Gota D'Água escrita por KuroroLucifer


Capítulo 9
Sofá




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A mulher pareceu confusa, mas me deu a carona. A principio, ela ficou com muito receio, mas logo se amansou. Me disse seu nome, Luiza, mas eu não disse o meu. E não foi por mal: eu simplesmente não conseguia parar de chorar. Luiza bem que tentou conversar comigo por algumas vezes, mas ela mesma desistiu. Sabia que não ia dar certo; nem eu estava em posição de falar nem ela de me perguntar.

Não levou mais que dez minutos até que ela chegasse na minha cidade, que era a mais próxima dali e que, por acaso, era destino dela também. Ela tinha alugado uma casinha a umas quatro quadras da minha casa e estava se mudando para lá. Para ela, era um ótimo começo de vida, já que a cidade era um bom lugar por um custo de vida relativamente bom. Ela me ajudou a descer do carro, me cobrindo com um lençol que ela tinha para se cobrir.

A casa estava devidamente mobiliada, com as coisas já prontas e foi por isso que ela pôde me colocar no sofá, na sala dela. Eu estava tremendo, em estado de choque completo, ainda tentando entender que as coisas tinham acabado bem para mim, que eu estava a salvo. Minhas paranoias foram o que me mantiveram em silêncio durante a viagem inteira: vai que ela ia me fazer mal também? Eu não queria me arriscar a sofrer novamente. Não de novo.

Luiza saiu de dentro da cozinha, que era pra onde ela tinha ido quando sumiu no corredorzinho da casa, trazendo um copo de água com açúcar. Sentou de frente para mim no sofá me perguntou — com aquela voz calma e firme dela — o que tinha acontecido para eu estar daquela forma. Assim que terminou de perguntar, me ofereceu o copo de água com açúcar e eu não pude recusar. Peguei o copo e sorvi ruidosamente a água. Eu estava com sede, mas não tinha notado.

Os olhos amendoados e inquisidores de Luiza passearam pelo meu rosto, querendo uma resposta, mas eu não estava preparado para contar. Na verdade, eu não estava preparado para porra nenhuma.

***

Eu fiquei recolhido no sofá até a noite chegar. Luiza resolvera as coisas dela, arrumara a casa, arrumara as coisas e nada. Ela ainda tinha certo receio de mim, mas eu sequer me mexia, então logo passou de novo. Por duas vezes ela pegou o telefone e por duas vezes eu achei que ela ligaria para a polícia. Nas duas ela pareceu arrependida e colocou o aparelho de volta no gancho.

Quando anoiteceu, ela veio, irritada.

— Agora chega, o que aconteceu com você?

Eu tentei falar qualquer coisa, mas a minha voz estava rouca. Tão rouca que eu não conseguia falar. Olhei para ela, suplicante e ela suspirou, desistindo.

— Você tem muita sorte de ter me achado na rua. Qualquer outro, teria ido embora, mas eu te ajudei e você não disse sequer seu nome, até agora. Eu não faço a menor ideia do que está te acontecendo, mas obviamente você não tem para onde ir. Até amanhã, eu vejo o que posso fazer. Depois, já não sei.

Eu assenti e comecei a chorar. Quando ela fez menção de se levantar, eu disse, com dificuldade, uma única palavra. Bruno.

***

Pra dizer a verdade, eu me recompus logo de manhã. Eu tinha adormecido naquele sofá sem perceber e, por isso, acordei com uma sensação esquisita. Parecia ser cedo, mas eu não sabia. Eu levantei do sofá e o lençol caiu, me descobrindo. Agora que eu estava um pouco melhor, uma vergonha repentina se apoderou de mim. Eu comecei a me sentir um lixo, uma puta, um usado, um nojento. Jamais senti tanta vergonha de mim como daquela forma e comecei a chorar de novo.

Luiza saiu do quarto e me viu chorando no chão da sala. Ela trazia consigo duas xícaras de café e, ao me ver daquela forma, se agachou no chão.

— Ei, olha pra mim... — ela disse, gentilmente. — O que está acontecendo? Calma, olha, bebe um pouco de café.

Eu fui parando com o pranto aos pouquinhos e assim que me senti um pouco melhor aceitei a xícara. Olhei para o café dentro dela e aí eu relembrei de tudo: Gabriel me mostrando a arma, me mandando entrar no carro e eu comecei a respirar com dificuldade.... Até que joguei a xícara longe, que se quebrou; eu me deitei do chão, numa posição fetal, me escondendo daquele pânico, daquela angústia, de tudo.

Luiza arregalou os olhos, assustada, não sabendo como reagir àquela situação. Ela tentou me acalmar, inutilmente. Tudo era inútil.

***

Aquela cena toda durou pouco tempo, só até que eu me distraísse das cenas que vinham à minha mente: os homens tentando me penetrar juntos e dolorosamente conseguindo; eu berrando, tentando escapar daquele flagelo... Tudo voltou à cabeça.

Luiza conseguiu me distrair, me acalmou e ficou ali comigo. Ela estava se esforçando para me ajudar, sem saber de nada e eu não entendia o por que disso. Ela me mostrava o que era amor gratuito e eu não entendia mais o que era isso. Não entendia mais o amor. Não sabia mais de nada.

E as coisas se mantiveram do jeito que estavam até aquele dia — cinco dias depois — em que eu pedi para voltar para casa.


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Notas finais do capítulo

Então gente, chegamos ao fim de mais um capítulo. Espero que vocês estejam curtindo essa história tanto quanto eu estou me deliciando escrevendo, de verdade. Pena que eu vou ter que dar mais uma pausa aqui, infelizmente. Eu vou viajar para Cabo Frio e não sei até quando eu vou ficar e nem sei se eu vou conseguir atualizar a história. Talvez eu consiga, talvez não, então espero que vocês não abandonem a história por causa disso. Eu vou voltar, eu juro!


Beijos do Kuroro, até a próxima queridos!



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