Algum tempo depois, em um grande salão.

“Ela já vai chegar.” Diz Shigure saindo do salão.

“É incrível como esse cara está em todo lugar.” Comenta Yuki.

“Deixa ele.” Diz Haru.

“Cara estranho...” Diz Kagura baixinho.

“Desculpem por fazê-los esperar” Diz Tohru entrando no salão.

“Já não era sem tempo.” Diz Kyo com os braços cruzados.

“Olha como fala.” Adverte Yuki.

“Não torra o saco moleque.”

“Nhaa, não briguem, que bom que chegou Tohru-kun”.

“Olha os modos Momiji.” Repreende Yuki.

“O que?” Pergunta sem entender.

“Então...” Diz Tohru se sentando e olhando para eles.

“Então o que?!” Pergunta Kyo em voz alta.

“Está tão ansioso para procurar pelos guardiões?” Implica Tohru.

“Sobre esse assunto, eu quero colocar uma clausula extra.” Diz Kyo se sentando.

“Como? O que foi?”

“Depois que tiver o que quer, quero ser libertado desse feitiço.”

“Como é que é?!” Grita Yuki se levantando.

“Se não, eu nem começo.” Completa Kyo.

“Entendo seu pedido, mas sinto não poder confirmá-lo com certeza” Disse Tohru com a mais pura sinceridade na voz, se ele também estava sendo justo, porque ela haveria de enrolar?

  Kyo se deita.

“Então eu prefiro ser trancado no porão de volta.” Diz Kyo.

“Agora estamos de acordo.” Resmunga Haru.

“Kyon, por favor, só tenho que esperar a minha mãe voltar.”

“Então mande ela voltar logo! Eu não dou um passo daqui sem você me confirmar isso!” Grita Kyo se levantando.

“Ela tem compromissos, não sei quando ela volta, não me cobre isso!” Grita saindo do salão, os pensamentos haviam ficado fora de ordem de tão rápido que havia se irritado com um simples comentário.

De repente Kyo aparece na frente dela.

“Eu vou cobrar o quanto eu quiser e não há nada que você ou ninguém possa fazer, entendeu menininha?” Diz Kyo com a mão no rosto dela. Os quatro guardiões logo afastam Kyo de Tohru.

“N-não me faça prometer algo assim...” Diz com voz chorosa.

“Diga que quando essa busca estiver terminada, vai me libertar por completo desse feitiço.”

“É muita responsabilidade... E-eu não tenho esse poder.”

“Você pode desativar parte do feitiço, então pode aprender a desfazer o resto.”

“Eu prometo aprender a desfazer”

“E depois vai me libertar.”

“... Eu...vou tentar”

“Vai servir por enquanto.” Os guardiões saem da sala.

  Afastados dali.

“O que pensam que estão fazendo?” Pergunta Uo

“Onde está a Hime-sama?” Pergunta Hanajima.

“Negociando com o demônio ali.” Diz Haru apontando pra frente.

“É O QUE?!” Berra Uo de cabelos em pé olhando para eles. “E vocês não fazem NADA?!”

“Ela disse que não tem problema.” Diz Haru.

“Ah meu deus” Diz Uo batendo com a mão na testa

“Deixe” Diz Hanajima apenas observando.

“É, afinal é o trabalho dela, não?” Diz Haru.

“Aquela coisa é perigosa” Diz Uo

“Ninguém disse que não é.”

“Melhor procuramos os guardiões não?” Pergunta Kagura vendo que era a única que se importava de reunir todos.

  Dentro da sala.

“Acha que pode me ajudar?” Pergunta Tohru

“Se mantiver sua palavra eu vou.” Diz Kyo.

“Ok”

“Então vamos logo.” Diz Kyo se virando.

Os dois saem da sala e reúnem todos.

“Pessoal, vamos ter que nos dividir.”

  Hanajima coloca um mapa sobre a mesa, que já estava todo coordenado.

“Achem suas direções e gravem os caminhos e depois voltem para o palácio”.

“Ah, Yuki, Tohru e Kyo vão juntos” Diz Uo.

“E nós?” Pergunta Haru.

“Haru para um lado, Momiji para outro e Kagura para outro”.

“Certo.”

“Agora... Porque ainda estão aqui? Vão, vão, vão” Diz Uo e todos saem rapidamente.

“Não deveriam ir também?” Pergunta Shigure da esquina do corredor.

“Assuntos” Diz Hanajima voltando a andar e atrás de si Uotani e as duas seguem para uma sala longe dele, no outro andar.

