Don't be fear of the darkness escrita por ABNiterói


Capítulo 19
Capítulo 14


Notas iniciais do capítulo

Não, não é uma miragem...



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No último capítulo...

– Não consigo imaginar você com medo de algo. – Pensei alto.

– É claro que fiquei com medo. Eu não sabia o que aconteceria com você.

Olhei para Severus. Ele me encarava fixamente e seus olhos estavam cercados por uma aura vermelha, mas isso não me assustou, ao contrário, me fez sentir-me mais confortável que nunca.

– Acabo de perceber que tenho muito que agradecer a você.

– Você não tem nada que me agradecer. Tudo o que fiz, faço e farei é de boníssimo grado.

– Obrigada Sev. – apesar de suas palavras, agradeci e impulsionei meu corpo para mais perto dele, beijando sua bochecha demoradamente.

– De nada Carinho – Severus respondeu tranquilamente, beijou minha testa e me abraçou.

Capítulo 14

POV Hermione Riddle

Entre legilimência, oclumência, magia sem varinha, feitiços mudos, poções, estratégia, feitiços negros, teoria, etiqueta, árvores genealógicas e as matérias do currículo de Hogwarts, meu tempo ainda era ocupado com combate corpo a corpo, técnicas de lutas trouxas e bruxas, defesa pessoal, utilização de armas – como espadas, punhais, lanças, dardos, entre outros – e duelo.

Severus não me deixava respirar. Ele disse que, enquanto fosse meu professor, ele não permitiria que eu morresse, seja por conta de um feitiço, veneno, ou por eu não saber como me portar na hora e local. As aulas chegaram a envolver técnicas de tortura e como – e quando – mentir.

Eu estava cansada. Muito. Mas cada segundo era compensado pelo simples fato de Severus estar ali comigo, me ensinando, conversando, guiando e, eventualmente, me tocando por alguns segundos.

Uma sala completamente vazia havia tornado-se o lugar que mais recebeu minha presença naquele semestre. A sala em questão ficava abaixo dos aposentos de Severus e ninguém, alem de mim e Sev, sabia de sua existência. O castelo sabia muito bem como ajudar quem dele precisava.

Eu passava grande parte do meu tempo nas salas de aula e estudando. Por costume, ficava perto de Potter, Weasleys, Longbottom e Lovegood, mas deixava-os falar enquanto eu me concentrava em alguma coisa mais importante, como uma lição ou um livro. Potter me contava de seus encontros com o velho, e eu contava a meus pais o que havia ouvido.

Apenas uma vez Potter teve a capacidade de perguntar-me como eu estava e se Severus estava me irritando muito. Disse-lhe que o que eu estava fazendo era o mínimo para ajudar a Ordem, e que eu podia aguentar um pouco de “severisses”. O menino que sobreviveu desejou seus pêsames e então começou a desabafar seus problemas e eu parei de prestar atenção.

Apesar de meu combinado inicial com Severus a respeito dos horários, eu sempre fugia para seu quarto quando não tinha nada para fazer. Quando Sev estava ocupado, eu ficava sentada com ele na sala, lendo algum de seus inúmeros livros. Nos momentos que ele estava desocupado, ou ele me contava sobre quando era estudante, ou sobre quando eu era pequena, antes de ser levada para longe de meus pais.

Sei que 19 de setembro, meu aniversário, rapidamente chegou. Não recebi parabéns de nenhum de meus “amigos”. Pensando retrospectivamente, Harry, Ron, Neville, Luna e Gina nunca haviam se quer perguntado quando era o dia de meu nascimento. Passei aquela manhã desanimada pela conclusão que eu havia chego, mas ao meio-dia, quando o correio coruja chegou, fui inundada por cartas. Como ninguém prestava atenção a mim, consegui escondê-las na minha bolsa antes que tivesse que responder alguma pergunta. Assim que tive um período livre, me dirigi à biblioteca, extremamente curiosa.

Separei as correspondências em duas pilhas: família e estranhos. Depois de executar um feitiço que me avisaria se havia algo maligno em algum envelope, abri as cartas que continham nomes estranhos no remetente. Eram todas cartas de Comensais desejando-me felicidades. Algumas continham presentes – na maioria, joias que eu nunca usaria – outras diziam ter enviado meu presente diretamente para a Mansão Malfoy, e outras mais ousadas ofereciam a si próprios ou seus filhos a mim.

