Quando acordo, com a luz do Sol batendo forte contra a cortina e os vultos das minhas criadas passando pelo quarto, sinto-me um lixo. Eu simplesmente não podia ter deixado que ela saísse daquele jeito ontem à noite, correndo e sem falar com ninguém.

Acabo de me arrumar tão rapidamente que a minhas criadas pensam que tenho um encontro com a Princesa. Nego, mais elas ainda assim continuam a insistir. Saio do quarto praticamente correndo.

Tomo o café da manha tendo que ouvir as mesmas piadas cansativas de Chris. Tá, ele é engraçado, mais podia melhorar o seu repertorio de piadas! Só essa, que está contando agora, do cachorro e do poste ele já me contou mais de três vezes!

– Vai para o Salão dos Homens? – Chris me pergunta saindo da Sala de Jantar seguido por um monte de meninos. Ele era bem popular entre os Selecionados e isso também me irritava. É impressão minha ou eu estou completamente chato hoje?

– Não Chris. Eu estou morrendo de dor de cabeça, melhor eu ir para o quarto. – ele assente e sorri de forma pensativa. E lá vem mais uma piadinha sem sentido.

– É, eu percebi. Acho que você nem deveria ter saído da cama, se é que me entende. – ele ri e bate no meu ombro me dando tchau. Não entendi a piada mais mesmo assim sorrio.

Caminho pelo corredor sozinho. Se estou certo May não vai querer sair ou conversar com ninguém hoje. A melhor forma de vê-la é esperar ela no corredor de seu quarto.

Fico em um vão, entre a curva do corredor e a escada. Sempre que ouço passos me escondo. Três criadas já se assustaram comigo. Alguém mais sobe as escadas nesse momento.

– May! – sussurro quando vejo que é ela. Puxo o seu braço e ela para ao meu lado. – Temos que ser rápidos. O que aconteceu ontem a noite?

–O que? – ela se faz de desentendida mais eu sinto algo de diferente nela. No seu olhar. – Não tem nada comigo se você quer saber. E a gente nem deveria estar conversando!

– Pare de fingir e diga logo! Eu te conheço.

– Eu não estou fingindo!

– Ahm e eu sou o Príncipe Peter! E quer saber? Acho que você queria que eu fosse ele, não é? Está tão próxima daquele garoto que não ia com a cara a menos de um mês atrás! Parece até que gosta mesmo dele!

– Pare de falar assim comigo! Você e a Princesa também estão próximos e você não me vê reclamando! – May para de falar quando ouve passos na escada. A empregada passa e não nos vê no corredor.

– O que você tem? – pergunto novamente com os olhos nos dela. Silencio. – Pode me falar May. Sabe que eu não vou te julgar. Eu sou o Zack, tá? – sorrio para tentar deixa-la a vontade. Parece que funciona, pois ela começa a falar.

– Peter me falou... – uma pausa. Sua voz é baixa. Ela respira fundo. – Ele me disse que haverá um baile, onde a família das Selecionadas vira para o Palácio. – Lembro de quando Chris me disse algo sobre esse baile. Acho que foi quando estávamos no avião vindo para o Palácio, a primeira vez que nós falamos. – Quando meu pai apareceu naquele vídeo... Minha mãe parecia tão... Acho que ele também virá e ai...

– Shhhh... – passo os braços em volta de seu corpo frágil quando percebo que ela vai chorar. Não posso me conter de fungar bem fundo o seu cabelo, com saudades do seu cheiro. Ela coloca sua cabeça na curva do meu pescoço. – Eu estou aqui ok?

Eu sei o que aconteceu com os pais da May. Na verdade, quando eu a encontrei chorando no dia que nos conhecemos, ela me contou o que tinha acontecido, que o pai dela havia batido na mãe e tudo mais. Mais dês daquilo nunca mais tocou na palavra “pai”.

– Ele não pode mais fazer mal a ela, não é? – ela sai de meus braços e me olha nos olhos. Suas lagrimas são abundantes e deixam que sua bochecha fique muito molhada.

– Não aqui no Palácio. Sabe que eles serão vigiados 24 horas por dia quando estiverem aqui. É como a gente. – ela parece se acalmar, assentindo levemente com a cabeça. – Sua mãe está diferente, lembra? Ela não vai deixa-lo fazer aquilo de novo.

– Eu sei. – ela olha para o chão e tenta tirar as marcas de choro do rosto. – Obrigada. Você me ajudou muito Zack. É... Um bom amigo.

– Amigo?

Seu olhar cruza com o meu.

– Zack eu não consigo mais ficar com você, entende? – ela para e olha para trás, verificando se há alguém nos observando. – Isso seria muita injustiça com Peter e Angeline. Eles só querem ser felizes e acham que...

– Quer dizer que não me ama mais? – seguro as lagrimas. Eu também não sabia se amava May. Ela e eu deixamos de ser próximos assim que entramos na Seleção. Silencio. – May eu preciso dessa resposta.

– Porque? Quer saber se está liberado para ficar com a Princesa?

– Não diga isso! – meu sussurro sai abafado e raivoso. – Eu não sei mais o que sinto por você e quero saber se... Você quer dar um tempo?

– Você não me ama mais?

– Eu estou confuso May! – explodo batendo a mão nas cochas. São tantas perguntas!

– Então somos dois. – ela encosta na parede e fecha os olhos. Parece pensar. – Tá, eu preciso fazer uma pergunta. – Assinto e ela continua. Está seria. – Você sente alguma coisa pela Princesa?

– Acho que... – lembro-me do beijo. De como me senti quando estávamos jogando o Jogo dos Favoritos e como ela caiu quando nos conhecemos. Involuntariamente eu sorrio. May percebe e abaixa o olhar. – E você? O Príncipe...?

– Eu ainda lembro-me de você se quer saber. Mas ele me faz sentir bem, sabe? O nosso amor era proibido. Com o Peter é tudo mais fácil.

– Então isso é um sim. – concluo cruzando os braços. Eu não estava bravo mais... A nossa historia iria mesmo acabar assim?

– Nós podemos tentar de novo quando sairmos daqui. – afirma May dando os ombros.

– A questão não é essa May! – minha voz sai mais alta e eu fico com medo de que alguém tenha ouvido. Chego perto dela e coloco a mão em seus ombros a fazendo me encarar. – E se a gente não sair daqui?

Nós olhamos profundamente. E dou conta que nenhum de nós sabe a resposta.