“Você está muito séria” Diz Uo um pouco preocupada, Hanajima assente e as duas se sentam em uma acolchoada cama.

“Estou preocupada”

“Com a Hime-sama? Ou com a demora da Kyoko-Hime-sama?”

“Com três coisas, essas duas que citou e...”

“Com os guardiões?” Chuta, Hanajima concorda com a cabeça.

“Não esquenta, eles vão achar” Diz despreocupada.

“Ele não deveria estar solto, não sem a autorização de Kyoko-Hime-Sama”

“Sim, mas foram ordens diretas da Hime-sama”

“Ela gosta dele”

“COMO?!”

“Não do jeito que está pensando, mas como amigo.”

”Mesmo assim é um problema” Diz preocupada.

“Porque eu sei que ela é capaz de ver os sentimentos dele, assim como é capaz de ver o de todos só precisa de um pouco de convívio para saber, isso é um dom, e é isso que atrai os guardiões, eles são capazes de perceber essa bondade.”

“Até mesmo ele”

“Exato, mas devemos informá-los.” Diz Hanajima respirando fundo, Uo concorda.

”Eu percebi como ela ficou quando o Oni falou da Kyoko-Hime-Sama”

“Seria bom se eles não a mencionassem”

“É, mas tem mais coisa não tem?” Pergunta Uotani desconfiada, após anos de convivência com a maga, sabia que ela ainda nem havia começado a dizer o que realmente pretendia.

“Sim, a Hime-sama, ela tem falado com alguém, mas a presença é estranha, tão estranha como a dos guardiões”.

“Acha que ela está falando com algum deles?”

“Inconscientemente sim, ela ainda não se deu conta.”

“E o que mais?”

“Aquele Shigure...”

“De novo?”

“A presença dele me incomoda”

“Acho que sei como é...”

“Não consigo ver segurança nele e a presença dele também é estranha”

“Sabe o que é suspeito?”

”O que?”

“Ele sempre aparece quando está a Hime-sama e os guardiões, percebeu?” Pergunta Uotani se lembrando de algumas coisas.

“Não sei, mas fiquemos de olho nele”.

  E nas ruas do reino.

“Hime-sama, como vamos identificar os outros?” Pergunta Yuki.

“Sabe... eu não faço a menor idéia” Diz fazendo careta.

“Que tal espalhar cartazes de procura-se?” Sugere Kyo.

“Os guardiões estão no reino, se eles ainda não apareceram é por algum motivo.”

“Deveríamos procurar por boatos de coisas estranhas que tenham acontecido recentemente.” Diz Yuki.

“Muito bom, onde vamos procurar?”

“Mercados costumam ser lugares onde esse tipo de coisa é comentada.” Diz Yuki.

“Certo, então vamos” E ajeita o capuz e os três seguem para uma área mais movimentada.

  Ao chegar a um mercado local, quero dizer um daqueles lugares com várias tendas vendendo de tudo, literalmente. Os comerciantes gritavam seus preços e os passantes andavam se acotovelando em busca de espaço e ar para respirar.

“E agora espertalhão?” Pergunta Kyo bastante incomodado com o barulho.

“Agora fique de ouvidos atentos a qualquer coisa incomum.” Diz Yuki tentando se concentrar.

  Tohru que estava um pouco mais atrás dos dois vai andando devagar e senta em um pedaço de árvore que estava caído.

  Duas mulheres se juntam em frente à barraca e começam a conversar, Tohru fica de ouvidos atentos.

“Sozinhos?”

“Sim, eu nunca os vi com ninguém.”

“Duas crianças?”

“A menina sai sempre de dia e o menino à noite, é muito estranho.”

“Deveríamos falar com a polícia”

“Já tentaram segui-los, mas o garoto é muito rápido e a menina sempre some perto da floresta.”

“Seriam fantasmas assombrando o reino?”

“Desde a partida da rainha isso tem se tornado um caos”

“shh, será presa se alguém ouvir”

  Tohru baixa a cabeça e ajeita o capuz e se junta a eles novamente, ela puxa a blusa de Kyo.

“Quero... voltar”

“Ta de sacanagem né? Acabamos de chegar.” Reclama Kyo.

“Eu concordo com ele, porque voltar tão rápido?” Pergunta Yuki.

“Hm... Acho que esqueci algo import-“

-Não pode desistir

-Porque não?

-O que eles sabem?

-... Entendi

-Sempre que quiser

-Ei, não vai me dizer seu nome?

-Ainda não é a hora...

“Espere”

  No palácio, Hanajima fica encarando subitamente a janela.

