A última primavera escrita por Valerie


Capítulo 6
Surpresas




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Sem falar nada ele entrou na loja e me deixou falando sozinha. Respirei fundo, contei de 1 até 10 e entrei na loja dando sermão, as aulas de Yoga não estão dando certo.

Entrei de cabeça baixa para não ver a cena.

– Lorran, se você quiser que eu não vá sozinha pra casa no dia do meu aniversário, e você não quer, larga dessa...

Respirei fundo, engoli a raiva e levantei a cabeça, querendo ou não, uma hora eu teria que ver a cara da mocréia. E me surpreendi ao ver com o que ele estava agarrado:

– Prancha de skate?

Minha cara desabou, balancei a cabeça negando aquele mico e saí da loja ouvindo sussurros as minhas costas:

– Cara, que namorada é essa? Encrenca até com uma prancha de skate...

– Ela não é minha namorada! - Disse Lorran aos risos, correndo para me alcançar.

Eu desde ontem odiei colocar a tala, mas agora era pior, não conseguia nem andar direito.

Sem jeito ele tentou amenizar as coisas, eu estava realmente transtornada.

– Calma Clara, não foi tão ruim assim...

Nem respondi, continuei andando, até ver uma das vitrines preferidas de Lorran e acelerei o passo para entrar na loja, mesmo que doesse não queria falar com ele então parei em frente à loja e vi um boné muito irado na promoção, resolvi entrar. Mal pude colocar um pé dentro e ele me segurou pelo pulso. Nunca percebi que por trás do meu amigo havia um machista metido a besta que quisesse mandar em mim.

– Você vai ficar de charminho só porque teve crise de ciúmes na outra loja?

Ele me fuzilava com os olhos esperando a resposta.

– Se você quer saber eu só ia entrar nessa loja porque ia comprar um boné pra sua coleção, seu mal agradecido.

Apontei para o boné, e puxei o pulso que aquele chato estava segurando. Entrei na loja e peguei o boné, quase morrendo de arrependimento.

– Ele está com ciúmes de você querida? - Perguntou a balconista.

Pensei em dar um fora nela, mas seria muito grosseiro, ela parecia realmente preocupada comigo.

– Ele não é meu namorado, e só está assim porque não tomou seus remédios hoje...

Pisquei para ela e saí da loja com o boné na mão a procura do meu fardo. Ele estava sentado numa mesa a poucos metros dali.

Cheguei por trás, coloquei as mãos nos olhos dele perguntando se ele adivinharia.

– Uma garota incrível que é amiga de um idiota.

Sentei ao seu lado e coloquei o boné em sua cabeça virado para trás.

– Acho que estamos precisando tomar um sorvete para esfriar a cabeça.

Ele sorriu e assentiu, levantou da cadeira e pediu que eu o esperasse ali.

Fiquei sentada esperando, enquanto ele não chegava fiquei me perguntando:

“O que será que ele quer me contar?”

Depois de algum tempo ele chegou com o sorvete. Assim que sentou o telefone celular tocou.

A conversa foi estranha não fazia muito sentido. Foi assim:

– Oi ti... – ele fez uma pausa e repetiu – Titi! Hum... não. Já? Perdi a hora! Já vou pra aí!

Quando ele percebeu que eu estava ouvindo a conversa, ele desligou rapidamente. Ele estava novamente me escondendo alguma coisa e isso não é bom.

“Cachorro quente, celular, coelhinhos, relógio, música, pipoca, porquinho da Índia”.

– Pára de pensar em coelhinhos e me diz quem te ligou! - Gritei sem perceber.

De repente todo shopping estava olhando para nós, era bom eu ter uma boa desculpa para sair daquela furada.

– Oh! Querida Julieta porque tu não me deixaste pensar nos animais felpudos e herbívoros que são os belos e brancos coelhos?

Ele estava ajoelhado de ante de mim, demorou alguns segundos para eu entender que era só enrolação. Levantei a saia do meu vestido para me despedir da platéia que nos aplaudia.

Puxei-o pelo braço e disse:

– O que significa isso?

– Isso se chama: Minha amiga fez um pacote promocional na escola por um semestre de teatro e eu improvisei legal! - Disse ele na maior cara de pau fazendo sinal de positivo.

Comecei a rir, ele tinha aprendido rápido, bem rápido. Depois notei que ele é melhor do que eu pensava porque ele tinha enrolado a mim também.

– Espera aí! Para! Você ainda não me disse com quem estava no telefone.

– Com a minha avó.

Seu tom não parecia debochado.

– E você perdeu a hora com o quê?

