A última primavera escrita por Valerie


Capítulo 8
Segredos e confissões




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– Desculpe-me, eu não pude me conter. – Disse.

Agora ele tinha um semblante de dúvida.

– Deixe-me lhe explicar direito, você entendeu tudo errado. É totalmente diferente. Ele pediu minha amiga em namoro, pra falar a verdade melhor amiga.

Aquilo era muito estranho, ou estava vendo coisas, seu rosto parecia mais calmo quando terminei de falar.

– Você gosta dele?

– Não é essa a questão, eu me decepcionei com ele, pensei que confiássemos segredos um ao outro. Desculpe-me estar te atormentando com esse papo doido, acho que só me resta o suicídio...

– A morte nem sempre é a nossa ultima opção. - Ele disse rindo.

– Como você sabe? - Perguntei ironizando.

– Hum... Experiência própria.

Ele me dá um sorriso e me senti melhor. A dor insistia, mas ele a fazia parecer insignificante com seu sorriso.

– Clara como você disse, hoje é seu aniversário...

Ele fez uma pausa.

– É verdade! Que horas são? Essa pirraça durou tempo de mais! Perdoe-me por ter que sair assim...

O sol já tinha se posto, mas ainda estava claro. Eu tinha que chegar em casa antes de escurecer.

– Eu tenho que ir pra casa... - Falei chateada por deixá-lo no vácuo.

– Eu te levo, se você quiser.

Ele parecia bem tímido.

Levantei-me do balanço e em passos rápidos me distanciei dele, mas dei continuidade a conversa demonstrando interesse em sua companhia.

– Você mora aqui há muito tempo?

Quis me enfiar debaixo da terra por perguntar aquilo, mas foi a primeira coisa que passou pela minha cabeça.

– Boa pergunta, se eu fosse te explicar toda minha vida demoraria esse mês inteiro...

– Jura? Então está marcado! A não ser que você tenha algo mais construtivo pra fazer, vê se aparece lá em casa; Não, melhor falar comigo pela janela do meu quarto, que dá pra rua, e vemos se eu não estiver de castigo para o resto da vida...

Tive que olhar pra trás, pois ele tinha parado de andar e estava como uma estatua, sem reação. Será que fui rápida de mais?

– Hã? O que aconteceu? – Perguntei.

– Janela? Você disse janela?

– É falei... Tem medo de altura?

– Não!

Ele falou bem rápido e continuou andando até me alcançar. Sorri para confirmar o convite e ele me retribuiu, de modo que me fez pensar que fosse um tipo de sim.

Lembrei-me mentalmente de que quando chegasse em casa enfiasse a cara no travesseiro. Nunca tinha tomado uma atitude dessas.

Cheguei e agradeci a companhia, ao mesmo tempo em que explodia de felicidade por ter feito um amigo, tinha medo da duração do castigo que viria logo depois de duas horas de sermão de Sandra.

Antes de entrar em casa ele me desejou sorte e me disse uma coisa que me deixou pensativa:

– Bonito cordão. Presente de aniversário?

– É uma boa pergunta, longa história.

Aquela era uma pergunta que me deixava triste. Onde estaria o príncipe encantado que tinha me presenteado?

Entrei em casa e vi que a luz da casa estava apagada, que bom. Suspirei por um segundo antes do abajur acender e iluminar o rosto furioso de Sandra. Sentei no sofá ao seu ao lado, o que quer que ela fale que ela não gritasse e terminasse logo.

– Clara, o que eu faço com você? Eu estou cansada de dar sermões e te ensinar sempre a mesma coisa. Quanto mais eu ensino mais você me decepciona. Hoje está fazendo 17 anos e tomou uma decisão de uma pré-adolescente mimada. Agora fala alguma coisa!

– Não tenho o que falar mãe, eu sei que agi errado e não vai acontecer de novo.

Ela recomeçou a falar:

– Eu não te entendi, estava tudo tão bem, de repente você some e o Lorran vai embora levando Lívia. O que aconteceu? Será que eu posso saber?

Ela já estava com as mãos na cintura.

– Eu precisava de um tempo sozinha, só isso. Você não vai acreditar se eu te contasse o que realmente aconteceu.

– Então não vai me contar de novo o que aconteceu?

Eu queria contar, mas não era nem a hora nem o momento indicados, então continuei quieta.

– Pelo visto você não vai me contar.

– Estou de castigo?

– Sim. - Disse ela levantando do sofá.

– Por quanto tempo? - Perguntei com medo de ouvir a resposta.

– Tempo indeterminado.

Fui para meu quarto e vi meu cachorro sem nome, tão lindo, brincando com as almofadas.

Quando passei na frente do espelho notei algo diferente em mim.

Eu não tinha devolvido o casaco do... Meu deus eu nem perguntei o nome dele, fiquei muito tempo falando só dos meus problemas que nem me lembrei de perguntar seu nome. Tirei o casaco e guardei no armário antes que mais alguém percebesse.

