From The Razor To The Rosary escrita por Persephonne


Capítulo 6
Capítulo 6




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No dia seguinte Frank estava no seu quarto quando ouviu sua mãe atendendo o telefone:

- Olá, Padre Way. Como o Frankie está indo com o senhor? Ele tem sido bom com você? - mesmo não podendo ver Gerard, Frank sabia que ele devia ter ficado vermelho, e provavelmente devia estar gaguejando ou tossindo agora. - Nossa padre, é melhor você ver essa tosse, ela parece ruim. - Frank riu sozinho. - Ok, ok. Ah, pelo resto da semana? Nossa, que gripe forte. Sim, eu entendo. Ah, mas ele pode ir te ajudar mesmo assim. Aliás, principalmente agora, que o senhor está.... - Frank ouviu com mais atenção, dessa vez apreensivo. Pela primeira vez em muito tempo, ele concordou com sua mãe. Mas ela falou: - Sim, entendo. Mas na segunda ele pode ir, né? Ok então. Tchauzinho.

Logo depois Frank a viu na porta do seu quarto.

- Você não vai precisar ir ajudar o Padre Way nessa semana, ele tá terrivelmente doente. Mas na segunda você vai.

Frank não falou nada, apenas deu de ombros. Deitou na cama e meditou sobre os motivos que alguém teria para ficar mentindo para si mesmo daquele jeito.

Os próximos dias foram bastante tediosos para Frank. O incidente tinha sido na segunda, e na quinta ele saiu com Alex.

- Como estão os seus casos? - o amigo perguntou.

Frank pensou. Caramba, não ficava com ninguém a quase 2 semanas. Comentou esse fato com Alex, que falou:

- Caralho! Sério? Quem é você e o que fez com o meu amigo? - Frank riu e Alex continuou: - E como vai o seu plano-do-mal-de-defloração-do-padre?

- Normal. Mas nós não vamos nos ver nessa semana. - falou, melancólico.

Alex o encarou por um longo tempo antes de falar:

- Frankie... me diga que não é o que eu to pensando.

- O quê?

- Caramba, Frank. Eu pensei que fosse só de zoação, que você só ia testar a paciência dele, ou seilá...

- Que foi, porra?

- Frank, você está gostando dele! De verdade! Olha só pra você mesmo!

- Você tá viajando.

- To? - Alex ergueu uma sobrancelha. Frank pensou. Ele se sentia bem quando estava com Gerard. Genuinamente bem. Feliz. E agora estava morrendo de saudade dele. E não tinha vontade de pegar mais ninguém....

- Meu Deus....

- Esse é o último pra quem você devia estar pedindo ajuda. - Alex riu.

***

Frank não era o único que sofria com a saudade. Gerard tinha passado os últimos dias na cama, fingindo estar doente tão bem que acabou ficando mesmo. Pensava que passar alguns dias afastado da tentação iria fazê-lo pensar mais claramente, mas isso não ajudou em nada.

Tentação. Gerard tinha que parar de pensar em Frank desse jeito. Ele tinha que admitir que o garoto não era apenas uma tentação, mas sim um homem pelo qual ele estava começando a se apaixonar.

Gerard se levantou e foi até o telefone.

***

Frank estava vendo tv na sala quando o telefone tocou. Não havia mais ninguém por perto então ele atendeu.

- Alô?

- Frank...

Ele gelou ao ouvir aquela voz. Sentiu seu coração acelerar.

- Gerard.

- Eu, eu sinto muito. Eu, eu...

- Antes deixa eu falar. Gerard, eu que sinto muito. Eu percebi que... Ahm.. - ele não podia falar. Não saía. - Eu sinto sua falta. Ás vezes eu sinto tanta saudade que acho que não vou agüentar.

- Frank, eu... - ele hesitou. Não podia falar. Simplesmente não podia. - Eu te espero amanhã, hora e local de sempre. Já estou melhor da minha gripe.

Mesmo com o tom subitamente formal de Gerard, Frank sorriu.

- Ok. Vou estar aí. - e desligou. Olhou pra cima. - Se existe mesmo um Deus... obrigado.

***

Mas ele teve vontade de retirar o que disse quando viu Gerard no dia seguinte. Ele estava tão seco e distante... parecia que nem se conheciam.

- Bem, eu queria que você me acompanhasse até a biblioteca, eu tenho que procurar um livro e preciso de ajuda. - Gerard falou sem olhar para Frank.

