, mas da parte dela as coisas estavam bem menos desconfortáveis. – Tudo bem, chego aí em meia hora. – Ela respondeu, antes dos dois se despedirem novamente.

Finnick desligou o celular e se atirou na cama novamente, tentando não se deixar soterrar pelos pensamentos perturbadores e a culpa que surgira mansamente, mas agora parecia disposta a estrangular seu peito.

Parecia que Annie não seria a única a precisar ser consolada naquela tarde.

~~

— A Johanna achou mais dois problemas no contrato. – Annie começou, depois de ficar abraçada em silêncio na cama com Finnick durante uns bons quinze minutos. A cama dele era pequena, o que os obrigava a ficar ainda mais juntos para que nenhum dos dois tivesse partes do corpo mal acomodadas no colchão. – Mas eu não entendi nada. Alguma coisa sobre a porcentagem na rentabilidade das ações e outra sobre o que nós faríamos se os investimentos somassem mais dinheiro do que a gente precisava. O contrato praticamente obrigava a gente a devolver com juros o que sobrasse, era quase uma multa por não termos usado o dinheiro todo. – Ela sacudiu a cabeça. – Ela disse que aquele contrato era uma piada, mas que estava bem disfarçado. Tirando o erro da multa de rescisão ser menor do que o dinheiro investido, o resto não era assim tão absurdo.

— Quando esses contratos ficaram prontos? – Finnick perguntou casualmente.

— Menos de um mês. Um pouco depois de termos fotografado o ensaio. – Ela respondeu, e a estranheza da pergunta não lhe passou despercebida. – Por quê?

— Estou pensando em algo que possa ter acontecido para motivar essas cascas de banana no contrato. – Ele mentiu tranquilamente. – Se você acha mesmo que foi alguém do pessoal do Plutarch que articulou isso tudo, deve haver um motivo. Pensei que sabendo a data dos contratos ficaria mais fácil descobrir a explicação pra isso tudo.

Annie assentiu, admirada com a perspicácia do namorado.

Tirando o fato de que ele sabia exatamente o que motivara aquelas cláusulas duvidosas, era realmente admirável. De qualquer jeito, ele ter inventado uma desculpa tão boa e tão rapidamente também era um feito digno de admiração.

— Eu nem sei se alguém é mesmo responsável por isso, Finn. – Ela disse. – Talvez eu esteja paranoica, porque mesmo que isso tudo me pareça muito estranho, a gente pode só ter dado azar. Eu sou nova nisso, posso ter pegado um momento ruim do escritório do Plutarch. Não acho justo duvidar de todas as demonstrações da confiança que ele deu à minha tia...

— Mas sua intuição te diz que tem algo errado. – Finnick completou a frase que borboleteava pela mente de Annie sem ser verbalizada.

— É. – Ela respondeu. – Posso não ter nenhuma experiência com negócios, mas eu não sou idiota.

— O que a Johanna acha? – Ele perguntou.

— O mesmo que eu, mas ela está um pouco mais convencida de que foi intencional. – Annie franziu o cenho de leve. – Mas ela acha que pode ter sido alguma outra pessoa. Algum subordinado do Plutarch, mas o problema é que como ele e amigo da minha tia, ele cuida dos negócios dela pessoalmente. Só ele bota a mão nas pastas de documentos da Cherry. Bom, não só ele. – Ela acrescentou, e a serenidade com a qual mencionou o nome fez Finnick perceber que ela já havia pensado nisso antes. – Ele e o Cato.

Finnick ergueu uma sobrancelha, entendendo onde Annie queria chegar. A ideia de deixar Annie acreditar naquilo lhe doía, por mais que Cato devesse ser um desafeto seu por conta do envolvimento dele e de Annie enquanto eles estiveram separados. Mas além de não sentir nenhum antagonismo direto quando pensava em Cato, era sobre o caráter de alguém que os dois estavam discutindo. Ele se odiou por não poder limpar a barra de Cato e jogar a culpa nas costas da verdadeira responsável por aquele circo, mas a necessidade do segredo falou mais alto do que a culpa por estar vendo uma injustiça ser cometida diante de seus olhos.

