A última primavera escrita por Valerie


Capítulo 12
Algum Dia


Notas iniciais do capítulo

Antes de qualquer coisa, agradeço de coração os reviews das minhas lindas leitoras :)



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– Paolo! - Gritei quando vi que era ele vindo em minha direção.

Lívia está certa ele é mesmo um gato. Pisquei pra ela, seu queixo caiu em seguida sem entender nada. Atravessei a rua correndo pra falar com ele.

– O que está fazendo aqui? – Perguntei.

– Não gostou da surpresa?

– Claro que sim, adorei! Conta-me como foi seu primeiro dia de aula.

– Monótono e o seu?

– Eu fiz as pazes com Lívia, estou feliz, mas Lorran ainda está se fazendo de difícil.

Percebi que seu rosto não tinha reação definida quando tocava no nome dele.

– Deixe que ele se arrependa e venha falar com você.

– Sabe que eu adoro suas surpresas?

Ele sorriu e acho que percebeu minha rapidez para mudar de assunto, não queria ficar calada até chegar em casa.

– Pode repetir a dose quando quiser, odeio voltar pra casa sozinha.

Eu não tinha mais medo de me expressar perto dele.

– Sério? Então está bem, vou passar a te buscar na escola, isso vai melhorar seu currículo com as garotas que te enchem o saco.

– Com certeza! Além do mais poderemos conversar no caminho.

– E o Sean?

Não sei o que o fez lembrar dele, mas ao menos estava falando.

– O Sean continua mordendo as coisas lá em casa e por falar nisso prometi a mamãe que passearia com ele hoje.

Fiz uma cara de decepção, eu teria que interromper a conversa pra levar um cachorro pra passear! Eu mereço. Chegamos em casa e nos despedimos com um aceno, ele parecia ter medo de encostar em mim ou coisa parecida. Ele repetiu novamente de que iria me buscar na escola todos os dias.

Joguei a mochila no quarto, tomei banho e só percebi que não tinha ninguém em casa quando comecei a cantar e só Sean latia reclamando. Estranho. Mas como ele late por tudo descartei a idéia de um cachorro reclamar da minha cantoria e continuei. Enquanto almoçava Lukas chegou.

– Por que demorou tanto seu moço?

– Quem? Eu? Você que veio correndo pra casa. Você sabe muito bem que eu tenho que levar a Flávia pra casa, depois de bater um papo com a galera do futebol...

Ele poderia citar inúteis atividades depois da aula por um bom tempo, mas fui esperta e o interrompi:

– Deixe-me encurtar a história: Você demorou a chegar em casa porque Flávia não largou do seu pé. Não tem problema. Estou indo levar o Sean pra passear, vai sair?

– Não, tenho que me matar de estudar. (¬¬’)

Sorri e peguei Sean no colo, até hoje não tinha comprado a coleira e senti que eu mesma estava me tratando como uma otária pensando que ele ficaria ao meu lado quietinho. Quando saí de casa, a criaturinha simplesmente pulou do meu colo e correu por todos os cantos, mas o que me impressionava era seu medo por carros.

Quando ouvia o barulho do motor ou buzina de um carro, corria e se enroscava entre minhas pernas. Fiquei parada observando sua alegria, depois de correr por todos os lados pulou no meu colo e me lambeu o rosto. Coloquei-o no chão e obediente andou ao meu lado, tirei a conclusão de que ele não precisa de coleira, Lukas esta certo só de atenção de vez em quando. Ficar preso naquela casa não fazia bem nem a mim que dirá a ele.

Parei na barraquinha de sorvete e comprei dois. O sorveteiro começou a rir quando coloquei Sean no meu colo e dei um a ele. O pequeno tinha mais em comum comigo do que eu pensava além de liberdade ele também se amarrava em sorvete de baunilha. Chegando em casa encontrei Lukas como um louco fazendo contas e provando teorias matemáticas. Não me contive e soltei uma risada.

– Não ria da desgraça dos outros. - Respondeu imediatamente.

Fui para o quarto e liguei para Lívia, devia explicações a ela.

– Alô, Lívia?

– Clara, me conta AGORA como e da onde você conhece aquele Deus grego que eu te mostrei do outro lado da rua.

– Aquele é o MEU Deus grego, queridinha. - Respondi orgulhosa.

– Como assim “seu”?

– Ele é o Paolo, Lívia!

– Não creio, Jesus Cristo! Você não esta zoando com a minha cara, não é? Você está... NAMORANDO o Paolo?

