Don't be fear of the darkness escrita por ABNiterói


Capítulo 31
Capítulo 23


Notas iniciais do capítulo

Só para mudar um pouquinho, essa atualização não é apenas um aviso, mas um capítulo de verdade! Para não perder o costume, um pequeno aviso antes de vocês voltarem a ler: Eu reli a fic antes de continuar a escrevê-la, mas decidi não ficar voltando em busca dos mínimos detalhes, pois sei que isso só iria me atrasar ainda mais. Assim, se alguém perceber alguma inconsistência entre os capítulos anteriores e os que seguirem a partir de hoje, pode avisar, mas vamos esperar que tudo continue fazendo sentido minimamente. Nos últimos tempos eu praticamente não tenho lido coisas em português, então na minha cabeça algumas palavras não foram as melhores escolhas, e talvez eu tenha me desviado de alguma traduções específicas dos livros, mas acho que vocês vão entender tudo no fim.
Boa leitura!



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Não leia as notas por sua conta e risco. Você foi avisado!

No último capítulo...

— SLYTHERIN!

Tirei o chapéu de minha cabeça e depositei-o no banquinho ao meu lado enquanto a mesa verde e prata se levantou e aplaudiu fortemente. Sorri ouvindo os assobios e comemorações de minha casa. Sabendo que todos no Salão prestavam atenção em mim, andei com calma até onde maior parte do sétimo ano estava sentado e, depois de receber um abraço de boas vindas de meu primo, sentei-me entre os sonserinos e esperei que a mesa se acalmasse.

Aquele seria, sem dúvida alguma, um ano interessante.

(...)

 

Capítulo 23

 

“Hermione,

Como você está? Notícias viajam rápido e, mesmo eu não tendo falado com minha família os rumores no Ministério foram suficientes para eu descobrir o que tinha acontecido. No começo não entendi porque você tomaria a marca negra, mas agora a pouco ouvi um de meus colegas comentar que você está de volta a Hogwarts, sendo conhecida como a filha Daquele que não deve ser nomeado.

Sei que não nos falamos desde sua última carta quase um ano atrás, mas ainda quis escrever para te deixar saber que nem todos nós somos cegos. Nunca fomos muito próximos, mas me acostumei a te ver como parte da família – talvez a melhor parte. Não posso dizer que te perdoo pelo que fez com meu pai, já que mesmo não nos falando, tenho esperança que um dia ele e o resto de minha família abram os olhos para os erros que estão cometendo. E ele é meu pai. Também não posso dizer que te culpo, pois só posso imaginar tudo o que você está passando.

Enfim, se precisar de qualquer coisa, por favor, sinta-se livre para escrever.

Abraços,

Percy Weasley”

 

“Percy,

É sempre bom ouvir palavras como a sua.

Entendo que não possa me perdoar, mas não vou pedir desculpas. Não preciso disso, nem você. Há coisas maiores que nossos sentimentos pessoais, como você bem sabe.

Talvez não seja o que você esperava ao me enviar uma carta, mas tenho uma proposta à você. O Lorde das Trevas é misericordioso. Tudo que meu pai quer é desenvolver nossa comunidade. Derramar sangue bruxo, apesar de necessário em alguns momentos, não faz parte de seus planos. Infelizmente, sei que Ele também não sente remorso e sua família me machucou muito, de formas que nem quero começar a descrever.

No entanto, nem tudo está perdido. Não queremos que o nome Weasley suma para sempre. Junte-se à nós. Jure lealdade ao Lorde das Trevas e ele pavimentará seu caminho rumo a fama, ao sucesso ou quase qualquer coisa que você quiser.

Leve o tempo que precisar para pensar.

Da mesma forma, estarei aqui quando precisar.

Até,

Hermione Black Riddle”

 

“Hermione,

Minha demora em responder sua última carta se dá exatamente por minha falta de reação.

Talvez pareça desesperado, mas você acha que se me juntar à causa há alguma chance de eu salvar minha família? Sei que eles não merecem, mas você sabe como é... família.

Percy”

 

“Te afirmo apenas que se eles não forem mortos, eles vão desejar estar. Não posso falar por Charlie, não tenho certeza de seu envolvimento até agora – talvez você consiga poupá-lo.

