Um Reencontro Pode Ser Um Recomeço escrita por fdar86


Capítulo 7
VI. Uma Revelação Bombástica [Parte 1]




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** Quinze dias após o reencontro **

De mal humor, como o rotineiro, caminhara a caminho de algum restaurante para almoçar.

Seu estômago reclamara, e o tempo

Tinha muitos trabalhos, como sempre, para fazer.

Mas isso era bom... O ruim era o pouco tempo para desenvolver as tarefas.

Sua chefe estava se aproveitando da sua inteligência.

"Talvez por não ter uma própria",

pensara.

E talvez da paciência, que aliás, ela nem tinha.

Sentara-se no restaurante de sempre, e pedira o mesmo prato de costume.

O mais rotineiro possível... A rotina lhe dava segurança.

Segurança de não passar por nada que lhe fizesse desmoronar... de repente, sem aviso prévio.

Como quando namorara... há 10 anos atrás.

Começara a almoçar, a comida tinha o mesmo sabor peculiar.

O mesmo gosto de sempre...

Há 2 anos seguidos almoçara no mesmo local.

Permanecera pensando sobre seu hábito alimentar pelos próximos 5 minutos, até que ...

Sentira alguns dedos pequenos e macios interromperem a sua visão.

Lhe trouxeram uma sensação peculiar.

Conhecia aquelas mãos... mesmo que não pudesse vê-las, podia senti-las.

Sentira a temperatura... eram dedos quentes... peculiarmente, quentes.

E uma voz surgira do seu inconsciente:

"Pensei que não nos veríamos novamente"

, pensara, um pouco decepcionada.

Reconhecera quem era antes mesmo que a pessoa se aproximasse, ainda impedindo sua visão, e falasse em seu ouvido:

"Olha quem vejo de novo"

Raíssa tirara suas mãos.

Isa a olhara sem nenhuma surpresa. Sem nenhuma expressão.

Na verdade, sem nenhum sentimento.

Nem acreditara que a veria de novo, mas acabara de acontecer, e ela ainda estava processando a informação.

Em algumas situações, principalmente

"Duas vezes em um mês..."

"Sei a que se refere. Coincidência estranha né?"

"É. O que será que o destino está querendo dizer pra gente?"

, Raíssa a olhara fixamente, observando a sua evidente expressão de descrédito no olhar.

"Não sei. Eu não acredito nisso"

"Antes você acreditava..."

"É... Antes."

"Nossa! Você deixou de acreditar no que mais? Deixou de acreditar no amor também?"

, dissera brincando. Nem imaginara a resposta que viria a seguir.

"Não sei. Talvez..."

Raíssa ficara levemente pálida.

Voltara à face uma expressão pensativa, longe. Quase triste.

Pensara no quanto sua ex namorada mudara.

Seria ela a responsável por tanta mudança?
O que fizera à pessoa que mais amara na vida?
A única que realmente a fez sentir-se feliz.

A pessoa que a ensinou o que era amor.

Quem lhe deu um motivo pra viver.

A pessoa que ela nunca conseguira esquecer, por mais que tentasse.

"Então, posso me sentar?"

Isa a olhara, envergonhada.

A outra ainda estava em pé.

Não tinha convidado-a para sentar com ela.

Teria sido muito rude.

"Claro"

Isa forçara um sorriso embora, no fundo, estivesse realmente feliz em revê-la.

Raíssa sentara ao seu lado, enquanto Isa voltara para o prato, tentando se alimentar.

Mas após rever Raíssa, e com ela ao seu lado, definitivamente era impossível.

"Então... você não está namorando?"

, perguntara, impassível, disfarçando o interesse.

Embora Raíssa tenha disfarçado o interesse no momento da pergunta, provocara em Isa uma expressão tensa.

Uma tensão extra ao fato de estar encontrando novamente a pessoa que mais amou e a que mais a magoou em toda sua vida.

Isa pensara que aquela era uma pergunta muito "pessoal". Uma "curiosidade inapropriada", depois de tantos anos.

Considerara-a uma daquelas perguntas que sabe que não deve ser perguntada, a menos que haja uma amizade entre elas.

Entretanto, mesmo pensando tudo isso, não conseguira deixar de responder. Pareceria rude...

"Não"

,

Isa respondera secamente e sem retornar a pergunta, tentando não dar brecha alguma para que Raíssa respondesse.

Por alguma inexplicável razão, Raíssa sorrira.

Isa ficara ainda mais tensa.

Começara a achar estranho.

Imaginara o que viria a seguir.

"Eu também não..."

Fez-se silêncio.

Isa não perguntaria, e nem queria que ela dissesse.