Deixei a árdua tarefa de responder as inúmeras cartas para quando voltasse ao meu quarto, depois da aula com Severus.

Na pilha família havia uma carta de meus pais trouxas, outra de meus pais bruxos, uma de tio Lucius e tia Ciça, de Avery, meu padrinho, e, por fim, uma de Draco. Guardei essas cartas e seus respectivos presentes com carinho.

Apesar de meu contentamento por tantos terem se lembrado de mim, eu não conseguia ficar inteiramente feliz, pois quem eu mais desejava que houvesse se lembrado dessa data, não o fez.

As horas passaram rapidamente e logo eu já estava a caminho das masmorras. Severus me cumprimentou normalmente e seguimos com o treinamento que ele havia escolhido para o dia.

Começamos a treinar magia sem varinha, técnica que ainda me deixava esgotada, mas eu estava melhor. Na primeira vez que tentei, Severus me entregou uma pedra e mandou que eu a levitasse. Sem usar a varinha. Sem nenhuma palavra. Eu levei dias para conseguir completar perfeitamente essa tarefa, e só quando o fiz foi que passamos para verdadeiras magias sem varinhas. Não ficávamos o dia inteiro nisso. Normalmente Sev me mostrava um feitiço, dava a dica de como fazê-lo e eu tentava algumas vezes. Depois mudávamos para outro tópico de estudo, e eu treinava sozinha o feitiço que ele me mostrou. Quando eu conseguia realizá-lo, mostrava a Severus e ele me ensinava um novo. Nas primeiras vezes – ainda na Mansão Malfoy – eu levava mais ou menos uma semana para controlar cada novo feitiço. Eu já me sentia feliz por agora levar de dois a três dias para realizar o feitiço com perfeição.

Depois de algumas falhas tentativas de realizar um feitiço da criação de Severus – Abaffiato – subimos para a sala de estar e Sev me entregou alguns livros onde estávamos estudando rituais.

Em algum momento – eu tinha a tendência a me perder nas horas quando estava na companhia de Severus – uma coruja colidiu contra a janela. Sev levantou-se e pegou a carta antes da coruja voar para a escuridão.

– É para você. De Percy Weasley.

Surpresa, eu peguei a carta de sua mão.

“Hermione,

Como você está? Não sei se você está sabendo, mas minha família tem estado cega para alguns assuntos, como a lealdade deles e o que é certo. Eu não tenho falado com eles por um tempo agora.

Meu trabalho aqui no Ministério como assistente Junior do Ministro me manteve ocupado todo o dia, e apenas consegui escrever-lhe há pouco.

Parabéns Hermione!

Sei que meus irmãos nunca tiveram a capacidade de perguntar-lhe quando é o seu aniversário e surpreende-me muito que minha mãe também não o saiba, mas ao trabalhar aqui vim ter acesso a algumas informações.

Curioso terem te feito esperar um ano a mais para entrar na escola. Você sabe o por quê?

Você sempre me pareceu ser uma boa menina, não quis correr o risco de que deixassem seu aniversário passar em branco. Todo o aniversário é único, mas completar 17 anos é especial para um bruxo – talvez pelo fato que antigamente muitos não chegavam a essa idade por conta de não conseguirem controlar sua magia...

Espero de verdade que você consiga conquistar tudo o que você quer e que você seja sempre feliz.

Quero que você se lembre que pode falar comigo sempre que precisar de alguma coisa.

Abraços,

Percy Weasley”

– Bem, isso foi surpreendente. – Disse ao terminar de ler.

– Posso?

Entreguei a carta a Severus sem ligar para seu tom de voz ao pedi-la.

– Agora sabemos que existe um Weasley que pensa – o sarcasmo escorria por cada palavra de Severus.

– Percy sempre foi inteligente – respondi guardando o pergaminho em minha bolsa e voltei a sentar no sofá. – Eu não estava esperando receber tantas cartas hoje. Quer dizer, Percy foi uma surpresa, mas eu não sei como ninguém percebeu tantas corujas vindo até mim durante o almoço.