HBR”

 

“O que preciso fazer?”

 

“Essa carta se transformará em uma chave de portal na próxima lua cheia. Certifique-se de estar segurando-a. E não tente trazer ninguém com você, não seria nenhum pouco inteligente, você sabe como lobisomens podem ser.

Você fez a escolha certa Percy.

Seja bem-vindo ao novo mundo!

Espero te ver em breve,

HBR”

Receber a primeira carta de Percy depois de tantos meses foi, sem dúvida, uma surpresa, mas logo percebi o que deveria ser feito. Eu não menti, a família Weasley, apesar de ter feito escolhas erradas – antes mesmo de eu entrar na história –, era uma família de puro sangues, e uma família com um dom invejado por muitas outras: sua capacidade de gerar muitos filhos. Sem dúvidas muitos pais ficariam felizes em casar suas filhas com Percy – apesar de sua personalidade.

Então percebendo a oportunidade, escrevi para minha mãe e ela concordou com minha ideia, prometendo passar as informações para meu pai. Foi mais rápido que inicialmente imaginei e, ao final de setembro, Percy já estava se preparando para encontrar com tio Luc pela primeira vez e talvez se tornar um Comensal.

Falando de papai, nós ainda não havíamos nos falado – ao menos que você conte sua assinatura ao final da carta que recebi de mamãe em meu aniversário, o que eu não conto. Sentei várias noites em minha escrivaninha com o intuito de escrever a ele, mas o orgulho sempre falava mais alto e sabendo que não era minha culpa exatamente, eu ainda esperava que ele se desculpasse.

As primeiras semanas após o início do meu Sétimo Ano foram as piores. Eu sentia o desconforto, a raiva e o medo dos alunos e dos professores. Durante a primeira reunião do corpo docente, após o primeiro dia de aula, permaneci no escritório do diretor enquanto cada professor entrava. A maioria me encarou de forma desconfiada. Os irmãos Carrow se curvaram, cumprimentando-me como sempre. Apenas quando Minerva entrou foi que tive que me manifestar.

— O que ela está fazendo aqui? – Admito que foi difícil ouvir o desprezo na voz de alguém que, além de uma de minha professoras preferidas, eu considerava uma amiga. Só que eu sabia que era apenas minha culpa por ela estar agindo assim. Senti meu estomago revirar e fechei os olhos tentando me acalmar e evitar que eu começasse a passar mal.

— A senhorita Riddle possui total liberdade para frequentar qualquer parte do castelo quando ela quiser – Respondeu Severus por mim.

— Devo lembra-lo Diretor, que ela é apenas uma aluna, e deve respeitar as regras como todos os outros. Achei que você acima de todos soubesse disso – retrucou McGonagal.

Sentindo um rosnado começar a ressoar do Bakante, me aproximei de Severus colocando a mão em seu braço e apertando-o levemente, assumindo levemente sua frente, mas sem nunca soltá-lo ou me afastar o suficiente para que algum dos professores fosse atacado.

— Entendo sua preocupação, Minerva. Como você bem disse, sou apenas uma aluna e tenho meu último ano a cumprir. Mas como todos vocês estão cientes, posso sentar hoje e prestar meus NIENS, e vou passar com as mesmas notas que seu eu fazê-los ao final do ano ou se eu os houvesse feito dois anos atrás. Assim, apesar de ser uma aluna, vamos dizer que meu papel aqui é mais... social que qualquer outra coisa. Acontece que eu realmente gosto da companhia que consigo por estar dentro dessas paredes e, como um bônus, posso ficar de olho em tudo para meu pai. Não que ele precise de mim para isso é claro. Com Severus, Amycus e Alecto aqui, sabemos que a escola está em ótimas mãos.

Todos permaneceram em silêncio, apesar de eu perceber que Minerva queria gritar algo. Inteligente dela ficar quita. Severus apresentou então o cronograma da reunião e voltei para minha cadeira perto da janela, apenas ouvindo e observando.

