Love Story escrita por Lady Rogers Stark


Capítulo 7
"Não há segredos que o tempo não revele". – Jean Racine.


Notas iniciais do capítulo

E aí?! Preparadas para mais um capítulo de Love Story? Para muitas leitoras esse é um capítulo muito aguardado, Hihihihi

Peço desculpas a todas as leitoras que respondi, eu disse que postaria dias atrás, mas deu um pequeno problema e só pude postar agora, espero que vocês me perdoem!

Enfim, leiam e aproveitem! Beijos!

Capítulo editado: 21/02/2016



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Acordo sentindo o sol em meus olhos, droga, a cortina.

Ouço o telefone tocar e o pego.

—Alô? – pergunto ainda deitada.

Oi Laura, bom dia. Desculpa por ontem – É o Steve.

—Bom dia. Não, está tudo bem – digo me sentando na cama.

Te acordei?

Sim, mas eu tinha que acordar mesmo – escuto sua risada.

Então tudo bem. Posso ir aí? Eu tô levando o café da manhã, caso você queira tomar comigo.

Ah, claro, estou morrendo de fome – digo sorrindo – Ah, são que horas?

Pouco mais de nove horas.

E hoje é sábado, não é?

Sim.

Obrigada, te espero aqui, tá bom?

Já tô chegando.

Tchau.

Tchau – e desligo a chamada.

Coloco o telefone para abastecer enquanto vou ao guarda-roupa, pego uma roupa bonitinha para ficar em casa e vou ao banheiro. Jogo água no rosto e me maqueio de maneira simples.

Ouço batidas na porta enquanto ajeito o cabelo.

—Já vai! – grito e vou ate a porta. A abro e encontro o Steve sorrindo com uma sacola com várias caixinhas.

—Para você – ele diz me entregando uma flor, uma tulipa amarela.

—Que linda – digo sorrindo e pegando a flor e sentindo seu cheiro doce.

Dou espaço para ele entrar enquanto ainda sinto o cheiro da flor.

—Que bom que gostou – ele colocou as sacolas em cima da mesa e olhou para mim – Tem certeza de que está bem? – ele perguntou vindo ate mim e acariciando meu rosto.

—Tenho sim, tinha ate me esquecido daquilo.

—Desculpe, eu não...

—Tudo bem, já passou, não foi nada – digo me sentando na mesa – O que você trouxe?

—Ovos mexidos, pães doces, algumas frutas e suco de manga – ele disse abrindo as sacolas e tirando tudo. Abriu os potes.

—Vou pegar pratos e talheres – levantei, fui a cozinha e voltei com o suficiente para nós dois.

—Obrigado – ele pegou seu prato e talheres.

Nós colocamos a comer, sempre sorrindo e rindo. Quase me engasguei duas vezes.

—Ah, lembra daquele cara que estava do seu lado na plateia, no teste – perguntei.

—Não, não lembro, quem era?

—Andrew Levine, ele também passou para a fase dois. Ele é neto da senhora Mags.

—Sério?

—Aham. Ah, outra coisa, Alicia combinou comigo de ir numa boate hoje. Se você quiser ir.

—Boate? Aqueles lugares com música alta? – concordei com a cabeça – Não, tudo bem.

—Eu também não estou afim de ir, mas é que eu não saio com a Alicia faz um tempão.

—Ela não veio aqui outro dia?

—Veio, mas para ela é muito tempo.

Ele riu e voltamos a comer.

Logo, quando acabamos, eu lavei tudo enquanto o Steve arrumava a mesa.

—Você quer que eu te leve e te busque do trabalho hoje? – ele perguntou já na porta tocando em meu queixo com carinho.

—Não precisa, eu vou ficar bem – falei tocando sua mão e sorrindo. Ele me beijou e logo entrou em seu apartamento e fechei a porta do meu para me arrumar.

Já arrumada, saí de casa e tranquei a porta. Desci as escadas, e dessa vez mais atenta, saí do prédio sempre olhando em volta. Me agarrei na bolsa com mais força e meu coração acelerou assim que vi o pequeno beco onde eu fui assaltada. Respirei fundo e passei direto. Cheguei a papelaria vendo Andrew a abrir.