Ele devorava o sorvete com tamanha rapidez que o deixava numa situação suspeita.

– Para alimentar o Tedy! Ele esta muito doente.

– Você esta querendo dizer que o seu hamister chamado Tedy, que já morreu há cinco anos está doente? – Falei com tom de ironia.

Ele bateu o pé no chão, colocou a mão no peito e falou:

– Assim você magoa minhas recordações do Senhor Tedy...

– Para de enrolar e me diz quem é “titi” e porque você mudou seus pensamentos quando eu tentei lê-los?

Agora eu estava certa e ele não podia contradizer.

Ele ficou calado e eu também, mas aquela tensão tinha que mudar até chegarmos em casa.

No táxi resolvi quebrar o silencio que eu mesma criei. Sem fala nada tirei o boné da cabeça dele e fiz um carinho em sua franja, sei que não era o melhor modo de pedir desculpas, mas deu certo. Ele me abraçou e do seu jeito também me pediu desculpas. Por todo trajeto ficamos quietos, bom pelo menos eu fiquei, seus pensamentos estavam a todo vapor me contando suas histórias com o Senhor Tedy. Chegamos em casa, subindo o elevador relembramos os micos do dia e a incrível confusão que armamos em poucas horas.

Abri a porta de casa e estranhei a falta de barulho, acendi a luz e parecia até coisa de filme, todos estavam lá: Mamãe, Lívia, Lukas, Flávia e até o Dr. João.

– Surpresa! – Gritaram pra mim.

Tudo aquilo era tão perfeito, a casa decorada como quando fazia aniversário quando era criança. Balões, uma mesa de doces, faixa de feliz aniversário e um bolo no formato de coração.

Parecia que tinha voltado no tempo e via aquela cena repetidas vezes ano, após ano. Agora fazia sentido a correria para mamãe atender o telefone, a ida ao shopping, o sumiço da Lívia, até a ligação misteriosa do Lorran, agora só faltava descobrir o que é...

– A “titi” é a sua mãe, eu tentei falar tia só que ela pediu para eu não falar seu nome aí saiu “titi”. – Sussurrou Lorran enquanto entrávamos em casa.

Todos sentaram a minha volta, eu me lembro que aquilo eu chamava de: “Hora dos Presentes”.

– O meu primeiro! – Disse Lívia.

– Não, acho melhor o seu ser o último.

Lukas por algum motivo não queria que eu soubesse.

– Bem, eu não estava preparada, então comprei um DVD e uma bijuteria, espero que goste.

– Obrigada Flávia, nem precisava nada cunhadinha.

A abracei e abri o embrulho, tive que piscar várias vezes para acreditar no que estava vendo, era o DVD do Michael Jackson e um brinco lindo.

O Dr. João levantou o dedo e se sentou no sofá de um lugar só, me lembrando do meu pai que sempre sentava no mesmo lugar quando queria brigar com o Lukas.

– É a minha vez, depois de todos esses anos cuidando de você, trouxe mais de um presente porque sei que você merece. 1º percebi que você é tão apaixonada pela leitura quanto eu, ou até mais. 2º Sem mais demora trouxe notícias sobre o que você me pediu da última vez que foi no consultório, lembra?

Puxei todas as lembranças, me senti esperançosa, aquele seria o melhor presente da minha vida. Ajoelhei-me, mesmo com a perna enfaixada esqueci da dor e implorei.

– Onde, onde está o garoto? Onde ele vive? Qual é o nome dele?

– É quase um presente de grego, não sei nada da história dele, tive poucas horas para pesquisar, mas ao menos tive contato com Luiza que soube seu sobrenome...

Que suspense, resolvi ficar quieta e parece que não fui a única, a hora dos presentes se transformou num silêncio tentador.

– O sobrenome do garoto é Maysen, na época que freqüentava o consultório vinha trazido por um assistente social.

– Assistente Social? – O interrompi.

– Ele morava no orfanato do bairro.

Aquilo poderia ser pouco, mas para mim é uma chance de conhecer alguém que me entenda e saiba dizer o que sou. Meu rosto se encheu de lágrimas e abracei Sandra.

– Calma filha, ainda falta o presente da Lívia.

– O meu presente está no seu quarto...

Já estava preparada para sair correndo pro meu quarto quando ela me segurou pela mão e disse:

– Vai com calma amiga, e não faz barulho.

Não fazer barulho? É só um presente. Resolvi não sondar a mente dela e manter a surpresa. Andei pisando leve até o quarto com todos atrás de mim. Abri a porta bem devagarzinho, olhei em direção ao chão, depois para a janela, a escrivaninha...


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