– Isso é minha culpa. Imaginei que alguns Comensais fossem querer oferecer seus... parabéns, então desiludi as corujas quando percebi que elas iam até você.

– Obrigada por isso Severus... Eu preciso mesmo responder todas aquelas cartas?

– Teoricamente? Sim. É o que todos esperam da Princesa das Trevas. Mas ninguém poderá dizer nada se você escrever um único agradecimento e usar um feitiço de duplicação.

– Não tenho certeza se quero responder todas as ofertas que recebi alem dos parabéns... Nesse momento eu gostaria que meus pais divulgassem meu noivado. Eu fiquei com nojo de ler algumas cartas.

– Foi tão ruim assim?

– Por que você não parece surpreso? Quer saber? Não responda. Eu prefiro não saber.

– Como a senhorita desejar – respondeu-me solenemente.

– Senti falta da sua carta – admiti.

– Posso escrever uma, se é o que você quer. Apenas achei que você preferisse receber seus presentes pessoalmente.

– Não quero um presente! – o modo como ele falou fez-me sentir-me igual a uma criancinha mimada. Eu não queria ganhar um presente! Se bem que ele próprio embrulhado e com um grande laço não seria algo que eu pudesse reclamar... A única coisa que eu queria era que ele lembrasse.

– Você nunca foi fã de presentes. Eu entendo, mas temo que seja algo que você terá que se acostumar. Todos querem agradar o Lorde, e você é o meio mais fácil de fazê-lo.

– Agora entendo por que Draco é tão mimado. Acho que eu não aguentaria a mim mesma se eu houvesse crescido assim.

– Garanto que não sou o único que preferia você sendo insuportavelmente mimada se esse fosse o preço para você ter crescido conosco.

Mordi o lábio inferior. Sev estava certo: eu daria tudo para ter passado toda a minha infância com minha verdadeira família. Eu amava os Granger, mas seria incrível se meu pai houvesse matado o Potter e derrotado a Ordem da Fênix no passado.

Sem deixar que eu respondesse, Severus sentou-se ao meu lado no sofá e seus braços me envolveram, prendendo-me contra ele. Encostei minha testa em seu peito, inalando seu cheiro. “Feliz aniversário Carinho”. Aquelas eram as palavras que eu quis ouvir o dia inteiro, e foi incrível finalmente escutar o som, abafado por sua boca estar próxima ao topo de minha cabeça, de cada silaba saindo de seus lábios.

– Obrigada Sev – respondi sorrindo quando me separei dele.

– Entendo que você não queira presentes, mas eu fiquei quatorze anos longe de você, sem poder te fazer nada. Você não vai me negar esse prazer por mais um ano.

Em menos de um minuto Severus saiu da sala, entrou em seu quarto e voltou com duas caixinhas na mão. Aceitei os presentes que ele me estendeu. Sob seu olhar – que muito me lembrava do professor Snape por ele estar em minha frente de braços cruzados – abri a caixa menor que era azul-marinha. Dentro encontrei uma caixinha de joias preta com delicadas rendas de ouro em sua superfície.

Deixei os embrulhos ao meu lado no sofá e admirei o porta-joias por longos segundos.

– É lindo!

– Abra-o.

Tirei a tampa do relicário. Uma corrente simples de prata descansava contra o fundo da caixinha. Peguei-a encantada. A corrente trançada servia de sustento para uma grande pedra de quartzo rosa bruto. É claro que Severus não havia me dado justamente essa pedra por ela ser a pedra do amor. Havia algum outro motivo, eu apenas não precisava saber qual era esse motivo. Eu podia enganar meu coração mais um pouco.

– Coloca em mim? – pedi me levantando e parando de costas para Severus.

Ele tirou o colar de minha mão e a primeira coisa que senti foi o arrepio que passou por minha coluna quando Severus encostou em meu pescoço para afastar meu cabelo. A gema caiu pouco acima de meus seios, e então eu sentia seus dedos deslizando por minha nuca para fechar o colar.

