Uma hora se passara.

Isa permanecera agachada na montanha, de olhos fechados.

Seu rosto encontrava-se deitado sobre suas pernas.

Sentia-se como um feto fora da barriga de sua mãe.

Indefeso... Solitário...

Lembrara de Gigi.

Do início do relacionamento até o final.

Depois de Raíssa, Gigi fora a namorada mais longa que já tivera.

A única capaz de suporta-la, verdade seja dita.

E lembrara da forma como a trata-la dias atrás, em sua casa.

Percebera o quanto não fizera esforço para mudar.

Para ser uma namorada melhor.

Pensara nas outras. Cada namorada que tivera.

Não amara realmente nenhuma.

Apenas se apaixonara. Mas foram sensações breves, irrisórias.

Talvez nem isso. Talvez só fosse atraída.

Nenhuma importou na sua vida efetivamente, a não ser ELA.

"Imaginei que pudesse te encontrar aqui"

Os olhos pretos da mulher agachada na montanha de areia se abriram repentinamente.

Reconhecera aquela voz.

Sentira um arrepio por todo o corpo, ao avistar em pé, uma mulher loira dos olhos castanhos claros, que agora sentava-se ao seu lado.

"Não sei, eu... no fundo pensei que não fosse, mas... Algo me disse que você estaria aqui"

Isa a olhara, seus olhos estavam vermelhos, de tanto chorar.

Raíssa se aproximara, e tocara em seus cabelos.

Seu olhar expressava compaixão, e sinceridade.

Isa preferiu ficar calada.

Voltara a se esconder por entre as pernas.

"Fiquei tão feliz quando te reencontrei na livraria... Isa, eu te procurei tanto... por tanto tempo eu permaneci ligando pra sua mãe, quando você se mudou... Mas ela não quis me dar seu número... jamais imaginei que você ainda estaria na cidade!"

Estava explicado porque Raíssa tinha parado de procurá-la.

Raíssa, sem saber, estava corrigindo peças para o quebra-cabeça de sua relação com Isa.

Na verdade, ela não teria parado de ligar. Apenas não teria conseguido encontrá-la.

Odiara a mãe, por um momento.

"Acho que ela pensava que você ficar longe de mim, te afastaria do que você realmente era... Como são tolos os nossos pais, né?"

Raíssa sorrira levemente.

Na verdade a loira estava muito nervosa para divertir-se naquele momento.

Tinha a última chance de conversar com Isa, mas tudo estava indo mal.

Quer dizer, a morena nem sequer a olhava...

Raíssa manteve-se em silêncio por algum tempo.

As recordações ocuparam sua mente.

Isa também recordara momentos que passaram ali.

"Lembra de quando vínhamos aqui?"

Isa falara pela primeira vez, com a voz baixa, quase rouca.

Permanecera abaixada, para não encarar Raíssa.

"Claro... aqui eu passei os dias mais felizes da minha vida... Como eu poderia esquecer?!"

Raíssa errara no passado, mas hoje estava pedindo uma nova chance...

Isa sentira sinceridade na voz de Raíssa.

Talvez ela estivesse realmente diferente.

E, afinal, quem seria ela para julgar Raíssa?

Uma covarde que nunca teria sido capaz de lutar pelo que sempre desejara?

Que deixara seu grande e único amor, anos atrás, de bandeja, no primeiro obstáculo?

Fora capaz de dar Raíssa de bandeja para as investidas de outra garota.

Porém, Isa sabia que Raíssa nunca ficara com a garota novamente.

Apenas permanecera insistindo o seu perdão, por meses.

E, por meses, ela a ignorara. A maltratara.

Assim, Raíssa teria desistido. Isso fora o que pensara por tanto tempo.

Mas agora tinha descobrido a verdade.

Raíssa interrompera os devaneios de Isa, pegando-a em sua mão.

Isa ficara levemente vermelha, e tentara puxar sua mão de volta, mas Raíssa não permitira.

De cabeça baixa, Isa a olhara.

O olhar de Raíssa aparentara muita doçura...

E uma lágrima caíra dos olhos da loira, pela primeira vez nessa conversa.

"Será que algum dia você conseguirá me perdoar?"

Isa a encarara... não tinha resposta para isso.

E Raíssa sabia, mas não se importara, apenas continuaria tentando.

Poderia passar toda a vida ali, naquele momento, tentando se aproximar aos poucos, para quem sabe um dia conseguir o perdão da pessoa que verdadeiramente ela amara. 

Mas e Isa, seria capaz de deixar o amor de sua vida escapar, novamente por medo do futuro?