Isa já aparentava estar mais calma.

Ouvia em silêncio as palavras de Raíssa, que não mais lhe pareciam tão ofensivas. Ao menos já conseguia mirá-la, pensara.

Agora, tentava traduzir as reais intenções da loira, como se fosse uma máquina da verdade.

Já começava a acreditar que pudesse ser verdade, via nos olhos da ex namorada uma grande sinceridade.

E sua voz triste, por vezes gaguejante, confirmava a Isa que era verdade.

"Você não precisa me dizer nada agora... Eu entendo como deve estar sendo difícil pra você digerir tudo isso"

Fez-se uma pausa.

Isa continuara calada, mas já se sentia um pouco mais calma, diante da compreensão de Raíssa.

Realmente não conseguiria lhe dizer nada agora.

Por muito tempo em sua vida permitira-se desistir sempre das coisas mais preciosas, sempre que alguma dificuldade lhe era apresentada.

Principalmente em seus relacionamentos amorosos.

Mas, a verdade era que, talvez nenhuma pessoa tivesse sido importante o suficiente para que ela sentisse vontade de lutar... a não ser Raíssa.

Nenhuma havia lhe trazido a sensação de que valia a pena lutar. Apenas Raíssa.

Mas mesmo assim, havia desistido dela no passado. Como fizera com tudo na sua vida.

E hoje, anos se passaram e ela tinha uma outra chance para deixar sua covardia de lado, e enfrentar seus problemas de frente.

Raíssa se aproximara de Isa, que sentira uma onda de ar quente invadir o seu ouvido:

"Deixa eu provar pra você o quanto estou diferente"

Isa se arrepiara dos pés a cabeça, e ruborizara violentamente.

Não podia negar que fora uma proposta tentadora.

Não precisaria cansar tanto seu cérebro com pensamentos que não levaria a nada. A não ser enchê-la de dores de cabeça.

Simplesmente deixar rolar...

Seria essa a saída?

Mas o medo de passar por tudo aquilo de novo persistira...

Uma lágrima caíra de seus olhos, lentamente.

"Eu tenho medo..."

Raíssa dissera baixinho em seu ouvido algo parecido com um "Não precisa ter, eu estou aqui e não vou mais a lugar algum...", e a puxou para um forte abraço.

Sentira tudo de volta. 

Aquele calor corporal peculiar, com a sensação mista de ardor e choque térmico que apenas Raíssa lhe proporcionava, quando a tocava.

Isa, aos prantos, se jogara em suas pernas. Segurando-a e apertando-a, precisava verificar se aquilo não era um sonho.

Esperara por tanto tempo...

Não conseguira se envolver com ninguém todo esse tempo porque, na verdade, permanecera esperando por Raíssa.

Se dera conta, incrédula.

Passaram alguns minutos naquela condição. Em silêncio. Raíssa acariciava seus cabelos enquanto Isa a mantinha presa a si, repousando a cabeça em suas pernas.

"E eu preciso te dizer uma coisa..."

Isa não se mexera...

Ficara alerta para o que ouviria a seguir, mas não conseguira se movimentar nem esboçar nenhuma reação. 

Por um segundo teve medo do que seria. Mas preferira continuar como estava, acariciando a mão de Raíssa, amorosamente.

"Eu te segui até o restaurante"

Raíssa falara totalmente envergonhada, mas não queria mentiras entre elas nunca mais.

Nunca mais cometeria o erro que cometera no passado.

Guardar as coisas para si, afastando a garota dela.

Isa até parara o que estava fazendo para encará-la.

Raíssa, preocupada, procurara pela reação de Isa, que controlava uma risada.

Pensara que seria algo mais sério, diante de tanto mistério.

"O que? Eu precisava te ver!", perguntara Raíssa, constrangida pelo olhar da outra.

"E então você me seguiu? ...", dissera sorrindo novamente, divertindo-se com algo.

"Sim... forcei o encontro...", falara de cabeça baixa, cada vez mais envergonhada pela situação.

"Isso ficou meio óbvio, Raíssa! Acha mesmo que não reparei?"

Isa começara a gargalhar da cara de Raíssa que começara a revidar fazendo cócegas nela.

E a cena se repetira, tal como fora o primeiro beijo delas.

E o tão esperado beijo de reconciliação acontecera.

Por milésimos de segundos, Isa pegara se perguntando sobre o restaurante.

Como assim não tinha uma saída de incêndio?

E se pegasse fogo na cozinha?

Pensara no tempo que permanecera indo almoçar no mesmo lugar, por todos esses anos...

Decidira mudar de restaurante.

Pensara em todos os riscos que nunca correra na sua vida, por medo de viver.

Raíssa a fizera mudar e, por ela, todos os riscos seriam passados, e problemas seriam vencidos.

Raíssa abaixara o rosto, a medida que a morena se inclinara em sua direção. Abriram ligeiramente os lábios em expectativa do encontro, que não tardou a acontecer. Os lábios molhados da loira umedeceram os de Isa, que se entregara ao beijo por completo, aventurando-se em cada detalhe de sua boca. Era muita saudade explícita em cada toque de lábios, e pressão de corpos. 

Somente uma coisa parecia totalmente certo a Isa naquele momento. Nunca mais se afastaria daqueles lábios.