Era isso. Coin estava conseguindo fazê-lo contrariar absolutamente todos os seus princípios, torna-lo a marionete que ela sempre quis controlar. Naquele momento, ele era obrigado a trair seus valores simplesmente porque estava lutando sozinho contra alguém infinitamente mais poderosa e rica que ele.

A raiva se manifestou dentro dele como uma rajada de ar quente capaz de agitar seus membros ao ponto de se tornar insuportável ficar parado. O que ele queria mesmo era caminhar pelo quarto e atirar algo na parede, mas o peso quente de Annie em seus braços lhe refrearam. Concentrou-se no corpo da namorada junto ao dele na tentativa de se acalmar, mas foi pouco eficiente. A vontade esmagadora de destruir alguma coisa quebrável ia cedendo, mas a irritação não parava de arranhar seu peito; um incômodo desagradável por trás da pulsação agora acelerada de seu coração.

— O Cato não seria idiota de se queimar com o pai desse jeito com o primeiro trabalho que ele faz na vida. – Finnick tentou, à sua maneira, livrar Cato daquela acusação.

— Também não consigo imaginá-lo fazendo isso, mas é uma possibilidade. – Ela comentou, sua voz vazia. A sensação de pesadelo ainda não havia passado, e ela tinha a impressão de que a qualquer minuto acordaria e não seria mais obrigada a pensar em soluções e explicações para aquele problema. – Queria não ter que lidar com isso. – Ela choramingou, a patricinha que nunca se envolvera em nenhum trabalho sério falando mais alto por um momento.

A Cherry e seus assuntos eram para Annie uma ocupação exclusiva de Mags. Ela só era responsável por vender depois que as peças estavam prontas e todos os detalhes financeiros e publicitários já tinham sido resolvidos por outras pessoas, os adultos.

Mas ela era parte do mundo dos adultos, agora.

Annie se aconchegou nos braços de Finnick, encolhendo-se levemente para que os braços do loiro pudessem tocar mais partes de seu corpo. Ela aspirou o cheiro de roupa limpa que se misturava de maneira peculiar ao perfume do sabonete e enterrou a cara no pescoço do namorado.

Finnick afagou os cabelos pretos macios e ergueu o rosto de Annie, olhando carinhosamente seu rosto. Era de se esperar que ele tivesse se acostumado com a beleza dela, e que olhar nos olhos deslumbrantemente verdes não lhe causasse mais aquele apertinho de amor que contrai o peito no início dos relacionamentos. Geralmente, depois de um tempo (e, especialmente no caso deles, depois de tudo que passaram), a magia se esvai.

Mas era impossível para ele não se perder naquele rosto, não se afogar na cor daqueles olhos, tão inacreditavelmente semelhante à cor dos dele próprio.

— A gente vai resolver isso. – Ele disse e beijou sua testa. – Nem que eu tenha que fazer malabarismo no sinal pra arranjar dinheiro.

Annie riu.

— É melhor mandar uma carta pro Luciano Huck, é mais rápido. – Ela sugeriu. - Se bem que ele prefere as histórias mais trágicas.

Finnick riu.

— A gente pode roubar um banco. – Ele comentou e Annie gargalhou.

— Acho incrivelmente romântico pensar que você faria isso por mim. – Ela respondeu, um sorriso presunçoso nos lábios. – Mas não acho nada romântica a ideia de ter que te visitar na cadeia.

— Eu só vou pra cadeia se nós formos pegos. – Ele respondeu, com uma piscadela que a fez soltar uma nova risada. E beijá-lo mais uma vez.

O bom de ser Annie é que as coisas podiam estar indo de mal a pior, mas pelo menos ela ainda tinha Finnick para beijar.

~~

Quando colocou os pés em casa após ter deixado Annie em casa, Finnick soube que precisava tomar uma decisão.