– Não, nós nem nos tocamos direito.

Revirei os olhos ao lembrar das nossas despedidas.

– Como assim? Nem um selinho?

– Nadinha. Ele é meu amigo, só isso. Mas falando em namorado, e você? Falou com o Lorran?

– Amiga eu fiz de tudo, mas parece que ele está muito bolado contigo e disse que só vai falar se estiver a beira da morte.

Aquele comentário dele me fez perder as esperanças e toda animação de falar ao telefone.

– Então está bem, Lívia. Mesmo assim, obrigada por tentar. Até amanhã.

Novamente o dia se passou como qualquer outro e se iniciou de novo com o toque irritante (mas eficiente) do meu despertador, que insistia em me acordar nos melhores sonhos.

As aulas passaram e uma promessa foi cumprida, ele estava sempre lá pra me levar em segurança até em casa, sempre com a mochila nas costas, as mãos no bolso e um sorriso estampado no rosto. Por semanas eu repetia aquela cena, aguardava ansiosa a hora do dia em que o veria e ouviria sua voz. Cheguei a “ouvir” comentários infelizes de admiradoras de Paolo que não gostavam da idéia de nós dois juntos.

“Ela é pouca areia pra rota de caminhões dele”.

Esse tipo de coisa me deixava triste, será que ele pensa a mesma coisa?Até que no inicio da nossa caminhada meu celular toca e o Dr. pede que eu vá ao consultório sozinha o mais rápido possível. Marcamos para o mês de setembro, esse mês seria corrido, a formatura esta cada vez mais perto e eu a esperava cheia de alegria e expectativa.

– A ansiedade é a matéria prima para o pânico.

– Não entendi Paolo, o que quis dizer?

– Só estou pensando alto, nada de mais.

Aquela ligação do Dr. João pro meu celular tinha deixado Paolo infeliz.

Esse foi o único dia que voltamos por um trecho calados, a uma distância de um palmo um do outro, mas todo aquele silêncio transformava poucos centímetros em metros. Era mais que um “espaço” entre nós, eu o sentia longe, era como se ele estivesse em outro lugar, como se sua cabeça se preocupasse com qualquer outra coisa, menos em mim.

Para qualquer pessoa que não me conhecesse bem, iria pensar que minha vida tinha se tornado numa monotonia total a partir dali, porém a cada dia que se passava eu formava mais perguntas baseadas em uma única pessoa: Paolo. Sentia necessidade de conhecê-lo, de me aprofundar na sua vida. Saber seus sentimentos.

Para mim era pouco saber que ele gosta de olhar as nuvens passando no céu, ou que uma xícara de chá de maçã era uma boa companhia numa noite fria. Ou que ele é apaixonado por livros como eu, mas também dava o valor necessário a uma música. Saber que ele morava com o padrinho (o qual ele não suporta por algum motivo, coitado do Kaylon parece ser tão legal...).

Paolo não gosta de estar com pessoas falsas e interesseiras, por isso prefere os animais e pretende ser veterinário. Para ele não existe matéria difícil, só diz que algumas merecem um pouco mais de atenção. Costumara acordar cedo, se fecha para o mundo e se mantém calado quando alguém o aborrece, em compensação esbanja um sorriso lindo e um olhar inigualável quando está feliz.

Às vezes me assusto com o fato de conseguir ser tão frio quando quer.

Não tenho coragem de dizer a ele o quanto me sinto bem por somente desfrutar de sua companhia. Sentir o cheiro dos seus cabelos finos, num tom de castanho claro, o perfume que exala quando passa correndo é uma dádiva dos céus. Admiro sua capacidade de falar a coisa certa em seu momento. Se antes de conhecê-lo dizia que não sabia como é o prazer de sentir o amor em meu coração, acho que ele me ensinou.

Coração acelerado, baba em excesso, cheiro de flores no ar, sensação de arrepios a cada palavra que diz frio na barriga, tremedeira contínua, suspiros seguidos e até uma pequena surdez de vez em quando. Se esses são os sintomas de algo que você conheça, me mande um fax, torpedo, um scrap por orkut, sinal de fumaça, escreva-me uma carta, uma mensagem na garrafa, pombo correio...

Seja lá o que for me corrija se eu estiver errada sobre o diagnóstico de minha doença: amor. Acho que agora você entende o porquê de eu querer saber mais sobre o passado do Paolo.

Talvez, algum dia eu saiba.


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