- Tá bom. - este falou, desolado. Então ia ser assim. Gerard ia fingir que nada tinha acontecido, e os dois ficariam naquela relação superficial. Frank o seguiu até a biblioteca, cabisbaixo.

Era uma biblioteca pequena, constituída em sua maioria por bíblias.

- Vá procurar os escritos de Agnes Nutter lá do outro lado, enquanto eu procuro outra coisa aqui. - foi o que Gerard falou. Frank assentiu e foi procurar. Passou alguns minutos escaneando com os olhos as prateleiras. Procurou uma, duas, três vezes. Definitivamente não havia nenhuma Agnes Nutter ali. Foi até a prateleira em que Gerard devia estar, mas não o achou. Andou um pouco mais, já começando e ficar impaciente, quando então virou um corredor e se chocou contra algo sólido.

Gerard.

Eles se olharam por uns segundos, completamente imóveis. Os olhos dos dois percorriam lenta e precisamente a face um do outro, penetrando por cada poro, explorando cada milímetro. Quando Frank começou a se perguntar porque Gerard o olhava daquele jeito e não se afastava dele, percebeu que estavam se aproximando devagar. Então ouviu um estrondo.

Olhou para o chão e lá estava o livro que instantes antes Gerard agarrava nas mãos. Uma bíblia. Quando levantou o rosto, pronto para encarar novamente o Padre, sentiu os lábios serem pressionados pelos do sacerdote. Demorou alguns segundos para finalmente corresponder ao beijo, depois da surpresa do primeiro contato, e então as mãos de Gerard seguraram firme seu pescoço. Sorriu por entre o beijo assim que teve seu leve corpo empurrado contra a estante pesada de livros, e não conseguiu conter algumas palavras.

-Achei que ia demorar mais uns meses.

-Quieto. –O Padre o censurou, sem separar os lábios dos seus. Frank sorriu novamente e voltou a beijá-lo como antes.

Logo as pequenas mãos do garoto puxavam o corpo do Padre para mais próximo do seu, já sentindo a movimentação familiar dentro das próprias calças e não se contendo em fazer o Padre percebê-la também. Não se surpreendeu ao constatar que o outro também já estava excitado, e assim agarrou a nuca de Gerard com força, pressionando-o ainda mais contra si.

Gerard, por sua vez, já havia perdido o controle da situação. Apenas respondia aos estímulos de Frank, e o incitava, tentando recuperar o tempo perdido nas semanas anteriores. Foram dias de auto-tortura, culpa e vigilância consigo mesmo. Mas, naquele momento, não conseguia pensar em nada a não ser na boca de Frank beijando a sua, as mãos de Frank acariciando o seu corpo e a pressão se chocando contra a sua própria.

Soltou um gemido baixo ao sentir a mão de Frank pressionando o gancho de sua calça, e logo o garoto moveu-a devagar, massageando-o, o que não permitiu que Gerard contesse inúmeros suspiros que insistiam em escapar. Levantou o rosto, apenas sentindo a respiração quente e ofegante do outro contra seu pescoço, e depois os lábios macios e avermelhados do menino tocarem de leve sua pele, para descer até seu pescoço. Agarrou com força a cintura dele e subiu um pouco a camiseta velha, tateando as laterais do corpo frágil de Frank, não deixando de explorar suas costas desprotegidas.

Num giro, agora era Gerard quem estava sendo pressionado contra a estante de livros. Frank continuava massageando-o, e ele gemia baixo a cada movimento mais brusco. Então deixou as próprias mãos deslizarem das costas do garoto até suas pernas, tateando-as, como se buscasse por algo. Logo achou o que procurava. Não se lembrava de ter se sentido tão bem em nenhum lugar da sua memória. Apenas sentir a pele de Frank contra a sua, sentir que ele estava excitado por sua causa, ouvi-lo arfando baixinho com o seu toque... valia qualquer ida ao inferno. Impulsionou sua cabeça um pouco para trás, e Frank fez o mesmo, o que resultou em os dois encarando-se mais uma vez. Um sorriso safado surgiu no canto da boca de Frank, que beijou o Padre de novo, sugando todo o ar de seus pulmões. Voltou a agarrar o outro pela nuca, que deslizou os lábios por seu rosto, até chegar à sua orelha novamente e murmurar:

-Eu gosto de você, Padre.

Demoraram alguns milésimos até Gerard processar o sussurro proferido por Frank. Quando finalmente o fez, abriu os olhos num estalo. “Padre”, repetiu na própria mente.