Virei-me ficando de frente para Sev e ele pegou o pingente por um instante, arrumando-o contra minha pele. Ter sua mão ali, tão próxima a mim, não estava me fazendo muito bem. Seus olhos, que antes prestavam atenção no quartzo, encontraram meu olhar e instintivamente me aproximei mais dele. Meu rosto estava inclinado para cima para que eu não quebrasse nossa troca de olhar. Lentamente Severus inclinou a cabeça, diminuindo ainda mais o espaço entre nós.

Eu tinha certeza que ele ia me beijar. Eu podia sentir seu beijo.

Ainda sem desviar o olhar, ainda com sua mão entre nós, aquecendo meu peito.

Minha respiração estava acelerada e pesada. Minha boca, seca.

Passei a língua por meus lábios, umedecendo-os.

Os olhos de Severus seguiram o movimento.

Mais uma vez seus olhos estavam cercados por aquela aura vermelha. Meu coração perdeu uma batida quando Sev baixou a cabeça, nossas respirações se misturando. Eu fechei os olhos e me movi para finalmente encontrar sua boca.

Tão leve e importante como as batidas da asa de uma borboleta. O suficiente para fazer meu coração disparar. O segundo em que nossos lábios se tocaram fez meu corpo amolecer e eu estava totalmente entregue. Aquele mínimo toque me fez sentir mil vezes mais que eu havia sentido com Viktor ou Draco. E então acabou.

– Desculpe-me Hermione – Severus já estava longe de mim e virado de costas quando as palavras chegaram.

Eu estava estática. Um sorriso bobo implorava para surgir em meu rosto por conta do beijo. Em compensação, eu não sabia como agir, tanto por ele ter se afastado, quanto pelo fato de que eu havia beijado-o.

– Boa noite Severus – sussurrei e sem esperar por qualquer resposta, peguei minhas coisas e saí.

Cheguei ao meu quarto e me joguei na cama, rindo e sorrindo como boba. Eu não conseguia parar de pensar naquele beijo. Nem sei se posso chamar aquilo de beijo, mas para mim era melhor que qualquer coisa no mundo. Apertei o quartzo entre meus dedos. Eu não conseguia me sentir ruim ou culpada por ele ter me afastado. Quer dizer, se Severus não quisesse aquele beijo, ele não teria nem se aproximado de mim, não teria agido como agiu; por outro lado, havia inúmeros motivos para ele me afastar. Ele podia se culpar por ter feito isso sabendo de meu noivo, ou por ser meu professor, ou por causa de meu pai, ou... Eu conseguia pensar em milhões de desculpas para ele ter se afastado, e eu entendia. Nada do que passava por minha mente era capaz de tirar o êxtase que percorria meu corpo.

Ainda perdida em meus sentimentos, alcancei meu terceiro presente – considerando que o beijo foi o segundo. O que antes pensei ser uma caixa, era na verdade um estojo comprido e de couro. Levantei a tampa com cuidado e, contrastando com o forro preto, havia um athame de prata. Antes de tirá-lo do suporte, peguei um pedaço de pergaminho que estava encaixado ao lado da bainha.

“Nunca se sabe quando vai ser necessário atacar. Esse athame é uma herança em minha família, passada para uma mulher de cada geração. As mulheres tinham o costume de escondê-lo entre o tecido de suas saias, assim era fácil empunha-lo sem que ninguém percebesse. Use-o para cortar sua mão. Quando ele reconhecer seu sangue, passará a pertencer a você. Tomei a liberdade de acrescentar uma variação do feitiço de invisibilidade para que assim, sempre que você usá-lo, ninguém possa vê-lo. Também, se você vier a perdê-lo por algum motivo, ele voltará para você em alguns intantes.

Tanto o athame quanto o colar são presentes, você não precisa usá-los, mas não os aceitarei de volta.”

Peguei o athame e adimirei-o. Ele não era leve demais para passar despercebido, nem pesado o suficiente para cansar minha mão. Assim como Severus disse na carta, cortei minha mão e deixei o sangue banhar a lâmina. Com um leve brilho, um brasão surgiu na base do punho da arma. Ele possuia o fundo preto, cercado por intrincada moldura, em seu centro um “P” desenhado em prata repousava e o que deviam ser olhos famintos de um felino pareciam me seguir da parte de cima do brasão.

