P.O.V. Rose

– Tem certeza que você vai conseguir cuidar bem dela?

– Você sabe que sim, Rose.

– Qualquer coisa podemos deixa-la na minha mãe, ou na sua, ou na minha vó.

– Rose, eu sei cuidar da minha filha. – Scorpius disse ainda deitado na cama enquanto eu corria de um lado para o outro me arrumando para o trabalho.

– Eu sei, é só que...

– O que? E eu já fiquei com ela sozinho varias vezes desde que ela nasceu. Em sete meses eu acho que já aprendi a cuidar bem dela.

– Eu sei, eu sei. Desculpe. Só estou nervosa.

– Por quê?

– Por que eu estou atrasada! Você sabe como eu fico nervosa quando estou atrasada.

– Relaxa, ruiva. Você está cinco minutos atrasada. – Ele revirou os olhos.

– Não importa, continuo atrasada.

– Ruiva, no máximo você vai ter que engolir sua torrada um pouco mais rápido. Aliás, aposto que você vai chegar antes da hora lá.

– Não vou se você continuar me atrasando.

– O que eu estou fazendo? – Ele disse levantando um pouco os braços em sinal de rendição.

– Não sei, mas preciso jogar a culpa em alguém. – Disse rindo.

Desci até a cozinha e praticamente aspirei meu café da manha. Antes de sair pela rede de flu passei no quarto de Claire. Ela dormia tranquila no bercinho. A ruivinha dorme na mesma posição que o Scorpius. Iguaizinhos.

– Tchau, ruiva. Até mais tarde. – O loiro passou a mão pela minha cintura no momento em que desci as escadas e me beijou.

– Tchau, Scorpius. Qualquer coisa me mande uma coruja, ou chame na lareira ou...

– Vai ficar tudo bem, Rose. – Ele me interrompeu.

– Espero. E se não ficar eu mato você! – Disse antes que entrar na lareira.

Cheguei em uma das lareiras do Ministério. Já haviam várias pessoas andando sonolentas até os portões dos elevadores. Vi papai e mamãe mais a frente, mas acho que eles estão discutindo, para variar, melhor não ir falar com eles. De longe vi a boca de minha mãe se mover e formar, indubitavelmente, a palavra “Ronald”, então com certeza não é o melhor momento para dar bom dia.

– Bom dia, Rose.

– Ãã? Ah! Oi! Bom dia, tio Harry! – Disse desviando o olhar dos meus pais.

– Eu acho que eles têm uma meta de discussões para atingir por mês. – Ele disse apontando com a cabeça para meus pais me fazendo rir.

Entramos no elevador juntos e eu desci no quinto nível me despedindo do meu tio. Scorpius tinha razão. Cheguei antes da hora, bom, pelo menos não estou atrasada.

– Bom dia, senhora Malfoy.

– Bom dia, senhorita Robins. A reunião ainda não começou, não é?

– Não. Quase ninguém chegou ainda. Ah! Não sei se alguém te avisou, mas...

– Demelza!

Minha chefe revirou os olhos ao ouvir meu tio Percy a chamando.

– Que foi, Percy?

– Soube que vai ter uma reunião hoje. Oi, Rose!

– Oi, tio!

– Sim. E? – Senhorita Robins disse sem muita paciência.

– Bom, você já não devia ter começado?

– Weasley, quem é a chefe do Departamento de Cooperação Internacional em Magia?

– Você, mas...

– E de que departamento é a reunião?

– Do seu...

– E quem marcou a hora da reunião?

– Presumo que você, mas...

– E até onde eu me lembro você não trabalha nesse Departamento, certo?

– Sim.

– Então por que, pelas barbas brancas de Merlin, você está preocupado com a minha reunião no meu Departamento?

– Só estou tentando tomar conta de tudo por aqui, Demelza.

– Você não é Ministro da Magia, Percy. Nem meu chefe.

– Tudo bem então. Eu vou embora. – Ele disse meio carrancudo e saiu pelo corredor.

– Merlin! Qual o problema com seu tio, Rose?

– Não sei. – Respondi rindo. – Papai disse que ele sempre foi mais ou menos assim.