Corri para o banho cheia de pensamentos rodeando minha cabeça como:

• Qual seria o nome do garoto misterioso?

• Qual nome eu daria para o meu cachorro?

Mais duvidas surgiam na minha cabeça a medida que a água quente relaxava os músculos das minhas costas, meu cérebro dava mil voltas.

Fui para o quarto e avistei minha cama toda desarrumada com aquele pequeno ser bagunceiro em cima.

Tirei-o de lá e improvisei uma cama para ele. Olhei pela janela e vi o vento frio brigando com as folhas de minha arvore particular.

Não me senti a vontade ao pensar em fechar a janela, então a deixei aberta.

Aproveitei-me da situação para abrir o casaco e vestir novamente o casaco dele.

Vesti, me impregnando com aquele perfume e me deitei, não poderia importunar aquele momento. Eu estava somente centrada naquele perfume e no meu sono.

O dia foi cheio, não demorou muito e eu sucumbi.

Mergulhei de cabeça num sono profundo e calmo, mas longe dali eu não sabia que durante o meu sono alguém viria me visitar. Tive bons sonhos.

Ainda meio bêbada de sono acordei com uma mão acariciando minha cabeça. Abri os olhos,mas ninguém lá. Só meu cachorro que já tinha feito uma zona completa no meu quarto e a janela fechada. Espera aí! JANELA FECHADA?

Dei um pulo da cama e fui direto para cozinha, encontrei Sandra tomando café e escrevendo qualquer coisa em um papel.

– Mãe o que esta fazendo arrumada desse jeito?

– Vou sair pra resolver uns problemas Clara, estou deixando um bilhete para você e o seu irmão.

Do modo em que ela falava comigo, dava pra ver claramente que ainda estava chateada pelo que fiz ontem. Por via das dúvidas resolvi perguntar se ela tinha ido ao meu quarto fechar a janela, mas não com essas palavras.

– Mãe você foi lá ao quarto hoje de manhã?

Essa parecia uma pergunta idiota, de acordo com as circunstâncias.

– Não, por quê?

Aquela sim era uma resposta inesperada, como não poderia não ter sido ela? Teria sido um ladrão? Mas não tinha dado falta de nada...

– Aconteceu alguma coisa? - Ela insistia.

– Não mãe. É que eu ouvi um barulho e pensei que fosse você.

Eu só queria dar uma desculpa e sair correndo dali. Parecia impossível passar pela minha mãe despercebida, antes que eu desse mais um passo para fora da cozinha ela me barrou. Chamando-me, para sentar a mesa.

– Volta aqui dona Clara!

Respirei fundo e dei marcha ré sentei na cadeira e olhei desejando que ela não desse uma segunda sessão de broncas. Mas tudo que ela fez foi uma pergunta aparentemente inofensiva:

– De quem é esse casaco?

Não! Ela percebeu! Quis me esgoelar naquele momento, mas qualquer movimento suspeito ela me pegaria mentindo, pensei rápido e respondi a primeira pessoa que veio na minha cabeça:

– Lorran.

– Mas vocês não estão brigados?

Esqueci-me desse detalhe.

– Sabe mãe, eu cheguei em casa com sono e cansada, não percebi que era dele!

Consegui convencê-la bem rápido, com aquela desculpa de última hora.

– Mãe, pra onde você vai?

– Resolver uns problemas.

Talvez se ela demorasse, eu poderia voltar ao parque de novo, entregar o casaco e perguntar o nome dele...

– Só pra te lembrar: você não vai sair de casa.

Afundei na cadeira. E agora?

Tomei meu café sem vontade e a vi saindo pela porta da cozinha.

“Ninguém merece” pensei ao terminar de lavar a louça.

– Clara estou indo pra casa da Flávia. - Disse Lukas de alguma parte da casa.

– Não esquece de levar a chave! - Gritei do meu quarto.

Que dia animador: lavar a louça, arrumar o quarto, brincar com meu cachorro, ler, me entupir de pipoca de microondas e para acabar ficar olhando pra janela observando o nada.

Já era de tardinha, quando quase cochilando vi uma estranha figura se aproximando do meu prédio. Olhei direito e percebi que era ele, sai correndo pela casa a procura de um outro casaco para vestir. Simplesmente tinha me apoderado do casaco dele desde ontem. Tirei-o e vesti um de Lukas correndo, para não dar pinta de desesperada. Corri até a janela e lá estava ele com um sorriso estampado no rosto. Debrucei-me na janela e o chamei para entrar. Ai de mim se minha mãe descobrisse novamente estaria violando a regra numero um.

“Não passa por essa porta um garoto desconhecido enquanto eu não estiver em casa”

Tecnicamente ele não estava entrando pela porta, mas sim pela janela, e ele não era desconhecido, eu só não sabia o nome dele. Ok quem eu quero enrolar? A minha mãe vai me matar. Eu sou uma garota muito má.


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