Mais tarde naquela mesma semana, estava distraída conversando com Draco, Theo e Blaise enquanto íamos para primeira aula de Arte das Trevas, que nem percebi os alunos vestidos de vermelho que começavam a acumular próximo à nós. Só quando tive que me defender de um feitiço que vinha em minha direção foi que percebi que tínhamos aula em conjunto com Griffindor e Ginny Weasley apontava a varinha para mim com o rosto completamente vermelho.

Infelizmente para ela Amycus já estava na sala e presenciou a cena, se aproximando sorrindo enquanto puxava a menina para frente da sala consigo e nos mandava sentar.

— Fico feliz que tenha se voluntariado Senhorita Weasley, assim não preciso escolher alguém. – ele observou a sala por um instante antes de se afastar um pouco de sua escolhida – Agora, como vocês já devem ter percebido, esse horário contém os alunos dos sextos e sétimos anos de Griffindor e Slytherin. Não se preocupem, as outras duas aulas da semana funcionaram como vocês estão acostumados, mas aqui vamos começar a implementar um novo sistema: como nas aulas práticas durante o sexto ano estaremos cobrindo feitiços de defesa e blindagem, e durante o sétimo, técnicas de ataque, eu e o Diretor Snape decidimos que seria útil se vocês pudessem se ajudar.

Olhei par os lados buscando as reações dos outros alunos. Como eu mesma não tinha noção dessa mudança, apesar de ver o sentido da tática, não me surpreendi ao ouvir os cochichos à minha volta e as caras de espanto.

— SILÊNCIO! – Gritou Amycus trazendo a atenção da turma de volta para ele. – É assim que vai funcionar: a cada aula, a cada aluno do sétimo ano será atribuído uma dupla do ano anterior. Os mais velhos tentarão conjurar o feitiço que estaremos trabalhando na respectiva aula e seu adversário tentará se defender. Um exemplo para aqueles que ainda não entenderam – Ele virou rapidamente em direção a Ginny apontando sua varinha para a menina e gritando – Crucius!

Completamente desarmada a Weasley caiu no chão enquanto gritava. Algumas pessoas soltaram gritos alarmados, Neville tentou avançar para ajudá-la, mas foi sabiamente impedido por Finnigan. Pouco depois nosso professor a liberou e sem prestar atenção alguma a ela voltou-se para nós.

— O que vocês estão esperando? Levantem, vamos começar!

Ninguém precisava ser legilimens ou sensitivo para perceber que a maior parte da escola não estava satisfeita com as mudanças impostas nesse ano, porém eu não conseguia entender o porquê. Apesar de não serem os melhores professores, os Carrow haviam introduzido um sistema de aulas interessantes – por minha experiência crescendo como nascida-trouxa, eu sabia que muito que era ensinado na aula de Alecto não era verídico, mas também sabia que aquele era apenas o primeiro passo nas mudanças, e que logo o Lorde das Trevas imporia a verdade.

Não que eu concordasse com as repetitivas torturas. Nunca achei que esse fosse o melhor método de ensinar alguém o certo, especialmente uma criança. Infelizmente, nem sendo filha de quem sou, pude sair impune dessas aulas e ocasiões, tendo que realizar duas das menores imperdoáveis com frequência.

Pessoalmente, eu havia aprendido a não me importar com elas enquanto estivessem sendo usadas pelos motivos certos, mas cada vez que eu empunhava a varinha, as palavras de Severus, pouco antes de eu receber minha Marca, sobre quebrar minha alma sempre voltavam. Eu sabia que minha alma estava segura enquanto eu permanecesse com a Maldição Imperius e a Cruciatus, só que eu não tinha ideia alguma sobre o impacto que conjura-las teria sobre o bebê que crescia dentro de mim.

Essa era outra coisa que estava rondando minha cabeça: Severus ainda não saber sobre minha gravidez. Eu sempre podia sentir o Bakante roçando minha mente, certificando-se de que estávamos bem e sabia que Severus estava cada vez mais irritado por não estar a par do que estava acontecendo. Entretanto, por algum motivo, eu não conseguia forçar as palavras para fora de minha boca. Mesmo tentando falar, escrever ou mostrar, no último segundo eu sempre acabava por desistir e mudar de assunto.

