P.O.V. Rose

Não. Ela não pode ter voltado mesmo. É impossível. Emily está morta. Isso é alguma brincadeira ridícula de alguém. Mas logo depois de Scorpius vir com aquela historia toda? Mas talvez a historia não seja verdade. Provavelmente não é. Ok, Rose, calma. Pensa.

Fiquei parada na soleira da porta olhando para aquele bolo, respirando fundo, até que Scorpius o fez sumir rapidamente com um aceno da varinha, me puxou para dentro e fechou a porta apressado. Caminhei lentamente ainda sem dizer nenhuma palavra até o sofá e me sentei olhando para o fogo na lareira.

– Rose...

– É impossível.

– Não, ruiva. Não é.

– Eu tenho... tenho que falar com meu pai. Ninguém foge se Azkaban há séculos.

– Não que a gente saiba.

Fiquei em silencio novamente. Apenas pensando. Tentando compreender se isso seria possível. Se ela realmente poderia ter fugido de lá. Sem ser notada. Mas não quero acreditar nisso. Não pode ser verdade. Merlin! Há sete anos que ela não me perturba e agora... sete anos... e se ela não morreu lá? Se ela não tivesse morrido ela teria saído de lá há pouco tempo. Mas ela morreu. Lembro de quando mamãe chegou em aqui em casa e me contou isso.

– Melhor colocar mais feitiços de proteção em volta da casa. – Scorpius disse depois de alguns minutos. – E ficar de olho no Matt e na Claire.

– Claire... Claire! – Me levantei subitamente e corri em direção as escadas.

– Aonde você vai? – Scorpius perguntou se assustando e vindo atrás de mim.

– Tenho que perguntar uma coisa para ela!

– Rose, ela está dormindo! – Ela falou abaixando o tom de voz quando eu já estava dentro do quarto dela.

Olhei para a cama dela na penumbra. Ela estava finalmente dormindo, finalmente calma depois do dia não muito agradável. Já estava com a mão estendida para acordá-la quando me refreei.

– Eu posso perguntar amanhã.

– É. Vem, Rose. Você vai acordar ela.

Saímos do quarto dela e passei no quarto do Matt para ver se estava tudo bem antes de ir para o meu.

– Aonde você vai? – Scorpius perguntou de novo depois que coloquei minha camisola, peguei um cobertor e um travesseiro e caminhei em direção à porta.

– Para a biblioteca.

– Rose...

– Eu só quero ler, ok?

– Ruiva, por favor, não...

– Scorpius... eu... eu não quero ficar perto de você agora. Eu só quero ficar sozinha e pensar em tudo isso. Foi um dia realmente muito longo.

Ele ficou me encarando fixamente por alguns segundos até que suspirou e balançou a cabeça.

– Fica aqui. Eu durmo no sofá da biblioteca. – Ele pegou o travesseiro dele e caminhou até mim, pegando o cobertor do meu braço e me dando um beijo na testa. – Boa noite, ruiva.

– Scorpius! – Chamei quando ele já estava na porta e me virando para ele.

– Oi!

– Você... você tem certeza daquela história com a Emily, não é?

– Tenho, Rose.

Concordei com a cabeça e me sentei na beirada da cama. Ele continuou me encarando da porta enquanto eu encarava meus pés.

– Boa noite, Scorpius.

– Dorme bem, ruiva.

Dorme bem. Dorme bem. Claro, doninha. Obvio que terei uma calma, tranquila e ótima noite de sono! Afinal estou com a mente limpa e completamente feliz hoje! Imbecil.

Passei a noite inteira com um livro aberto no colo, sem realmente lê-lo. Quando vi os primeiros raios de sol resolvi me levantar, tomar banho e me trocar logo. Desci para a cozinha em menos de meia hora e Scorpius já estava lá, sentado a mesa, com uma xicara grande de café.

– Bom dia. – Ele falou me encarando enquanto eu pegava uma tigela para cereal.

– Você tem treino hoje?

– Tenho.

– Vou deixar as crianças na vovó Molly mais tarde então.

– Eu levo eles. – Scorpius disse no momento em que me sentei na frente dele.

– Ok.

– Rose, eu...

– Mamãe... – Matt apareceu na porta da cozinha arrastando o travesseiro. – Eu estou com dor de cabeça.

– Vem aqui. – Chamei estendendo a mão, ele caminhou devagar e se sentou no meu colo. – Você está com febre.

– Eu vou lá em cima pegar alguma poção para ele. – Scorpius falou e se levantou rápido.

– Mamãe?

– Oi, meu amor?

– Por que você está brava com o papai? É porque ele foi viajar?

– É, mais ou menos. – Respondi e dei um beijo na cabeça dele. – Mas você não precisa se preocupar com isso, ok?

– O papai não vai viajar de novo, não é?

– Acho que não... eu... não sei, Matt.

Scorpius desceu uns cinco minutos depois com um frasquinho de poção e deu uma colher para Matt. Pouco tempo depois Claire apareceu na porta da cozinha, sem falar nada, abraçada com sua nova gata que se contorcia um pouco nos seus braços.

– Oi, ruivinha! – Scorpius disse sorrindo.

Claire caminhou até a mesa, se sentou ao lado de Scorpius e ficou o observando, sem ainda dizer uma única palavra.

– Claire, você se lembra de quando fomos comprar sua vassoura? – Perguntei enquanto, Matt no meu colo apoiava melhor a cabeça em mim, fechando os olhinhos.

Ela balançou a cabeça confirmando.

– Lembra que você viu uma... amiga minha lá?

– Lembro.

– Você...?

– Mamãe, posso perguntar uma coisa antes? – Ela perguntou balançando os pés no ar e olhando para baixo.

– Tudo bem. – Falei depois de trocar um olhar preocupado com Scorpius.

– O que aconteceu?

Abri a boca para responder depois de passar alguns segundos calada, mas Scorpius falou antes de mim.

– Eu e a mamãe brigamos e...

– Por quê?

– Por que... isso... isso não importa agora, Clar. Nós brigamos e...

– Foi por causa do amigo da mamãe, não foi? A mamãe fala alto. – Ela deu de ombros tentando justificar como ela tinha essa informação. Sorri para ela, que sorriu de volta.

– É, Claire, foi por causa do meu... amigo.

– Foi porque eu disse que ele comprou sorvete para mim, não foi? Vocês brigaram porque eu falei isso, né?

– Você não tem nada a ver com isso, ruivinha. Mesmo. Não se preocupe com isso, ok?

– Mesmo?

– Mesmo, Claire. – Sorri outra vez para ela. – Posso te perguntar o que eu quero agora?

Ela balançou a cabeça ainda sorrindo. Matt estava quase dormindo no meu colo, ainda com febre.

– Então você se lembra de quando encontrou aquela mulher na loja de quadribol? – Claire confirmou outra vez. – Se lembra como ela era, Claire?

– Mais ou menos, mamãe. Por quê?

– Só quero saber quem era. O que você se lembra dela?

– Ela tinha cabelo comprido. E preto.

Comecei a respirar mais rápido e olhei para Scorpius, que também tinha a respiração diferente.

– E o que mais, ruivinha?

– Tinha a boca meio rosa. E olho pequeno.

– Lembra de mais alguma coisa, Claire? – Perguntei meio ofegante.

– Não. Eu não estava olhando para ela, mamãe. Eu tinha que ver as coisas para a minha vassoura. – Ela parou, ainda olhando para os pés balançando e um tempo depois levantou a cabeça de novo, olhando para mim. – Mas eu lembro que ela tinha uma voz meio chata. Fina.