Nem tanto tomar a decisão, mas coloca-la em prática. Vasculhou o bolso da bermuda atrás do celular e resolveu fazer logo o que precisava ser feito.

— Alô? – A voz autoritária atendeu, e só pela simples palavras de três letras já deu para captar o tom deliciado de Coin. Pelo visto, ela já sabia quem estava ligando.

— Sou eu. Finnick. – Ele respondeu duramente.

— Ah, oi, Finnick. – O sorriso em sua voz pareceu se alargar enquanto ela falava. – O que eu posso fazer por você?

— Primeiramente, me responder sem mentir se foi você quem espantou todos os investidores da Cherry.

Ela riu do outro lado da ligação, e Finnick sentiu seus nervos oscilarem perigosamente, como uma corda esticada que a qualquer momento poderia arrebentar.

— Por que eu mentiria para você? Você não ia acreditar se eu negasse, mesmo. – Ela riu novamente.

— Então foi você? – Ele insistiu.

— Eu disse que tinha como mexer meus pauzinhos. – Ela disse. – Mas suponho que a sua ligação não foi só para tirar satisfações. Ou foi?

Finnick grunhiu, pensando em um jeito de falar que deixasse a coisa toda menos humilhante. A situação já era lastimável o suficiente pra ele aceitar se deixa subjugar ainda mais.

— Não. – Ele respondeu do outro lado. – Estou ligando pra dizer que aceito sua oferta. – Ele forçou a frase por entre os dentes trincados. – Pode me levar pra onde você quiser, fotografar a porra da marca que você quiser, com a roupa ridícula que você quiser enfiar em mim. Mas a Cherry, a Annie e a Mags ficam em paz. Você faz os investidores voltarem e a coleção ser lançada sem nenhum outro problema.

— Ah, Finnick, cuidado. Se você continuar falando desse jeito comigo eu bato o telefone na sua cara e desconto toda a sua grosseria na Cherry. E nem se você me implorar para ser meu modelo eu vou desistir de infernizar a vida da sua namoradinha e da mãe adotiva dela, se você me irritar demais. — Ela ameaçou, mas a voz ainda era leve como se ela estivesse se deleitando com a situação. – Acho que, nesse momento, você precisa mais de uma trégua do que eu. Então você vai jogar o meu jogo, não eu o seu. – Ela sentenciou, e o mais puro ódio rasgou o peito de Finnick. Naquele exato instante, ele simplesmente soube que tinha que se vingar de Coin. A raiva lhe rasgava tão intensamente que parecia fisicamente real, como se ele fosse de gelatina e uma faca rápida e afiada lhe cortasse com precisão ao meio; mas junto com ela vinha a certeza violenta que aquilo não ia ficar assim. Algum dia, de algum modo, Finnick retornaria aquela afronta.

— Tudo bem. – Ele disse, enquanto lutava para se acalmar e trazer a respiração de volta a um ritmo normal. – Só quero que você me garanta que não vai fazer mais nada contra a Cherry.

— Eu não vou te garantir nada. – Ela disse, seca. – Porque não sou eu quem faz as promessas aqui. É você. Mas, como eu sou conhecida pela honestidade nos meus acordos, posso dizer que vou deixar a Cherry em paz enquanto você estiver trabalhando do meu lado e me deixando satisfeita. – Ela respondeu, a voz presunçosa. – Não quero que você saia por aí dizendo que eu sou uma carrasca. – Ela ironizou.

— Tudo bem. – Ele repetiu, morbidamente. – O que eu tenho que fazer agora?

— Eu tenho uma reunião amanhã com um pessoal da Mr. Lizzard. – Ela disse, e sua cabeça parecia trabalhar para colocar Finnick na roda da moda brasileira o mais rápido possível. Ela estava ansiosa para exibi-lo para o mundo. – Se começarmos o processo de escolha dos modelos para o ensaio da coleção amanhã mesmo, eu vou dar o seu nome. – Ela disse, mais para sacramentar seus planos para si mesma do que para ele. – Vamos começar devagar, com uma marca pequena para você pegar o jeito. E depois... – Ela fez uma pausa e suspirou, parecendo extremamente feliz. – ah, vai ser muito bom sentar na primeira fila do desfile da sua estreia, Finnick.