—Bom dia – ele falou sorrindo destrancando a porta.

—Bom dia – sorri e ele sorriu de volta – Cadê a senhora Mags? A sua avó? – perguntei enquanto entravamos na loja e ele ligava as luzes.

—Não vai poder vir hoje, ela me deixou no comando.

—Ela está bem? – perguntei preocupada.

—Está sim, é só um mal-estar. Vai passar – ele falou confiante e respirei aliviada.

Fui deixar a minha bolsa no armário verificando o celular, nenhuma mensagem ou ligação.

—Está tudo bem? – Andrew me perguntou me dando um grande susto, fazendo eu jogar o telefone para o alto, que por sorte, consegui pegar por reflexo – Desculpa – ele falou quase rindo da minha reação.

—Tudo bem – digo guardando o celular dentro do armário e indo para a loja.

—Você não está bem mesmo – ele falou me observando enquanto eu arrumava algumas mercadorias do balcão.

—Como assim? – perguntei sem entender.

—Foi alguma coisa que eu fiz? – ele perguntou apontando para si mesmo.

—O quê? Nada disso! Eu estou bem, estou ótima – falei sorrindo e parece que ele não se convenceu.

—Pode me contar.

—Mas não aconteceu nada – falei mais firmemente, olhando em seus olhos.

—Tem certeza?

—Tenho – falei e ele concordou com a cabeça.

Ele sorriu e foi ao depósito.

Logo chegou o primeiro cliente e logo fui atende-lo.

Horas mais tarde.

—Desculpa senhora, mas dessa cor acabou – falei depois de ir pela milésima vez no depósito.

—Tudo bem. Obrigada – ela falou sorrindo e dando as costas e saído da loja.

Respirei aliviada e coloquei a plaquinha de ‘’fechado’’ na porta de vidro.

—Hoje não foi fácil – comentou Andrew.

—Pois é, estou exausta – falei indo ate os armários.

—Se você quiser, podemos tomar um café – ele perguntou descontraidamente.

—Não obrigada – sorri enquanto ele se apoiava no encosto da porta – O que eu quero é cair na cama e dormir – falei e ele riu. Peguei a bolsa e fechei o armário.

—Tudo bem, deixamos para segunda então – ele falou se desencostando da porta. Me deu espaço para passar e concordei com a cabeça.

—Pode ser – sorri e fui ate a porta, a abri e olhei para ele – Ate segunda – fechei a porta e comecei a andar para casa.

Assim que passei pelo beco, senti minha barriga embrulhar completamente, andei mais apressadamente e logo cheguei em casa.

—Laura, está tudo bem? – Steve me perguntou descendo as escadas com sua jaqueta de couro de sempre.

—Tá tudo bem sim, eu só andei mais rápido – falei sorrindo e indo ate ele e lhe dando um beijo – Onde você vai? – perguntei ainda próxima a ele.

—Visitar uma amiga – ele falou.

—Que amiga? – perguntei interessada.

Ele riu e me deu outro beijo.

—É... Do trabalho – ele falou coçando a nuca. Essa coceira dele... Aí tem!

—Que amiga? – cruzei os braços com o olhar de dúvida misturado com o ‘’te peguei!’’.

—Peggy, Peggy Carter! – ele falou um pouco mais nervoso e desconfiei ainda mais.

—Tudo bem, você volta que horas? – perguntei.

—Lá pelas sete, e você?

—Não sei, mas dez horas não passa – sorri e ele sorriu de volta. Me roubou outro beijo e se despediu indo ate a sua moto.

Respirei fundo e subi para o meu apartamento.

Peggy Carter? Ele nunca falou dessa amiga dele.

Entro em meu apartamento e jogo a bolsa em cima do sofá enquanto pego o celular e disco o número da Alicia.

Já está pronta? – ela perguntou atendendo o telefone.

—Não, ainda não.

Então anda logo, Laura!

Tá, mas antes. Steve saiu com uma ‘’amiga’’.

Que amiga? – ela perguntou.

—Não sei, ele disse o nome mas nunca tinha falado dela antes, eu nem sequer sabia que existia esse nome! – falei andando para lá e para cá com o celular pendurado na orelha.

