Eles me bateram, me machucaram, colocaram coisas dentro de mim, me chicotearam, me mantiveram preso, e eu gritei, e eu gemi, e eu implorei pra pararem, e eu fui uma puta naquele dia. Uma puta, uma puta suja.

Quando eu voltei para a jaula — ou melhor, quando eu fui jogado na cela —, duas horas depois, eu estava acabado. Não conseguia parar de chorar e eu estava realmente machucado. Meu corpo inteiro doía e eu tremia incessantemente.

André olhou para mim de onde ele estava, mas não fez nenhuma menção de sair do lugar. E eu fiquei ali, jogado naquele chão até minhas forças se esvaírem e eu desmaiar ali mesmo.

***

Quando eu acordei naquele dia, ainda estava no chão da cela. Eu ainda estava tonto e, por consequência, as coisas ainda estavam ligeiramente disformes aos meus olhos. Mas lentamente as luzes foram voltando ao normal, saindo daquele estado frágil em que estavam. Nesse ponto, eu notei duas coisas: primeiro, a cela estava aberta. Segundo, André não estava no seu canto habitual.

Eu levantei do chão, ambicionando a liberdade e atravessei o umbral do cativeiro do modo mais silencioso possível. Olhei para os lados, procurando alguém. Nada. Fui atravessando corredores a esmo, sem saber pra onde ia, procurando uma saída próxima.

Não tinha saída; eram vários corredores longos, todos eles com muitas portas. Minhas corpo todo doía, mas eu não tinha coragem de parar. Não podia parar.

Em algum ponto atrás de mim, um barulho ensurdecedor ecoou. Olhei, procurando saber o que era. André estava caído no chão e seu sangue se espalhava pelo chão, a esmo. Tinha sua cabeça destruída. Instintivamente, entrei em uma das portas, querendo me esconder. Era um quarto escuro e eu me encolhi perto da parede, assustado.

E fiquei ali.