A última primavera escrita por Valerie


Capítulo 5
Pacote Promocional




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– Meu presente pode não ser tão brilhante e caro, mas pelo que te conheço você vai gostar. - Disse Lorran com um tom dividido.

– Que isso! Qualquer coisa vinda de você já é um presente.

Na hora que eu abri a boca para dar continuação na conversa passa Lukas cantando:

– “Eu vou fazer um leilão, quem dá mais pelo meu coração? Ajude-me voltar a viver eu prefiro que seja você.” Não espera aí tem uma melhor: “I love you baby...”

Só consegui fazê-lo ficar quieto quando joguei uma almofada nele e sem querer me gabar, tenho uma mira magnífica.

Peguei o embrulho das mãos de Lorran e o abri. É um livro, tirei-o com cuidado do papel que o envolvia.

“Ponte para Terabítia”

Lorran leu mentalmente a capa pra mim, mas havia algo mais. Estava folheando as páginas quando caíram na minha mão dois ingressos do cinema. Quase enfartei quando li.

– Viagem ao centro da terra em 3D.

Faltava-me ar para respirar, Josh Hutcherson estaria no filme, mas Lorran não precisava saber do motivo da minha euforia. Não pensei duas vezes em olhar pra mamãe com uma cara de pidona e dizer:

– Mãezinha...

– Tudo bem, só não demore muito, eu estava pensando em te levar para aquela pizzaria que você gosta.

– Aquela que tem pizza com sorvete? – Arrisquei.

– É essa mesmo. Vá se arrumar! Eu posso chamar o Dr. João?

– Sim mãe, chame quem quiser só peça desculpas à Lívia por mim caso ela me ligue enquanto eu estiver fora.

Nem terminei de falar quando ela levantou o dedo, lá vinha uma condição, estava tudo perfeito e agora eu teria que a ouvir impor milhões condições.

– Que horas é a seção?

– É a primeira, eu até almoço em casa se você quiser.

Falei para dar a idéia de que eu estaria disposta a essa condição.

– Tudo bem, mas a única coisa que tem para o almoço é cachorro quente de ontem. - Disse ela coçando a cabeça.

– Ah não, Clara! Desculpe-me tia, mas no dia do aniversário comer isso é sacanagem, faz o seguinte nós almoçamos no shopping e na volta jantamos em qualquer lugar, tudo bem, tia Sandra?

Até que em fim o Lorran se meteu na conversa.

– Está tudo bem então, vá se arrumar Clara, para que vocês não se atrasem.

Aquilo estava caindo como uma luva. O problema seria a roupa. Fui quicando até o quarto e separei um vestido que era de Sandra e voei para o banho. Me arrumei rapidamente, mas aquele não era o meu estilo. Mamãe entrou sem bater e sem querer a confundi com Lorran e joguei um ursinho em seu rosto.

– Mãe! Desculpa, eu pensei que fosse...

Não me segurei e comecei a rir de nervoso.

– Você está linda, filha! Eu nem me lembrava mais desse vestido, mas agora vamos, porque vocês já estão atrasados.

Ela não tinha percebido o incidente com o ursinho e aproveitei enquanto ela estava boazinha pra pedir aquele brinquinho pra combinar o colar.

– Mãe, me empresta aquele brinco que você sabe que eu amo?

Ela olhou pra mim com cara feia e pensou:

“Eu posso ter fingido não ter visto o ursinho e agora você me pede o brinco de cristal?”

Ela abriu um sorriso me pegou pelo braço dizendo:

– Só porque é seu aniversário.

Ufa! Bufei de alívio. Fui para sala, Lorran já se encontrava impaciente.

Minha vontade de chegar ao shopping aumentava a cada metro que se passava, dentro do táxi eu mexia com as mãos nervosa, até Lorran me perguntar o que estava acontecendo comigo.

– Clara? Você está bem? Está sentindo alguma coisa?

– Nada não, só estou ansiosa e com fome.

Sorri para disfarçar, nem eu sabia o porquê de tanto nervosismo. Ele ia falar alguma coisa até o intrometido do taxista se meter na conversa.

– Não precisam ficar com vergonha, hoje em dia isso é comum. Está na cara que a garota precisa de um beijo!

Agora sim, a tremedeira tomou conta de mim. Lorran entre gargalhadas respondeu:

– Ela não é minha namorada, somos apenas amigos.

O silêncio predominou no táxi até chegarmos finalmente no shopping. Quando descemos aquele clima de tensão foi quebrado por Lorran que puxou conversa.

– É festa, relaxa Clara.

Eu ri. Faltavam 30 minutos para o filme começar. Parecia que todas as coisas se viraram contra nós para que nos atrasássemos. Mas o shopping, depois da escola, era o lugar que eu mais conhecia. Tentei de todos os modos, enquanto Lorran me perguntava os modos mais rápidos de chegar no piso do cinema.

– Elevador?

– Lotado.

– Escada rolante?

– Fila imensa.

– Escadas?

– Não temos fôlego para subir nove andares.

Enquanto respondia as perguntas pensei numa forma mais difícil, porém mais rápida de chegar.

Joguei-me no chão e disse que precisava urgentemente beber algo. Rapidamente Lorran me pegou no colo apavorado, e uma multidão se aglomerou a nossa volta abrindo caminho ao elevador central.