Com as semanas passando, tudo começou a desmoronar. Os alunos tinham medo de fazer qualquer coisa em público e serem punidos, ou sussurrar algo e mesmo assim alguém ouvir e os dedurar. Os professores temiam relatar qualquer problema, achando que estavam protegendo a si próprios e ao corpo discente. Eu via Severus ficando cada vez mais desesperado por ter o retrato de Albus Dumbledore em seu escritório – o que o fazia ter que fingir para o velho que ele ainda era leal à Ordem. Mesmo não falando com meu pai, eu sabia que ele ainda procurava o menino Potter, mas desde que descobriram quem eu era, não sabíamos se eles ainda continuavam com a caça às Horcruxes.

Pessoalmente, eu acreditava que sim. Conhecendo-os como uma vez conheci, sabia que Potter nunca desistiria até que completasse a tarefa do antigo diretor, ou até que estivesse morto. Sinceramente, eu só queria que isso acabasse logo.

Diversos alunos haviam começado a se aproximar de mim com a esperança de se tornarem meus amigos e estarem, consequentemente, livres. Eles eram bobos se achavam que isso realmente funcionaria. Não que eu estivesse dissuadindo-os: era uma diversão bem vinda vendo-os tentarem de tudo pare me agradar. A cada noite de sexta eu me juntava com Draco e Astoria, Theo e Dafne, Blaise, Vinc e Greg na sala comum de Slytherin onde riamos compartilhando incidentes da semana, comendo os doces que eu havia ganhado (os que não possuíam nenhuma poção do amor pelo menos) de interessados a pretendentes, ou apenas jogando conversa fora.

Em uma dessas tardes o assunto casamento foi levantado. É claro que todos possuíamos contratos, mas nem todos eram de divulgação livre. Dray e Ast, claro, não podiam estar mais felizes – e mais vezes que não, eu e Dafne nos pegávamos tendo que separá-los ou impedi-los de fugir para alguma sala vazia. A Senhora Zabini havia abençoado um contrato entre ele e uma bruxa italiana que ele conheceu no Natal anterior e, apesar de ela ser três anos mais nova, eles já estavam organizando o noivado. Theo estava cortejando Dafne, mas os dois eram amigos desde pequenos, o que tornou ainda mais fácil para eles se apaixonarem quando descobriram sobre seu possível futuro juntos. Greg e Vinc realmente não se importavam com isso, apenas sabiam que já haviam assinado contratos nas últimas férias, mesmo sem conhecer as bruxas.

— E você Mi? – perguntou Ast depois que os meninos terminaram de se provocar.

— Eu o que?

— Essa é a pergunta de um milhão de galeões, não? – rio Dafne ao meu lado – Quem a princesa das Trevas vai tomar como marido?

— Não vou tomar ninguém – respondi sentindo meu rosto começar a corar e olhei para baixo, inconscientemente cruzando os braços por cima de minha barriga.

— Vamos lá Senhorita Riddle! Somos seus amigos ou não? – Theo perguntou do outro lado de Dafne me fazendo suspirar enquanto minha mente corria para descobrir uma resposta. Sim, eu podia me recusar a dizer, mas eles estavam certos. Eles eram meus amigos – verdadeiros amigos que se importavam comigo – e eu queria confiar neles.

— Meus pais fizeram meu contrato semanas depois que eu nasci. – respondi devagar sem olhar para ninguém em específico – Eles tinham todo um planejamento de como minha vida aconteceria, mas como vocês sabem... bem, eu acabei crescendo sem saber de nada. Foi um choque enorme quando descobri que já era prometida a alguém. Mas meus pais se recusaram a me dizer quem ele era, e isso me deixou ainda mais ansiosa.

— Então você também não o conhece? – Perguntou Greg.

— Acho que sempre o conheci. – sorri pensando no homem que havia me conquistado de formas que eu nunca havia ousado em sonhar – Mas eu só descobri quem ele era poucos meses atrás, depois que consegui minha Marca. – Esfreguei levemente a referida marca em meu braço esquerdo, fechando os olhos enquanto lembranças daquela noite invadiam minha mente. E pensar que na época pensei que nada podia ficar pior. – Enfim, eu descobri quem ele é, mas meus pais e ele decidiram que seria melhor manter sua identidade do público em geral para evitar... certos questionamentos;

Olhei para eles enquanto meus novos amigos acenavam em entendimento.