“O que foi?” Pergunta Uo preocupada.

“De novo...”

“O que?”

“Alguém se aproximou da Hime-sama”

“Como?”

“Mentalmente”

“Temos que ficar atentas...”

“Sim...”

De volta ao mercado.

          “Alooo, acorda garota.” Diz Kyo estalando os dedos na frente do rosto de Tohru, a garota da um salto para trás assustando-se.

“O-o que foi?” Pergunta elevando a mão ao coração.

“Você apagou de repente.”

“Está tudo bem?” Pergunta Yuki.

“Sim, obrigada” Diz dando um meio sorriso.

“Beleza, então, vamos procurar esses boatos.” Diz Kyo se afastando dos dois.

“Ei, não deve ficar andando sozinho, vamos Yuki-kun” Diz puxando Yuki pela mão e indo até Kyo.

E os três continuam sua caminhada pelo mercado, até...

“Pega ladrão!!” Berra um comerciante de sua barraca. Todos em alcance auditivo e visual vêem uma pessoa, provavelmente uma criança pela altura, encapuzada e correndo feito louco no meio da multidão com uma grande sacola cheia de frutas.

“Meu deus... Atrás dele” Diz Tohru já correndo. Yuki vai atrás dela, mas Kyo fica pra trás de braços cruzados.

  Não muito longe dele, Kagura corria quando esbarra com uma garota, a fazendo cair no chão.

“Desculpe” Diz Kagura oferecendo a mão, a menina da um tapa na mão de Kagura e volta a correr, mas percebe que o chapéu havia ficado e quando volta para buscá-lo, estava nas mãos de Momiji.

“Você esqueceu” Diz Kagura.

“É ela!” Diz Momiji.

“Me devolve...”

“É ela? Tem certeza?” Pergunta Kagura, Momiji concorda.

“Me devolve.”

“Devemos avisar a Hime-sama, os outros ainda devem estar procurando” Diz Kagura.

“Devolve o chapéu que o Hiro-chan me deu!!” Berra Kisa, os dois se assustam.

“Vocês dois, saiam daí!” Grita Haru um pouco mais atrás. Kagura e Momiji dão um salto para trás.

”O chapéu... devolve!!”  Grita com uma mão soltando faíscas.

“Momiji você acertou, é ela mesma.” Grita Kagura.

“Hiro-chan...” Diz recuando.

  Haru alcança os dois.

“Ei garota, como se chama?” Pergunta Haru. A garota começa a recuar. “Eu não vou te machucar. Nós precisamos de sua ajuda.”

“Aqui” Diz Kagura entregando o chapéu para ela.

“Obri...gada” Diz surpresa.

“Você está sozinha?” Pergunta Haru.

“N-não”

“Quem está com você?”

“Hiro-chan, Hiro-chan” Chama Kisa fechando os olhos.

“Kisa! Vem logo!” Grita Hiro um pouco longe.

“Hiro-chan!” E se vira para correr, mas se volta para eles “Bye bye” E sai correndo com o chapéu já na cabeça.

“Ela não pode fugir assim” Diz Momiji criando uma barreira de vento. Hiro acelera põe Kisa nos ombros, largando a sacola, e sai correndo. Mas de repente Hiro desliza e cai no chão, transformado em gelo. Um pouco mais adiante estavam Yuki, Tohru e Kyo.

“HIRO-CHAN!” Berra Kisa em total desespero. “Vocês.....” Um raio cai perto de Tohru que grita assustada. “Não encostem no Hiro-chan!”. Tohru cai de joelhos no chão sentindo levar vários choques.

“Hime-sama!” Grita Yuki e depois lança uma parede de gelo contra Kisa. Hiro apanha a garota e escapa do ataque.

“Hiro-chan” Ela diz aliviada, e faz com que outro raio caia.

“Sumiram” Diz Kagura olhando para onde eles estavam.

“Ar...droga” Diz Tohru abraçando o próprio corpo.

“Procurando por esses dois?” Pergunta Kyo com os dois fugitivos um debaixo de cada braço.

“Aí estão eles” Diz Kagura.

“Mas são apenas crianças” Diz Momiji.

“Como se você pudesse falar qualquer coisa.” Diz Hiro por entre os dentes e se debatendo.

“Nhá, você late muito” Diz Momiji colocando as mãos atrás da cabeça.

“O que eu faço com esses trastes?” Pergunta Kyo com vontade de bater em Hiro.

“Precisamos levá-los ao palácio” Diz Tohru.

“Soltem à gente”

“É, não temos nada a ver com-” Hiro é interrompido por uma joelhada de Kyo.