Encaixei o athame no coldre e coloquei-o ao lado do meu travesseiro. Guardei o estojo em minha mala para não correr o risco de perdê-lo, e sem por um momento soltar minha corrente, preparei-me para dormir.

Eu estava decidida a ignorar qualquer coisa que Severus me dissesse no dia seguinte. Ele não acabaria com o meu prazer contando-me mentiras. Com um rápido gole minha costumeira poção havia sido tomada, e me deixei levar pela inconsciência.

POV Severus Snape

Nunca imaginei que você seria tão sádico! Ela estava bem aqui, na nossa frente, totalmente entregue! Como assim você não nos permitiu beijá-la?! Eu disse minha condição. Você realmente acha que eu simplesmente ia jogar toda a verdade na cara dela assim? Qual é o seu problema? Vai dizer que não a quer mais? Minha! Companheira! É claro que eu a quero! E agora você viu como é tê-la em minha frente e não poder marcá-la. Você não fez isso só por conta da marca. Você não nos deixou... Nós só sentiremos seu gosto quando ela souber a verdade. Essa é minha condição a partir de agora. Você vai contar a Hermione que somos um Bakant. Vai dizer que temos uma companheira. Deixe-a surtar. Ela vai nos odiar por um tempo, e então virá correndo para nossos braços. Você é realmente sádico. Para que torturá-la assim? Porque nós e ela temos que aprender.

Parei de tentar entender o que minhas metades Bakant e humana discutiam. Minha boca ainda estava amortecida pelo fantasma de seus lábios no meu e, em contradição, minha cabeça explodia pelos gritos internos de meus pedaços.

Por um instante eu tinha certeza que estávamos indo beijar Hermione, mas quando nossos olhos se encontraram, minha pequena estava tão entregue que despertou algo no Bakant, e ele se recusou a beijá-la antes que eu contasse a ela o que sou. Por mais que eu tentasse, não consegui contradizê-lo, e nossa menina se foi.

Sem ter certeza do que o Bakant planejava, coloquei minhas coisas no lugar e me sentei em frente à lareira, aproveitando um livro enquanto o dia terminava.

POV Hermione Riddle

Sorri com as lembranças felizes do dia do meu aniversário. Como eu imaginei que aconteceria, Severus disse inúmeras vezes que precisávamos conversar, mas eu consegui fugir todas as vezes que ele tocou no assunto.

Agora, duas semanas antes do Natal, eu recebi uma carta de meus pais trouxas convidando-me para a comemoração de suas bodas de prata na semana seguinte. Guardei a carta em meu bolso sem ter certeza do que responder e segui para minhas aulas.

Os dias estavam passando cada vez mais rápido. Eu ainda não havia decidido onde passaria meu feriado de fim de ano e Jean e Paul esperavam uma resposta para a minha participação em suas bodas.

Naquela noite eu e Severus estávamos preparando poções para a Ordem. Minha vontade era acrescentar alguns ingredientes para que as poções não funcionassem como deviam, mas eu sabia que se fizéssemos isso, Dumbledore saberia que fui eu ou Sev, já que só nós dois fabricávamos as poções usadas pela Ordem da Fênix.

Eu estava mexendo uma esquelesce e admirando o trabalho de Severus quando vi algo que nunca havia percebido antes: em seu dedo indicador, um anel ornado com o brasão de sua família.

– É muito bonito – indiquei o anel depois de muito admira-lo – Tio Lucius está sempre com anéis, broches ou prendedores no cabelo, mas acho que nunca havia te visto com alguma joia. Tem algum motivo para você usá-lo hoje? Ou talvez signifique algo?

– Antes era apenas um anel, uma relíquia de família. – Ele parou de picar as folhas de cicuta que estávamos preparando para secar e guardar no estoque de ingredientes. Seus olhos repousaram em mim e eu sabia que ele estava decidindo se devia continuar a falar. – Mas isso foi antes. Agora esse anel possui um significado mais importante: é o que me liga a minha companheira.

Companheira?

Era possível ver a expectativa nos olhos de Severus, mas eu não sabia o que dizer. Como assim? Companheira? Dei voz a minha duvida.