– Bom – Ela suspirou. – Vou até minha sala pegar algumas coisas. Te vejo na reunião.

– Tudo bem.

Segui o exemplo dela e fui organizar alguns papeis que eu iria precisar. Pouco mais de meia hora depois a reunião começou.

Na verdade foi uma das reuniões mais inúteis que já tivemos. Foi uma reunião para decidir nada sobre assunto nenhum. Acho que a senhorita Robins estava se sentindo solitária e prendeu todos nós aqui boa parte da manhã.

– Bom, então fica decidido assim. – O que fica decidido? Não decidimos nada. Não tinha nada para decidir. – Antes que eu me esqueça, quero todos nessa sala outra vez depois do horário de almoço.

O que? Outra reunião? É isso? Mas para que? Meu Merlin! Acho que ela está ficando louca.

– Por que temos que voltar aqui? Perder mais tempo? – Alice Bones disse baixinho enquanto saiamos da sala.

– Não é possível que ela queira outra reunião!

Passei o resto da manhã na minha sala analisando alguns documentos e memorandos. Almocei com a minha mãe, que pelo visto ainda estava um pouco irritada com meu pai, não entendi direito a história, mas acho que Hugo entra no meio de algum jeito. E mais uma vez, depois do almoço, entrei na sala do desperdício de tempo. Já tinham algumas pessoas lá, com caras de entediadas.

Alguns minutos depois Demelza Robins entrou na sala. Acompanhada. E acompanhada de ninguém mais ninguém menos que Emily vadia Parkinson. O que ela está fazendo aqui? Vamos começar a vender putas?

– Pessoal – A senhorita Robins começou a falar. – Essa é Emily Parkinson – Eu sei quem é ela. Sei muito bem quem é ela. Mas o que esse ser está fazendo aqui? – E ela vai trabalhar conosco no nosso departamento.

O que? Como é que é? Eu ouvi direito? Eu realmente ouvi direito? Ah! Mas que ótimo! Realmente não podia ter uma noticia melhor! Fantástico!

As pessoas foram até Emily cumprimentá-la. Eu só fiquei parada, petrificada no canto da sala. Mas, é claro, que depois que as pessoas começaram a se dispersar, Parkinson teve que vir falar comigo.

– Nos encontramos de novo, Weasley.

– Não imagina como estou feliz! E só para constar é Malfoy, coisa fofa. Mas senti tanto a sua falta. Me diga quando vai embora daqui outra vez? – Disse com um sorriso meigo no rosto.

– Vim para ficar, tomatinho.

– Que noticia ótima!

– E vamos trabalhar no mesmo Departamento! Eu não podia estar mais feliz. – Ela disse irônica.

– Com certeza? Mas, me conta, com quem você teve que dormir para entrar tão rápido assim no Ministério?

– Ah, tomatinho, sabe que viajei por muitos lugares, perfeito para esse Departamento, não acha? Tive muitas experiências internacionais.

– Ah é! Aposto que teve muitas experiências com internacionais.

– É. Talvez Scorp goste de ver tudo que aprendi com minhas experiências com internacionais.

– Nada do que você possa mostrar é melhor do que o que ele já tem em casa.

– Duvido.

– Duvide o quanto quiser. E quer saber? Não vou discutir isso com você. Tenha um ótimo dia, Parkinson. – Disse saindo da sala e indo em direção a minha.

– Soube que se casaram mesmo. – Ela disse no corredor quando eu já estava com a mão na maçaneta da minha porta.

– Me ama tanto que procurou saber da minha vida todos esses anos?

– Sonha, Weasley. E soube que tiveram uma filha. – Ela deu um sorriso um tanto quando maldoso. – Claire, não é?

– É. – Uma sensação bem estranha tomou conta de mim. – E acho que para seu próprio bem, é bom você ficar bem longe dela.

– Como quiser. – Ela disse aumentando ainda mais o sorriso.

– De qualquer forma, como sabe de tudo isso?

– Ora, Scorpius não se tornou um jogador de quadribol? Fácil descobrir coisas sobre ele.

Balancei a cabeça revirando os olhos e entrei na minha sala deixando Emily plantada no corredor. Ainda tinha aquela sensação estranha.