 Afastou Frank rapidamente, ofegando. Este o olhava, confuso. Gerard balançou a cabeça e falou:

- Não. Eu não posso. Vai embora.

Frank ficou estático. Deixou o queixo pender com o choque e encolheu as sobrancelhas.

- Como assim, vai embora? Você acha que pode me beijar, me agarrar, me deixar desse jeito e simplesmente me olhar e dizer "Vai embora"? Que tipo de idiota você é?

O Padre baixou a cabeça por alguns instantes e depois fitou os olhos indignados de Frank.

- Me desculpa. Eu não sei o que deu em mim. Eu não podia ter feito isso. Agora, vai embora, por favor.

- Hã?! -Frank suspirou, ainda mais incrédulo. -Por que você continua mentindo pra você mesmo, Gerard?

- Vai embora, Frank. Estou pedindo. – Gerard ofegou, não olhando para ele.

- Não. Não vou. Não enquanto você não admitir que gosta de mim.

Gerard o olhou, com a respiração pesada.

- Não.

- Não o quê?

- Não, eu não gosto de você. Eu... – ele engoliu em seco. Proferir aquelas palavras doía, de uma maneira que ele não sabia explicar. – Eu... sou um padre, caralho. Voto de castidade faz um efeito estranho nas pessoas. Eu já sou meio fraco, e você apareceu.... mas... – as palavras a seguir causaram a mesma dor em Frank. – você não significa nada pra mim. Apenas... – não conseguiu continuar falando. Não sabia o que dizer, e continuava sentindo a pressão estranha contra o peito. A sensação ruim ficou ainda mais profunda quando voltou a encarar o garoto, que tinha uma expressão inconformada a as bochechas coradas. Não demorou muito para perceber um fio d’água sob os grandes olhos verdes dele, e os lábios avermelhados tremiam.

- Apenas o quê? Vamos, continue. Ou precisa de tempo pra inventar mais alguma mentira pra me contar? Porque do jeito que você mente, sua cota de reservas deve estar se esgotando.

O choro era perceptível na voz de Frank. Ele ainda não havia derramado nenhuma lágrima, mas não demoraria muito para fazê-lo. E Gerard não queria vê-lo chorar. Quer dizer, nem sabia porque Frank faria aquilo, sendo que ele mesmo sempre achou que era só uma diversão para o adolescente. Nunca o levou a sério, assim como achava que também não estava sendo levado.

- Você não sabe o que fala, Frank.Você não me conhece e não sabe o que eu penso ou o que eu sinto.

- Te conheço o suficiente pra saber que você se engana, tanto com o que você sente quanto com o que eu sinto. –O garoto se aproximou novamente, levantando o rosto de Gerard com uma das mãos. Os olhares se cruzaram e assim permaneceram. Frank engoliu o embargo na própria garganta e passou as mãos nos olhos, secando as lágrimas antes mesmo de elas caírem - Eu já disse, eu gosto de você. Você pode não ter achado isso desde o começo, e nem eu sabia que ia acabar assim, mas é no que você se tornou pra mim. Eu gosto de você. Eu quero ficar com você Gerard, e não negue porque está escrito na droga dos seus olhos que você também quer ficar comigo! –Terminou a frase aumentando o tom, e seus olhos novamente se encheram de água.

O padre desviou o olhar saiu da frente do outro, dando a volta e parando de costas para Frank.

- Você não gosta de mim. É só ilusão Frank, você não percebe? –Virou-se para o garoto. –Você pensa isso porque eu sou impossível pra você. Eu sou um PADRE, alguém que fez voto de fidelidade com Deus e prometeu ser fiel somente a ele. EU represento um desafio, algo que você não pode ter nas mãos, diferente de todos esses garotos com os quais você... –pausou, tentando conter as palavras. –saiu tantas vezes por aí.

O ciúme na voz de Gerard era gritante. Frank deixou um riso abafado escapar de seus lábios e arqueou as sobrancelhas.

-Você tem ciúme deles, não tem? De todos aqueles meninos com os quais eu me encontrei, e trepei, e fiz coisas que você me imagina fazendo com você.

A face pálida do padre corou. Ele baixou os olhos e falou, baixo:

-Não sei do que você está falando.

Frank apenas balançou a cabeça, em desaprovação. Caminhou lentamente até a saída da biblioteca e, ao alcançar a porta, fitou novamente o padre e falou:

- Você pode mentir para si mesmo, mas não ouse mentir pra mim.

***


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