Pesquisa no google então – sugeriu.

—No google?

É? Você nunca fez isso? Se pesquisar no google?

Não, nunca.

Tenta depois me liga – e desligou antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa.

Pesquisar ela no google? Eu não acho isso uma boa ideia, mas... Não faz mal.

Peguei meu celular e me aproximei da janela, onde consigo pegar o wi-fi da barbearia do outro lado da rua onde não tem senha. Coloco no google e pesquiso ‘’Peggy Carter’’. Espero uma eternidade, e tenho uma surpresa. Peggy Carter é uma mulher que viveu nos anos 40! É para ela estar bem velhinha então, não deveria estar trabalhando. E afinal de contas! Onde o Steve trabalha!? Meu Deus... Onde eu estava com a cabeça? É claro que isso está mal! Eu nem sei onde ele trabalha! Ele só dá desculpas dizendo que é complicado ou troca de assunto!

Arg! Que raiva! Se ele estivesse aqui, nesse momento... Eu iria arrancar cada informação dele, o quanto eu pudesse.

Cometo outra "loucura" e pesquiso Steven Rogers no google, mas não aparece nada demais, na verdade, só aparece outros Stevens Rogers. Reviro os olhos e decido não ligar para isso agora, apesar de estar cutucando a minha mente.

Vou ate o quarto e procuro algo para vestir, algo bem bonito, pois quero esquecer disso, pelo menos por alguma horas antes dele chegar.

Com um vestido branco, com um pequeno corte nas laterais da cintura, uma bota preta de cano baixo, uma bolsa vermelha de couro e uma maquiagem um pouco mais desenvolvida e um batom nude, eu estava pronta.

Liguei para a Alicia que disse que estava pronta e que estava vindo me buscar.

Olhei para a tulipa que estava numa caneca cheia de água, a mesma tulipa que Steve me deu, hoje mesmo. Respirei fundo e me sentei no sofá tentando colocar os pensamentos em ordem.

Quais são as possibilidades? Dele estar envolvido em algum grupo criminoso? Não acho muito provável, mas nessas circunstâncias, tenho que levar tudo em consideração. Dele estar me traindo? Não... Não pode ser! Isso ele não faria, bom, eu acho que não. Mas bem que a Alicia avisou.

E outra coisa? Porque raios ele nunca falou dela para mim? E o pior: Porque ela tem 72 anos?! Isso é o que mais me intriga.

Fecho os olhos com força me segurando para não chorar.

Porque eu fui fazer isso? Me apaixonar por ele? Se eu não tivesse me envolvido com ele, ter ficado apenas na amizade, isso não teria acontecido! Mas que droga! Porque todo cara tem que ser assim? Mentiroso?!

Mas e isso tudo for puro coincidência? E se for pura obra do destino? E se... Quer saber? Melhor deixar tudo assim, mais tarde é que ele vai sofrer um interrogatório.

Ouço o meu telefone tocar e sei que é Alicia avisando que está na frente do meu prédio, já que ela mora muito perto de mim. Não atendo e desço as escadas tomando cuidado com o salto.

Logo vejo seu carro, um carro modesto, popular, mas bem conservado, bem diferente do que imaginei. Ela acena para mim e vou ate ela. Abro a porta e coloco o cinto.

—Belo carro – falei enquanto ela acelerava para pegar o sinal verde.

—Obrigada, é do meu pai – ela falou sem olhar para mim.

—Do seu pai? E ele sabe disso? – perguntei preocupada.

—Claro que sabe! – ela disse sorrindo tranquilamente – Você está muito bonita! – ela disse olhando finalmente para mim – Adorei o vestido.

—Obrigada, e eu adorei o seu – falei observando o seu. Preto, apertado e mostrando uma parte da barriga. Saltos pretos de couro com detalhes em neon verde em baixo. Um batom vermelho e um olho mais simples. Estava simplesmente deslumbrante.

—Que fofa! Obrigada! – ela sorriu e voltou a se concentrar no trânsito – Pesquisou a cadela no google?