— Herms – meu primo chamou e, no momento em que meu olhar se virou para ele, eu sabia o que ele ia perguntar – Você contou para ele?

Apenas acenei negativamente sentindo meus olhos começarem a encher de lágrimas que, definitivamente, não era bem vindas. Levantei pegando minhas coisas enquanto dava alguma desculpa, sem reparar no olhar de preocupação estampado no rosto de Draco e tendo tempo de apenas ouvir Blaise perguntando onde eu estava dormindo se não no dormitório com as outras meninas. Sem me importar com a resposta – se é que houve alguma – continuei meu caminho para os quartos que dividia com Severus, torcendo para que ninguém visse as lágrimas que, sem motivo, começavam a escorrer por meu rosto.

Antes que eu perdesse a coragem, logo ao chegar no quarto me joguei em minha mesa, peguei um rolo de pergaminho e minha pena e comecei a escrever.

“Olá papai,

Talvez eu devesse ter escrito antes, mas meu orgulho não permitia que eu colocasse as palavras no papel. Só que, no momento, estou mantendo tantos segredos que não posso, não consigo deixar algo que eu não podia evitar me separe de você.

Não vou pedir desculpa, pois no fundo sei que o que aconteceu não foi minha culpa – em nenhuma das vezes. No começo pensei que sim, principalmente logo depois que você... depois que você disse o que disse. Pode ter certeza que me culpei imensamente, dando tanta razão ao que você disse que posso ter cometido um erro naquela noite

Nesse instante a primeira lágrima caiu de meus olhos manchando o pergaminho, mas não me incomodei e continuei a escrever.

Não, não um erro. Não é como se eu tivesse muita escolha. Mas isso não importa agora. Isso não é algo que me arrependo. Se não fosse por Severus... se não fosse por ele eu provavelmente ainda estaria me culpando assim como você me culpa. Pode ser algo óbvio – para mim é, pelo menos –, mas eu não deixei que quase acertassem uma maldição em mim, e não deixei que a Ordem da Fênix me capturasse de propósito.

DCAT nunca foi minha melhor matéria. Você sabe disso tão bem quanto eu. E você também sabe que Severus passou meses me ensinando, me treinando. E você sabe que ele nunca arriscaria me deixar fazer algo sabendo que eu não seria capaz de me defender e me proteger.

Quando fomos marcados, nem eu nem ninguém imaginava que seríamos enviado para um lugar repleto de feitiços de proteção e aurores. Mamãe mesma disse que seria algo fácil, que em no máximo uma hora eu já estaria de volta em casa. Mas não foi o que aconteceu. Nós estávamos todos cansados. Apesar de todo o meu treinamento, eu nunca havia passado tanto tempo lutando, nunca havia estado em um campo de batalha. Mas ainda assim nós ganhamos. Eu ganhei! E então a Ordem da Fênix apareceu. E nós lutamos.

Não vou pedir desculpa por isso.

Depois da transferência do menino Potter eu fiquei desolada. Sei que havia aceitado minha missão e eu estava pronta para continuar com ela pelo tempo que fosse necessário. Isso não me impedia de querer estar em casa. De querer estar com você, com mamãe e com Severus. Admito que eu estava distraída. Nós havíamos nos preparado para diversas possibilidades. Só que nunca imaginamos que Moody ia inverter o feitiço que usamos na torre de astronomia para fazer com que pessoas com a Marca Negar não pudessem entrar na Toca. Quando percebi o que estava acontecendo, tentei fugir antes que alguém desconfiasse. Eu teria conseguido se Shacklebolt não estivesse lá. Se não houvessem dois aurores e pelo menos mais três bruxos muito bem treinados me atacando. Eu quase consegui. Cheguei até o limite do feitiço anti-aparatação e estava prestes a sumir de lá quando alguém me estuporou.

Não vou pedir desculpa por isso também.

Mas eu vou pedir desculpa por não ter tentado mais. Por ter te desapontado. E, especialmente, por ter deixado que isso nos separasse, me afastasse de você.