– Eu sou um Bakant, Hermione. – ele respondeu como se aquilo explicasse tudo.

– Desculpe? Um o que? – perguntei ainda um pouco perdida.

– Bakant. Uma fera alada. Sou o último de minha espécie. Você lembra-se de quando estudamos Veelas? – acenei em confirmação. – Bakant são os parentes mais próximos das Veelas, mas ao contrario delas que enfeitiçam os homens com sua beleza e transformam-se em Harpias, os Bakant têm um nível de poder muito maior que qualquer bruxo e transformam-se em feras aladas. Uma pantera negra com asas de morcego. Eu passei metade da minha vida acreditando que os Bakant estavam extintos, até que eu conheci minha companheira, e minha herança se ativou.

– Quem é ela? Sua companheira, eu quero dizer.

Era possível sentir ciúmes de um olhar? Eu queria que aquele misto de sentimentos tão bonitos que passou por seu rosto fosse dirigido a mim, mas agora, qualquer centelha de esperança que havia em mim, acabou. Severus nunca me amaria.

– Não posso dizer ainda quem ela é – ele respondeu feliz. Eu nunca receberia um sorriso como aquele.

– Não confia em mim? – pedi segurando a raiva e a indignação.

– Claro que confio, mas eu e seus pais achamos melhor não divulgar essa informação por enquanto.

Eu fui capaz de sentir meu coração quebrando dentro de mim. Eu nunca seria capaz de competir com esse tipo de amor. Eu não podia deixá-lo me ver chorar.

– Espero que vocês dois sejam muito felizes. Ela tem sorte. – disse com o que restava de minhas forças. – Preciso ir Severus. Acabei de me lembrar que não respondi uma carta de Jean e Paul.

– Hermione! – meu professor chamou, mas eu me recusei a olhar para ele. Corri para fora da sala batendo a porta atrás de mim. Escorei na mesma e as primeiras lágrimas começaram a escorrer por meu rosto acompanhadas por um soluço e pelo fraquejar de minhas pernas, o que quase me fez cair ao chão – Desculpe Carinho, eu não queria te machucar – pensei ter ouvido Severus dizer, mas deve ter sido fruto da minha imaginação desesperada por consolo. Snape não tinha motivo para estar tão triste como aquela voz aparentava estar.

Permaneci escorada naquela parede, chorando de uma dor que eu não sabia de onde vinha. Eu não tinha forças nem para sair daquele corredor, e quando ouvi vozes se aproximando, nem tentei me esconder.

– Hermione? O que aconteceu? – deixei que Draco me abraçasse sem dar importância aos sonserinos que estavam com ele – O que Snape fez? – pediu meu primo com raiva.

– Como...? – tentei dizer, mas até falar parecia impossível. Minha visão ainda estava embaçada pelas lágrimas e eu mal conseguia ver meu primo.

– Você está quase morrendo na porta do quarto dele. É obvio que meu padrinho fez alguma coisa para te deixar assim.

– Não é...

– Não diga que não é nada – ele se separou um pouco de mim e pegou meu rosto em suas mãos. – Você não chora por qualquer coisa Herms.

– Não quero falar sobre isso Dray. E não diga nada a ele. Não quero que Severus saiba que conseguiu me deixar assim.

– Tudo bem, mas vou enviar uma carta aos seus pais. Tia Bella vai matar Snape.

Ri junto ao meu primo e sai de seu abraço. Meus olhos pararam nas pessoas que estavam a alguns metros de distância, e finalmente os reconheci como sendo Nott, Zabine, Parkinson e a Grengrass mais nova, que nos observavam com curiosidade.

– Eu resolvo isso – prometeu meu priminho deixando um último beijo em meu rosto.

– Obrigada – tentei sorrir, mas acabei apenas correndo para longe das masmorras até a Sala Precisa. Eu não queria correr o risco de encontrar mais alguém.