—Credo, Alicia, não precisa chama-la de cadela – a defendi – Mas sim, pesquisei. É uma mulher que viveu na década de quarenta, na segunda guerra mundial – falei e ela me olhou surpresa.

—Tem certeza que digitou o nome certo? – dividiu o olhar entre mim e o trânsito que estava meio congestionada dessa vez.

—Tenho. Ela tem 72 anos? É isso? E trabalha com o Steve?

—E qual é o trabalho dele mesmo?

—Isso é o pior de tudo: Eu não sei! Ele desconversa e muda de assunto, fica nervoso, treme todo e fico ainda pior.

—Ei, fica calma.

—Eu tô calma! Eu vou estar é uma fera é quando eu chegar! Eu vou coloca-lo contra a parede e perguntar tudo, e se ele gaguejar mais uma vez, bom... Eu não vou ter outra alternativa.

—Do que você está falando?

—Terminar.

—Você tem razão. Ele mentiu para você, é claro que depois disso a confiança já foi embora.

—Pois é!

—Vai beber hoje? – ela perguntou parando no sinal vermelho.

—Acho que não... Melhor não. Quero chegar em casa o suficiente bem para pensar e saber o que falar. E não tonta e vomitando em qualquer coisa.

—Tá bom – ela concorda pisando fundo no acelerador fazendo o carro arrancar – Eu vou – ela sorri para mim e reviro os olhos.

Logo depois, já havíamos chegado na balada. Estava cheia, lotada, mas conseguímos entrar. Pagamos nossas entradas e logo entramos escutando a música alta tocar.

Desvíamos de algumas pessoas que estavam no estreito corredor, apenas namorando e se beijando com mais privacidade, mas estavam obstruindo a passagem.

—Eu vou beber! – ela gritou no meu ouvido e confirmei com a cabeça.

Sorri ao perceber, eu estava sozinha, mas não tem problema. Fechei os olhos e comecei a dançar conforme o ritmo da música, rápido e energizante.

—Voltei! – Alicia falou me tocando nos ombros depois de quase quinze minutos dançando, eu já estava cansada.

—Você bebeu esse tempo todo? – perguntei enquanto ela sorria atoa.

—Sim, e mais algumas coisinhas... – falou com o hálito puro de bebida.

—Que coisas? – perguntei.

—Beijei muuuito! – falou jogando a cabeça para trás.

—Bom para você. Melhor irmos para casa.

—Casa? Ainda são oito e meia – falou se apoiando nos meus ombros.

—Na verdade são sete e meia.

—Pior ainda!

—Você está bêbada! – insisti.

—Levemente alterada! – ela corrigiu e logo caiu na gargalhada novamente.

—Vem – a puxei a força ate a saída. Peguei as chaves de seu carro de sua bolsa.

—Me dá isso aqui – ela pegou da minha mão e entrou no banco do motorista.

—Você está bêbada! – avisei espantada.

—Não faz mal, a sua e a minha casa é perto daqui, bem perto – falou tendo dificuldade em colocar a chave na ignição.

—Alicia, eu não vou entrar com você assim – avisei cruzando os braços ainda fora do carro.

—Dirijo melhor bêbada. Anda logo Laura, quero chegar em casa, já que você estragou minha noite – falou nervosa.

—Pego um táxi – falei dando meia volta no carro e olhando a avenida, cheia de carros, mas poucos táxis, muito menos livres.

—Boa sorte – falou dando partida no carro.

Bufei e entrei no carro batendo a porta com força.

—Devagar e com atenção, por favor – falei e ela sorriu vitoriosa.

Acelerou com o carro devagar e com cuidado e suspirei aliviada.

Alguns minutos depois, eu já estava na frente do meu prédio, me despedindo dela e falando, implorando para tomar cuidado. Ela foi embora e entrei. Subi as escadas e logo vi que Steve estava em casa. Meu coração bateu mais alto e respirei fundo, eu preciso fazer isso, preciso!

 

Fiquei de frente para a sua porta. Respirei bem fundo. Agora era a hora. Eu precisava conversar com ele agora. É agora ou nunca. Vamos logo, Laura! Bati na porta no impulso. E ele a abriu segundos depois. Deveria estar na sala.