No meu aniversário, eu disse que havia te escolhido e que essa escolha era para sempre. Eu não estava mentindo. Você é meu pai, minha família.

Eu te amo.

Nada vai mudar isso.

Só que você me machucou. Muito. Eu pensei que eu pudesse confiar em minha família, que vocês me amariam e me protegeriam acima de qualquer coisa. Foi o que você deixou transparecer quando te conheci. E eu pensei que você nunca mentisse, e então acreditei em você. Quando suas palavras me atingiram.... eu preferia que houvesse sido um Cruciatus. Com certeza machucaria menos, e da maldição eu poderia me recuperar com algumas poções e horas de descanso.

Palavras machucam muito mais.

E eu nunca vou esquecer o que você me disse.

Mas eu te perdoo.

Eu sempre vou te perdoar, não importa o que aconteça.

Então eu peço que você tente me perdoar também por não ter sido o que você precisava que eu fosse. Eu não quero continuar te decepcionando – mas algo me diz que essas não vão ser as últimas vezes.

E se você não puder me perdoar por minhas fraquezas, se você não for capaz de me aceitar de volta, tudo bem. Eu não entendo, não acho que há algo que um filho meu faria que eu não pudesse perdoar. Mas mesmo assim, se esse for o caso, fique tranquilo que eu continuarei a lutar por sua causa até o dia em que eu morrer.

Acho que era mais ou menos isso que eu queria te falar.

Espero ouvir de você novamente algum dia.

Com amor,

Hermione Black Riddle”

Severus me achou 15 minutos depois cercada por bolhas em nossa banheira, com olhos vermelhos e ainda soluçando. Eu havia selado e enviado a carta antes que me arrependesse, mas ainda assim, a cada palavra, a cada verdade que eu escrevia a vontade de começar a chorar se tornava ainda maior, com ocasionais lágrimas caindo ao pergaminho. Logo que a coruja saiu voando por minha janela, me dirigi ao banheiro e preparei um banho quente cheio de ervas e essências que deveriam me acalmar – mas obviamente não estavam funcionando.

Eu estava tão entorpecida, perdida entre a conversa com os outros sonserinos mais cedo e o que havia escrito a pouco, que não ouvi Severus entrando ou chamando meu nome. E definitivamente não o vi ou ouvi tirando as roupas ou entrando na banheira comigo, não até que pude senti-lo me inclinando levemente para que ele pudesse sentar entre minhas costas e a parede da banheira, me prendendo contra seu peito.

— O que aconteceu Carinho? – sua voz rouca sussurrou contra meu ouvido enquanto suas mãos desciam por meu corpo até alcançarem minha barriga e lá pararem, desenhando padrões invisíveis contra minha pele e me acalmando mais que as ervas e ao mesmo tempo criando uma nova situação em minha mente.

— Eu estou... – e antes que a última palavra pudesse sair de minha boca um soluço a interrompeu acompanhado pelo rosnado mental do Bakant. Como consequência, mais lágrimas encheram meus olhos e eu voltei a chorar, dessa vez de raiva por não conseguir contar ao meu... ao pai do meu filho que ele seria pai.

Ouvi de longe as palavras calmantes de Severus sendo sussurradas contra meu cabelo enquanto ele me abraçava ainda mais forte.

— Eu estava com Draco e os outros e eles começaram a falar sobre noivados e casamentos e... Isso me incomodou mais do que eu esperava, por que eu não tenho vergonha de você Severus, eu não me importo que você seja mais velho ou que tenha sido meu professor e que agora seja o diretor da escola onde estudo. Mas eu tenho consciência de como isso poderia ser visto, ainda mais por aqueles que não seguem os costumes e os que nem sabem sobre a tradição de casamentos arranjados. E eu sei também que diversos professores começaram a especular depois de meses vendo eu entrar nos aposentos do diretor, te acompanhar em reuniões e sentar ao seu lado no Salão Principal. – suspirei sabendo que eu estava fugindo do ponto central – Eu acho que me machucou mais que devia eu não poder compartilhar com meus amigos quem é meu prometido. Então eu sai de lá e... e eu escrevi uma carta para meu pai – mais lágrimas quentes – e eu não sei se devia ter feito isso, se devia ter escrito tudo o que escrevi.