Ele bufou mais uma vez e desabou no sofá de casa. A tensão da conversa o fizera ficar em pé até aquele momento, e ele nem tinha reparado.

— Me avisa quando precisar de mim. – Ele disse, encarando mau humorado a pequena televisão do apartamento.

— Pode ter certeza que sim. – Ela guinchou do outro lado. Parecia estar completamente alheia ao fato de a aquela conversa ser fruto de chantagem e ameaça. – Vai ser muito bom trabalhar com você, Finnick. E quando você perceber que esse é mesmo o seu destino, vai perceber que me deve muito.

Ela desligou o telefone logo em seguida, e deixou Finnick olhando atordoado para frente, ainda sem saber o que fazer. Como daria a Annie a notícia de que, de uma hora pra outra, sob a gerência de Coin, se tornaria o mais novo rosto no catálogo de modelos do mercado brasileiro da moda? Annie já não ia com a cara de Coin, como explicar da melhor maneira possível para que ela não enfiasse os pés pelas mãos e irritasse Coin ainda mais? Porque agora lidar com Alma era como pisar em um campo minado, e ele se sentia responsável por evitar qualquer incidente possível, fosse ele a pisar na bomba ou não.

Ele estava duro por dentro, como se Coin e suas ameaças se arrastassem para dentro dele e tomassem o controle de seus pensamentos. Será que algum dia ele recuperaria o controle de suas próprias ações? Ou todos os seus passos daqui para frente seriam controlados por aquela força doentia que Coin exercia sobre ele? Era como se ele estivesse prestes a cair em um mundo de fantasia, onde ele não seria mais ele. Precisaria de muito esforço para não deixar se perder dentro de si mesmo. Ele já se sentia escorregando.

Ao que tudo indicava, além de estudante de Biologia, barman/garçom e futuro modelo, ele acabava de acrescentar às costas a função de protetor da paz da vida das Cresta. Porque só ele sabia do Coin era capaz, então só ele seria capaz de agir para contê-la se fosse necessário. E ele era o único que tinha algo que a interessava para oferecer em uma barganha em troca da paz, caso fosse necessário: ele mesmo.

E ainda tinha aquela merda daquela monografia para terminar. 


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Notas finais do capítulo

BANG BANG COIN DEU SEU TIRO CERTO EM VOCÊ!!!
É, pessoal, no primeiro embate o Finnick bem que lacrou, mas agora no segundo... Acho que a Coin empatou o jogo, hein?? Ou será que ela virou o placar a seu favor?
Raiva da nossa grisalha? Sim, eu também. Escrever isso me custou bastante, e eu espero estar conseguindo passar para vocês tudo que me custou fazer nosso loirinho sofrer.
Espero que vocês sejam capazes de desculpar minha demora. A boa notícia é que já tenho grande parte do próximo capítulo escrita e o resto roteiro já readaptado, então não deve demorar muito. Agora que desemperrei o que estava me atrasando, tô doida para soltar os bafões dessa fic o mais rápido que der!!!!!
Ahh, sim, para aqueles que quiserem me conhecer melhor, xingar pelas demoras ou só ler umas bobajadas nas rede sociais (não se iludam, eu só falo besteira fora do Nyah) (no Nyah também, um pouco), vocês me acham no twitter como @ifimoonshine (os tweets estão protegidos, mas pode mandar solicitação pra seguir que eu aceito todo mundo. É que eu tava tendo um problema desagradável de Pessoas Da Vida Real achando essa conta, aí resolvi trancar a conta por um tempo para poder falar o que eu quiser mais livremente) e no ask eu sou a https://ask.fm/faithopetrick
COLA COMIGO!!! AMO VOCÊS!!!!
Um beijo no pescoço e um carinho na orelha



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