Preferia não saber. Não sabia como poderia se sentir.

Mas ela disse.

Permanecera séria, diferente de Raíssa.

Bem lá no fundo - inconscientemente -, ela ficara ligeiramente satisfeita.

Porém, visivelmente, sentira-se mais e mais tensa.

"Isa... Agora há pouco quando tapei sua visão..."

- disse, pausadamente.

"Sim?"

, disse quase que sem voz.

Mais e mais tensa...

Começara a olhar em volta novamente.

Uma saída de funcionários.

Banheiro.
Saída de incêndio.

Algo teria que ter ali... mas nada tinha.

"Eu achei que fosse te surpreender... Mas não surpreendi, não foi?"

"Realmente não. Eu te reconheci antes de você falar..."

Isa a encarara...

Pela primeira em toda a conversa, encarara Raíssa fixamente ao respondê-la.

"Hmm..."

, disse, pensativa, apresentando um mini sorriso na face.

"Te conheço o suficiente pra isso, não?"

, disse, com uma voz firme, 100% certa do que dizia.

"Na verdade, não..."

Isa esperara pela continuação.
Como não a conhecia, pensara no que Raíssa queria dizer com aquilo.

Raíssa a encarara profundamente, deixando-a levemente vermelha.

Você me conheceu muito bem, sim. Mas conheceu uma criança. Agora sou uma mulher."

"Isso é verdade...

[longa pausa]

Sem contar que talvez... Eu nem tenha conhecido tanto assim"

Silêncio.

Lembraram-se do passado.

Um vulto de tristeza e decepção o embassara.

Um passado que por muito tempo fora um presente bom, mas que no final, tudo se perdera.

Raíssa, que até então permanecera sorrindo, se calara, com uma expressão facial séria, quase melancólica.

Isa observara, numa outra sensação de satisfação porém, dessa vez, consciente.

"Da outra vez... que nos encontramos..."

, disse, pausadamente, e em pausas longas.

"Hm", disse, desejando nem relembrar aquele terrível episódio

"Eu quis te dizer uma coisa... mas... foi rápido, e de repente... nós não esperávamos..."

, continuara sua fala, em pausas cada vez mais longas. Ruborizara-se gradualmente a cada frase dita.

"E?"

, adiantara-se Isa, irritada, querendo que Raíssa fosse direto ao ponto de uma vez.

As duas pararam um instante, e sorriram levemente, com a constatação inusitada que tiveram.

Elas permaneceram a mesma e o tempo que passara de repente parecera inútil.

Enquanto que uma permanecia com as repetições e explicações enroladas, confusas, das coisas, Isa permanecia "meio" impaciente para aturá-las.

Aliás, Leia-se "meio impaciente" como alguém definitivamente incapaz de aturá-las. Insuportavelmente sem paciência.

Mas, no fundo, as duas sempre adoraram isso. A diferença no comportamento delas, que se mostrara por todo o tempo de relacionamento, desde que se conheceram, tornara-se o segredo da relação perseguir por tanto tempo.

"Eu achei você tão bonita... foi como se o tempo não tivesse passado. Senti como se..."

"Você também... parece como sempre.

[pausa]

Não mudou nada fisicamente"

Isa interrompera Raíssa, que escutara um elogio feito da maneira mais superficial e apática possível.

Evidentemente forçado. Raíssa sabia que ela também sentira o mesmo.

E sorrira levemente com o canto da boca.

Sabe, Isa. Eu andei lembrando da gente nesses dias após o reencontro. Pensando em tudo que aconteceu..."

"E?"

"Acho que nunca pedi desculpas a você apropriadamente."

"Raíssa.

[pausa] Isso é passado.",

Isa falara numa entonação tão firme, que podia ser facilmente confundida com ter sido rude.

"Não importa... Gostaria que você soubesse"

"Tudo bem"

, permanecera em seu firme, gélido e levemente irritada.

"Você não acha que eu mudei, não é?"

, pergunta Raíssa, observando os olhos de Isa arregalassem.

"Sinceramente? Não, realmente não"


"Por que?"

"Depois do que você me fez? Você ainda me pergunta?"

Escapara. Um grande rancor saíra em sua voz, nada disfaçado.

Demonstrara a raiva, a mágoa e todas as sensações ruins que tem em seu coração.

Tudo saíra naquela frase.

Agora os dados tinham sido jogados, apenas cabia a Raíssa pegá-los ou não.

Ela os pegou.

"Eu sei que errei muito com você, Isa..."

"O que você está dizen...?"

Isa parecera estar chocada.

Raíssa a interrompera pela primeira vez até então.