Severus virou meu rosto em sua direção secando as lágrimas que ainda o manchavam antes de se inclinar o suficiente para beijar meus lábios e depois minha testa, onde ele permaneceu por alguns segundos.

— Não importa o que o resto do mundo pense, eu seria seu mesmo sem nenhum contrato, da mesma forma que sou desde que te vi pela primeira vez 18 anos atrás. E não importa também o que pensem sobre o Lorde das Trevas. Nós dois sabemos a verdade sobre quem ele é: sabemos que ele é um visionário à frente de seu tempo propondo mudanças que muitos não estão prontos para enxergar necessárias. Eu sei que as palavras dele te machucaram Carinho, mas como já te disse, ele estava imensamente preocupado com você. Ainda está, tenho certeza. – Severus riu lentamente contra a pele sensível de meu pescoço antes de beijá-lo – Você puxou seu orgulho dele, mas se você foi forte o suficiente para falar primeiro, em breve vamos ouvir dele.

Tirando conforto de suas palavras, os movimentos leves de suas mãos contra minha barriga e sua respiração contra meu ombro começaram a modificar minha anterior tristeza por um sentimento muito mais carnal. Deixei que minhas mãos corressem por suas pernas e soltei um suspiro quando um de seus dedos esbarrou contra meu seio. Virando de forma que eu pudesse alcançar sua boca mais uma vez, beijei-o agradecendo sem palavras por sua ajuda.

— Faz amor comigo – pedi contra sua boca assim que terminei o beijo.

Com mais um rosnado, dessa vez vindo tanto do homem quanto da fera, fui levantada e levada até nossa cama, onde mesmo ainda molhada Severus me colocou lentamente antes de avançar em minha direção, cobrindo meu corpo com o seu e invadindo minha boca com a sua. E mais uma vez consumamos nosso amor.

Eu esperei por dias, mas a cada café da manhã em que corujas invadiam o Salão Principal sem trazer uma resposta de meu pai eu me convencia ainda mais que não era nem digna de uma resposta.

Então, quando no começo de novembro – quando eu estava começando a me adaptar a usar glamours em minhas roupas para esconder o volume que começava a se formar em minha cintura – durante um jantar onde parecia que toda escola havia resolvido participar, as portas do Salão Principal se abriram abruptamente, todos olharam em direção ao som feito por elas e, ao vermos quem avançava, eu, Severus e os outros comensais nos levantamos, eles se curvando enquanto o Lorde das Trevas andava por entre as mesas – sua capa flutuando atrás de si e seu rosto... o rosto que eu estava acostumada a ver.

O silêncio que havia se instaurado foi quebrado por Filch que chegou correndo e parou à porta ofegante e com o rosto vermelho.

— Desculpe Diretor. Ele apareceu do nada e não quis ser anunciado. – era óbvio que, assim como muitos alunos e professores, ele não sabia quem aquele homem era e o que ele estava fazendo ali.

— Suficiente Sr. Filch. Você pode ir.

O zelador saiu fechando a porta atrás de si, mas meu cérebro ignorou o movimento escolhendo não se separar do homem que se aproximava cada vez mais de mim.

— Hermione. – ele chamou como se eu já não estivesse olhando diretamente para ele. – Venha até aqui.

Senti Sev alcançar e apertar minha mão por baixo da mesa e devolvi o movimento antes de me dirigir até meu pai, baixando a cabeça ao parar em sua frente e sentindo o olhar de todos em nós. E no segundo seguinte ele estava me abraçando. Como da primeira vez em que ele fez isso – e de todas as vezes que se seguiram – eu me senti bem, segura e amada.

— Me desculpe, filha – ele sussurrou fazendo com que meus olhos ardessem e tive que me impedir de abraça-lo de volta na frente de todos. Ele continuou a falar, dessa vez alto o suficiente para que estivesse na mesa principal ouvi-lo – Espero encontra-lo para uma reunião antes de ir embora, Severus.

— Claro, meu Lorde. Estarei esperando em meu escritório.