—Oi Laura – ele me recepcionou de bom humor e com um sorriso enorme no rosto, mostrando seus dentes brancos e perfeitos. Mais um suspiro escapou da minha boca. Eu tinha que me manter séria. Tenho o sério motivo de acabar falando sobre outra coisa quando era para falar algo urgente.

Respirei bem fundo mais uma vez, talvez fazendo Steve estranhar a minha reação séria. Mas era necessário. Convoquei toda a raiva que eu estava sentindo. Isso sim vai conseguir me manter focada no que eu vim aqui para fazer.

—Posso entrar? – perguntei seca e bastante séria. Com uma cara mínima de espanto, ele me deixou entrar. Nem olhei para ele. Apenas me sentei no sofá ainda tentando segurar a coragem dentro de mim – Porque mentiu para mim? – perguntei de uma só vez demonstrando a minha insatisfação, decepção e tristeza. Eu me sentia desse jeito.

—Mentir? Eu nunca menti para você. Nunca – respondeu espantado e com firmeza. Se nunca mentiu, porque sempre age de jeito como se escondesse alguma coisa? Eu sinto isso quando ele abre a boca para falar, quando me abraça e me beija. Suspiro com a sua negação

—Então porque Peggy Carter tem setenta e dois anos? Porque você nunca me fala onde trabalha? Porque age como se estivesse escondendo tanta coisa dentro de você? E porque quando eu pergunto sobre o seu passado, você desconversa e muda de assunto? – pergunto num fôlego só, colocando para fora tudo aquilo que se passava pela minha cabeça.

—Eu posso explicar – ele avisa e bufo bem alto. É claro que podia explicar. Sempre tem uma explicação por trás de uma mentira. Sempre.

—Eu sabia! – esbravejei irritada, furiosa na verdade – Eu sabia que tinha alguma coisa errada. Você detesta quando tocam no assunto do seu passado porque é doloroso para você? É isso? – pergunto furiosa, sentindo o meu sangue borbulhar dentro de mim – Ou você está me traindo e usa a desculpa de que está trabalhando? – cuspo as palavras como alguém cospe no chão. O problema é que eu estou morrendo de medo por dentro com a sua resposta.

—Laura, eu... – ele tenta começar a explicar, mas a sua fala morre e se dissolve no ar.

—Fala logo, Steve! – ralhei entredentes, em um tom baixo e contido – Para de enrolar! – exigi mas eu sabia que seria necessário muito mais para fazê-lo falar. Parecia que ele estava numa luta interna entre fala ou não fala.

—Eu... Eu... Eu não posso – ele gagueja horrorosamente, sentindo-se nervoso e olhando para baixo, o tapete que estava sobre os seus pés. Respiro fundo, bem fundo. Isso não estava acontecendo, não podia estar. Está faltando coragem para ele me dizer a verdade? O mínimo do que eu mereço?

—Posso não pode? – pergunto indignada – Caramba! É difícil dizer isso? – pergunto bastante irônica e olhando para os seus cabelos loiros, já que o seu rosto estava para baixo – Anda, estou preparada. Conta! – esbravejo raivosa, apenas implorando para que ele me contasse o motivo de eu estar desse jeito. Pois se ele fosse sincero comigo, eu não sentiria a vontade de chorar feito uma criança.

Fecho os olhos com força, respiro fundo tentando manter aquele aperto no peito sobre controle. Eu não posso chorar agora. Pois aí eu iria para casa chorar sozinha, aí teríamos que conversar e fazer tudo isso de novo. Não aguento mais uma rodada disso. Mas acho que nem ele.

A maneira como ele está, com a cabeça baixa, as mãos juntas sobre a nuca, a testa encostando nos joelhos, me parte o coração. Talvez eu estivesse forçando demais ele. E agora, sinto toda aquela raiva e decepção dando lugar apenas a tristeza.

—Eu não posso... Desculpa... – o escuto dizer, com a voz abafada, mas consigo entender bem. Definitivamente eu estava forçando demais dele. Talvez ele estivesse arrependido pelo o que fez, mas não consegue colocar para fora. Eu talvez me sentiria dessa mesma maneira.

Ele está chorando? Eu não sei. Mas sei que eu estou quase.