– Praça de alimentação, rápido. - Ele disse ao cara do elevador num tom de voz meio estressado.

Assim que colocamos os pés para fora do elevador (quer dizer, ele colocou porque eu estava em seus braços), Lorran saiu correndo e me colocou sentada numa cadeira.

– Você está sentindo o quê? Quer água? Suco? Refrigerante? Batida de fruta? Cachaça?

O desespero dele me fez dar gargalhada, até ele me olhar de cara feia e perguntar:

– Não vejo graça nenhuma em me fazer de palhaço!

– Calma Lô, olha a hora. Você acha mesmo que eu estou passando mal? -passei a mão em seu rosto a fim de acalmá-lo - Com o meu belo teatrinho ganhamos tempo para chegar ao cinema, se eu tivesse te contado, talvez não tivesse agido com tanta naturalidade e emoção. Daqui até o cinema são poucos andares e com o tempo poupado chegaremos lá rapidinho...

Resolvi parar de falar. A medida em que eu explicava meu plano, mais ele parecia estar surpreso. Levou alguns segundos para ele cair na real e falar alguma coisa:

– O que é isso, Clara?

– Isso se chama: Pacote promocional de teatro, meio semestre na escola.

Caímos na gargalhada. Olhei o relógio, o tempo que perdi explicando o “plano” foi parcialmente metade do que levaríamos para subir as escadas. Puxei-o pela mão as pressas para que levantássemos dali. Ainda bem que não tínhamos que enfrentar a fila para comprar o ingresso,me adiantei e fui em frente em direção a sala procurar os lugares enquanto ele comprava nosso almoço.

– Não esquece meu chocolate light! – Gritei, mas ele já não me ouvia.

Virei-me e continuei andando quando entrei na sala os trailers já tinham começado e estava tudo escuro.

A sala cheia, mas nem todos os lugares ocupados, na última fileira era clara a visão de dois lugares vazios, os nossos.

Subi correndo na animação e depois de alguns passos rápidos desabei numa cadeira, mas havia algo errado, tinha alguém sentado na cadeira!

Provavelmente eu sentei em cima.

Levantei de pressa e pedi desculpas para a pessoa.

– Me desculpa eu não queria sentar em você... literalmente.

Não consegui terminar as explicações meu corpo foi tomado por uma sensação de fraqueza e caí sentada na cadeira (dessa vez a certa).

A sombra da pessoa cresceu diante de mim, um pequeno ser desmaiado no assento. Queria ter tido forças para ter visto o rosto antes que ela recolhesse o casaco que eu tinha deixado cair, mas me confortei: Mesmo que eu pudesse abrir os olhos não conseguiria vê-la, estava muito escuro.

Consegui me ajeitar na cadeira e prestar atenção no filme que agora já tinha começado.

Coloquei os óculos horrorosos para ver em 3D e depois de uns minutos vi uma figura distorcida vindo em minha direção, cheguei a pensar que era efeito do filme, mas não era.

Tirei rapidamente os óculos e me tranqüilizei era só Lorran com uma bandeja de porcarias que seriam meu almoço, um lenço na cabeça e um óculos ridículo como o meu no rosto.

– O que é isso? – Perguntei.

– Seu almoço, você não gosta de pipoca com manteiga?

– Não, quer dizer sim, eu amo pipoca! Eu quero saber o que tem na sua cabeça!

– Ah isso? – ele apontou para o lenço – É o brinde.

Aquela risada dele bem discreta (para não dizer outra coisa) ecoou pela sala.

Quando ele terminou de rir vi uma chuva de pipoca e outras coisas vindas de todas as partes da sala na direção dele. Em seguida ele sentou ao meu lado e perguntou:

– Alguém te incomodou?

– Não por quê? – Respondi nervosa sabendo que quem incomodou fui eu.

– Tinha um cara estressadinho que passou por mim, procurando a saída. Quer saber? Deixa pra lá.

– Nossa!

Foi à única coisa que me veio à cabeça para respondê-lo, só a pessoa (que agora eu sabia que era um garoto) que acidentalmente sentei em cima tinha saído da sala, será que estou tão cafona com esse vestido?

– É Clara, nossa mesmo! Se tivesse deixado cair meu combo mega iria se ver comigo.

Lorran se interrompeu e olhou para mim sem dizer nada, mas seus pensamentos gritavam:

“Preciso te contar uma coisa muito importante, mas não é à hora nem o lugar indicados”.

– Tudo bem Lô, não precisa me dizer nada agora. – Disse tirando pipoca da franja dele.

O filme foi passando, nós rindo e conversando altos papos.

Quando saímos do cinema, andando pelo shopping Lorran saiu do meu lado e correu até uma vitrine um pouco mais a frente. Pra ele foi fácil correr, mas eu demorei 3 vezes mais tempo pra chegar no lugar onde ele estava.

– O que tem aí de tão interessante? – Perguntei ciumenta já imaginando que ele estivesse falando da balconista.

– É a coisinha mais maravilhosa desse mundo, olha! Está me chamando.

Ele quase babou quando falou isso.

– É o que? – Já comecei a ficar nervosa.


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