O Lorde das Trevas acenou e, passando um braço por meu ombro, nos dirigimos até a porta da equipe atrás do Salão, sumindo pouco depois que os sussurros começaram. Fomos até a Sala Precisa onde Tom Riddle convocou um elfo e o ordenou que trouxesse nosso jantar. Passamos por um estranho momento de silêncio até que meu pai mais uma vez pediu desculpas.

— Eu nunca poderia não te perdoar, Hermione. Estava desesperado de preocupação e não conseguia entender como aquilo tinha acontecido, sei que você é poderosa, mas não estava levando em conta que, ao contrário de mim, você nunca havia participado de uma batalha real. E aquele fiasco no Ministério da Magia não conta, nem pense em levantar isso. Eu errei dizendo aquilo para você e queria me desculpar no mesmo instante, mas como você deve imaginar, meu orgulho falou mais alto. Eu não tinha coragem de ir até você e, apesar de sua mãe estar quase implorando para nós conversarmos, deixei o assunto de lado. Me desculpe por ter te machucado, por te ter feito chorar.

Depois disso a conversa fluiu. Contei tudo sobre o que estava acontecendo na escola e o que eu percebia que não estava dando certo ou que devia ser melhorado. Papai me contou como as coisas estavam fluindo no resto do mundo e os progressos que havíamos feito. A pesar de não haver nenhum sinal de Harry Potter, mesmo com os caçadores de recompensa espalhados pelo país e o maior controle que estava sendo imposto pelo Ministério, nós estávamos positivos que a guerra acabaria dentro de um ano. Eu torcia para que antes, silenciosamente torcia para que quando meu bebê nascesse já estivéssemos em paz, mas mantive essa esperança apenas em minha mente.

Quando, com cuidado, fui indagada sobre o erro que cometi na noite em que brigamos, apenas tentei desconversar, dizendo que eu estava triste quando escrevi a carta para ele e confundi sentimentos, mudando de assunto em seguida e, felizmente, deixando essa questão cair. Eu não podia em sã consciência dizer ao Lorde das Trevas que ele seria avô tão cedo, ou meu filho nasceria órfão de pai.

Passamos o final daquele dia juntos, aproveitando a presença um do outro como há tempo não fazíamos, esquecendo temporariamente de todo o resto. Tínhamos consciência de que ainda muita coisa aconteceria, mas pelo menos nós estávamos bem.


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Notas finais do capítulo

E aqui estamos de volta, depois de mais de um ano acredito, com mais um capítulo!
Apesar de ter feito um planejamento da história quando comecei a escrevê-la, coloquei apenas os pontos do que aconteceria em cada capítulo, momentaneamente confiando que ainda lembraria de tudo até que o último capítulo saísse. Infelizmente não foi o que aconteceu. Mesmo com esse cronograma, não tinha certeza do que antes eu planejava escrever. Assim, tentei manter o capítulo mais ou menos no mesmo ritmo e estilo dos outros (espero que não tenha ficado muito diferente). Sei, com certeza, que antes não focaria tanto na relação entre a Hermione e o Lorde das Trevas, mas conforme fui escrevendo foi isso que surgiu. Não tinha certeza também se era para ela contar a Severus sobre o bebê já, mas, novamente, conforme fui escrevendo isso foi sendo deixado de lado (quase fiz ela contar a verdade durante a cena da banheira, mas achei que seria muita coisa para um capítulo só). Assim, esse será uma das coisas a serem resolvidas nos próximos capítulos.
Em uma nota mais pessoal, relendo a fic antes de continua-la, percebi que eu mudaria muitas coisas, que não seguiria a linha que a história tomou. Coisas que alguns até tinham questionado ou sugerido ao longo dos capítulos. Mas, ainda assim, resolvi manter minhas primeiras anotações e confiar que minha criança anterior tinha alguma mínima noção do que estava fazendo.
Obrigada a todos vocês que continuaram acompanhando a fic, comentando e mandando mensagens e e-mails. Cada uma de vocês é minha inspiração para voltar aqui e recomeçar a escrever – vocês não imaginam como estava sentindo falta disso hahahah
Espero muito que tenham gostado desse capítulo no mínimo tanto quanto gostavam dos outros!
O próximo capítulo será um bônus – o último dessa fic!

Até lá,
ABNiteroi