Ainda chorando, pedi à sala tinta e pergaminho e, como disse a Severus que faria, escrevi uma carta aos meus pais confirmando minha presença em suas bodas de prata. Eu apenas esperava que Dumbledore me deixasse sair da escola. Assim que uma coruja apareceu e eu enviei a carta, olhei ao meu redor. Eu estava em uma cópia perfeita da sala de leitura de Severus. Não tendo certeza se eu me sentia bem ou mal por isso, joguei-me em um sofá, e abraçando uma almofada, me permiti quebrar de verdade...

Devo ter dormido em algum momento, pois minha próxima lembrança era acordar com um nariz gelado em minha perna.

– Crookshanks! – funguei ao ver meu gato se esfregando em mim – Por onde você andou? Faz tanto tempo que não te vejo menino!

Mal peguei o gato no colo e o bicho já estava ronronando e mordendo minhas mãos.

– Ah Crooks! Porque eu tinha que me apaixonar justo por Severus? Sempre foi claro que esse sentimento apenas me machucaria. Se eu não fosse filha de quem eu sou, ele nunca olharia para mim duas vezes. E mesmo assim, agora descubro que ele é um Ba sei lá o que... essa “fera alada”, e ainda: ele tem uma companheira! É estranho, porque eu nunca vi Severus com nenhuma mulher, mesmo nas festas de meus pais. E na minha festa de aniversário, eu me lembro dele dançando comigo... e ele disse que eu estava bonita... Como ele pode ser tão bom para mim, tão galanteador, tão perfeito, e depois virar e dizer que ele é o último ser de uma espécie mítica e que ele depende de uma companheira para viver? Eu não entendo Crooks! Eu pensei que ele estava pelo menos começando a gostar de mim. Sabe, mesmo quando estávamos treinando, Severus parecia cuidar tanto de mim, não querer que eu me machucasse... Nós passamos noites conversando, lendo, ou apenas em silêncio, aproveitando a companhia do outro. Por que ele faria isso, agiria assim, se em algum lugar ele possui alguém que é perfeita para ele, esperando por ele? Carinho! Por que me dar esse maldito apelido?! Por que me torturar assim? Dar-me tantas esperanças...

Abracei meu gato forte o suficiente para fazê-lo miar e morder a ponta do meu nariz em protesto.

– Desculpa, desculpa! Não vou mais te apertar Crookshanks, é que eu estou tão... Nem sei como estou!

Continuei a tagarelar com meu meio-amasso por tanto tempo que ele se jogou para longe de mim. Parei de falar enquanto observava o bichinho desfilar sem pressa pela sala, subir em uma estante, morder um livro e arrastá-lo até mim.

– Sério? Eu aqui, abrindo meu coração a você e o senhor quer que eu leia? – me permiti um sorriso e peguei o livro. – Vamos ver o que temos aqui...

As páginas eram amareladas e velhas, mostrando a idade avançada do livro. Não havia titulo algum na capa azul de couro, e quando o abri, senti o característico cheiro de pergaminho que eu tanto amo.

De cara não havia nada escrito naquelas paginas, mas uma bela letra cursiva começou a se formar. Imediatamente lembrei-me do diário do meu pai.

Uma única palavra formou-se na primeira página: BAKANT. Folheei o livro curiosa, lendo apenas os títulos dos capítulos. O que somos. Companheiras. Acasalamento. Foram os títulos que mais me chamaram a atenção. Nas últimas páginas havia os nomes de todos os Bakant, acompanhados pelas datas de nascimento e morte. O último nome havia nascido muitos anos depois da morte do Bakant anterior: Prince, Severus.

– Como você conseguiu achar esse livro Crookshanks? – perguntei mesmo sabendo que não receberia resposta. Ele apenas piscou e deitou na poltrona ao meu lado, começando um demorado banho de língua.

Mesmo estando abatida por saber que Severus era esse ser, eu faria o que sei de melhor, ou seja, pesquisar e estudar.


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Notas finais do capítulo

Olá pessoinhas!
Finalmente consegui terminar esse capítulo! Ainda acho que ele tem muita informação, mas como vocês pediram um beijo de verdade entre nossos personagens, acrescentei algumas coisas na ideia original do capítulo. Espero que tenham gostado.
Novamente, não sei quando vou conseguir postar o próximo. Um pequeno spoiler para quem quiser: Hermione não vai ficar "de mal" com Severus por muito tempo...
É isso!
Kisses