From The Razor To The Rosary escrita por Persephonne


Capítulo 7
Capítulo 7




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Então mais uma vez, Frank recebeu a notícia no dia seguinte de que não teria que ir à igreja pelo resto da semana porque Gerard tinha “tirado uma folga”. Ele não sabia por quanto tempo agüentaria aquilo, mas sabia que não seria por muito mais. Ele tinha realmente começado a gostar de Gerard, talvez até amá-lo. Cada momento que passava longe dele doía dentro do seu próprio peito.

O padre, por sua vez, tinha realmente tirado uma folga. Tinha viajado para New Jersey, para se encontrar com a única pessoa que poderia ajudá-lo a organizar seus pensamentos: Bob Bryar, amigo de longa data, e o único que realmente o ajudava nos momentos de crise. Ele era quase como um “guru” para Gerard. Logo que chegou na sua cidade natal ligou pra ele:

- Alô?

- Bob? É o Gerard.

- Padrinho! – o outro gritou e Gerard riu. – Como você tá, cara? Já largou a batina?

- Não. – ele falou, sentindo um peso na boca do estômago.

- Gerard... – ele suspirou pelo telefone. – Eu nem falo mais nada, viu?

- Bem, dessa vez eu preciso que você fale. Eu estou.... é complicado.

- Envolve alguma briga com algum bispo metido? Pode deixar que eu vou lá e dou umas porradas...

- Não, não. Tem... tem a ver com um garoto. Quer dizer, um homem.

Essa frase foi seguida por um silêncio longo do outro lado da linha. Gerard mordia o lábio. Até a voz de Bob soar novamente, subitamente séria:

- Venha no meu apartamento. É o mesmo de sempre.

- Ok. – ele desligou o celular e suspirou.

***

O apartamento de Bob. Gerard ainda lembrava das madrugadas que passara ali, com inúmeros caras, fazendo inúmeras loucuras, cometendo inúmeros pecados. Parte dele não queria voltar a Jersey, mas sabia que era necessário. E realmente precisava falar com Bob.

Sorriu ao ver o amigo. Assim que o viu recebeu um dos abraços de urso que eram a sua marca registrada. Conseguiu falar, apesar do esmagamento:

- Oi Bob.

- Geraldo! Vem, entra. Pelo que você falou no telefone parece que você tá em apuros.

Gerard entrou no apartamento, tentando se sentir menos mortificado.

- É, bem....

- Me conte tudo, desde o começo. – Bob falou se sentando no sofá na frente do que Gerard estava sentado.

- Bem.... eu conheci alguém. Um homem. Quer dizer... ainda não é um homem, mas não é mais um garoto. – falar aquilo era difícil. Ele respirou fundo. – Ele tem 18 anos.

- Oh. – foi só o que Bob falou.

- Poisé. No começo era só uma brincadeira da parte dele, desejo adolescente pelo impossível. Eu tentei afastá-lo, tentei resistir, mas.... ele começou a gostar de mim, de verdade, e.... – respirou fundo, tentando conter aquele sentimento no pulmão. Piscou muitas vezes. – Bob, você acha que eu minto para mim mesmo?

O outro o olhou, com uma sobrancelha arqueada.

- Você tá brincando? Eu tenho te falado desde sempre que essa idéia de padre foi a sua pior idéia desde aquele coquetel molotov na sala da diretora...

Gerard riu, mas não por muito tempo. Suspirou pesadamente.

- Então quer dizer que você acha que eu não tenho vocação?

- É você que tem que achar isso. Mas você sabe qual é a minha opinião: Gerard Way NÃO é padre. Você não nasceu pra ficar se autotorturando e fingindo ser algo que não é. Gerard é o meu amigo, não [i]Padre Way[/i].

- Eu estou começando a me apaixonar... – falou baixo. – Porra, a quem estou enganando? Eu já estou apaixonado. E isso não tem volta, ao contrário da carreira sacerdotal.

- Imagino que seja pelo tal mancebo que você falou. Qual o nome dele?

- Frank Iero. Ele parece um anjo. Um anjo do apocalipse....

- Gerard, nem vem com essas coisas católicas pra cima de mim. Você sabe o que eu penso sobre isso. Mas ele gosta de você?

- Ele me ama. Você devia ver o modo como ele me olha... – ele sorriu, engolindo mais lágrimas. – Você devia ver o modo como ele me olhou quando eu falei... quando eu o mandei embora.....

- Ás vezes você é tão bicha, Gerard.

- Vai se foder, você também é.

Bob sorriu.

- Ah, aí está você. Ainda resta um pouco do antigo Gee debaixo de todos aqueles terços e batinas.

Gerard não conseguiu evitar a risada.

- Bem, ficar se remoendo aqui comigo não vai adiantar nada. Você quer o meu conselho?

- Quero.

- Mas preste atenção, padawan. Só vou te dar um pouco da minha sábia sabedoria se você prometer que vai cumprir.

- Você sabe que eu não posso.

- Tá, então pelo menos considere. Aí vai: ouça o seu coração.