Me sento ao seu lado, primeiro apenas observando as minhas mãos sobre os joelhos. Um pequeno momento de vergonha por minha parte. Mas depois acabo me convencendo a continuar. Preciso da verdade. É o mínimo que eu mereço.

—Steve... – o chamo, tentando ser carinhosa, mas não consigo ser do jeito que estou – Por favor. Vou me sentir melhor se você contar – insisto numa voz baixa e contida. Mas não ouso o tocar. Estou muito acuada para isso. Mas ouço o seu suspiro.

Ele se senta corretamente, passa a mão pelos olhos com força. E me corta o coração. Vi seus olhos vermelhos, levemente inchados, e acho que o olho direito estava aguado. O que era de tão horrível para ele se arrepender a ponto de quase chorar na minha frente?

—Não posso, isso é perigoso demais para você – explica e não consigo entender bem isso. E tento pensar em alguma maneira de tudo se encaixar e acrescentando a característica perigosa para a equação. 

—Peraí? Perigoso? – pergunto repetindo e bastante preocupada e surpresa.

Ele confirma com a cabeça agora se levantando. O observo sentada no sofá e acompanhando seus movimentos. Parecia nervoso, com ainda naquela luta interna de contar ou não. Mas parecia que um dos lados estava começando a ganhar.

—Já é perigoso eu estar namorando com você, Laura. Agora contar? Isso eu não posso fazer nunca – insiste e não consigo entender mais nada. Do que raios ele estava falando? O que seria de tão perigoso a ponto de eu me machucar?

Mas em vez de perguntar alguma coisa, questionar, insistir, demonstrar a minha preocupação, simplesmente rio, caio na gargalhada alta e clara. Rindo da piada mais engraçada de todos os tempos. Steve apenas me olha pasmo.

—Isso não tem graça – ele alertou e concordei com a cabeça ainda no meio do riso. Mas de nad adianta. Apenas coloco as mãos sobre a barriga agora tentando parar de rir.

—Até parece aqueles filmes de agentes secretos. Em que o cara não pode contar a verdade da mocinha pois ela pode correr perigo, não vai ter uma vida normal e tal – explico agora bem mas calma. Sei que o exemplo é um absurdo, mas Steve ficou visivelmente desconfortável, como se as palavras que eu disse o tenham atingido em cheio.

—Não tem nada a ver com filmes, Laura. Isso é a vida real – ele insiste e reviro os olhos. Estou farta de todo esse mistério.

—Então me fala! Se não tem nada a ver com filmes, me fala! – insisto me pondo de pé e ficando de frente para ele.

—Porque não posso! – ele nega ainda bastante persistente. Ele não iria falar. Como posso acreditar e confiar em alguém que mal conheço? Não posso. Ele não confia em mim para isso, porque eu deveria confiar?

—Tudo bem, eu entendo – digo baixo e olhando para as minhas unhas tentando não olhar para o seu rosto. Aposto que ele ficou aliviado, já que a partir de agora irei aceitar que isso é um segredo dele e somente dele. Pena que não vai ter “mais o a partir de agora”.

Eu tenho que fazer isso. Não posso vacilar. Preciso de alguém em quem confiar. Não posso fazer isso com ele. E pelo jeito, nem ele em mim.

—Steve, eu não posso confiar em você. Não conheço sua família, nem o seu trabalho, seus amigos só conheço o Sam. Como posso namorar alguém em quem não confio? – questiono colocando as mãos na frente do corpo desconfortável e torcendo para não vacilar faltando tão pouco.

—O que você quer dizer com isso? – pergunta preocupado. Será mesmo que ele não sabia o que eu queria dizer? Ou não queria acreditar?

—Não posso. Não posso continuar desse jeito – explico triste por ter que chegar a esse ponto. Mas preciso continuar – Eu preciso confiar em você. Eu quero confiar em você. Mas para isso você precisa confiar em mim. Mas você não faz isso – explico sentindo o meu coração faltando alguns pedacinhos pequenos até agora.

—Não – ele nega descrente e dando alguns passos pequenos para trás. Seus dedos passam pelos cabelos, talvez tentando lidar com isso logo de início. Não sei como estou parada. Se fosse comigo, eu estaria sentada tentando lidar.