Estava decidida a continuar, não importasse o que Isa dissesse.

Não se deixaria vencer assim tão facilmente.

Iria tentar até o final, não importando o que acontecesse.

"Mas estou disposta a compensar meus erros"

Isa permanecera chocada, sem saber o que dizer.

Parecera uma declaração.

"O que você quer diz...?"

"Eu sempre lembrei de você, por todos esses anos, nunca consegui te esquecer"

O momento de choque passou, e Isa se percebera processando as últimas palavras de Raíssa.

Uma profunda raiva lhe subiu à cabeça, lembrando de tudo que Raíssa tinha feito a ela no passado.

"VOCÊ ESTÁ LOUCA?!"

,

gritara, atraindo olhares curiosos de todos em volta.

Uma lágrima de "ódio" saíra de seus olhos.

"Ódio". Fora o que Isa pensara até então.

Mas apenas o destino poderá dizer... com o tempo.

"Hoje eu sei o que quero..."

Fez-se uma pausa.

Isa forçara um silêncio para tentar se acalmar, e parar de chorar.

As lágrimas desciam, enquanto sua expressão ficava cada vez mais enfezada.

Não queria passar por outro constrangimento em público, precisava se acalmar.

Raíssa continuara:

"E eu quero você, Isa"

"Você não sabe nada"

"Sei. Eu sempre soube. Mas fui uma criança tola."

"E estúpida..."

, acrescentara. Não podia deixar de acrescentar... na raiva que se encontrara.

"Sim. Tola, estúpida, e tudo mais que você disser."

Fez-se um minuto de silêncio.

Isa sentira-se satisfeita por Raíssa ter aceitado suas críticas tão bem.

Isa apenas lembrara do restaurante...

Fechado, não tinha saída de escape.

"Restaurante inútil"

"Raíssa, não sei o que você está querendo com isso. Mas..."

"Isa..."

Algo a fez parar.

Isa se deixara interromper.

Apenas ouvira seu nome, não precisava parar.

Por que parara, pensara...

Não fazia sentido.

Começara a se sentir confusa.

E cada vez com mais raiva.

"Eu mudei muito. Por sua causa... Por tudo que eu fiz... E pelo quanto eu te amava..."

Isa a encarara. Estava vermelha. Vermelha de raiva.

Sentira-se petrificada, como se estivesse assistindo a alguma cena de um filme assustador.

Um filme assustador que a lembrasse de todos os momentos ruins que tivera na vida.

Tudo em decorrência de uma cena só.

Isa culpara Raíssa por tudo que passara de ruim.

Todos esses anos vinha alimentando essa loucura que agora começara a parecer estupidez.

Mas ainda sofrera. E ainda fora traída. Raíssa, de qualquer maneira, tinha sido má.

Tinha a feito sofrer. Daquela maneira tão sórdida. Tão suja. Tão...

Isa não encontrara palavras para definir o que Raíssa lhe fez.

"E ainda amo"

Isa a olhara de uma maneira impossível de ser traduzida.

Parecera um grande misto de emoção, raiva, nojo, felicidade e desprezo.

Sorrira, sarcasticamente, como se aquilo nem merecesse ser comentado.

Permanecera em silêncio.

"Todos esses anos eu fiquei pensando em você... em nós... e hoje eu tenho certeza que se..."

"Raíssa, por Deus, chega!"

, falara, grosseiramente e pausadamente, mas em um tom baixo para que só fosse escutada por ela.

"Não!"

Raíssa gritara. E chorara.

Uma lágrima caíra de seus olhos, assustando Isa, que permanecera imóvel, e chocada, diante daquela cena.

Pouquissimas vezes, em todo o tempo que elas foram amigas e/ou namoradas, teria presenciado Raíssa chorar.

E, embora quando terminaram, não tenha se impressionado com isso, diante do estresse do momento, agora percebera.

E se chocara. Raíssa realmente sentira? Pensara... Começara a ficar confusa.

Confusa com seus próprios pensamentos. Com seus desejos.

Quisera, por um instante, abraçá-la, pra tirá-la daquela dor... que ela aparentara.

E, seu choque, lhe fizera muda.

"Eu tenho certeza que..."

Os olhos de Raíssa ficaram vermelhos, iguais aos de Isa.

Parecera que ela esteve prendendo seus sentimentos por um bom tempo.

E, de repente, teria chegado a seu limite.

Isa tentara dizer algo que a bloqueasse, mas não conseguira.

Simplesmente não conseguira.

Sentira-se paralizada.

Confusa.

Literalmente arrasada.

"Hoje se namorássemos seria tudo diferente"


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