- Depois eu que sou a bicha. – Gerard riu. Bob continuou:

- É sério. Seja honesto com você mesmo. Você gosta desse garoto, e ele gosta de você. A única coisa que impede que vocês fiquem juntos é um livrinho e um pedaço de pano. Você não vê o quanto isso é ridículo? Gerard, eu quero que você me diga a verdade, aqui e agora: você gosta de ser padre?

Ele fechou os olhos e falou:

- Não.

- Então pare de continuar se autoflagelando psicologicamente e largue a porra da batina! Você tem medo do que os outros vão pensar? Bem, primeiro, o verdadeiro Gerard mandaria todo mundo ir se foder e estaria cagando e andando pra o que qualquer um pensa. E segundo, se isso é um problema tão grande, venha com ele pra cá.

- Não posso. Você sabe que eu não posso voltar.

- Claro que pode, larga de ser fresco. Você não vai voltar a ser o que era assim que pisar em Jersey.

- Como você sabe? Eu sou fraco.

- Porque eu tenho fé em você. Agora, você vai me prometer uma coisa: quando você voltar pra lá, ou você esquece isso tudo, chuta o garoto pra valer e continua a ser padre (e continua a mentir pra si mesmo) ou você cata ele logo de uma vez, larga a batina, e volta pra cá pra gente começar a nossa banda. Lembra? Você sempre falou....

Gerard se deixou sorrir com a lembrança do seu desejo de ter uma banda. Olhou para Bob.

- Sabe... ele, o Frank, tá fazendo aula de guitarra.

Bob riu.

- Seu idiota. Vai lá e faz a coisa certa, ou eu vou te perseguir e aí você vai se arrepender.

Gerard sorriu.

***

Frank estava no seu quarto, ouvindo música. Tentava esquecer de tudo que tinha acontecido, tentava esquecer Gerard... seu celular tocou. Ele atendeu e quase falou um palavrão quando ouviu a voz familiar:

- Frank...

- Como você conseguiu esse nº?

- Você deixou no meu escritório, numa das suas cantadas não muito sutis.

- Tá. E o que você quer? – falou, seco.

- Eu queria me desculpar, e...

- Não. Quer saber? Vai se foder, Gerard. Eu não posso continuar assim. Tendo esperanças, e então perdendo... Eu não consigo mais ouvir você me mandando embora. Eu não posso continuar pensando em você. Dói demais. Eu não posso continuar em dúvida pra sempre. Adeus. – E desligou. Deitou na cama e tentou calar seus soluços, mas não conseguiu conter as lágrimas.

***

1 mês tinha se passado depois dessa ligação. Frank tinha desaparecido. Gerard ligou para os pais dele, mas eles falaram que ele tinha saído de casa. Se mudado. Com uma desculpa de tentar conversar com ele para fazê-lo mudar de idéia Gerard conseguiu o endereço dele. Mas levou 1 mês para juntar coragem para estar onde estava agora: em pé na frente de uma porta vermelha de apartamento num prédio velho. Seu coração doía de tão rápido que batia.

Respirou fundo. Fechou os olhos e bateu na porta.

***

Frank estava deitado no seu sofá, vendo a mtv na sua tv, no seu apartamento. Estava extasiado. Agora tinha liberdade. Podia fazer o que quisesse, podia trazer os seus casos-de-uma-noite para o apartamento sem ter que se preocupar com pais, nem nada.

Não tinha mais nada pra se preocupar. Nem Gerard. Principalmente Gerard. Ele riu de si mesmo com esse pensamento.

Falando em mentir para si mesmo...

A parte superficial de Frank falava que aquela mudança era a mudança da casa dos pais normal, que acontecia com todo mundo. A parte mais... interna (e mais verdadeira) admitia que tinha feito aquilo para fazer uma nova vida, longe de igrejas, dos pais, e principalmente de Gerard. Ele tinha decidido definitivamente se mudar e se afastar daquilo tudo depois da sua última conversa (se é que aquilo pôde ser considerado como conversa) com Gerard. Falar aquelas palavras tinha doído como nenhuma outra dor que ele tinha sentido antes, mas era necessário. Não podia continuar sendo o bonequinho de Gerard. Não podia mais agüentar a dúvida constante do “padre”. Não podia continuar apaixonado por alguém que não retribuía.

E doía tanto sequer pensar em Gerard. Por isso Frank tentava se ocupar com qualquer outra coisa quando começava a lembrar dele. Tinha entrado numa bandinha, Hybrid, como guitarrista e estava se dando até bem. Estava tentando viver, e esquecer Gerard (mesmo que isso estivesse se mostrando ser uma tarefa quase impossível).

Ele estava tentando achar alguma coisa que prestasse na tv quando alguém bateu na sua porta. Se levantou imaginando quem poderia ser e abriu a porta. Por um segundo parou de respirar, e seu queixo caiu quando viu Gerard.

- Oi. – este falou. Frank não conseguia falar nada. Só conseguia olhar para o homem à sua frente. Ele estava... normal.

***


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