—Tenho que terminar – finalizo cortando, queimando o meu próprio coração. Pois não dói apenas para ele, dói para mim também. E dói muito mais pois sou eu que estou fazendo isso. Tenho que fazer.

Um minuto de silêncio. Apenas um minuto de silêncio mortal com apenas o barulho do trânsito na rua lá fora. Mas parece que foi muito mais. Mas o suficiente para eu tomar coragem e continuar com isso. Eu estava quase vacilando.

Olho para ele. De costas para mim, as duas mãos sobre a nuca, talvez mergulhado no arrependimento e na tristeza. Me dói provocar isso nele. Mas foi ele quem começou. Não eu. Tenho que me lembrar disso quando eu for cutucar as feridas no momento em que a minha cabeça encostar no travesseiro.

—Desculpa, mas.... Tchau, Steve – me despeço vacilante, sentindo as minhas pernas feitas de gelatina. Mas consigo chegar a porta.

—Você quer mesmo saber? – ele pergunta assim que toquei a maçaneta. Soltei mas ainda permaneci de frente para a porta. Eu queria ir. Não era agora prestes a ir embora que ele vai me contar, né? – Mesmo eu te alertando que isso é perigoso? – pergunta e vejo que ele tem razão, mas o que seria de tão perigoso? Meu deus...

—Agora já é tarde – não, não era tarde demais. Eu queria ficar. Mas eu tinha que ir. Viro a maçaneta, mas Steve agarra o meu pulso e me arrasta para o corredor. Abre a porta do seu quarto e a fecha empurrando com força. O que ele vai fazer?

Ele me faz sentar na cama com um pequeno empurrão para baixo me segurando pelos ombros. Abre as portas do armário e começa a revirar a procura de alguma coisa. O que raios ele estava fazendo? E porque tinha tanta urgência?

—O que você está fazendo? – pergunto me levantando e andando até a porta insistente. Seja lá o que ele esteja procurando, me assusta. Steve não é desse jeito. Nunca foi.

—Sente – ele ordena e ínsito em tentar abrir a porta – Senta! – ele fala mais alto e me sento, assustada.

Sente – ele ordena firme, mas não quero – Senta, por favor – ele pede com mais intensidade, mais firmeza, mas ao mesmo tempo educação. Receosa, voltei a me sentar em sua cama o observando revirar o seu armário.

E depois de revirar algumas vezes, desfazer a arrumação muito bem feita naquele cubículo apertado com apenas uma lâmpada, ele parece achar. E joga para perto de mim. Uma pasta de papel, com um pássaro, acho que é uma águia, na capa e palavras em volta. Um símbolo que nunca vi antes. Mas embaixo tem uma sigla. E mais as palavras “ultrassecreto” embaixo, o me deixa em ainda mais alerta.

—O que é S.H.I.E.L.D.? – pergunto preocupada e tentando esconder o meu medo. Steve estava me mostrando algo que eu não era autorizada em ver. Porque eu estava? O que isso tem a ver com todo o segredo que ele esconde?

—Apenas abra – ele insiste cruzando os braços e me observando pacientemente. Engulo em seco e abro a pasta no meu colo. Não entendo muita coisa de principio, muitas informações. Então leio com mais atenção. É a ficha de alguém. E tem uma foto, não, duas em preto e branco. Antigas.

Uma é de um cara magrelo, militar, baixinho talvez, mas com certeza faz parte do exercito americano. Posso ver pelo seu uniforme. Acho que é da segunda guerra mundial. Mas então a segunda foto. A mesma pessoa, talvez, mas bem mais alta, forte e sem camisa. Vejo a data da foto: novembro de 1941.

—Quem é? Seu pai? – pergunto levantando a segunda foto para ficar ao lado do Steve e comparar. Mas eram a mesma pessoa. Se for o pai, parecem gêmeos.

—Sou eu – ele responde e viro o rosto para ele incrédula. Isso é brincadeira, só pode.

—Não. Não é você. Essa foto é de 1941 – explico calmamente e agora bastante assustada. Mas ele não estava para brincadeiras. Aquilo era sério. Muito sério.