“Vambora.” Diz Kyo já se adiantando.

“HIRO-CHAN” Kisa começa a eletrocutar o braço de Kyo.

“Fica quieta pirralha.” E dá uma joelhada em Kisa. “Esses moleques só dão trabalho.”

“KYO” Repreende Tohru se levantando com a ajuda de Kagura e Momiji. “Mesmo dando trabalho, são apenas crianças”.

“Crianças com poderes merecem os mesmos direitos que qualquer um de vocês, e isso inclui levar porrada.”

“Vamos voltar logo” Diz Kagura.

  No palácio, Tohru estava sentada em uma enorme poltrona perto da janela que permanecia aberta, para refrescar o ambiente, duas jovens cuidavam da princesa, havia ferimentos leves alguns arranhões e marcas no rosto que foram apagadas pela maquiagem que fora colocada no rosto.

  Tohru também teve que se trocar dessa vez como ordem, colocou uma roupa simples e leve um vestido rosa claro sem detalhes, que amarrava na cintura deixando um grande pedaço da fita pendurado, o cabelo também estava preso, mas apenas para que não caísse ao rosto.

“Chega, quero ver os dois” Diz se levantando, as duas mulheres fazem uma pequena reverência e saem do quarto.

“Como não se acalmaram, estão presos.” Diz Uotani na porta do quarto.

“Eles acordaram?”

“A garotinha ainda dorme, o outro fala demais” Diz com dor de cabeça só de lembrar.

“E os guardiões?”

“Estão todos bem”. Uotani percebe a expressão aliviada no rosto da princesa, até sorri com isso.

“Tenho meu dia de folga?”

“Apenas hoje”.

“Por favor, chame o Yuki, vou estar no jardim” Diz saindo do quarto e descendo apressada.

“Ao menos coloque um chapéu, o sol está forte” Mas a princesa nem quis saber e desceu ainda mais depressa.

  No jardim, Shigure passeava com três cães.

“Eu até entendo que seja um esporte um pouco sangrento, mas é desperdício não usar esses rapazes aqui.” Diz Shigure com os cães. Três grandes cães de caça em boa forma.

“Acho que ela faz um favor aos coelhos e aos cães.” Diz Yuki que não era a favor da caça.

“Yuki” Diz Tohru se aproximando “Shigure-san”.

“Ah, Hime-sama. Bom, eu vou deixá-los.” Diz Shigure fazendo uma reverência e levando os cães embora.

“Fiquei preocupada, espero que não tenha se machucado”.

“É com você que deveria estar preocupada, afinal recebeu aquele golpe. Eu estou bem, não se preocupe.”

“Que bom, não aconteceu nada de mais comigo, o máximo que ganhei foram alguns cortezinhos, mas o chamei aqui por que queria agradecer”.

“Sempre que estiver em perigo, eu estarei lá para protegê-la, Tohru-hime-sama.”

“Certo, mas não importa se é um guardião, eu ficarei brava se você se machucar”.

“Pode deixar.”

“Venha, quero te mostrar uma coisa” Diz o puxando pela mão.

“E o que é?”

“É uma flor, de todas no jardim ela é a única diferente.”

“Mesmo? Por quê?”

“Não sei, mas eu não quis mostrá-la ao jardineiro, por isso ela fica escondida, só a minha mãe a conhece...”

“Então é uma flor especial.”

“Estranho, eu digo diferente e você especial”

“A diferença está apenas nós olhos de quem vê, não?”

“Sábias palavras” Diz sorrindo.

  Kagura se afasta da janela e para de os observar e se volta para Kyo.

”Então, era esse o seu interesse na princesa?”

“O que?”

“O que nada, você queria sair daquele buraco e disse que tinha interesse na princesa, então o seu interesse era só pra sair?”

“Algum problema nisso?”

“Claro, ela sabe disso?”

“Sabe.”

“Não sei como ela não te trancou de volta”

“Nem eu. Mas eu já consegui muito mais do que esperava, então posso até suportar vocês.”

“Suportar? Nós é que temos que agüenta-lo, mas se é uma ordem da princesa...”

“Acho que mudei de idéia. Quando ela me tirar o feitiço eu vou atrás de você primeiro.”

“Me sinto honrada...” Diz dando um longo suspiro.

  Haru entra na sala.

“Não acham que deveríamos ver como estão os garotos?”

“É... vamos logo” Diz Kagura se afastando.

Kyo se levanta e vai até a janela. Ele fica observando Yuki e Tohru no jardim.

  Kagura e Haru saem da sala.

Continua...