—Veja a pasta – ele me pede e deixo as fotos de lado me concentrando nas informações.

Leio linha por linha, chegando a uma conclusão assustadora. Algo que não podia ser verdade. Como aquilo poderia ser verdade? Esse documento é oficial, por acaso? Pode ser apenas um trote, ou sei lá! Alguma explicação tem que ter.

Mas então, vejo a ficha resumida dele.

“Nome: Rogers, Steve.

Cor de cabelo: Loiro.

Olhos: Azuis.

Codinome: Capitão América.”

Nada pode descrever a minha reação do que a palavra surpresa. Eu poderia acrescentar também pasma, assustada, perplexa. Eu não estava entendendo mais nada.

—O que é isso? – pergunto apontando para a pasta e a fechando sem saber mais como reagir. Isso é ilusório demais. É mentira. Como isso pode ser verdade?

Não. Steve não pode estar acreditando nesse papel. É só um papel. Ele ficou louco. Ele é louco. E eu só posso ser ainda mais louca em acreditar também. Como ele pode acreditar que é o Capitão América? O mesmo Vingador que salvou Nova Iorque tempos atrás? Impossível.

—Continua – Steve insiste. Mas não quero continuar a ler. Me recuso a ler isso. Uma folha recheada de mentiras. Mas pelo olhar dele, eu preciso continuar. Eu pedi a verdade, e talvez seja, mesmo que tão confusa e ilusória.

Respiro bem fundo. Abro a pasta novamente e vejo uma folha de fevereiro de 1942. A página estava bastante amarela. E a letra usada lembra aquelas máquinas de escrever. Tudo indica mesmo que a folha é de setenta anos atrás.

‘’Experimento Super-Soldado. Cobaia: Steve Rogers. Resultado: Positivo’’.

—Steve, isso está me assustando – alerto deixando a pasta aberta do meu lado. Olho para ele. Estava sério, de braços cruzados olhando para mim. Ouço o seu suspiro e anda até a cama, onde se agacha, estende os braços e retira alguma coisa escondida. Uma grande caixa de veludo que me lembra pastas de escritório, só que maior e de aparência mais elegante.

—Isso não é para você contar. Para ninguém. Nem os seus pais. Ninguém, Laura. Entendeu? – pergunta de maneira firme e contida, olhando para mim antes de abrir. Mas como não respondo, ele se aproxima e agarra o meu queixo com um pouco de brutalidade demais – Entendeu? – ele insiste e balanço a cabeça concordando. E então ele me solta.

Eu não estava curiosa, estava apenas assustada. Isso realmente me deixa preocupada. Era algo muito bem guardado, escondido. E Steve estava agindo de maneira que eu não estava acostumada. Por mais que pareça infantil, me acostumei a ele carinhoso e amável, e não duro e estranho.

Vejo as cortinas serem fechadas, a porta do quarto trancada e a porta do armário também. E só assim, Steve volta a atenção para a maleta. Digita uma senha e a maleta se abre. Meu coração bate rápido dentro do peito, me sinto ansiosa, mas não curiosa. Estava tudo muito confuso.

Steve se afastou com passos para trás. Me levanto da cama e fico de frente para a maleta. Olho para o loiro que concorda com a cabeça. Levanto a tampa e quase caio sentada no chão. É o escudo. Com listras ao redor brancas e vermelhas, com uma estrela branca no meio com o fundo branco. Um escudo de metal do tamanho do meu braço.

O documento estava falando a verdade. Steve Rogers é o Capitão América.

"Não há segredos que o tempo não revele".

Jean Racine.


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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Roupa: http://www.polyvore.com/cgi/set?id=114174819&.locale=pt-br

Roupa 2: http://www.polyvore.com/love_story_alicia_balada/set?id=114176005

WOW! Steve finalmente tomou vergonha na cara e contou para a nossa princesinha a verdade! Finalmente! É para glorificar de pé igreja! KKKKKKKKKKKKKK
Gostaram? Por favor, me digam pelos comentários, ok? E espero recomendações também, tá?
Beijos e ate o próximo capítulo!

Capítulo editado: 21/02/2016